Amar e nutrir o irmão como fazem as mães
O amor se manifesta em fatos e atitudes
Frei Almir Guimarães
Como filhos do Pai celeste e irmãos de Jesus Cristo no Espírito Santo e seguidores da forma evangélica revelada pelo Senhor a São Francisco, os irmãos levam vida fraterna em comum, amam-se e nutrem-se mutuamente mais do que uma mãe ama e nutre seu filho carnal (Constituições Gerais da OFM Art.38).
• Francisco se torna profundamente delicado e afetuoso quando escreve sobre a fraternidade: “E com confiança um manifeste ao outro sua necessidade, para que lhe encontre e sirva as coisas necessárias. E cada qual ame e nutra a seu irmão como a mãe ama e nutre seu filho; nestas coisas Deus lhe concederá a graça” (RNB 9,10-11). E ainda: “E nenhum irmão faça mal ao outro ou diga mal dele; muito pelo contrário, através da caridade do espírito, sirvam e obedeçam uns aos outros de boa vontade. E esta é a verdadeira e santa obediência de Nosso Senhor Jesus Cristo” (RNB 5, 13-15).
• Francisco não separa o amor de Deus do amor ao próximo. Este é consequência da opção pela vida de penitência, de conversão, de mudança. A vontade de Deus é que nos amemos uns aos outros. Próximo não é apenas o irmão que mora perto e com qual nos sentimos ligados pela vocação para uma vida em comum. Próximo é todo homem que encontramos: amigo ou inimigo, ladrão ou bandido que haverão de ser acolhidos com bondade. É o rico que não se deve julgar nem desprezar: são os pobres, os doentes, os leprosos, os mendigos cuja companhia deve nos alegrar; os pecadores que serão tratados com misericórdia sem cólera ou perturbação, mesmo os que nos querem mal e que, eventualmente, consideremos inimigos.
• O amor não é sentimento, menos ainda discurso. Quando é autêntico ele se manifesta na familiaridade e ternura, terá qualquer coisa de materno; é atenção para com o outro, feita de afeto e de bondade eficaz. Com relação a todo homem-irmão haver-se-á de mostrar doçura, desejo de construir a paz, benevolência, cortesia, sem vontade de poder e mesmo como servo inútil. Tal benevolência se manifesta através de gestos concretos, muitas vezes, materiais: ocupar-se das necessidades cotidianas do irmão, colocar-se em seu lugar para um serviço, alegrar-se com sua vitória e seus êxitos como nos alegramos com nossos sucessos pessoais, amar aquele que não pode me ser útil ou retribuir minha atenção.
• Amar não é tarefa fácil, sobretudo, quando o outro me perturba e se opõe aos meus pensamentos e minhas convicções, como é o caso do pecador, ou aquele que me ameaça e me fere, ou seja, o inimigo. Diante do pecador que me perturba, suscita sentimento de cólera haver-se-á de opor um paciente silêncio, sem julgamento nem condenação, levando em conta nossos próprios pecados e fraquezas. Haver-se-á de agir com perdão e misericórdia: isto está claro na Carta a um Ministro. O amor pelos inimigos é o ápice do amor pelo próximo. Francisco se compraz em lembrar que Jesus, traído, perdoou seus inimigos. Chegar a tal amor – amar, suportar, perdoar ao que nos causa constrangimento, cansa, perturba e fere é apresentado como resultado da ação do Espírito em nós (cf. RB 10,10).
Nota: Inspirado em François d’Assise, maître de vie spirituelle, Thaddée Matura, Ed. Franciscaines, p. 61ss.