Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Ordenação Presbiteral de Frei Paulijacson Pessoa de Moura

Ordenação

Frei Paulijacson: pronto para “curar feridas”

 

Moacir Beggo

São Miguel (RN) – “Ser presbítero, antes de tudo, é curar feridas”. Foi com esse propósito que Frei Paulijacson Pessoa de Moura foi ordenado presbítero no sábado, dia 29 de novembro, em São Miguel, cidade a 450 quilômetros da capital Natal (RN), por Dom Bernardo Johannes Bahlmann, bispo de Óbidos e confrade de Frei Paulijacson na Província da Imaculada Conceição do Brasil.

A volta do jovem franciscano a São Miguel, uma cidade com cerca de 25 mil habitantes, foi o assunto na cidade, principalmente porque durante uma semana o Serviço de Animação Vocacional, com o apoio da Paróquia de São Miguel, preparou este momento com a Missão Franciscana. Uma equipe de frades, seminaristas, religiosos e religiosas, e leigos visitou escolas, rezou nas praças, visitou doentes e celebrou o Tríduo Vocacional. E não poderia ser diferente no dia da festa. O povo compareceu e lotou a praça da matriz, que leva o nome de outro franciscano, o servo de Deus Frei Damião.

O altar foi preparado em frente à Igreja e à noite, com céu estrelado, teve um clima surpreendentemente agradável por causa de a cidade estar localizada numa serra. A celebração durou 3 horas e o povo não deixou a praça até a bênção final, mesmo a grande maioria que acompanhou em pé.

Às 18h30 teve início a celebração presidida por Dom Bernardo, e concelebrada por Frei Germano Guesser, Definidor da Província da Imaculada e representante do Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel; o pároco de São Miguel, Pe. Valdeci Donato da Silva; e o diácono Frei Sérgio Silas Damesceno. Frei Diego de Melo, coordenador do Serviço de Animação Vocacional, foi o comentarista. Além do povo de São Miguel e região, familiares que vieram de todo o Brasil, destaque para a presença de  uma caravana de fiéis da Paróquia de São Pedro Apóstolo de Gaspar, onde Frei Paulo reside atualmente, e de um grupo de amigos de Imbariê (RJ), onde o ordenando morou durante um ano e fez a pastoral nos finais de semana enquanto era estudante de Teologia em Petrópolis.

Frei Paulo foi acompanhado na procissão de entrada pela mãe Elisabeth e o irmão João, que permaneceram com ele até ser chamado para perto do bispo, depois da liturgia da Palavra. Em seguida, despediu-se da mãe e do irmão com um abraço e teve início o rito da ordenação propriamente.

Aliás, esse gesto fraternal deu o tom à celebração. Dom Bernardo estava muito feliz por estar ordenando um jovem que ele havia acolhido há onze anos como candidato à vida religiosa quando ainda era guardião do Convento São Francisco. Frei Germano deu testemunho e apresentou o ordenando em nome da Província da Imaculada, afirmando que Frei Paulo “era digno” de receber o Sacramento da Ordem.

Na sua homilia, Dom Bernardo sempre se dirigiu com muito carinho a Frei Paulo. Lembrou que o convidou para cuidar dos frades idosos do Convento São Francisco, tarefa que Frei Paulo fez com muita dedicação. Para Dom Bernardo, jamais eles poderiam imaginar que se encontrariam hoje, onde anos depois, como bispo e ordenando. “É um desses pequenos milagres de Deus”, disse D. Bernardo.

D.Bernardo também não poupou elogios a Frei Paulo pela escolha das leituras e do lema para a ordenação, tirado da parábola do bom samaritano: “Chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão”. Segundo o bispo, a primeira leitura (Hb 13,1-3.5b-6) ressaltou o amor fraterno e a hospitalidade. “Temos que ser hospitaleiros não importa a quem. Para isso, é preciso termos o nosso coração aberto e confiar em Deus, que vai nos amparar”, disse D. Bernardo.

Na segunda leitura, tirada do Testamento de São Francisco, mostrando a conversão e o beijo ao leproso, o bispo lembrou que foi uma experiência difícil para São Francisco e não será fácil para nós. “Ir ao encontro dos leprosos não foi nada fácil para São Francisco. Mas ele não desistiu desse processo de conversão, porque ele transformou o seu coração. Não será também fácil para nós, mas vamos conseguir abraçar o outro por amor a Deus”, acrescentou.

O evangelho (Lc 10,25-37) trouxe a bela parábola do samaritano e que, segundo o bispo,  não precisa de muitas explicações. “O samaritano teve misericórdia e cuidou. Esse cuidado, Frei Paulijacson soube ter logo no início de sua caminhada vocacional na Província”, disse D. Bernardo, apresentando ao povo Frei Nazareno Lütke, foi o animador vocacional do Convento e que acompanhou a preparação de Frei Paulo até ingressar no Aspirantado.

Para D. Bernardo, o sacerdócio é esse serviço que nos indica o Evangelho. “Como leigos, religiosos e religiosos, temos que nos colocar a serviço. O sacerdócio não é status, dinheiro. E nós, padres, devemos lutar mais para servir e  estar próximos dos mais necessitados. Isso é o mais importante. E tenho certeza que Frei Paulo faz isso!”, disse o bispo, que lembrou do falecimento de Frei Agostinho Piccolo, seu confrade na Província, que deu exemplo de alguém que viveu neste serviço a Deus.

Após a homilia, o rito continuou com o propósito do eleito. Em seguida, foi cantada a Ladainha de todos os Santos, quando o eleito prostrou-se, como sinal de sua total entrega a Deus. Veio, então, o momento central da ordenação com a imposição das mãos e a Prece de Ordenação. Na sequência, a última parte do rito: unção das mãos, vestição do eleito com a casula e a estola – Frei Germano e sua mãe o ajudaram neste momento – e a entrega do pão na patena e o vinho e a água no cálice para dar sequência à celebração eucarística.

AGRADECIMENTOS

Frei Germano falou em nome do Ministro Provincial da Província Franciscana da Imaculada Conceição. “Estou aqui como porta-voz para comunicar a alegria de todos por este momento. Devido à distância, a presença de muitos aqui não foi possível, mas eu trago mensagens e orações de todos os cantos da Província, meu caro Frei Paulijacson!”, disse o Definidor, que lembrou a Frei Paulo uma frase de S. João M. Vianney – “o sacerdote não é sacerdote para ele mesmo” –  e disse para ele nunca se esquecer do pedido do Papa Francisco: ter sempre o cheiro das ovelhas.

Frei Paulo ao lado da mãe e do irmão João

Frei Germano agradeceu carinhosamente ao bispo e confrade D. Bernardo, que veio de Óbidos para ordenar Frei Paulo, à Paróquia de São Miguel, na pessoa do Pároco Pe. Valdeci Donato da Silva, à Equipe Missionária que preparou a ordenação, aos familiares, especialmente a mãe e os irmãos, e não economizou palavras amorosas ao hospitaleiro e acolhedor povo de São Miguel, que deu um grande exemplo de hospitalidade ao acolher a caravana dos catarinenses em suas casas.

Frei Paulo também fez os seus agradecimentos e disse que tem consciência que a ordenação sacerdotal não é um ponto de chegada, mas é sobretudo um ponto de partida ao longo do ministério que irá exercer daqui em diante. “Vou me tornar, com ajuda de todos vocês, meus caros irmãos na fé, sempre mais padre. Sei que a minha vocação não é um favor que faço a Deus. É a resposta ao imenso favor que Deus me fez chamando-me para o seu serviço”, garantiu.

Frei Paulo disse que entende o sacerdócio como apresenta o Papa Francisco. “O sacerdote é chamado a proclamar a misericórdia de Deus, ter um coração que se comove. É necessário curar as feridas, há muitas pessoas necessitadas. Nós, sacerdotes, precisamos estar perto dessas pessoas. Ser presbítero, antes de tudo, significa curar feridas”, completou.

Primeira Missa

Frei Paulijacson celebra a Primeira Missa em São Miguel

 

Moacir Beggo

São Miguel (RN) – Na abertura do ano litúrgico, primeiro domingo do Advento, Frei Paulijacson Pessoa de Moura, ordenado presbítero no sábado, dia 29, celebrou a Primeira Missa na Matriz de São Miguel, em São Miguel (RN). Esse momento de graça foi vivido intensamente pela comunidade, que lotou a Matriz no domingo, 30 de novembro, às 10 horas.

Frei Paulo, como é conhecido, teve como concelebrantes Frei Germano Guesser, Definidor e representante da Província Franciscana da Imaculada Conceição, Pe. Valdeci Donato da Silva, pároco de São Miguel, o diácono Frei Sérgio Silas Damasceno. Além de seus confrades, que vieram preparar o Tríduo para esta ordenação, participaram desta Missa sacerdotes da Diocese, seminaristas, religiosos e religiosas.

O religioso da Congregação dos Rogacionistas, Ir. Célio Leite da Silva, foi escolhido por Frei Paulijacson para fazer a homilia de sua primeira Missa, como é costume na Província. Segundo o religioso, quando morava em Brasília como aspirante ainda da Congregação dos Servos da Caridade, ao fazer uma visita a São Miguel, conheceu Frei Paulo e se tornaram amigos. A partir deste contato, Frei Paulo começou a participar das pastorais da Paróquia de São Miguel e logo fazia parte do grupo vocacional. No seu discernimento vocacional, Frei Paulo teve um primeiro contato com os religiosos da Sagrada Face, mas depois de um ano pediu um tempo para amadurecer a sua decisão. Foi quando decidiu, em 2003, morar em São Paulo com sua irmã. Ali, acabou conhecendo os franciscanos da Província da Imaculada Conceição.

O pregador voltou a lembrar do tema escolhido por Frei Paulo para a sua ordenação, tirado da parábola do bom samaritano, e refletiu sobre o Evangelho da vigilância deste primeiro domingo do Advento. “Ser vigilante é se comprometer com as chagas dos sofredores. O sacerdote é chamado a curar, a ser bálsamo para a comunidade, para povo de Deus, ferido, machucado, às vezes até por nós, que somos Igreja. Ser vigilante é ser amoroso e ter esse coração compadecido, amoroso, tenro, assim como você sempre foi”, disse o religioso, ao contar duas histórias para mostrar que esse sentimento de compaixão sempre acompanhou Frei Paulo. “Já estava plantado aí no seu coração”, disse. “Em 2000, você e sua mãe, dona Elisabeth, andando pelo sítio de Umbaúba, ficaram sabendo de uma senhora que estava abandonada pela família. Ela vivia descuidada, abandonada e ferida. Nós três fomos até sua casa, que ficava numa grota, com grandes ladeiras, tanto que o carro não chegava lá. Aí, colocamos a senhora numa rede, amarramos a rede em uma madeira, colocamos no ombro e a trouxemos para São Miguel. A primeira ação foi banhá-la, alimentá-la e curá-la. Em seguida, você e sua mãe foram atrás da aposentadoria dela. Alugou-se uma casa e essa senhora passou a ser cuidada”, contou Ir. Célio.

O pregador da Primeira Missa de Frei Paulo

“Outro fato bonito foi quando visitamos uma família e vimos uma criança doente e a mãe depressiva, sem condições de criar a criança. Sua mãe, dona Elisabeth, trouxe a criança para São Miguel. Foi dolorido quando tivemos que separar dela. Mas ela precisava voltar para a sua mãe”, acrescentou.

“Ser vigilante é ter o coração compadecido. É promover a vida”, completou o Ir. Célio.

Um momento emocionante na celebração foi a oração de Frei Paulo para o seu pai durante as Preces. “A ausência de meu pai Francisco é apenas física, mas com certeza seu espírito está aqui com meus familiares paternos. Apesar de tantas incompreensões, coisas da vida que acontecem (separação matrimonial), ele tem um coração bom. Ele sempre esteve presente em todos os momentos de minhas orações. Não vamos julgá-lo de jeito nenhum. Só Deus conhece o coração das pessoas. Eu sou fruto da minha mãe e meu pai. Quero dizer que eu o amo muito”, disse.

Frei Paulo recebeu mais homenagens da família e da Paróquia. A celebração terminou com a encenação da linda canção “O amor não é amado”, de Frei Beraldo.

Por último, ressalto, mais uma vez, o agradecimento de coração  às famílias que nos acolheram nesses dias em São Miguel. Deus lhes pague!

Entrevista

Frei Paulijacson Pessoa de Moura

 

Moacir Beggo

Natural de São Miguel, no Rio Grande do Norte, Frei Paulijacson Pessoa de Moura será ordenado diácono, no dia 18 de maio próximo, pelo bispo diocesano Dom José Negri, PIME. Sua ordenação será às 15 horas na  Catedral São Paulo Apóstolo de Blumenau, SC. Conheça como Francisco entrou duplamente em sua vida e o pensa este servidor da Igreja e da Ordem Franciscana.

Site franciscanos – Em primeiro lugar, fale de sua vida.

Frei Paulijacson Pessoa de Moura – Nasci em 16 de dezembro de 1981, em São Miguel, RN. Sou o segundo de cinco filhos. Fui batizado com o nome Francisco, em 16 de janeiro de 1982, fato desconhecido por mim até o ano 2000, quando, então, com 18 anos de idade fui procurar o meu batistério para ser crismado. A secretária da minha paróquia procurava minha certidão de batismo, inutilmente, pelo meu nome, Paulijacson. Ora, pelo nome dos meus pais e padrinhos descobri que meu nome de batismo é Francisco. Fiquei surpreso e ao mesmo tempo curioso para saber o que tinha acontecido. Nem meus pais sabiam disso. Soube que, quando o padre achava o nome do batizando um tanto incomum, como é o meu nome civil – Paulijacson –, ele simplesmente colocava um nome mais conhecido ou dava algum nome de santo. No meu caso, chamou-me de Francisco. Quando fui ser crismado, perguntei à coordenadora da Crisma o que diria ao bispo no momento em que perguntasse por meu nome. Ela respondeu: “Fala Francisco”. E assim o fiz. Ou seja, meu nome cristão é Francisco, mas o civil é Paulijacson, pois em nenhum dos meus documentos consta o nome Francisco. Quando soube já era tarde demais (risos). Enfim, gosto do meu nome civil e gosto mais ainda do nome Francisco. Sobretudo quando conheci a história de Francisco de Assis e me encantei com o seu testemunho de vida. Recentemente, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, ao ser eleito Papa, escolheu o nome de Francisco: um motivo a mais para me alegrar.

Meus pais sempre trabalharam no comércio. Até decidir pela Vida Religiosa trabalhei com eles. Sempre participava das missas, mas até os 15 anos de idade pensava em ser médico. Nunca tinha passado pela minha cabeça em ser religioso ou padre. Mas aos poucos, depois de fazer algumas experiências de namoro, festas, como qualquer outro jovem da minha idade, sentia que faltava alguma coisa. Tudo aquilo, mesmo sendo muito bom, não me completava, sentia certo vazio. Perguntava-me: “Meu Deus, que sentido tem a vida?” “O que vou fazer da minha vida?” “O que realmente me faz feliz?” Assim como São Francisco, eu, sem o saber, fazia alguns questionamentos parecidos: “Senhor, o queres que eu faça?” Fiquei algum tempo com tais indagações.

Site franciscanos –  Então, começou o seu discernimento vocacional?

Frei Paulijacson Moura – Isso. Certo dia, um jovem amigo da família, que na época morava em Brasília, como aspirante da Congregação dos Servos da Caridade, estava de férias na minha cidade e veio almoçar na minha casa. Ele começou a contar como era a vida deles no convento: oração em comum, trabalhos diversos, pastorais, esporte, vida comunitária, etc. Ao ouvi-lo, pensei: “É esse estilo de vida que quero para mim”. A partir daí fui me engajando na Igreja, nas diversas pastorais, e fui fazendo toda uma caminhada de discernimento vocacional.

Engajei-me em algumas pastorais da minha comunidade – Igreja Matriz São Miguel Arcanjo – para começar um discernimento vocacional mais profundo. O testemunho do jovem aspirante despertou em mim a vontade de ser padre. Mas, desde o início, tinha claro: queria ser padre religioso. Na casa dos meus avós maternos, encontrei algumas revistas dos Frades Franciscanos Conventuais, “Cavaleiros da Imaculada”, nas quais era possível ver as propagandas vocacionais da OFMConv. Identifiquei-me de imediato com a história da vida de São Francisco de Assis e o modo de viver dos frades. O hábito franciscano sempre me chamou a atenção. Ficava encantado – e ainda fico! – vendo os freis vestindo o burel franciscano. Queria então ser como eles. Depois disso, escrevi para os Conventuais que tinham fraternidade em Fortaleza, CE, e participei de um encontro vocacional. Gostei do encontro e daí em diante ficamos nos correspondendo. Todavia, neste período, entre 16 e 17 anos de idade, comecei a participar do grupo vocacional da minha paróquia, formado por moças e rapazes, o qual era acompanhado pelas Irmãs da Sagrada Face, de origem italiana. A fundadora da congregação, Beata Maria Pia Mastena, queria que existisse também o ramo masculino da Sagrada Face. Infelizmente ela morreu sem realizar este projeto. No entanto, este sonho permaneceu no coração das Irmãs da congregação. Elas partilharam este desejo da madre fundadora conosco. Interessamo-nos por este bonito ideal e começamos a ser acompanhados por elas. Depois de quatro anos de acompanhamento vocacional, em 2002, entrei na Congregação da Sagrada Face, na qual dois jovens já faziam uma experiência em Fortaleza – CE. Fiquei um ano como aspirante e estudando filosofia. Mas neste tempo, o desejo de ser franciscano permanecia. Resolvi então pedir um tempo para melhor discernir a vocação e fui morar em São Paulo, em 2003, com minha irmã que lá residia.

Site franciscanos – Por que escolheu ser frade franciscano?

Frei Paulijacson Moura – Como sempre gostei de estudar, comecei a fazer um cursinho para vestibular. Com o tempo, fui percebendo que queria mesmo era ser frade franciscano. Estando em São Paulo, consegui o telefone do Convento São Francisco através de uma revista vocacional e liguei para o Frei Nazareno Lüdtke. Marcamos uma conversa e comecei o acompanhamento vocacional. Neste período, desisti do cursinho para vestibular, pois já tinha em mente ingressar no convento, e comecei a procurar trabalho. Frei Johannes Bahlmann, à época guardião do Convento e hoje bispo de Óbidos – PA, precisava de alguém que ajudasse o enfermeiro João nos cuidados com os frades idosos e doentes. Aceitei de prontidão o serviço e foi um tempo muito bom, de muita aprendizagem. Deste modo, participava dos encontros vocacionais aos domingos e trabalhava durante a semana, sempre no Convento. Assim, pude ver mais de perto como era a vida dos frades, o que me ajudou muito a decidir indubitavelmente pela vida religiosa franciscana. Após um ano de acompanhamento vocacional, ingressei no ano de 2004 no aspirantado, em Ituporanga – SC.

Site franciscanos – De forma concreta, como você pretende exercer o seu diaconato aí na Paróquia?

Frei Paulijacson Moura – Como o próprio nome já sugere, diácono significa criado, servidor, ministro.  Esta definição traduz bem o ministério eclesial que irei exercer na Paróquia São Pedro Apóstolo de Gaspar. É um serviço (diakonia) da caridade, da Palavra de Deus e da liturgia.  Estes três serviços não podem separar-se um do outro: encontram-se articulados sob o sinal comum do “serviço”. De forma concreta, ministrarei os sacramentos do batismo e do matrimônio, visitarei os doentes, darei bênçãos diversas, darei a bênção do Santíssimo Sacramento, farei a Celebração da Palavra, distribuirei a Sagrada Comunhão e farei pregações. Portanto, como diácono, colocar-me-ei inteiramente a serviço das comunidades e dos irmãos como servidor de todos.

Site franciscanos – Como está sendo a sua experiência na evangelização em Gaspar?

Frei Paulijacson Moura – Está sendo muito positiva e gratificante. O povo é muito generoso e bondoso. Acolheu-me de forma muito carinhosa e amiga. A fraternidade também me recebeu muito bem. Estou muito feliz, graças a Deus. Nesta experiência de evangelização, o Definitório Provincial me nomeou responsável direto pela FAV (Fraternidade de Acolhimento Vocacional) de Gaspar para acompanhar mais de perto os aspirantes que acolhemos. E, de modo geral, estou ajudando na formação dos agentes de pastoral. Acompanho as pastorais litúrgica, catequética e batismal, os grupos de reflexão bíblica e o Movimento de Irmãos. Sempre que possível também ajudo na Pastoral da Esperança. Enfim, tenho visitado muitas famílias, abençoando-as e benzendo suas casas.

Site franciscanos – Deixe, para terminar, uma mensagem àqueles que querem seguir Jesus Cristo, a exemplo de São Francisco.

Frei Paulijacson Moura – O cristianismo não é para pessoas moles, tampouco ser franciscano o é. Somente pessoas com coragem e determinação resoluta terão a força necessária para prosseguir neste caminho de discipulado, de seguimento. Cristo cria “bons soldados” não mimando-os, mas deixando-os passar por grandes dificuldades. A preparação militar, ou até mesmo o treino esportivo, são duros. Nenhum general orienta suas tropas dando-lhes o máximo de conforto e descanso. Nenhum técnico fortalece seus atletas sem dor e suor. Do mesmo jeito podemos nos preparar para passar por momentos duros na vida cristã-franciscana, porque o Senhor quer que fiquemos fortes e firmes, pois não há ressurreição sem cruz. Há tantas frustrações em nossa vida, às vezes nos amamos tão pouco, nos depreciamos tanto que afogamos em nós a alegria de viver, mas Deus ressuscitador pode despertar de novo nossa confiança e nossa alegria. Nossas lutas e sofrimentos não são em vão, mas devem ser vivenciadas pela experiência do Cristo ressuscitado. O exegeta suíço R. Pesch afirma que a experiência primeira dos cristãos consistiu em que “os discípulos se deixaram apanhar, fascinar e transformar pelo Ressuscitado”. Crer no Ressuscitado é saber descobri-lo vivo nos últimos e menores dos irmãos, convertendo-nos à compaixão e à solidariedade. Isto nos coloca em sintonia com o tempo pascal que estamos celebrando e celebrar a Páscoa é encarar a vida de maneira diferente, alegre e positiva, proclamando a todos a alegria do Evangelho. Deste modo, todos aqueles que querem seguir Jesus Cristo, a exemplo de Francisco de Assis, são marcados por uma intensa alegria. Alegria sim, mas alegria que nada tem de infantil e barulhento. Alegria que, apesar de sua intensidade, tem duração permanente, pois sua fonte é próprio Cristo ressuscitado. A alegria é expressão da concepção franciscana da vida. Daí que ser franciscano é partilhar a sorte dos pobres, dos sofredores, dos injustiçados, sofrer na alma as suas dores, aceitar se identificar com eles e participar dos seus sofrimentos, a fim de melhor os ajudar a conquistar a liberdade e a vida plena. Não ter medo de se sujar ao lado dos pecadores, dos marginalizados, se isso contribuir para promovê-los e para lhes dar mais dignidade e mais esperança.

Portanto, se é este espírito que o anima, jovem, venha ser franciscano! Deus haverá de reproduzir em você a vida dos grandes apóstolos dos tempos passados, dos Paulos, dos Franciscos, dos grandes missionários, etc.  O verdadeiro seguidor de Jesus Cristo, como São Francisco o foi, deve ser como São Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Assim, como franciscanos, queremos estar a serviço das novas relações que Deus quer estabelecer com os homens e mulheres, através do dom da fraternidade e da alegria. A fraternidade e a alegria, a que muitos anseiam, são possíveis em Jesus Cristo.