Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Ordenação Presbiteral de Frei Leandro Costa Santos

Ordenação

“Jamais feche o coração”, pede D. Fernando a Frei Leandro

 

 

Moacir Beggo

 São Paulo (SP) – “Seja solidário com o coração sempre aberto”, foi a mensagem que o franciscano Dom Fernando Figueiredo, bispo emérito da Diocese de Santo Amaro, deu de presente a Frei Leandro Costa Santos ao receber o segundo grau do sacramento da Ordem durante a Celebração Eucarística neste sábado (9/02), às 10 horas, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Jardim Pedreira, em São Paulo (SP). Momento histórico para o jovem religioso franciscano, para a comunidade de fé, para a família e para a Província Franciscana.

Frei Diego Atalino de Melo, animador do Serviço Vocacional da Província (SAV), saudou a todos com caloroso “paz e bem”, acolhendo os irmãos e as irmãs que vieram de perto e de longe, como os três ônibus de amigos de Vila Velha, onde Frei Leandro viveu os dois últimos anos, e Rio de Janeiro, onde o ordenando fez a sua formação pastoral na Baixada Fluminense.

A Paróquia, situada na Zona Sul de São Paulo, ficou repleta e o dia festivo tomou conta dos fiéis para louvar a Deus pela vida de mais um jovem que assume o ministério sacerdotal no mistério pascal de Cristo. Na procissão inicial, Frei Leandro foi apresentado ao Senhor tendo seus pais – Francisco e Francisca – do seu lado. Os familiares ocuparam os primeiros bancos próximos do altar.

 

Dom Fernando presidiu a celebração, tendo como concelebrantes o Ministro Provincial, Frei César Külkamp, e os párocos, Pe. Lírio Peres da Silva (Nossa Senhora Aparecida) e Pe. Mauro Jr. Campos Pereira (Rainha dos Apóstolos), juntamente com inúmeros confrades vindos de várias partes da Província Franciscana da Imaculada Conceição, religiosos e religiosas, sacerdotes da Diocese e seminaristas.

Terminada a liturgia da Palavra, Frei César apresentou ao bispo o candidato ao ministério sacerdotal. Frei Leandro disse “presente”, abraçou seus pais e se colocou diante do bispo.

HOMILIA FRANCISCANA

Na sua homilia, Dom Fernando começou lembrando a reverência que São Francisco tinha pelos sacerdotes. “E assim como o Senhor Deus vos honrou acima de todos por causa deste ministério, de igual modo também vós amai-o, reverenciai-o e honrai-o acima de todos”, frisou Dom Fernando, citando os Escritos do Seráfico Pai. O bispo franciscano também lembrou que São Francisco de Assis enviava e envia os frades pelo mundo. “Eles são enviados pelo mundo para que sejam presenças de solidariedade, de perdão e misericórdia. Para que sejam presenças de solidariedade para com os que sofrem. Não se esqueça deles, jamais!”, dirigiu-se o bispo ao ordenando.

 

Segundo o bispo, não precisa ser enviado para muito longe. “É só abrir o jornal, olhar a televisão, ao seu redor, e ai terá tanta gente precisando de solidariedade. Portanto, seja solidário com os que sofrem, com os que pouco ou nada têm, sobretudo aqueles que não falam, que sofrem em silêncio, que são carentes sem se expressar”, insistiu, pedindo para Frei Leandro ser a voz dos mais humildes. Mas frisou: “Seja solidário com o coração sempre aberto. Jamais o feche!”, ensinou Dom Fernando.

“Veja que beleza! São Francisco desejava que o sacerdote fosse presença e solidariedade com os que sofrem. Mas há algo que nos perturba e que, às vezes, nos impede de ser essa presença. É o mal do egoísmo, que não é de maneira alguma se desvalorizar, deixar de lado a estima em relação ao outro. Não devemos jamais nos subestimar, nos desvalorizar. O próprio Francisco diz: ‘Deus o honrou acima de todos’. Cada um tem um valor imenso, um valor sem par no coração bondoso de Deus. Todos nós. Não importa quem seja, porque somos à imagem e semelhança de Deus. O mal do egoísmo é não reconhecer no outro o valor, a estima que ele tem. Portanto, em cada instante, valorize aqueles que nos rodeiam, valorize uns e outros que encontrar nessa travessia da vida, principalmente naquela sem vida e também na própria vida comunitária religiosa”, ressaltou.

 

“Como confrades, valorizamos uns os outros porque temos o mesmo ideal, que não é sempre vivido de modo igual, porque não somos iguais. Todos vivemos dentro de um carisma, com a vocação franciscana, mas cada um com a sua identidade própria. Por isso, abra sempre o coração e seja presença de solidariedade, de perdão e misericórdia”, frisou.

Dom Fernando, então, pediu que todos rezassem juntos uma Oração de São Francisco: “Grande e Magnífico Deus, meu Senhor Jesus Cristo, iluminai o meu espírito e dissipai as trevas da minha alma! Dai-me uma fé íntegra, uma esperança firme, uma caridade perfeita! Concedei, meu Deus, que eu vos conheça muito, para poder agir sempre segundo os vossos ensinamentos e de acordo com a vossa santíssima vontade”.

E o bispo terminou dizendo: “Senhor, permanecei conosco, e a luz de vossa face, resplandeça sobre nós, resplandeça sempre sobre Frei Padre Leandro!”.

 

O RITO

Terminada a homilia, Frei Diego passou a explicar, liturgicamente, todos os passos seguintes do rito da ordenação presbiteral. Com a aceitação do bispo e o propósito do eleito, teve início a Ladainha de Todos os Santos, quando Frei Leandro se prostrou ao chão, enquanto o povo rezava pedindo a intercessão de todos os santos.

O ordenante impôs as mãos sobre o candidato e, em silêncio, rezou. Esse momento terminou com a Oração Consecratória. Todos os padres presentes fizeram o mesmo. Em seguida, Frei Leandro, foi revestido com as vestes de sacerdote. O seu novo guardião no Convento São Francisco, Frei Mário Tagliari, e Frei Nazareno Lüdtke, que o acolheu na Província como vocacionado, ajudaram-no a se vestir.

 

Já como novo presbítero, Frei Leandro teve as mãos ungidas com o óleo do Santo Crisma, que foram amarradas pelo bispo para que os seus pais as desamarrassem, significando que agora elas estão a serviço do povo de Deus. Com as mãos livres, Frei Leandro deu a sua primeira bênção aos pais e, no abraço fraternal dos três, o choro veio com força.

Já no fim do rito, o ordenando recebeu, de joelhos, a patena com o pão, o cálice com o vinho e a água. A Celebração Eucarística continuou, só que agora com o novo presbítero no altar, ao lado de Dom Fernando. A Santa Missa terminou com a bênção do novo presbítero para toda a assembleia.

SÓ GRATIDÃO!

 

Em nome da Província Franciscana da Imaculada, o Ministro Provincial, Frei César Külkamp, agradeceu a Deus, a Dom Fernando, à família, a todos que ajudaram a preparar esta ordenação presbiteral, mas lembrou: “A palavra principal de agradecimento hoje é Frei Leandro, pela oferta da sua vida, por ser irmão conosco e agora também neste serviço. Que Deus te abençoe sempre mais na sua caminhada, na sua vida franciscana e agora também sacerdotal. Conte sempre com seus irmãos franciscanos!”

O diácono Frei Gabriel Vargas chamou, no altar, os confrades da turma para dar um grande abraço coletivo. “É uma alegria muito grande poder partilhar este momento contigo”, disse.

Nos seus agradecimentos, Frei Leandro teve que interromper inúmeras vezes sua fala para conter o choro. “Eu quero servir esse Deus de hoje em diante”, jurou.

 

Dirigindo-se a Dom Fernando, revelou: “Sou inteiramente grato ao sr.  Certo dia, no ano de 2004, suas mãos me abençoaram para iniciar uma trajetória vocacional, e hoje, mais uma vez, porém com a excelência do Sacramento da Ordem, com essas mãos o sr. me faz pastor do rebanho de Cristo. Minha gratidão!”, contou.

Frei Leandro fez questão de agradecer a todos e se emocionou ao falar da família. Lembrou que foi batizado nesta igreja onde se ordenava. Demonstrou toda a gratidão pela acolhida que lhe deu o pároco Pe. Lírio Peres da Silva. Agradeceu também o pároco da Rainha dos Apóstolos, Pe. Mauro Jr. Campos Pereira, a sua Paróquia de sua origem onde, neste domingo, celebra a sua Primeira Missa, às 10 horas.

Primeira Missa

Três conselhos de Frei Clarêncio ao neopresbítero Frei Leandro

 

 

Érika Augusto

São Paulo (SP) – Ter um coração agradecido, dar sem esperar recompensa e encher-se de Deus: foram os três conselhos oferecidos por Frei Clarêncio Neotti a Frei Leandro Costa, que celebrou na manhã deste domingo (10) suas Primícias na Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, Zona Sul de São Paulo. Ele foi ordenado presbítero neste sábado (9) por Dom Fernando Figueiredo. (VEJA MAIS)

Reuniram-se para participar deste momento de ação de graças o Ministro Provincial, Frei César Külkamp; Frei Diego Melo, do Serviço de Animação Vocacional; Pe. Mauro Jr. Campos Pereira, da Paróquia Rainha dos Apóstolos, Pe. Francisco das Chagas, da Diocese de Santo Amaro; frades, religiosas, religiosos, familiares, leigos, paroquianos e amigos de Frei Leandro, vindos de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

 

Como é tradição, o neopresbítero convida um pregador para a homilia da primeira Missa. A tarefa foi destinada a Frei Clarêncio Neotti, que morou na mesma Fraternidade de Frei Leandro Costa, Divino Espírito Santo, em Vila Velha (ES) e por quem o neopresbítero tem muito carinho.

Frei Clarêncio, de 84 anos de vida, aconselhou o jovem frade, explicando que a palavra sacerdote significa dom sagrado e, por ser um dom, deve ser agradecido. “Todos os dias de sua vida serão poucos para agradecer este presente”, assegurou o experiente frade, com 58 anos de ministério sacerdotal. “O dom do sacerdócio não é um ornamento. Ele é um dom e traz consigo a chave que abre os cofres da graça misericordiosa de Deus a quantos pedirem”, acrescentou.

Sacerdote não é represa, é rio

Frei Clarêncio afirmou que o padre não pode ser uma represa, mas um rio que corre para fecundar todas as margens por onde passa. “O sacerdote tem uma missão substantiva, a doação. É condição de Deus para ser dada, não vendida. O sacerdote conjuga o verbo dar em todas as pessoas e tempos”, aconselhou. “Padre que não se doa apodrece estagnado”, alertou.

 

Frei Clarêncio recordou as palavras de Frei César a Frei Leandro no dia anterior. O Ministro Provincial exaltou os inúmeros dotes do jovem franciscano, como o talento para a música, o desenho e as boas relações. “Faça destas qualidades o combustível do verbo dar, do verbo apascentar. Não esqueça que na palavra sacerdote está o substantivo dom, do verbo dar”, aconselhou.

O pregador afirmou ainda que é necessário corrigir a tendência natural de esperar recompensa. Segundo ele, é necessário um coração que não espere aplauso ou aprovação, nem mesmo recompensa – seja ela humana ou divina.

Não ser uma caixa d’água vazia

O terceiro conselho de Frei Clarêncio foi para que o sacerdote deixe-se divinizar, encher-se de Deus. E usou uma expressão que ouviu quando ainda estava no seminário: não ser uma caixa d’água vazia. “A criatura humana sozinha, por mais qualidades que tenha, no sacerdócio se parecerá um carro sem combustível, uma caixa d’água vazia, que não dará água a ninguém”, apontou.

Ele acrescentou que a água, que deve encher a caixa d’água e abastecer toda a comunidade, é Deus. Por isso, o sacerdote deve encher-se de Deus, para que ele possa contagiar os que estão ao seu redor. “O dom sagrado que você recebeu pressupõe o enchimento continuado vindo de fora. Você não é padre sozinho, você precisa sempre encher-se de Deus”, pediu o confrade.

 

Em seguida, Frei Clarêncio afirmou que quebraria o protocolo da celebração. Ele contou que quando estava saindo de Roma, onde trabalhou por nove anos na Cúria Geral da Ordem dos Frades Menores, foi cumprimentar o Papa São João Paulo II e partilhou que estava celebrando seu 50º aniversário de sacerdócio. O Pontífice, então, entregou-lhe uma estola – a mesma que Frei Clarêncio estava usando naquele momento. Num gesto de carinho, o pregador deu sua estola a Frei Leandro Costa, que a vestiu imediatamente. O momento foi sucedido de um longo abraço entre os confrades, acompanhado com muita emoção por toda comunidade reunida.

Por fim, Frei Clarêncio pediu ao jovem frade, inspirado no evangelho do dia: “Reme e deixe o milagre por conta de Deus”, concluiu.

Os joelhos que rezam, os pés que caminham e as mãos que trabalham

No final da celebração, Frei Diego Melo agradeceu os frades, religiosas, religiosos e leigos que ajudaram no Tríduo e na semana missionária, debaixo de sol escaldante ou de chuva torrencial e por todos que rezam pelas vocações. E salientou o tripé fundamental para o bom andamento das atividades: “Os joelhos que rezam, os pés que caminham e as mãos que trabalham”. Frei Diego manifestou sua gratidão ao Pe. Mauro, que abriu as portas da Paróquia e de sua casa para acolher os missionários.

 

O grupo vindo de Vila Velha, local da primeira transferência de Frei Leandro, também fez o seu agradecimento pelos dois anos partilhados com a comunidade local. O Grupo Escudeiro, do qual o neopresbítero fez parte, também fez o seu emocionado agradecimento e sua homenagem.

Ao final da Missa todos foram convidados para um almoço oferecido pela comunidade local.

ÍNTEGRA DA HOMILIA

Jesus, meu Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo.

Pedro, apascenta as minhas ovelhas (Jo 21,17)

O sermão da Primeira Missa Solene ou costuma ser um elogio do sacerdócio ou um momento de conselhos ao padre que começa seu ministério sagrado.

Preferi o segundo caminho. E meu primeiro conselho é que tenha sempre um coração agradecido a Deus. As leituras e o salmo responsorial de hoje apontam para o agradecimento. Até ontem você era como o profeta Isaías: um moço de lábios impuros, que procurava o Senhor. Ontem você foi sagrado sacerdote. Observe que esta palavra é composta de sacer e dos, que significam dom sagrado. Aqui está a razão principal do seu, de hoje em diante, permanente agradecimento. Você, que antes tinha lábios impuros, agora é um dom sagrado de Deus. Você aceitou este presente de Deus. Você pediu este presente de Deus. E Deus lhe deu. Ontem mesmo, ainda na cerimônia solene de sua ordenação, você agradeceu e até falou em “eterna gratidão” pelo sacerdócio recebido.

Todos os dias de sua vida serão poucos para agradecer esse presente, porque ele não é uma coisa de vestir um dia, de botar como enfeite na mesa. Ele é um dom que traz consigo a chave que abre os cofres da graça misericordiosa de Deus a quantos pedirem sua ajuda. É a mesma chave que costumamos ver pendurada nas estátuas de São Pedro. Um dom sagrado, portanto, a ser repartido e usado por todos que quiserem.

Lembre-se de São Francisco: no auge do sofrimento e da santidade, cercado pelo sol e pela lua que iluminam, pelo vento e pela água que purificam, pelo fogo da terra e pelos santos do céu, conclama a todos a “louvar e bendizer o Senhor e dar-lhe graças com grande humildade”. Que o “Obrigado, Senhor!” esteja sempre em seus lábios e em seu coração!

Digamos todos juntos: Obrigado, Senhor!

E aqui vai o segundo conselho: reparta sempre. Faça como José do Egito, que abriu as portas de todos os armazéns do reino. Revestido do dom sagrado, do sacerdócio, seja como o coração de uma mãe que, quanto mais se dá, mais tem para dar. Não seja represa. Seja rio que corre para todos. Não esqueça que a palavra dote, de sacerdote, pertence à família linguística do verbo dar. O sacerdote tem uma missão substantiva: doação. É doação de Deus para ser dada. O sacerdote conjuga o ver dar em todas as pessoas e tempos. A carne e o sangue do sacerdote são uma mistura do verbo dar, nunca esquecendo que uma de suas missões é o verbo perdoar, ou seja, dar a plenitude da graça.

Não só substantivo, não só verbo, o sacerdote traz consigo o adjetivo dado, porque o padre que não se doa, apodrece estagnado. Sua vida de padre necessariamente estará emoldurada pela doação, pelo dar sem medidas e sem olhar a quem, pela realização pessoal por ter-se dado. Você dará o batismo, dará a catequese, dará a Eucaristia, dará o perdão, dará consolo, dará bênçãos, dará o próprio Deus. Esta doação está inteiramente dentro da palavra que você escolheu como lema de seu sacerdócio: a palavra apascentar. Apascentar significa dar pasto, dar comida às ovelhas.

 

Todos temos fome de comida, fome de consolo, fome de bênçãos, fome de Deus. Você vai dar de comer, você vai apascentar. Olhe o verbo dar de novo. Você tem muito para dar. Você é uma pessoa bem prendada: canta bonito, prega com sentido, desenha com arte, preside com elegância, sabe ser amigo e irmão. Faça destas qualidades o combustível do verbo dar, do verbo apascentar. Não esqueça que na palavra sacerdote está o substantivo dom. E dentro do “obrigado” do primeiro conselho está pressuposto o “dar graças”. Ontem Dom Fernando lhe falava em solidariedade, que é o contrário de egoísmo. A solidariedade tem tudo a ver com a doação. Dê sempre, sem esperar receber. Dê sempre, sem esperar aplauso e aprovação. Dê sempre, sem mesmo esperar recompensa nem divina nem humana. Previno-o, com a autoridade de 58 anos de padre, que isso não é nem fácil nem agradável.

Porém – e aqui começo a lhe dar o terceiro conselho e o tiro do evangelho que lemos há pouco. O primeiro conselho foi agradecer; o segundo conselho foi dar. Para o terceiro conselho, lembro a cena do evangelho: Simão, André e seus sócios João e Tiago tinham muita experiência de pescadores. Tinham todas as qualidades de bons pescadores com rede. Trabalharam a noite inteira e nada apanharam.

O fato de você ser um homem prendado, ter muitas qualidades como as tinha Pedro e os companheiros, não significa que você seja automaticamente bom padre franciscano. Repito: ainda que você prometa e cumpra, como prometeu e tem condições de cumprir, o que disse semana passada no Site da Província, isto é: ter zelo permanente, entregar-se sem medida e servir integralmente. Ainda assim, sozinho e com todas as suas qualidades, você será um Pedro de redes vazias. No evangelho que lemos há pouco ocorreu a expressão que o Papa São João Paulo II repetiu dezenas de vezes em seus discursos e sermões ao longo do grande Jubileu do ano 2000: duc in altum. Altum, em latim, tanto indica a altura quanto a profundidade. E aqui vai meu terceiro conselho: todas as suas qualidades, que seriam certamente sucesso em outras profissões, no seu caso de sacerdote, não terão força de fazê-lo mais do que medíocre. O medíocre não tem nem altura nem profundidade.

A criatura humana sozinha, por mais qualidades que tenha, no campo do sacerdócio, se parecerá a um carro sem combustível. Ou, usando outra figura, a criatura humana se assemelha a uma caixa d’água. Pode ser grande, bem pintada, no alto da casa. Sozinha, não dará água a ninguém. É preciso encher a caixa de água vinda de fora. Você é uma caixa d’água sagrada, porque ordenado padre. Você assume a obrigação de dar água a toda casa. Mas para isso precisa receber água de fora. Este “de fora” é Deus. Sozinho você pouco fará com seu sacerdócio. Porque o dom sagrado que você recebeu pressupõe o enchimento continuado, vindo de fora. Você não é padre sozinho. Seria caixa sem água. Você precisa se encher sempre de Deus. Este é o terceiro conselho: deixe-se todos os dias divinizar, deixe-se replenar de Deus a ponto de o povo dizer de Você o que disse de São Francisco: “Possuía Jesus de muitos modos: levava sempre Jesus no coração, Jesus na boca, Jesus nos ouvidos, Jesus nos olhos, Jesus nas mãos, Jesus em todos os seus membros” (1Cel 115).

Vamos todos desejar juntos que Frei Leandro seja um sacerdote cheio de Deus. Repitam comigo: Frei Leandro, leve sempre Jesus no coração! Frei Leandro, leve sempre Jesus na boca! Frei Leandro, leve sempre Jesus nos ouvidos! Frei Leandro, leve sempre Jesus nos olhos! Frei Leandro, leve sempre Jesus nas mãos! Frei Leandro, dá-nos sempre e somente Jesus!

Meu primeiro conselho foi ter sempre um coração agradecido. Dona Francisca e Senhor Francisco, deixo o mesmo conselho para vocês como pais do Frei Leandro. Agradeçam sempre a Deus o dom sagrado que Deus concedeu a seu filho. E agradeçam daqui para frente, todo o bem que ele fará usando, o sacerdócio. Agradeço em nome da Província e de toda a Igreja a doação que fizeram do filho.

O segundo conselho foi a doação, porque o exercício do sacerdócio é uma doação contínua. Dona Francisca e Senhor Francisco, repasso a vocês dois o mesmo conselho. Na sua oração, repitam diariamente este gesto generoso de doação.

Vou quebrar o protocolo de um sermão de Primeira Missa. Quando eu disse ao Papa João Paulo II que eu ia completar 50 anos de padre, ele me deu (verbo dar!) uma estola, símbolo do sacerdócio, que uma paróquia lhe havia dado (verbo dar!). Hoje eu a dou (verbo dar!) a Você, para que sempre se lembre que o verbo dar deve estar tão presente em sua vida de padre, como o sangue está presente e atuante nas veias de seu corpo.

O terceiro conselho foi a parceria com Jesus-Deus. É palavra de Jesus na Última Ceia: Sem mim nada podeis fazer (Jo 15,5).

Frei Leandro, ontem você disse a Deus diante de toda a comunidade, como o profeta Isaías: Eis-me aqui! Aqui estou. Foi um admirável gesto de doação. Que sua vida toda seja a vivência desse gesto, sempre repetido cada dia com novo ardor e novo vigor. Todos nós dizemos a Deus com o salmista: Obrigado, Senhor, de todo o coração, pelo sacerdócio de Frei Leandro.

E dizemos a Você: com Jesus, sempre com ele e com Pedro, reme o barco de sua vida, agora como sócio e apóstolo do Senhor! Faça a sua parte e deixe o milagre por conta Dele!

Frei Clarêncio Neotti

Entrevista

Frei Leandro Santos será ordenado presbítero

 

 

Tirado do Evangelho de São João, este é o lema escolhido por Frei Leandro Costa Santos para a sua ordenação presbiteral no dia 9 de fevereiro em São Paulo. Frei Leandro será ordenado por Dom Fernando Figueiredo, seu confrade e bispo emérito da Diocese de Santo Amaro, às 10 horas, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Jardim Pedreira, em São Paulo (SP).

Filho de Francisca e Francisco Moisés dos Santos, Frei Leandro nasceu na capital paulista e é o terceiro dos seis filhos. Ingressou no Seminário de Agudos em 2005 e vestiu o hábito franciscano em 2009. Cursou em seguida Filosofia e Teologia e, em 2017, foi ordenado diácono no Santuário Divino Espírito Santo, em Vila Velha (ES), onde residiu antes de assumir, neste ano, o trabalho no Pró-Vocações e Missões Franciscanas (PVF), em São Paulo.

Do seu período de formação, destaca a forte experiência vivida entre os anos de 2014-2015 em Duque de Caxias, na Paróquia São Francisco. “A Igreja de Caxias, na minha história pessoal, é uma referência marcante em termos de igreja engajada e participativa”, diz o frade. Em 2016, concluiu os estudos teológicos. Sobre sua missão como sacerdote, lembra Frei Leandro: “Acredito também que o contato com o povo, além de ser um exercício ministerial, é uma fonte da qual me abasteço por inteiro. O povo de Deus, ao mesmo tempo que me pede uma palavra, uma bênção, uma direção, ele me coloca em uma atitude constante de conversão”. Acompanhe a entrevista a Moacir Beggo!

Site Franciscanos Como se deu seu discernimento vocacional?

Frei Leando Costa – Quando me convidam, por alguma razão, para partilhar o chamado de Deus à vida consagrada, ou até mesmo nessas conversas de corredor, costumo situar Deus e sua voz me chamando em um ambiente muito simples. Nada surpreendente comparado àquelas “grandes conversões”. Deus foi muito simples. Deus é simples o tempo todo. E isso é extraordinário, cheio de sentido e que me sustentou e sustenta até os dias de hoje.

Tinha exatamente 14 anos quando fui tomado por aquelas perguntas sobre o “sentido da vida”, “o que fazer?”. Nesse questionamento, puramente existencial, houve abertura para que Deus me ajudasse nessa resposta. Na idade que tinha, e dentro do que me competia enquanto leigo, Deus me sugeriu: “Por que não ser padre?”. Não por outro motivo se não pelo fato ter como única referência, em termos de serviço à Igreja, o padre diocesano como pessoa real nessa entrega.

Na época, na paróquia em que participava, atuava em um movimento similar aos escoteiros. Tínhamos muitas atribuições, muitas responsabilidades enquanto adolescentes. Éramos muitos envolvidos em tudo que a Igreja propunha. Foi neste contexto participativo e envolvente que percebi Deus. Foi desse ambiente comunitário que Deus me fez o convite: “Vem e segue-me”. Simples assim!

Depois de alguns meses fui encaminhado pelo próprio pároco, Pe. Francisco Chagas, a conhecer a proposta franciscana com os frades do Largo São Francisco, no centro de São Paulo. Fiquei praticamente meio ano sendo acompanhado por Frei Nazareno José Lüdke. Foi nos encontros vocacionais que pude realmente conhecer São Francisco e sua proposta jovem. Contudo, foi a partir do Seminário Santo Antônio em Agudos (SP), em 2005, que fiz meu discernimento vocacional. Permanecendo no Seminário é que pude firmar esse propósito. Agora não mais “padre”, agora queria era realmente ser um “frade”.

Site Franciscanos – Como São Francisco entrou na sua vida?

Frei Leandro – Na época em que iniciava a trajetória vocacional não tinha essa noção que hoje tenho e da qual descrevo. Reconheci São Francisco pelo caminho. Porém, revisitando a história familiar, percebi que na verdade São Francisco sempre esteve, de algum modo, presente em minha vida. Meus pais possuem, coincidentemente, os nomes Francisco e Francisca. Os dois possuem uma estreita relação com o santo. Eles são nordestinos. E dentro da fé enraizada dos nordestinos, seus pais, meus avós, os entregaram ao Santo das Chagas. Por isso o nome. A educação e a fé deles, enquanto família, foram marcadas pela presença franciscana capuchinha. E acho que, dentro dos planos de Deus, eu só poderia ser um franciscano. Por isso creio que São Francisco de Assis sempre esteve presente na minha vida.

Site Franciscanos – Fale um pouco de sua família.

Frei Leandro – Filhos de Francisco e Francisca, somos seis. Eu nasci no ano de 1990, na cidade de São Paulo. Meus pais, cearenses, chegaram a esta cidade como aquelas grandes levas de nordestinos que buscavam melhores condições de vida na cidade grande. Primeiro meu pai e, em seguida, minha mãe. Somos da periferia de São Paulo, zona Sul da capital. Família simples. Meus pais conquistaram a estabilidade mediante alguns sacrifícios, como todo o pai e mãe comprometidos com a educação de seus filhos. Fé, terços, missas dominicais, atividades na igreja, era o que nos sustentava. Somos seis filhos bem encaminhados, graças a Deus. Hoje tenho três irmãos casados, eles com os seus respectivos filhos e esposas. Minha irmã ainda mora com meus pais. Tenho um irmão caçula, o Mateus. Este último nasceu em 2009, quando estava no Noviciado. O conheci com quase um ano de idade.

O que poderia destacar de minha família são três coisas e esses três pontos fundamentais estenderam-se ao longo da vida formativa: ser fraterno, estudos e música. “Ser fraterno” pelo fato de sermos numerosos em casa. Era preciso saber repartir, pensar no outro, compartilhar espaços, estar juntos. “Estudos ou leitura” foi uma cobrança sempre presente. Bem! Meu pai teve a oportunidade de cursar algumas séries do ensino fundamental. Aprendeu a ler e a resolver alguns cálculos. Já minha mãe não teve oportunidade de estudar. Porém, dos dois éramos sempre cobrados para estudar, ler etc. O mais emocionante era escutar da minha mãe dizer “leia um livro!”, quando, no fundo, ela nunca tinha lido um. Mas ela sabia do valor dele. A “música” esteve sempre presente. Meu pai, com um violão muito simples, despertou em nós esse lado musical. Em casa, praticamente, todos ousamos tocar um instrumento. Meu irmão mais velho, com mais excelência, é formado e trabalha na área da música erudita; eu, no seminário de Agudos, iniciei aulas de violino e trago até hoje comigo esse dom. Deus e seus ensinamentos eram e são nosso norte enquanto família.

Site Franciscanos – Como define o ministério presbiteral?

Frei Leandro – O lema escolhido para o exercício do ministério presbiteral encontra-se no final do Evangelho segundo João: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 17). A partir desse lema, defino o ministério que assumirei como: pastoreio, zelo permanente, evangelização por proximidade, entrega desmedida e serviço integral ao Reino de Deus. Tudo isso não por méritos meus, mas pela misericórdia de Deus, num serviço que compartilho da parte de Deus.

Há uma passagem do Espelho da Perfeição, das Fontes Franciscanas, que retrata certa crise de Francisco em relação à Ordem, ao rebanho a ele confiado. Francisco, preocupado, recebe uma consolação da parte do Senhor, o verdadeiro Pastor desse rebanho: “Não te escolhi para governar minha família por seres um homem letrado e eloquente, mas te escolhi simples, a fim de que tu e os outros possais saber que eu velarei sobre o meu rebanho; e te pus como sinal para eles, para que vejam e realizem as obras que realizo em ti. Os que seguirem meu caminho têm e terão com mais abundância; mas o que não quiserem andar pelo meu caminho, ser-lhes-á tirado aquilo que pensam ter” (1EP n. 40).

E essa mesma passagem ainda diz que Deus disse a Francisco: “Faze o que fazes, trabalha o que trabalhas”. É nessa mesma confiança que me disponho a servir a Deus, à Igreja e aos homens. Convencido de que há um Pastor Maior, o Pastor dos pastores, que me recomenda cuidado sobre o seu rebanho. Até porque ele diz “minhas ovelhas” (Jo 21, 17). Com a imposição das mãos e preces do bispo, a partir do dia 9 de fevereiro, serei esse sinal para eles (povo de Deus), para que vejam e realizem as obras que Deus realiza em mim. “Minha obrigação é dar bom exemplo” (cf. Tt 2, 7) e instruir pelas obras. Com a graça de Deus, apascentarei esse rebanho abençoando-o, administrando a ele os sacramentos e orientando-o permanentemente, consciente que sou delegado para apascentar os filhos e filhas de Deus na seara do Senhor.

Site Franciscanos – Quais expectativas você tem para este novo tempo na sua vida religiosa franciscana e no Pontificado do nosso querido Papa Francisco?

Frei Leandro – A vida de nosso Papa Francisco é um apelo a essa proximidade do pastor com a ovelha. É emblemática a fala de nosso Papa quando diz: “Os pastores devem ter o cheiro das suas ovelhas”. A isso conjugo o lema que já pude dizer. Sendo assim, a expectativa é contribuir com a Igreja no pensar e no pastorear com as ovelhas. Consciente das exigências da ordem presbiteral, quero poder ser um pastor que se aproxima do rebanho confiado. Ser próximo é o sincero desejo. E, no estar com fiéis, acolhê-los, senti-los, amá-los e orientá-los. Ousadamente parafraseio Santo Agostinho com a minha futura vida de religioso no serviço ministerial: Aterroriza-me o que sou para vós; consola-me o que sou convosco. Pois para vós um padre; convosco, sou cristão.

Site Franciscanos – Quem é a sua fonte de inspiração? Onde busca alimento para sua espiritualidade?

Frei Leandro – Minha inspiração não poderia ser outra se não o próprio São Francisco de Assis. Seu amor e zelo pela Eucaristia, sua entrega, sua consagração fiel e total a Cristo. Sua vida motiva o sacerdócio ministerial, por mais que não tenha sido essa a sua opção enquanto membro da Igreja. A minha espiritualidade é mantida na oração pessoal. Estar a sós com Deus. Tenho São José como um grande motivador. Invoco o esposo da Virgem pedindo que ele me inspire nessa entrega; e que ela seja integral, como foi a sua para Deus no cuidado de Jesus. De modo geral, tenho muito presente a leitura dos Santos Padres, como também literaturas espirituais consistentes.

Acredito também que o contato com o povo, além de ser um exercício ministerial, é uma fonte da qual me abasteço por inteiro. O povo de Deus, ao mesmo tempo que me pede uma palavra, uma bênção, uma direção, coloca-me em uma atitude constante de conversão.

Também outro manancial espiritual é estar em uma fraternidade, cujo plano de evangelização é claro e bem definido. De modo que, quando todos se fazem conscientes e atuantes, claros e convencidos do “onde e do como fazer as suas obrigações” enquanto fraternidade, tudo flui e me anima nessa missão.

Site Franciscanos – O que diria para um jovem sobre a vida religiosa franciscana?

Frei Leandro – Coragem e ousadia. Constância e vontade bem alicerçada! Nosso maior desejo é a felicidade! É só lembrar a passagem do jovem rico, quando se encontra com Jesus (cf. Mt 19, 16-30). A felicidade da parte de Deus é a “vida plena”, tantas vezes repetidas por Jesus. Essa vida plena está muito longe de ser um projeto egoísta, que exclui o outro. Longe disso! A vida em Cristo só pode ser entendida a partir do outro, da comunidade. Sendo assim, a vida consagrada franciscana, com seu projeto fraterno de vivência e evangelização, pode ser esse caminho.

Para um jovem que busca responder a Deus em sua vida, convido-o para uma abertura à proposta evangélica vivida pelo santo de Assis. Nela está depositado um frescor original para uma vida feliz. A vida franciscana é um destes terrenos a ser explorado e onde, certamente, você, jovem, encontrará o tesouro, a pedra preciosa.

Outra razão que dou, e faço dela um apelo, é dizer que a vida religiosa franciscana é encantadora, pois é marcada por experiências dinâmicas. O Evangelho que escutamos é vivo! À medida que é ouvido, exige de seus ouvintes uma resposta concreta. E a vida franciscana nos coloca nessa tarefa concreta, nos posiciona em situações reais de missão. A vida religiosa Franciscana é encantadora. Lugar de vivência saudável, comprometida e plena. Abra mão de tudo e venha conhecer a vida consagrada franciscana. Vale muito a pena!