Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Ordenação Presbiteral de Frei Vanderley Grassi

Ordenação

Frei Vanderley é ordenado presbítero por D. Décio

 

Frei James F. Gomes Neto

“Não sei o que motivou Frei Vanderley em seu bom coração para me entregar a presidência deste momento único de sua vida: a ordenação presbiteral. Tantos santos e sábios bispos e arcebispos da família franciscana poderiam ter sido escolhidos e, no entanto, foi bater à porta deste frágil e pecador bispo de Colatina. Não lhe escondo que fiquei muito feliz. Sou-lhe grato. Amo Francisco e Clara. Amo de paixão. Como no céu não existem ciúmes, é bem certo que Dom Bosco aplaude e me acompanha.”

 

E foi neste clima fraterno, de devoção e amor a Francisco de Assis que se desenrolou a Ordenação Presbiteral de Frei Vanderley Grassi (24/3). O belo Santuário de Vila Velha, lotado de fiéis e amigos, ficou ainda mais belo. Mais belo pelo exemplo de Frei Vanderley, por sua opção de vida, por sua simplicidade e fraternidade. Mais belo pela presença de sua família, seus pais, Seu Jovino e Dona Mariazinha, seus irmãos, sobrinhos, tios e primos. O Santuário ficou ainda mais belo pela presença marcante das comunidades que fazem parte da paróquia Nossa Senhora do Rosário. Mais bonito ainda pela presença dos frades que vieram de longe para participar deste momento único na vida de nosso confrade. Mais bonito ainda pela presença dos amigos de Petrópolis, de Nilópolis, de Florianópolis que enfrentaram horas e horas de estrada para estarem juntos ao amigo e irmão Frei Vanderley. Enfim, o Santuário estava mais lindo do que nunca pelo calor da fé, da amizade e da certeza de que ali estava mais um homem de Deus, mais um Francisco de Assis que, como nas palavras de Dom Décio tem o desafio constante de:

Olhar e escutar o Senhor Jesus e se conformar à sua Vida e à sua Palavra;
Viver o amor e a misericórdia;
Aproximar-se dos pobres e sofridos e neles encontrar a doçura para a alma e para o corpo;
Meditar constantemente sobre a grandiosidade do dom sacerdotal.

Foi uma celebração simples, bem ao modo franciscano. Mas uma celebração com uma liturgia bem preparada e muito participada pela assembleia dos fiéis, todos cantamos muito e louvamos a Deus pelo dom da vocação de Frei Vanderley.

Um momento marcante e emocionante foi quando Frei Valdecir Schwambach, guardião do Convento da Penha, anunciou a entronização da imagem peregrina de Nossa Senhora da Penha, tão especial a nós, capixabas, e que que, sem dúvida, alimentou a vocação de Frei Vanderley. Todos de pé, com emoção e devoção recebemos Nossa Senhora da Penha cantando o hino “Virgem da Penha”.

Muitos frades vieram de longe participar desta Ordenação, de Petrópolis, Nilópolis, capuchinhos que também acompanharam a vocação de Frei Vanderley. Nosso Regional do Espírito Santo também se fez representar pelas 3 fraternidades, do Convento da Penha, do Santuário do Divino Espírito Santo e de Santo Antônio de Santana Galvão de Colatina. Frei Sandro Roberto da Costa representou o Ministro Provincial. Também presente Frei Mário Tagliari, definidor do Regional de Frei Vanderley. Momento forte de fraternidade.

A Celebração seguiu seu ritmo normal e sereno. Momentos fortes como a ladainha de todos os santos, a unção das mãos, a primeira bênção aos pais, a oração e o cumprimento de todos os confrades ao neo sacerdote, sem dúvida emocionaram a todos, principalmente àqueles que participaram de uma Ordenação pela primeira vez. Outros momentos também foram fortes, como a homenagem de nossa Paróquia feita pela Srª Zilma Rita Souza, seguida pela entrega de muitas, muitas rosas ao Frei Vanderley que foram depois distribuídas ao povo simbolizando os dons que o sacerdote recebe e partilha com o povo de Deus. Frei Vanderley juntamente com seus pais também ofereceu rosas à Nossa Senhora da Penha.

Muito já se agradeceu nestes dias, agradecimento à Comunidade Paroquial por seu empenho e disponibilidade, às equipes de acolhida, suporte e cozinha, às equipes de liturgia e canto e a cada um que nas suas possibilidades contribuiu para que este evento profundamente religioso se realizasse da forma como se realizou. Obrigado de coração a todos os confrades que participaram da Semana Missionária e que partilharam de nosso convívio fraterno nestes dias.

Mas além dos parabéns e minhas promessas de oração por Frei Vanderley, gostaria de, de um forma muito pessoalmente, agradecer a ele. Agradecer pelo seu jeito simples, fraterno e amigo, pela convivência diária na preparação deste grande dia. Agradecer principalmente pela oportunidade que nos deu a nós aqui de Vila Velha de participarmos e compartilharmos de sua alegria e emoções, pela chance da Semana Missionária em que nos aproximamos mais de nosso povo, seja ele rico, pobre, idoso ou jovem. Agradecer por ter nos dado a possibilidade de, nesses dias, sermos tocados pelo grande amor de Deus em nossos corações, por sentirmos a ação do Espírito Santo agindo em nosso dia a dia, em nossa vida. Agradeçer por, talvez mesmo sem saber, fazer um bem tão grande a cada um de nós, um bem em nossa vida como homens, como religiosos, como franciscanos. Frei Clarêncio me dizia ontem que estes dias de missão, esta ordenação farão um bem enorme à nossa paróquia e eu completo que isso se dará porque fizeram um bem muito maior em nós, frades.

Obrigado irmão! Você sim foi muito mais que um irmão nestes dias. Usando das palavras de Dom Décio, desejo que você “se torne um operário madrugador na construção de comunidades eclesiais e não simples edifícios, que Francisco e Clara guiem seus passos. Que nossa Senhora dos Anjos, nossa Senhora da Penha o proteja hoje e sempre.”

Primeira Missa

Primeira missa de Frei Vanderley

 

 

Frei Diego Atalino de Melo

A celebração das primícias de Frei Vanderley, realizada no dia 25/03, quinto domingo da quaresma, foi marcada pela forte emoção expressa nas suas lágrimas de alegria e gratidão. Junto com ele toda a assembleia emocionada e com um profundo espírito de oração participou ativamente de toda a celebração, enchendo a igreja com os belíssimos cantos entoados por todos.

Com a igreja do Santuário do Divino Espírito Santo, em Vila Velha, lotada, Frei Vanderley foi trazido até o altar por duas crianças vestidas de São Francisco e Santa Clara, que cantavam e repetiam com toda a assembleia o belo canto, “Se você quiser servir a Deus, faça poucas coisas, mas as faça bem”.

Ainda no início da celebração, foi trazida até o altar a imagem de Nossa Senhora da Penha por senhoras da Pastoral da Acolhida, tendo à frente da procissão a mãe de Frei Vanderley, Dona Mariazinha. Nesse momento, mais uma vez toda a assembleia foi às lágrimas, pois as duas mães do neo-sacerdote estavam presentes nesse momento tão singular em sua vida.

Com a presença de inúmeros confrades concelebrantes, Frei Vanderley presidiu a sua primeira celebração eucarística de maneira tranquila e serena, sem, no entanto, deixar de transparecer a imensa emoção e alegria de seu coração.

Como pregador de sua primeira missa, Frei Vanderley convidou seu amigo e frade capuchinho Frei Iduino Poubel de Moraes, que de maneira simples e profunda ajudou-nos a acolher melhor o Evangelho do dia, fazendo um paralelo com o próprio ministério que Frei Vanderley estava acolhendo. Frei Iduino lembrou a todos que “assim como o grão de trigo, o sacerdote deve gastar toda a sua vida para que haja muitos frutos, sendo necessário tomar a cruz do seguimento de Jesus Cristo a cada dia e renovar o seu sim a todo instante”.

Após a comunhão, frei Vanderley recebeu de presente uma cruz de São Damião, ofertada por dois jovens vestidos de São Francisco e Santa Clara, fazendo dessa celebração um momento marcadamente franciscano.

Por fim, Frei Paulo Pereira, guardião e pároco, chamou até o altar todos os frades que estiveram em missão ao longo da semana missionária vocacional, bem como a todos os leigos e leigas das comunidades que os acompanharam e preparam tudo com tanto carinho. Frei Paulo agradeceu a todos pelo empenho e pela generosidade com que toda a paróquia tinha se mobilizado para que tudo acontecesse da melhor formar possível.  Também motivou a todas as famílias que se comprometessem e rezassem pelas vocações sacerdotais e religiosas.

Após a celebração eucarística, todos os convidados se dirigiram para o Projeto Santa Clara, onde nos aguardava um delicioso almoço preparado pelas paroquianas e pelo nosso confrade Frei James Gomes Neto. Debaixo da sombra refrescante do pátio externo do local, todos os convidados, amigos e familiares de Frei Vanderley puderam se confraternizar e partilhar a refeição, com direito a sobremesa e picolé de fruta.

Enfim, mais uma vez percebemos o quanto o sim de um confrade é capaz de gerar tantas bênçãos e graças na vida das pessoas. Que o Senhor continue abençoando a nova missão do Frei Vanderley, e que ele possa continuar sendo um instrumento de paz e de bem na vida de tantas pessoas, principalmente dos mais pobres e necessitados.

Entrevista

“O homem moderno busca, incansavelmente, o rosto de Cristo”

 

 

Filho de Maria José e Jovino Grasi, natural de Marilândia, no interior do Espírito Santo, Frei Vanderley Grassi nasceu no dia 21 de outubro de 1975 e será ordenado presbítero no dia 24 de março, às 19 horas, no Santuário do Divino Espírito Santo, em Vila Velha (ES), pelo bispo de Colatina, Dom Décio Sossai Zandonade. Suas primícias serão celebradas no dia 24, às 9h30, no mesmo Santuário. Como conta nesta entrevista, o discernimento vocacional de Frei Vanderley começou em 2001, quando subiu o morro do Convento da Penha em busca de respostas. Em 2002 ingressava no Aspirantado de Imbariê (RJ) e no Postulantado de Guaratinguetá (SP) em 2003, etapas que o prepararam para ingressar na Ordem dos Frades Menores, que fez em 2004 ao ingressar no Noviciado de Rodeio (SC). Professo temporário, Frei Vanderley deu seu sim definitivo à Ordem Franciscana com a profissão solene no dia 5 de novembro de 2009. Cursou Filosofia em Curitiba de 2005 a 2007 e Teologia de 2008 a 2011. Foi ordenado diácono no dia 4 de dezembro de 2010. Nesta entrevista, conheça mais o futuro presbítero da Província da Imaculada Conceição do Brasil.  

Site Franciscanos – Como se deu seu discernimento vocacional? Fale um pouco de sua vocação e por que escolheu a vida religiosa franciscana?

Frei Vanderley – Sou natural de Marilândia, um pequeno município de 11.107 habitantes, com uma única paróquia que tem por padroeira Nossa Senhora Auxiliadora. Meus pais são pessoas simples que viveram toda vida no campo, de onde tiravam o sustento dos cinco filhos, dos quais sou o mais novo. Venho de uma família católica e acredito que minha vocação veio do testemunho de minha mãe, com sua simplicidade e falta de palavras eloquentes diante das dificuldades da vida, mas que, com uma fé inabalável, se apegava a Deus e à Virgem Maria por meio da oração do terço.  Aos 17 anos de idade, deixei a casa paterna e fui morar na grande Vitória, com o objetivo de trabalhar e poder dar continuidade aos estudos. Comecei a trabalhar e estudar à noite, e nos finais de semana participava nas comunidades Santa Luzia e Nossa Senhora das Graças, que pertence à paróquia Santa Clara de Assis, dos franciscanos capuchinhos em Vila Bethânia – Viana. Em 2000, fui morar em Vila Velha e todos os dias subia ao convento da Penha como milhares de pessoas que por lá passam com suas dores e alegrias. O que eu buscava? Ainda não sabia! Sabia somente que ali todas as minhas perguntas e dúvidas se calavam diante do mistério divino. Em 2001, comecei a participar dos encontros vocacionais no Santuário Divino Espírito Santo com o desejo de conhecer mais de perto o carisma franciscano. Orientado pelo Frei Ladí Antoniazzi, que era o animador vocacional juntamente com Benita e Flaviano. Eles ajudaram-me em meu discernimento pela opção à vida religiosa franciscana. O carisma franciscano me mostrou a possibilidade da visão de um Deus mais humano e pleno que se apresenta por meio da misericórdia.  Assim, senti o desejo de experimentar esse Deus que é vivenciado concretamente junto aos desvalidos e marginalizados de nossos tempos. Cheio de esperança e confiante, iniciei a minha caminhada vocacional em 2002, aos 25 anos de idade, passando pelo aspirantado, postulantado, noviciado, filosofia e teologia, o  que é próprio da nossa formação inicial.

Site Franciscanos – Como ser presbítero num mundo cada vez mais secularizado?

Frei Vanderley – Em nossa sociedade atual, onde predomina o hedonismo e a secularização, a figura do presbítero é objeto de muita discussão, inclusive na mídia. Mesmo, muitas das vezes, sem ter o conhecimento do assunto, querem emitir juízos a respeito da figura do presbítero.  O presbítero é homem de Deus. Esta é sua característica fundamental. Tudo que se queira acrescentar à sua figura, são detalhes acidentais. Isto não impede que seja uma pessoa comprometida com a realidade que está ao seu redor.  Apesar do secularismo, o homem moderno busca, incansavelmente, o rosto de Cristo. Por isso, o presbítero é chamado a ser representante do próprio Senhor. Ele o torna novamente presente. E quanto mais transparente e mais perfeita for essa presença, melhor responderá às indagações dos que a procuram. O presbítero é reconhecido pelo seu agir por meio da misericórdia e da caridade sempre em nome de Deus. E acredito que para nós, franciscanos, o ministério sacerdotal deve ser exercido sempre num espírito de alegria, pois somos anunciadores da Boa Nova. Exultando de alegria porque o Senhor me chamou. Eis que respondo: “Eis-me aqui, ó Senhor, venho para fazer a tua vontade”.

Site Franciscanos – Quais os desafios do presbítero hoje?

Frei Vanderley – Os desafios nos dias atuais são muitos para a vocação de um presbítero. Poderíamos elencar vários desafios, mas o maior desafio como presbítero é justamente se manter atualizado a respeito dos desafios que são próprios da sociedade. Já que aquilo que Deus nos revela, nos fala, deve sempre iluminar e orientar o que nós vivenciamos na sociedade. Devemos estar atentos a tudo o que a sociedade está vivendo, os caminhos por onde ela percorre e nos mantermos presente, dentro de um processo de formação continuada que é próprio da Ordem e da Igreja, com retidão daquilo que é a vontade de Deus para nós e para a sociedade. O presbítero, à imagem do Bom Pastor, é convocado a ser homem de misericórdia e compaixão, próximo a seu povo e servidor de todos, particularmente dos que sofrem grandes necessidades.

Site Franciscanos – Como falar de Francisco e Clara para os jovens de hoje?

Frei Vanderley – Francisco, ainda jovem, vai além, beija o leproso, uma pessoa que a sociedade ignorava, como sinal de sua escolha pelos excluídos. Clara deixa a casa paterna na penumbra da noite para consagrar-se ao Cristo que Francisco anuncia. Esse amor de Clara e Francisco pelo Senhor deve contagiar a juventude de hoje, ser diferente, reconstruir o que está perdido, acolher os excluídos.  O jovem deve desejar ardentemente ser essa diferença no mundo, mesmo em meio ao cotidiano de nossas vidas. Ser radicalmente apaixonado pelo Senhor, a ponto desse amor não caber mais no peito e transparecer nas palavras, gestos e atitudes. O jovem Francisco, tomado pela coragem e ousadia, pergunta ao Senhor: “Que queres que eu faça?”. O Senhor não o queria como um reformador de construções, mas como um reformador de corações.  Clara, da mesma forma ousada, admirada pela sua beleza, entregou seus longos e belos cabelos, e privou-se deste mundo, para viver consagrada totalmente a Ele, seguindo Francisco, mas percebendo que aquele caminho a levaria ao Cristo pobre. A diferença dos jovens Clara e Francisco está na decisão radical pelo Senhor, pelo maior de todos os amores, levando-o a todos, com todo o vigor e alegria. A juventude pode estender-se até o final de nossa existência, com o coração alegre e disposto a tudo que é novo.