Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Ordenação Presbiteral de Frei Laurindo Lauro da Silva Júnior

Ordenação

“Sou um péssimo pescador, meu pai sabe disso!”

 

Por Leonardo A.R.T. Santos

Itapoá (SC) – Neste sábado ,  17 de dezembro,  às 15 horas,  na igreja Matriz de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Itapoá, SC, foi ordenado presbítero, pelas mãos de Dom Irineu Roque Scherer, o nosso confrade e amigo Frei Laurindo Lauro da Silva Júnior.

O povo de Deus ganhou mais um padre, formado por doze anos na Ordem dos Frades Menores. Muitas de suas virtudes aprendidas de seu pai, Laurindo Lauro, e de sua mãe, Dona Elza, foram preservadas, outras foram descobertas. O povo da Barra do Saí, localidade de origem de Frei Laurindo, insistia em lembrar que, apesar dos anos de estudo, da distância, da maturidade que vinha chegando, o Júnior continuava o mesmo menino simples, conhecido de todos, que só conseguia pegar caranguejo.

À medida que o povo chegava para a celebração, crescia a convicção de que aquele momento marcaria para sempre aquele povo que acompanhou de perto o tríduo e a semana missionária, movimentou toda a paróquia de Itapoá. Dom Irineu Roque Scherer, Bispo diocesano de Joinville, presidiu a celebração de maneira bem franciscana. O clero local se fez presente tornando a festa maior. Foi realmente uma festa da Igreja local de Joinville e da Província Franciscana da Imaculada Conceição.

Na homilia, Dom Irineu acentuou a importância da espiritualidade franciscana para o bom exercício do ministério que Frei Laurindo estava por assumir. Insistiu que Francisco, que acolhia a todos fraternalmente, deveria ser modelo para o novo presbítero. Dizia a Frei Laurindo: “Você deve se sentir muito amparado neste dia com a memória e a invocação de tantos nomes da eternidade […] Não poderá jamais se sentir abandonado”.

O rito da ordenação normalmente mexe muito com a assembleia, principalmente o momento da unção das mãos. O costume de amarrar as mãos ungidas para somente os pais desatarem o laço é  sempre comovente e nesta ocasião não poderia ser diferente. A bênção dada a seus pais tocou a todos. Muitos flashes quiseram eternizar aquele momento.

O lema escolhido pelo ordinando nada tem a ver com a liturgia do dia, mas com sua história de vida. Todos, ao ouvirem o lema, associavam-no à ideia de que Frei Laurindo faria um caminho análogo ao de André e Pedro, de pescadores de peixes a pescadores de homens. O próprio Frei Laurindo, nos agradecimentos, ao final da ordenação disse: “Não digam que serei um bom pescador de homens por causa de minha história como filho de pescador. Meu pai sabe, eu sou um péssimo pescador”. Neste sentido, o lema é muito mais eloquente. Justamente por não ser bom pescador, Frei Laurindo lançará as redes em obediência à palavra do Mestre. Exatamente como Pedro que passou a noite toda tentando apanhar algo, mas nada conseguiu. Ao mandato do Mestre, lança as redes (Lc 5). Seu Laurindo, o pai de Frei Laurindo Júnior, não pesca mais. A saúde não o permite. Ele dizia nestes dias que nenhum de seus filhos se tornou pescador. Agora sim, há de novo, um pescador na família.

Primeira Missa

Barra do Saí se reúne para a Primeira Missa de Frei Laurindo

 

 

Por Frei Leonardo A.R.T. Santos

Sempre ouvimos que o padre é alguém tirado do meio do povo para depois ser colocado a serviço do povo. Pois foi com muita solenidade que a Comunidade de Nossa Senhora dos Navegantes se reuniu neste domingo, dia 18 de dezembro, no calor das 10 horas, para agradecer ao Pai, por Cristo, no Espírito. Pela primeira vez, o Júnior foi  a voz do povo numa conversa com o Pai sobre tudo o que Jesus fez e falou.

Antes da missa, a comunidade correndo pra lá e pra cá, as irmãs de novo presbítero preocupadas com os detalhes, as crianças chamando os frades pelo nome mostravam que aquela celebração era realmente significativa. Ali estava a vida dos pescadores, pedreiros, donas de casa, aposentados, veranistas e de tantos outros que se resumiam no pão e no vinho postos sobre o altar.

No altar, vários confrades, o pároco, Padre Sérgio, Frei Nelson Hillesheim, que encaminhou Frei Laurindo ao seminário. Vários diáconos, os colegas de turma que aguardamos a ordenação presbiteral e o tio de Frei Laurindo, Senhor Antônio Gonçalves, que é diácono permanente na arquidiocese de Curitiba.

A liturgia da palavra foi incrementada com uma entrada da Bíblia. As crianças da comunidade trouxeram a palavra de Deus dentro de um barquinho enquanto uma rede de pesca cobria toda a assembleia. Sob a Palavra do Senhor, foi lançada a rede. Frei Nelson ficou encarregado da homilia. Recapitulando toda a história vocacional do Júnior, insistiu no valor da oração para um ministério fecundo.

Ao final da celebração, bastante comoção na entrada de Nossa Senhora dos Navegantes com a bênção do novo presbítero. Um bom almoço esperava a todos no salão da comunidade. A alegria da festa já começava a ceder lugar à saudade dos missionários que por uma semana se espalharam pela Barra do Saí. Parabéns ao Frei Laurindo, novo pescador da família Silva.

Entrevista

Frei Laurindo Lauro da Silva Júnior

 

 

Por Moacir Beggo

Filho de Elza e Laurindo da Silva, Frei Laurindo Lauro da Silva Júnior nasceu no dia 11 de julho de 1983 na pequena e bucólica Itapoá, em Santa Catarina, foi ordenado presbítero neste 17 de dezembro, na Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição,  pelas mãos do bispo de Joinville, Dom Irineu Scherer.  Frei Laurindo começou aos 13 anos a ter orientação vocacional e ingressou no Seminário Santo Antônio de Agudos em 2000. Em 2003 fez o Postulantado em Guaratinguetá e recebeu o hábito franciscano no ano de 2004, ao ingressar no Noviciado de Rodeio. Cursou Filosofia em Curitiba (2005) e Teologia em Petrópolis (2008). Professou solenemente na Ordem Franciscana no dia 5 de novembro de 2009 e foi ordenado diácono no dia 4 de dezembro de 2010.

Conheça mais de sua vida e como pensa o novo presbítero.

Comunicações – Conte um pouco da história de sua vocação.

Frei Laurindo – Venho de uma família de pescadores da região Nordeste de SC, uma cidadezinha bucólica e aconchegante, chamada Itapoá. Meus pais sempre foram católicos e eu gostava de acompanhá-los na capelinha da Comunidade Nossa Senhora dos Navegante, nas celebrações dominicais presididas pelo saudoso diácono Airton Vidal. Ainda muito jovem participava da liturgia proclamando leituras e salmos, além de acompanhar os grupos de oração. Aos 13 anos pedi a permissão dos meus pais para trabalhar no mercado do meu cunhado em Joinville, a 100 km da minha cidade. O trabalho durou apenas dois meses, mas foi o tempo suficiente para conhecer o Frei Nélson José Hillesheim, que sempre visitava os seus irmãos, residentes naquela bela cidade. Logo que o conheci, timidamente comecei a demonstrar interesse pelo seu modo de vida. Frei Nelson, gentilmente, acolheu-me e assim começou a orientação vocacional que durou um pouco mais de um ano. Confesso que não sabia dos diversos carismas de nossa Igreja, mas o exemplo de vida de Francisco de Assis, apresentados por livretos e cartilhas, cativou-me  e foi fundamental no meu processo de discernimento vocacional.

Comunicações – Numa sociedade tão consumista, o que leva um jovem a atender o pedido de Jesus: “Vem e segue-me”?

Frei Laurindo – No mundo hodierno muitos são os convites, inúmeras são opções ao jovem que quer e precisa de um norte. Os ruídos do mundo, por mais apelativos que sejam, ajudam no exercício de saber ouvir, saber discernir os chamados. Os pedidos do mundo vêm aos montes, mas a quem devemos servir? “Ao servo ou ao Senhor?”. Quando a escolha é ouvir os apelos do Senhor, uma direção simples é apontada: “Vem e segue-me”. A sutileza do pedido parece tímida aos brados do mundo, mas basta “ob-audire”, auscultar a palavra do Senhor, com carinho e reverência, para deixar-se seduzir (Jr 20,7), assim como o jovem Francisco de Assis e diversos jovens de histórias e culturas diferentes, que também aprenderam a ouvir o pedido de Jesus.

Comunicações – Por que decidiu ser franciscano?

Frei Laurindo – O carisma de Francisco de Assis é simplesmente lindo, basta vislumbrar um mundo pautado pela fraternidade universal. Isso é muito empolgante! Ser franciscano implica em seguir a Jesus Cristo num carisma de minoridade e fraternidade. É viver livre das três forças poderosas que movimentam o mundo materialista: a ganância do ter, o fascínio do poder e a sede do prazer. É partilhar os dons, viver como irmão de tudo e de todos, mas principalmente dar testemunho vivo de vida evangélica a exemplo de São Francisco, que contemplava o Cristo encarnado, pobre e crucificado, não como fracasso, mas diante de um itinerário de salvação, de remissão e de amor aos desígnios do Pai. O carisma franciscano é versátil, pois não exige que alguém que queira viver o carisma necessite ingressar num convento ou viver num eremitério, pois a proposta extrapola os muros dos conventos. Torna-se um modo de vida que responde de forma simples aos anseios do mundo.

Comunicações – O que significa para você a ordenação presbiteral?

Frei Laurindo – A ordenação presbiteral é um sacramento que exige a responsabilidade de uma vida toda, uma entrega total a serviço do Reino de Deus e dos irmãos. Tal ordenação é ação do Espírito, no Corpo de Cristo que a Igreja constitui. O Espírito desperta os homens para serem instrumentos de edificação da Igreja. O ministério presbiteral requer que os tais instrumentos doem o seu espírito, o seu coração, enfim, a sua vida, a fim de celebrar os sacramentos e conduzir o povo na unidade e na obediência, para que Deus seja glorificado.

Comunicações – O que esperar de um jovem sacerdote no nosso mundo atual?

Frei Laurindo – O padre deve, mediante o amor fraterno, promover a partilha na comunidade, ser mensageiro do Evangelho, alimentar a fé na presença do Cristo eucarístico, buscar a santificação segundo Jesus, auxiliar os irmãos desfavorecidos, fortificar os mais frágeis na fé, viver com entusiasmo os ensinamentos de Cristo e ser sinal da presença de Cristo. Sendo jovem, o padre deve obter a experiência empírica paulatinamente, sem atropelos, mas com a sede de viver plenamente o seu ministério.

Comunicações – Deixe uma mensagem para os jovens que são vocacionados à vida religiosa?

Frei Laurindo – Não deixe de lado tudo aquilo que você vai aprender nessa formação, tampouco as virtudes que você aprendeu de berço, seja perseverante. Os desafios servem como exercícios para o fortalecimento de sua fé e para melhor discernimento vocacional. Por acaso, você ainda não conhece a forma de vida franciscana, procure se informar bem desse belo carisma, mas se você já o conhece, então procure vivê-lo de todo o coração e com toda a sua alma! Lembro de quando era vocacionado e dos tantos livros que li, ávido em sorver o carisma, o que mais me chamou a atenção foi um livro intitulado “Cavaleiros da Dama Pobreza”. Vibrei com aquele livro e ainda hoje me empolgo. Aproveite bem os encontros vocacionais com interesse e dedicação, pois você é o único que pode responder ao apelo vocional. Ninguém pode fazer isso por você. Tenha uma boa caminhada formativa. Paz e bem!