Ordenação Presbiteral de Frei Marx Rodrigues
Ordenação
A noite de gratidão de Frei Marx
Por Moacir Beggo
Nilópolis (RJ) – Sob as bênçãos do Bom Pastor, Frei Marx Rodrigues iniciou solenemente o seu ‘pastoreio’ neste sábado (11/5), ao ser ordenado presbítero por Dom Luciano Bergamin, CRL, bispo da Diocese de Nova Iguaçu, durante a Celebração Eucarística na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Nilópolis (RJ). A celebração, que teve início às 17 horas e só terminou depois de 3h10, mesclou alegria, fraternidade, a descontração de Dom Luciano, emoção, entrega e fé.
Segundo Dom Luciano, Frei Marx foi muito feliz ao escolher a data de sua ordenação no 4º Domingo da Páscoa, chamado “Domingo do Bom Pastor”. A bela igreja de Nossa Senhora Aparecida, de ‘roupa nova’ com a pintura e a reforma do telhado, lotou para vivenciar esse momento histórico. Ao lado do bispo estavam como concelebrantes o confrade de Frei Marx, Dom Frei Evaristo Spengler, bispo da Prelazia de Marajó; o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, representando o Ministro Provincial, Frei César Külkamp; o pároco de Nossa Senhora Aparecida, Frei Walter Ferreira Júnior, sacerdotes de toda a Província, da Diocese, além dos religiosos e religiosas e seminaristas. Além dos familiares e amigos, o povo veio de todas as Paróquias que conheceram o ordenando, inclusive de longas distâncias como os de São Paulo, onde o frade reside atualmente.
Após a proclamação do Evangelho, a convite do diácono Frei Gabriel Vargas, o ordenando se apresentou para o rito de eleição e foi confirmado pelo testemunho do Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, que destacou três características do ordenando: “Frei Marx traz consigo três características muito importantes no presbítero franciscano: disponibilidade, disposição e um amor muito sincero e devotado pelos pobres”, disse o Vigário Provincial, frisando que Frei Marx era digno de abraçar esse ministério. Dom Luciano, perguntou aos pais, aos familiares e ao povo de Deus se estavam de acordo. Ouviu um sonoro “sim” de toda a assembleia. “Com o auxílio de Deus e de Jesus Cristo, nosso Salvador, escolhemos este nosso irmão para a Ordem do Presbiterado”, completou o bispo.
Segundo o bispo diocesano, esta imagem de Deus representada por um pastor e o povo de Deus pelas ovelhas perpassa todo o Antigo e Novo Testamento. “Jesus, como nós ouvimos, reassume esta imagem, quando diz ‘Eu sou o bom pastor’. E nós, então, somos as ovelhas do Senhor. E o que as ovelhas têm que fazer? Escutar o pastor”, disse.
“Nós somos sempre ovelhas, mas ao mesmo tempo podemos assumir a missão de pastores em nossa vida. Vocês, queridos pais, são pastores; as catequistas, os professores são pastores. Nós, também, a exemplo de Cristo, podemos ser bons pastores”, disse, lembrando o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. “Nós precisamos muito de padres, precisamos muito de consagrados e consagradas, como precisamos muito de bons pais. Rezemos pelas vocações, de maneira muito especial pelas vocações sacerdotais e pelas vocações consagradas”, pediu.
Durante a homilia, Dom Luciano chamou Frei Diego Melo, animador vocacional da Província, para dar um testemunho de como foi a Semana Vocacional em preparação para a ordenação presbiteral de Frei Marx. Segundo Frei Diego, com uma equipe de cerca de 30 missionários e missionárias, dois pontos a marcaram essa Missão Vocacional: as visitas às comunidades e famílias durante o dia e o bonito trabalho que existe nas Paróquias Nossa Senhora Aparecida e Santíssima Trindade de ir ao encontro das pessoas em situação de rua.
“Não foi só uma ‘quentinha’ que levamos, mas o calor do amor de Deus que levamos e recebemos”, disse. O frade contou que outro momento marcante foi quando uma senhora o chamou e disse que, por circunstâncias da vida, tinha deixado de ser católica. “E aí ela olhou para os lados e disse: ‘Mas eu vou confessar uma coisa, Frei: de Nossa Senhora não me esqueci. Quando meus filhos saem de casa e vão trabalhar, porque todos são evangélicos, eu ligo a TV na Missa da TV Aparecida e me consagro a Nossa Senhora todos os dias”, explicou.
Dom Evaristo disse que Frei Marx será uma força para a Igreja para a Província. “O coração dele pertence a Deus e pertence ao povo. Caminhe, Frei Marx, sempre nesse ideal que você vem construindo ao longo da sua vida”.
Quando frade, Dom Evaristo viveu muitos anos na Baixada Fluminense e falou com carinho dessa convivência e partilha do povo com os frades. Lembrou que a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) fará uma missão na Prelazia do Marajó e disse que já guardou duas vagas para os frades em formação. “No Marajó tem um rio famoso, o Rio Tajapuru, onde vivem muitas comunidades ribeirinhas pobres. O povo está abandonado na saúde e, às vezes, passa fome. As meninas de 10 e 12 anos vão vender castanhas nas balsas e ali são abusadas sexualmente por 5 ou 10 reais. Nós queremos chegar mais perto dessas comunidades e dizer: ‘Vocês não estão sozinhos. A Igreja está com vocês. E essa aproximação da Igreja se dará nessa missão’”, adiantou, pedindo as bênçãos de Deus abençoe na vida e missão de Frei Marx.
Na sequência, no diálogo com D. Luciano, Frei Marx disse sim ao ministério presbiteral, suas funções e seu modo de vida. Então, ele se prostrou ao chão, enquanto a assembleia cantou a Ladainha de Todos os Santos.
A parte central do rito veio em seguida com a imposição das mãos de D. Luciano e a Prece de Ordenação, conferindo ao eleito o dom do Espírito Santo para o múnus de presbítero. A assembleia ficou em silêncio enquanto o mesmo gesto foi repetido pelos presbíteros, um a um, para significar a admissão do eleito na Ordem Presbiteral.
Acolhido entre os presbíteros, Frei Marx foi revestido com as vestes litúrgicas, trazida pelos pais Heloíza e Marco Aurélio Ribeiro dos Reis. Frei José Francisco dos Santos, guardião da Fraternidade do Pari, onde Frei Marx reside, com Frei Carlos Guimarães, da Fraternidade Nossa Senhora Aparecida, ajudaram o neopresbítero a retirar as vestes de diácono e a colocar a estola, sinal de seu serviço, e a casula, a veste própria do pastor.
Depois de ungir as mãos com o óleo do Crisma, Dom Luciano as amarrou com uma fita – simbolizando um compromisso assumido perpetuamente – e foi em direção de seus pais, Heloíza e Marco Aurélio, para desatarem a fita e receberem a primeira bênção do neopresbítero. Foi um momento de muita emoção para os familiares de Frei Marx e que naturalmente contagiou a assembleia. Frei Marx foi abraçado, então, pelos familiares, sacerdotes e confrades.
Dois jovens da Paróquia Santíssima Trindade carregaram em procissão o cálice e a patena para serem entregues a Frei Marx. O rito terminou com o abraço do bispo, dos sacerdotes e religiosos e da família. Na sequência, teve início da liturgia eucarística, quando Frei Marx se colocou ao lado do bispo no altar.
Depois da comunhão, um momento de devoção mariana. Dom Luciano pediu a Frei Marx que se ajoelhasse diante de Nossa Senhora para pedir suas bênçãos. Um grupo de bailarinas fez uma bela coreografia para homenagear a Padroeira do Brasil.
Agradecimentos
Frei Gustavo Medella, falando em nome da Província da Imaculada, agradeceu a acolhida do povo e lembrou que 80 famílias se apresentaram rapidamente para acolher todos os leigos e frades que vieram para a ordenação. “Eu fiquei pensando qual é o espírito dessas famílias que se dispuseram a acolher? Eles devem pensar, certamente: eu não sei quem vem, mas quem vem eu acolho porque é meu irmão, minha irmã, em Cristo Jesus. E fica a lição deles para nós termos esse coração generoso para acolher quem quer que seja por causa de Cristo. Muito obrigado, Dom Luciano, pelo modo fraternal e terno com que conduziu esta celebração. Muito obrigado a esta Paróquia de fé, Nossa Senhora Aparecida, também à Paróquia Santíssima Trindade, à Fraternidade Franciscana, e todo esse povo que não mediu esforços para tudo fosse bonito, para que sentíssemos acolhidos. Deus lhes pague. Muito, muito obrigado!”, disse, estendendo os agradecimentos à equipe missionária, a Frei Diego, à toda Família Franciscana e carinhosamente à família de Frei Marx. “Obrigado, porque vocês, no berço, conseguiram transmitir valores que deram a Frei Marx maturidade e segurança para abraçar essa vida de entrega e generosidade. Nós, da Província Franciscana da Imaculada Conceição, todos os nossos frades, podemos resumir num só sentimento: gratidão!”, completou Frei Medella.
Frei Marx, nos seus agradecimentos, não economizou nas palavras e emoções. “Caro Dom Luciano, meu irmão e pastor, a minha gratidão. Tu que derramaste óleo sobre a minha cabeça e hoje sobre as minhas mãos, também tem dedicado sua vida no pastoreio do povo dessa Diocese onde a minha cidade se encontra. Tu amaste o povo da Baixada Fluminense e seu amor deixou marcas em nossa santa cara de pau e em nossas solas de sapatos gastas. Em cada anúncio, de acalanto e de profetismo, que nessa terra se ressoa, há um pouco de sua voz”, disse. “Eu, embora reconheça toda a sua grandeza, te chamarei apenas de meu bispo e buscarei seguir os seus conselhos”, acrescentou.
Depois agradeceu a seus confrades e a Província da Imaculada Conceição, família “que me acolheu e me oportunizou tantas alegrias, mas sobretudo me permitiu ter a oportunidade de vivenciar a vida fraterna”.
Sua família mereceu carinhosos afagos. “Ser membro dessa família e filho dessa terra é como ser capaz de vislumbrar voos rasantes e transformadores, como de minha mãe reinventando na cozinha, na sala e nossa história a forma de viver”, disse.
Agradeceu ainda a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, a sua paróquia de origem, a Santíssima Trindade, onde neste domingo celebra a sua Primeira Missa, e todas as paróquias e fraternidades por onde passou. “Por fim, agradeço a Deus pelo seu plano de amor”.
“Quando celebramos uma ordenação, o eleito é interrogado sobre sua dignidade para assumir tal ministério. Eu tenho total ciência de que não sou merecedor de tal função, que sou um servo realmente muito inútil, mas também tenho certeza de que é o serviço ao Reino que me faz despertar a cada manhã, é por ele que tenho a alegria de viver e de esquadrinhar os melhores sonhos. Agradeço a Deus e me silencio, para que ressoe a voz de que nos diz: ‘Tu me amas? Então apascenta as minhas ovelhas’”, completou Frei Marx, natural de São João de Meriti (RJ), onde nasceu no dia 28 de setembro de 1989. Os pais, Heloíza e Marco Aurélio, tiveram mais duas filhas: Amanda Rodrigues dos Reis (34 anos) e Yolanda Rodrigues dos Reis (32 anos).
Sua formação franciscana teve início quando ingressou no Aspirantado de Ituporanga em 2008 e vestiu o hábito franciscano em 2010 ao ingressar no Noviciado Franciscano da Província da Imaculada Conceição. Cursou Filosofia em Curitiba e Teologia em Petrópolis. Em 2014 e 2015 morou no Convento do Sagrado Coração de Jesus e depois foi transferido para Imbariê – Duque de Caxias, onde morou por dois anos. Em 2018, foi transferido para o Convento São Francisco de Assis (SP) para trabalhar no Serviço de Animação Vocacional da Província e, nesse ano, foi transferido para o Convento Santo Antônio do Pari, onde está a serviço do SEFRAS -Serviço Franciscano de Solidariedade.
Primeira Missa
Frei José a Frei Marx: “Cuide-se, deixe-se cuidar e será capaz de oferecer cuidados”
Moacir Beggo
Nilópolis (RJ) – O “Domingo do Bom Pastor” (12/5) foi o domingo em que Frei Marx Rodrigues iniciou o seu ministério presbiteral depois de ser ordenado sacerdote neste sábado por Dom Luciano Bergamin, bispo da Diocese de Nova Iguaçu. A Paróquia Santíssima Trindade, no bairro Olinda, em Nilópolis, foi escolhida por Frei Marx para acolher este momento histórico, já que é a sua comunidade de origem e a que o acompanhou desde os primeiros passos na formação cristã.
Frei Marx presidiu a Primeira Missa às 8h30, tendo seus confrades como concelebrantes, entre eles o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, e Frei José Raimundo de Souza, que foi o escolhido para ser o pregador. Junto com o grupo do Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), que veio de São Paulo para a sua ordenação, os fiéis da comunidade local e das comunidades vizinhas, parentes, amigos, religiosos e religiosas, seminaristas, todos fizeram questão de mostrar o quanto queriam fazer parte da felicidade de Frei Marx. No meio de sua festa, também teve espaço para homenagear todas as mães presentes.
Frei Gabriel Dellandrea fez os comentários da Celebração e lembrou que Frei Marx, a partir deste final de semana, será o pastor de muitas pessoas atendidas pelo Serviço Franciscano de Solidariedade, o Sefras, com sede em São Paulo. Esse especial devotamente pelos mais empobrecidos marcou as Primícias de Frei Marx.
Frei José Raimundo, que era chamado de “Pai Zé” por Frei Marx durante os estudos de Filosofia e Teologia, brincou que o apelido não tinha a ver com idade, pois era apenas “uns poucos anos mais velho que ele”. Na sua homilia, destacou alguns elementos que o neopresbítero não poderá deixar de considerar como religioso franciscano e ministro ordenado.
Segundo o pregador, o primeiro elemento é ouvir a voz do Pastor e ser um pastor. “Ouvir é adesão e seguimento convicto e confiante do único e verdadeiro Pastor. Permaneça com todos os sentidos atentos ao Senhor e, com confiança, deixe-se guiar por ele. Certamente, haverá momentos em que você não terá clareza suficiente para, tendo chegado numa encruzilhada, escolher o caminho que continua o projeto de Deus. Nesse momento será necessária a confiança da ovelha que se entrega ao pastor que a conduz em segurança para a pastagem ou para o redil. Experimente constantemente o cuidado generoso do verdadeiro Pastor e, a partir dessa experiência, você poderá ser um pastor conforme Jesus. Assim será capaz de perceber a voz do Senhor que ressoa em toda parte a partir de muitas direções, chegando aos nossos ouvidos pelos que passam fome, pelos que têm sede, pelos despidos, pelos doentes, pelos aprisionados. E lembre-se: o grande Pastor será sempre o Senhor e Mestre”, explicou.
O segundo elemento é amar Jesus amando os que a Ele pertencem. “Você fala de amor algumas vezes na entrevista dada às ‘Comunicações’ da Província. Eu diria a você: Permanecer no amor de Jesus é ser o discípulo amado que ama Jesus amando os que a Ele pertencem. Muitos desses serão confiados a você. Um teólogo afirma que a misericórdia é o amor em ação. A solidariedade, o perdão, a acolhida, um abraço, um encontro, tudo isso é obra de misericórdia e é amor operativo”, disse.
Já no terceiro elemento, Frei José pede para que esteja sempre em plena comunhão com Deus. “Seja identificação aos que te procurarem em busca de ajuda e consolo e vejam em você o semblante de Cristo. E lembre-se, não serão necessárias obras ou acontecimentos extraordinários para que vejam em você o próprio Cristo. Isso acontecerá no cotidiano, nos gestos mais simples como a acolhida a alguém, quem sabe, um abraço, a exemplo de Francisco que acolheu, abraçou e beijou o pobre leproso”, ensinou.
Por último e quarto elemento, “Seja luz conforme o Senhor te fez”. Segundo o pregador, ser luz é levar a salvação, é libertar os filhos de Deus, devolvendo-lhes a dignidade perdida, muitas vezes não por própria responsabilidade, mas porque lhes tiraram a dignidade, pois, por exemplo, uma coisa é ser pobre, outra é ser vítima de sistemas, esquemas e estruturas que empobrecem. “Ser Luz é levar a salvação até os confins da terra, isto é, indistintamente, sem qualquer preferência, acepção, até ao submundo, onde os humanos foram desumanizados”, ressaltou.
Para Frei José, a atitude de Frei Marx será a de Jesus e de Francisco, colocando-se ao lado dos sem voz e sem vez, do pobre e do leproso, pois é permanecendo com eles que poderá levantar o caído, curar suas feridas, saciar a fome, transformar o mundo conforme o reino de Deus. “Cultive a sensibilidade de Jesus e de Francisco de Assis a fim de perceber todos os que, tocando ou puxando a barra do seu hábito, clamarem por ajuda. Você disse em entrevista às ‘Comunicações’ da Província que ser presbítero é ser menor e servo. É desse modo, com essas atitudes, que você desempenhará seu ministério a fim de humanizar os desumanizados.
Sua forma de vida religiosa franciscana e, agora, seu ministério presbiteral exigirão de você perseverança e serviço insistente, por vezes, desgastante. O serviço será prestado em favor de pessoas muitas com as quais você já convive no dia a dia do seu trabalho no Sefras, que vivem em situações acidentadas, ora sendo preciso remover o que sobra, ora tendo que preencher vazios”, lembrou.
Aconselhando o neopresbítero, o pregador pediu para nunca se afastar daquilo que é próprio dos frades franciscanos: a vida de oração, escuta atenta da Palavra de Deus, humildade, minoridade e vida fraterna. “Obtenha desses fundamentos franciscanos a seiva que nutrirá sua vida religiosa e seu ministério presbiteral. É fortalecido que você poderá dedicar-se vigorosamente ao Povo de Deus. Cuide-se, deixe-se cuidar e será capaz de oferecer cuidados”, indicou.
Lembrando São Francisco de Assis – “Devem alegrar-se, quando conviverem entre pessoas insignificantes e desprezadas, entre os pobres, fracos, enfermos, leprosos e os que mendigam pela rua” (RNB 9,2) – Frei José deu uma direção a Frei Marx. “Mantenha sua simpatia acolhedora e continuará, como Jesus, atraindo pessoas e oferecendo a elas conforto, enxugando as lágrimas, e conduzindo-as para as fontes de água viva, perpetuando na história os feitos libertadores e redentores do Cordeiro”, completou.
AGRADECIMENTOS
No final da Celebração Eucarística, as homenagens vieram de todas as Comunidades de Nilópolis e do Sefras. Segundo Rosângela Pezoti, a paquera com Sefras já vinha acontecendo antes de ser transferido para o Serviço de Solidariedade da Província. “Por isso, foi uma alegria muito grande para nós”, disse Rosângela. “A gente vive tempos muitos difíceis, a população que nós atendemos sofre com muita violência, perseguição e intolerância. Mas nós vivemos também um período de muita esperança e persistência. E para nós, ter mais pessoas que sonham o nosso sonho é muito importante, porque nós trabalhamos e sonhamos com um mundo mais justo e fraterno. Nós queremos que este mundo se transforme. É para isso que o Sefras existe. E mesmo com muitas dificuldades, você pode ter certeza, Frei Marx, a gente não vai soltar a mão um do outro”, garantiu Rosângela.
Frei Marx agradeceu o Sefras pela homenagem e fez um agradecimento especial ao trabalho da Comunicação da Província. Ele também recebeu uma carinhosa homenagem dos coroinhas da Paróquia Santíssima Trindade, onde atuou como jovem. Frei Vítor Amâncio falou pelo Serviço de Animação Vocacional, responsável por toda a preparação da Semana Missionária na cidade.
No final, Frei Marx apresentou os seus confrades Frei Gabriel Dellandrea e Frei Canga Mazoa, que foram aprovados para fazer profissão solene, e Frei José Morais Cambolo, que vai ser ordenado diácono. Não estavam presentes mas também foram citados os frades aprovados para a profissão solene: Frei Hugo Câmara dos Santos, Frei Roger Strapazzon e Frei Santana Sebastião Cafunda.
Entrevista
Frei Marx será ordenado presbítero neste sábado
Moacir Beggo
O fluminense Frei Marx Rodrigues dos Reis será ordenado presbítero no dia 11 de maio, às 17 horas, pelas mãos de Dom Luciano Bergamin, CRL, bispo emérito de Nova Iguaçu, na Igreja Nossa Senhora Aparecida, em Nilópolis. Sua Primeira Missa será celebrada na Igreja Santíssima Trindade,em Nilópolis, no dia seguinte, às 8h30.
Filho de Heloíza e Marco Aurélio Ribeiro dos Reis, Frei Marx nasceu em São João de Meriti (RJ) no dia 28 de setembro de 1989. Tem duas irmãs: Amanda Rodrigues dos Reis (34 anos) e Yolanda Rodrigues dos Reis (32 anos).
Frei Marx ingressou no Aspirantado de Ituporanga em 2008 e vestiu o hábito franciscano em 2010. Cursou Filosofia na Fae Centro Universitário e Teologia no ITF, em Petrópolis. Em 2014 e 2015 morou no Convento do Sagrado Coração de Jesus e depois foi transferido para Imbariê – Duque de Caxias, onde morou por dois anos. Em 2018, foi transferido para o Convento São Francisco de Assis (SP) para trabalhar no Serviço de Animação Vocacional da Província e, nesse ano, foi transferido para o Convento Santo Antônio do Pari, onde está a serviço do Sefras – Serviço Franciscano de Solidariedade.
Site Franciscanos – Como se deu o seu discernimento vocacional?
Frei Marx – Enquanto estive no trabalho do Serviço de Animação Vocacional me questionei sobre isso. Nesse período, pude voltar ao meu ponto de partida, como nos ensina Santa Clara, e vi a misericórdia de Deus para comigo e os meus conterrâneos. Não nasci em uma família católica, mas, como em nosso país o sincretismo religioso é bem acentuado, fiz um longo período de catequese e, próximo da minha primeira comunhão, fui convidado a fazer um retiro no mosteiro das Irmãs Clarissas de Nova Iguaçu. No caminho, o ônibus passava por alguns lugares de pobreza visível e vi algumas crianças que brincavam descalças no chão, na terra batida e escurecida pelo lixo que estava à volta. Lembro-me de ter me visto pobre pela primeira vez e de ter me interrogado sobre o motivo que as Irmãs se propuseram viver naquele lugar.
Após essa oportunidade de ver uma realidade sofrida, tivemos a graça de conversar com as Irmãs, que nos explicaram a permanência delas a partir da vida de um Santo que deixou tudo o que tinha para servir a Deus entre os mais pobres de sua época. A história da vida de Francisco me impressionou. Como um homem foi capaz de deixar toda a sua riqueza para viver entre os leprosos, comendo migalhas, enquanto parecia ter encontrado o amor de sua vida?
Interroguei a irmã de onde vinha esse amor de Francisco. Ela, então me apresentou um Deus que, na sua divindade, não media esforços pela humanidade, principalmente pelos mais sofridos: Acolhia as crianças; sentava-se à mesa com os pecadores; falava de um Reino para os pequeninos. Nunca mais me esqueci desse Deus e nunca mais pude deixar de pensar num Reino no qual tem lugar para todos, que abre espaço para a humanidade ver o sagrado.
Primeiro, entendi que precisava ser franciscano. Fiz cinco anos de acompanhamento vocacional na Paróquia Nossa Senhora Aparecida e, a cada dia, entendia que a experiência de Deus se dava como proposta de uma nova realidade para mim. Entrei no Seminário em 2008 e lá entendi, com muita facilidade, que o ministério do presbítero tem total relação com a missão de ir aos mais sofridos e necessitados, apresentando a proposta do Reino de Deus. Essa minha leitura se perpetuou por muito tempo, até que tive uma crise. Pensei que talvez esse não seria o caminho que tinha desejado. Achei que talvez não quisesse viver em uma paróquia ou santuário, até que fui transferido para a Paróquia Santa Clara de Assis, em Imbariê, Duque de Caxias. Lá vi que ser um presbítero é algo mais do que estar em um espaço físico. Entendi que existe uma estreita relação entre celebrar o pão partido e enxugar as lágrimas dos que buscam o nosso convento. Vi que existe algo de sagrado na vida do povo e que esse povo deseja se apresentar a Deus, que o cálice não é apenas um vaso de metal, mas é o sagrado reunido em uma fé que provém do Evangelho. Naquela terra, quando se prega o Evangelho, o povo nos pede para rezarmos um pouco e, quando nos abraçamos, eles nos dizem: “Reze por mim, frei, reze por mim!”. Lá vi nos olhos do povo o sagrado e desejei servi-lo em preces constantes até o final de minha vida.
Site Franciscanos – O que é para você o ministério presbiteral?
Frei Marx – É algo que não seria capaz de definir. Sou capaz de refletir. Tenho certeza que não sou uma pessoa tão diferente do restante do povo de Deus e que por isso fui escolhido. Tenho a certeza que sou uma pessoa que Deus amou de tal forma que hoje sinto a necessidade de amar ao próximo, pois o amor de Deus transborda na vida humana. E é justamente porque o amor é algo tão próprio que nos colocamos no serviço presbiteral, porque é preciso amar os pobres e sofredores, anunciar o Evangelho que nos traz a vida, rezar por nós e por todos para que esse ministério tenha sentido.
Tem um fato que me aconteceu e que muito fala sobre o sentido do ministério. No final do curso de Teologia, tive a graça de fazer uma missão na Amazônia Peruana no período de um mês. Em um dos lugares que visitei, encontrei uma senhora que tinha perdido seu filho de treze anos naquela semana, e ela me pediu que rezasse pela alma de seu filho. Aceitei, e como naquela aldeia não tinha capela, fizemos a celebração na sua casa de pau-a-pique. Tinha apenas uma parede levantada e uma mesa que utilizamos para celebrar a Palavra de Deus. Quando chegou a hora de apresentarmos as nossas intenções, solicitei àquela senhora que fizesse algum pedido. Ela, com os olhos cheios de lágrimas, disse: “Frei, não tenho nada para pedir, quero apenas agradecer. Sabe como meu filho morreu? Então, ele me pediu um doce (que seria por volta de um real) e eu disse para ele que se lhe desse também precisaria dar para os seus dois irmãos. Como não tinha condições de comprar para todos, propus comprar primeiro para os menores e, da outra vez, compraria dois para ele. Ele aceitou e, quando voltei da quermesse, ele tinha subido nessa mesa, que você está rezando, para se enforcar. Ele deixou um bilhete que dizia não ser amado. Mas hoje, vejo que ele sabe que eu o amo, porque na mesa que ele morreu, celebro a sua vida”.
Acho que ser presbítero é ser capaz de celebrar o mistério de Deus que escorre do altar até o chão da existência dos homens. Ser presbítero é ser o menor, servo, para que o amor de Deus apareça. Ser presbítero não tem nada de mágico, tem tudo de mistério e o mistério nos foi revelado na vida de Jesus Cristo, que a entregou no dia a dia até que O entregamos numa cruz. Nela, Ele fez o canal da vida eterna, para que aquela mulher fosse capaz de viver sem ter os 3 reais que tiraram a vida de seu filho, mas que também fosse capaz de entender que o plano de Deus é que todos tenham vida em abundância.
Site Franciscanos – Como você apresentaria Francisco e Clara aos jovens. Que mensagem deixaria para eles?
Frei Marx – Acredito que Francisco e Clara são dois exemplos de quem buscou viver o Evangelho. Tenho plena certeza que o maior encantamento está em Jesus de Nazaré, um homem que nos apresentou o rosto humano de Deus. Esse Homem nos fez e ainda faz sentir que Deus realmente existe e isso nós vemos em suas atitudes que descortinam um novo amanhã.
Francisco e Clara viveram na carne aquilo que seus corações professavam: se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e depois me siga.
Eu perguntaria aos jovens: Vocês querem seguir a Jesus? Então, cumpram o que ele mandou. Tenho certeza que muitos jovens são apaixonados por Deus e buscam respostas audaciosas para esse amor que não cabe mais no peito. Sei que isso era o que sentiu Francisco e Clara quando deixaram a casa paterna sem saber muito bem o que haveriam de viver. Mas tinham uma certeza: não podiam dizer não ao mistério que eles viviam.
Site Franciscanos – Fale um pouco de sua família?
Frei Marx – Bem, somos três irmãos, eu e mais duas meninas, que são mais velhas que eu. Os meus pais moram em Nilópolis desde que se casaram e acho que nunca sairão de lá. Existe uma raiz profunda naquela terra. Eu cresci em uma casa bem pequena e tinha condição financeira bem simples. Naquela casa tínhamos uma relação muito saudável e diversa. Meu pai sempre sonhou com um mundo novo, sem desigualdades e misérias. Empenhou-se naquilo que lhe era possível e até hoje tem grandes sonhos. Minha mãe sempre foi muito lutadora. Lembro que cresci escutando MPB por influência dos meus pais. Nunca me esqueci da “Aquarela do Brasil”, que minha mãe cantava e nós tínhamos que desenhar no tempo da música. Também me recordo que, quando ficou muito claro para minha mãe que iria entrar no seminário, ela começou a participar das Missas comigo e, muitas vezes, me esperava na porta da Igreja até que concluísse tudo que era necessário. Acho que esse tempo gasto na porta da Igreja me fez entender um pouco do que é amar, do que é esperar pelo mais simples e satisfatório no mundo: a felicidade dos seus.
Acho que não serei capaz de grandes coisas, mas espero, ao menos, ser capaz de dedicar o tempo necessário para que os pequeninos do Reino sejam felizes.