Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Ordenação Presbiteral de Frei José Raimundo de Souza

Ordenação

Frei José no exercício do serviço de amor

 

Moacir Beggo

Bauru (SP) – “Assumo esse ministério como ministro de Cristo, administrador dos seus mistérios, com o desejo de conformar-me ao Senhor no exercício de um serviço de amor, como um dom total de mim mesmo a serviço do povo de Deus”. Foi com essa promessa e pela imposição das mãos de Dom Caetano Ferrari, bispo emérito da Diocese de Bauru, que Frei José Raimundo de Souza recebeu o segundo grau do Sacramento da Ordem durante a Celebração Eucarística, às 19 horas deste sábado, 25 de agosto, na Paróquia Santo Antônio de Bauru (SP). A comunidade que se acostumou com a presença franciscana no Jardim Bela Vista há 63 anos, viu a cor marrom do hábito franciscano marcar esta bela festa franciscana, inclusive com o bispo franciscano e confrade de Frei José, que teve como concelebrantes, o Vigário Provincial, Frei César Külkamp, representando o Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel, e o guardião da Fraternidade e pároco da Paróquia Santa Clara, Frei Alessandro Nascimento, e o pároco anfitrião, Frei Ademir Sanquetti.

O tom franciscano foi dado por Frei Diego Atalino de Melo, coordenador do Serviço de Animação Vocacional da Província, logo no início ao saudar e acolher a todos com caloroso “paz e bem”. Além do povo da cidade e região, dos familiares, de seus confrades que participaram intensamente da Semana Missionária que antecedeu a esta celebração, muitos conhecidos e amigos de Frei José não mediram esforços para encararem longas distâncias, como os de Colatina, onde Frei José reside atualmente, e os da Baixada Fluminense, onde o ordenando viveu intensamente sua formação pastoral enquanto residiu em Petrópolis para cursar Teologia e durante o período que viveu em Imbariê (RJ).

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Frei José nasceu no Paraná, mas hoje sua família reside em Bauru. Seus pais, Francisca Maria de Souza e Raimundo Francisco de Souza, conduziram o filho até o altar. Junto deles, os três irmãos (ele é o segundo filho dos quatro).

Frei César apresentou Frei José e deu seu testemunho, em nome da Província da Imaculada e do povo de Deus, que ele “era considerado digno” para o ministério sacerdotal. Dom Caetano aceitou ordenar Frei José e, em sua homilia, confessou sua alegria de estar celebrando a ordenação de seu confrade. Lembrou de todas as vocações até destacar a vocação religiosa e presbiteral. “Trazemos o dom da vocação em vasos de barro porque somos frágeis. E nem somos dignos dessa vocação, mas Deus chama quem quer. É ele quem nos escolheu desde o seio materno”, ressaltou.

Dom Caetano também comentou muito o lema da ordenação presbiteral de Frei José, tirado de Lucas 9, versículo 13: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. “O lema escolhido é denso e cheio de significados. Lembre sempre dele. Como sacerdote, você tem a missão de dar o pão da Palavra, o pão da Eucaristia e o pão da caridade”, ensinou o bispo. Segundo ele, o mais difícil é partilhar o pão da vida. “Dar a minha vida, como Jesus deu a sua vida até chegar ao martírio, não é fácil. Mas como bom franciscano, você sabe como fazer. Entregue tudo, doe a sua vida. Não guarde nada para você”, disse, lembrando que São Francisco de Assis ensina o caminho: a pobreza.

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Terminada a homilia, teve início o rito da ordenação presbiteral (veja o rito em detalhes). Trata-se de um momento que mexe muito com a assembleia, principalmente durante a unção das mãos. O costume de amarrar as mãos ungidas para somente os pais desatarem o laço é sempre comovente e nesta ocasião não poderia ser diferente nesta noite. A bênção dada a seus pais, em seguida, tocou a todos.

Frei Gilson Kammer e Frei Pedro Viana, seus confrades na Fraternidade de Colatina, ajudaram o novo presbítero a se paramentar com as vestes sagradas.

Recebido o abraço de todos os presbíteros e confrades presentes, Frei Marcos subiu ao presbitério para concelebrar pela primeira vez a liturgia eucarística.

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EMOÇÃO NOS AGRADECIMENTOS

Nos agradecimentos, sobraram emoções. A começar pela homenagem de seus colegas de turma. Frei Marcos Brugger pediu para cantar “Onde reina o amor” enquanto os confrades de turma deram um abraço coletivo em Frei José. E para não esquecer, homenageou o neopresbítero com um poema de Clarice Lispector:

 “A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam

Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem

a importância das pessoas que passaram por suas vidas”.

Cleia, em nome da Paróquia Santa Clara, dirigiu-se a “Frei Zezinho”, como é conhecido Frei José na Paróquia, destacando que o lema escolhido para a ordenação sempre fez parte da vida do neopresbítero.

Frei César falou que era o momento de render graças pelo dom da vocação. Trouxe abraços de Frei Fidêncio para o bispo, para a família, para a comunidade e para o ordenando. “Obrigado por sua entrega de vida. Siga em frente com coragem e amor na sua missão, no seu serviço e conte sempre com seus irmãos!”, completou o Vigário Provincial.

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Por último, Frei José fez uma lista de agradecimentos. Não deixou ninguém de fora. Mas falou, emocionado, sobre a influência dos pais na sua vocação e vida. “Já disse em outra ocasião e novamente reconheço publicamente que meus pais são verdadeiros exemplos de humanidade. Quem os conhece sabe muito bem disso. A preocupação e o cuidado com a vida do outro são notórios em toda a vida deles. Obrigado, Pai e Mãe, por cuidarem de mim e por me oferecerem tantos bons exemplos, que desejo sejam características em minha vida religiosa franciscana e em meu ministério ordenado. Ser servidor de quem é necessitado é evidente neles, alimentar cada vez quem tem fome faz parte do cotidiano deles, já que cotidianamente há quem tenha essa necessidade. Ser filho de vocês é uma graça divina. Tenho orgulho por ter vocês como meus pais”, homenageou, referindo-se à irmã Maria Aparecida (com necessidades especiais).

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“Tendo meus pais, São Francisco e Santa Clara como referências, certamente serei capaz de cumprir o mandato de Jesus de dar de comer a quem tem fome. Recordo aqui as palavras de Francisco, que para mim têm se tornado um refrão: ‘devem alegrar-se, quando conviverem entre pessoas insignificantes e desprezadas, entre os pobres, fracos, enfermos, leprosos e os que mendigam pela rua’. É estando próximo desses que são os necessitados que poderei perceber suas carências, e sensibilizado, cumprindo o mandato de Jesus, tenha sempre algo a oferecer, seja para uma multidão ou para uma única pessoa necessitada. Não poderia servir tais pessoas se permanecesse alheio às suas vidas e às suas situações. Assumo esse ministério como ministro de Cristo, administrador dos seus mistérios, com o desejo de conformar-me ao Senhor no exercício de um serviço de amor, como um dom total de mim mesmo a serviço do povo de Deus”, completou, entregando para os pais um lindo vaso de orquídeas. A Celebração terminou com a bênção do bispo sobre o neopresbítero.

Neste domingo, às 9h30, Frei José celebra a sua Primeira Missa na Paróquia Santa Clara de Assis, na Vila Industrial II.

Primeira Missa

Primícias de Frei José

 

Moacir Beggo

Bauru (SP) – Apresentando suas primícias em oferenda, Frei José Raimundo de Souza presidiu pela primeira vez a Eucaristia neste domingo, 26 de agosto, depois de ordenado presbítero neste sábado (25) por Dom Caetano Ferrari. O novo presbítero teve a ajuda fraterna de Frei Alan Maia de França Victor para auxiliá-lo durante o rito.

A comunidade que se reuniu neste domingo na Paróquia Santa Clara de Assis, na Vila Industrial II, em Bauru (SP), parecia uma grande família, que fazia questão de mostrar o quanto estava feliz com a felicidade de Frei José. Parentes, amigos, os peregrinos que vieram de Colatina (ES) e Imbariê (RJ, confrades, colegas de turma, aspirantes… , todos queriam “partilhar este pão” com Frei José.

Por representar um importante papel em sua caminhada, Frei José convidou Frei Benedito Gonçalves, pároco da Paróquia Bom Jesus em Sorocaba (SP), para fazer a homilia de sua primeira Missa. Brincando com o neopresbítero, Frei Dito, como é mais conhecido, chamou o novo sacerdote de “Zezão” – ele é conhecido pela comunidade como Frei Zezinho – e revelou que estava feliz, assim como todos estavam, pela conclusão de uma grande e importante etapa de sua caminhada religiosa. “A vontade de Deus para nós é uma só: que a gente seja feliz! E nós nos alegramos com ele neste momento”, disse.

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Frei Dito foi o autor do desenho do convite para a ordenação presbiteral, tendo como lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (lc 9, 13). A explicação do desenho foi a sua mais bela homilia. Segundo Frei Dito, a ideia partiu do lema, mas lembrou que São Francisco e Santa Clara partilhavam o pão com aqueles que mais necessitavam. “E me veio na mente o encontro de Francisco com o leproso. Aliás, ontem uma pessoa falou assim para mim: ‘Quando vi esse desenho, ‘tava’ na cara que era do Frei Dito, porque tem peixinhos e idoso”. Não é toda vez que faço peixinhos e idoso”, disse, arrancando risos da assembleia.

missa_260818_2Então Frei Dito começou a pôr a ideia em prática, mas se deparou com um problema: a história não diz que Francisco partiu o pão com o leproso. Mesmo assim continuou desenvolvendo esta ideia e mais adiante tudo ficou mais claro: “Segundo o evangelista São João, Jesus diz para as pessoas que vêm atrás do pão material para que busquem o pão da vida eterna. São Francisco, de fato, não deu o pão para o leproso. Mas esse encontro marcou toda a sua vida. Quando ele estava perto do fim da sua vida, escreveu no Testamento, lembrando deste fato: ‘Aquilo que era amargo se tornou em doçura da alma’. Ou seja, São Francisco não deu o pão para o corpo, mas deu de si mesmo. O leproso era alguém considerado morto. Ele era declarado morto numa cerimônia que a própria Igreja presidia e o declarava excluído por toda a sociedade. Era obrigado viver fora dos muros da cidade. Ao descer do seu cavalo, ao deixar para trás as suas próprias vontades, ao abraçar aquele homem e beijá-lo, São Francisco deu o pão da vida eterna. Não deu o pão físico, mas deu o pão eterno. Fez com que aquele homem se sentisse gente de novo, se sentisse vivo de novo, porque alguém vivo veio visitá-lo e beijá-lo. Isso é pão da vida eterna”, explicou.

“A gente pode até dar o pão – e deve porque tem muita gente com fome -, mas é preciso que, como frade, como irmão que você é Frei José, dê o pão de si mesmo. Dê o pão da vida eterna, da Palavra do Senhor, que buscou ser feliz através dela. Agora, nesta missão concluída, é hora de partilhar essa felicidade que você encontrou na dura Palavra do Senhor”, ensinou o pregador.

Segundo o desenhista, Francisco e o leproso têm o pão nas mãos: “Porque aquele que dá o pão nunca sai de mão vazia”, adiantou Frei Dito. “Ao mesmo tempo que aquele homem se sentiu gente de novo e vivo, São Francisco também se curou do seu egoísmo e abandonou a sua maneira de pensar. Dali para frente, ele foi outra pessoa. Nunca mais ele deixou os leprosos. Em todo o lugar por onde ele ia, fazia questão de procurar os leprosos. Tratava de suas chagas, estava com eles, partilhava o pão da vida eterna. E ali ganhava novos irmãos”, acrescentou.

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Frei Dito explicou que partilhar o pão não é dar o pão. “É comer juntos. Aliás, eu gosto muito dessa palavra: companheiro. Aquele que parte conosco o pão. Então, São Francisco se tornou companheiro daqueles mais necessitados. Partilhava com eles o pão. Frei José escolheu para a sua vida, para o seu caminho, para a sua felicidade, escolheu ser companheiro dos pobres, dos pequenos nesse mundo. Isso é o que diz o lema que ele escolheu para a sua vida. Nunca abandone essa ideia de andar junto! Atrele a sua vida à Palavra do Senhor, que é dura, mas que traz vida eterna e felicidade. Entregue sua vida à inspiração constante de nosso Pai São Francisco”, exortou o neo-presbítero.

Frei Dito, bem ao seu estilo, terminou com uma história da vida de São Francisco:

Nos primórdios da Ordem Franciscana, os frades recebiam jovens e pessoas de qualquer idade. E São Francisco passou por um conventinho, muito pequeno e pobre. E por conta da pobreza, os frades dormiam dois a dois nas pequenas camas. Lá havia um garoto que ficou todo feliz quando São Francisco chegou lá. Encontrar São Francisco era um sonho da vida dele. E foi dormir na mesma cama de São Francisco. Queria conhecer o santo melhor, descobrir como era a sua vida, o que fazia… Por conta disso, ficou atento aos menores movimentos do santo, que logo adormeceu. O jovem, para não perder nada daquela experiência e temendo que pudesse dormir também, sem fazer barulho, amarrou o seu cordão no de São Francisco. E dormiu. Lá ‘pelas tantas’ da madrugada, São Francisco acordou para rezar como era seu costume. Viu que seu cordão estava amarrado e, com jeito, desamarrou, indo para o bosque rezar. O menino, então, acordou e viu que São Francisco não estava mais na cama. Desesperado, foi procurá-lo, achando-o no bosque. Ali viu uma luz bonita envolvendo São Francisco. Ele ficou tão maravilhado com aquilo e procurou se aproximar o máximo que pôde.  E viu que, no meio daquela luz, o próprio Cristo falava com São Francisco. De tão maravilhado, ele desmaiou. São Francisco terminou a sua experiência mística e estava voltando para o Conventinho quando tropeçou no menino desmaiado. Pegou-o nos braços e levou-o para a cama e adormeceu em seguida. No dia seguinte, São Francisco disse: “Não conte para ninguém o que viu até que eu morra!”. E a gente só sabe dessa história porque o menino cresceu e se tornou frade, morreu em fama de santidade e mais tarde contou essa história para os frades, fazendo a história chegar até nós.

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“O que eu quero dizer com isso, Frei José? É que assim como aquele menino, você também um dia foi um menino atrás de São Francisco. Então, amarre o seu cordão no cordão de São Francisco para sempre! Nunca deixe de andar com ele. Se acontecer de você desfalecer também, não tenha medo porque São Francisco o toma nos braços e o leva para junto dele!”, ensinou, confortou e iluminou Frei Dito.

Frei José disse que nunca esqueceu o que Frei Dito lhe disse uma vez: que tivesse de São Francisco nem que fosse a lasquinha de uma unha. “No Frei Dito que conheci e convivi,  eu vi muito mais do que uma lasquinha. Eu vi um exemplo de vida franciscana”, homenageou.

Frei José mais uma vez demonstrou todo o amor que sente pelos seus pais num abraço carinhoso e demorado ao entregarem o pão e o vinho a ele para a consagração. Do seu lado, duas dezenas de seus confrades ajudaram a tornar esse momento de ação de graças especial na vida da comunidade, de cada um presente e, de modo especial, de Frei José.

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Belisânea Nascimento

O pároco Frei Alessandro Nascimento agradeceu a presença de todos e, principalmente, a colaboração dos paroquianos para ajudarem na Semana Missionária. Agradeceu especialmente a Frei Diego Atalino de Melo, do Serviço Vocacional da Província, e lembrou que ele estava fazendo aniversário neste dia. Agradeceu ao Vigário Provincial, Frei César Külkamp, pela presença.

Belisânia Nascimento, paroquiana de Colatina, falou pelo grupo que veio de tão longe. “Viajamos 24 horas para viver esse momento especial com você, Frei José. Foi um longo caminho, mas valeu todo o esforço”, disse, pedindo a confirmação de seus 42 companheiros de viagem que vieram de Colatina.

Para ela, o testemunho de Frei José os fez melhores e com vontade de trabalhar mais e mais pelo reino de Deus. “Mais uma vez, obrigado pelos seus ensinamentos, mas principalmente por nos mostrar Jesus Cristo através da sua pessoa, sendo simplesmente Frei José, um homem de coração grande e de grande motivação. Um homem com o nome de apenas quatro letras, mas que, quando pronunciadas, vêm carregadas com o sentimento de estima, respeito e consideração. Saiba que pode contar com cada um de nós nesta caminhada. Obrigado por tudo. Permita lhe dizer: você não é nosso frei, mas você é nosso irmão!”, encerrou.

A festa da ordenação presbiteral terminou com um delicioso almoço servido pela comunidade. Frei José ficará em Bauru durante uma semana e celebrará nas comunidades das Paróquias de Santo Antônio e Santa Clara.

Entrevista

Frei José Raimundo de Souza

 

Frei José Raimundo de Souza será ordenado presbítero por Dom Caetano Ferrari, bispo emérito da Diocese de Bauru, neste sábado, dia 25 de agosto, às 19 horas, na Paróquia Santo Antônio, no Jardim Bela Vista, em Bauru. No dia seguinte, domingo, às 9h30, celebra a sua Primeira Missa na Paróquia Santa Clara de Assis, na Vila Industrial II. Nesta quarta-feira tem início o Tríduo em preparação para a ordenação presbiteral de Frei José .

A sua família hoje reside em Bauru, mas Frei José nasceu em Mariluz (PR), no dia 21 de junho de 1973. É o segundo filho dos quatro de Francisca Maria de Souza e Raimundo Francisco de Souza. Aos cinco anos de idade mudou-se com seus familiares para Bauru (SP), onde conheceu os Frades Franciscanos desta Província. Frei José foi seminarista no Seminário Santo Antônio de Agudos (SP) em 1985. Esteve por um período no Aspirantado em Imbariê, Duque de Caxias (RJ), em 2002. Por fim, ingressou no Aspirantado de Ituporanga (SC) em 2007, e no Postulantado de Guaratinguetá (SP) em 2008. Ingressou no Noviciado de Rodeio (SC) no ano seguinte, onde fez sua primeira profissão aos 3 de janeiro de 2010.

De 2010 a 2012 cursou Filosofia em Curitiba, morando em Rondinha, Campo Largo (PR). Chegou à Fraternidade do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis (RJ), em 2013 para o tempo da Teologia, onde residiu até 2014. Foi transferido para Imbariê, morando nesta casa nos anos de 2015 e 2016. Ao final de 2016 concluiu o curso de Teologia e foi transferido para Colatina (ES), onde reside atualmente. Frei José fez a Profissão Solene aos 24 de setembro de 2017 e foi ordenado diácono no dia 3 de fevereiro deste ano. Conheça nesta entrevista um pouco mais o futuro presbítero.

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CONHEÇA MAIS FREI JOSÉ RAIMUNDO NESTA ENTREVISTA!

Site Franciscanos – Como se deu o seu discernimento vocacional?
Frei José Raimundo – Entendo, a partir da minha história, que discernir a vontade de Deus não é algo simples. Tenho na memória que, quando ainda criança, já falava sobre o desejo de ser padre. Acontece que minha história vocacional é marcada, a partir dos 12 anos de idade, por entradas e saídas do seminário. Apesar disso, poder ser considerado, inconstância ou insegurança proveniente de incertezas e medos, sempre vivi numa inquietação, às vezes mais e em outros períodos menos intensa, sentindo-me atraído para a vida religiosa. Hoje tenho convicção de que o fato de nunca ter desistido definitivamente, de manter esse desejo em mim, tratava-se de um chamado divino. Portanto, o discernimento vocacional foi acontecendo com o passar dos anos, nessas idas e vindas, de modo que as coisas foram, aos poucos, ficando claras.

Franciscanos – Quando resolveu ser frade franciscano?
Frei José Raimundo – Quando entrei pela primeira vez no seminário de Agudos (SP), aos 12 anos, não tinha clareza do ser frade, pois meu desejo era ser padre. Entretanto, o período no seminário e, sobretudo, a convivência com os frades das paróquias Santo Antônio e Santa Clara, em Bauru, possibilitou-me a aproximação da história de Francisco de Assis e do ideal franciscano. Sem desmerecer o valor da presença de outros confrades na minha história vocacional, quero lembrar com gratidão o Frei Ladí, que me encaminhou, pela primeira vez, para o seminário. Lembro, também, o Frei Dito, um amigo que, pacientemente, acompanhou por longos anos meu processo, minhas angústias, muitas vezes dizendo absolutamente nada sobre vocação, mas, ao mesmo tempo, dizendo tudo sobre ser frade franciscano com sua presença simples e fraterna. Desse modo, pude conhecer melhor a radicalidade evangélica de Francisco e a espiritualidade franciscana, o que me encantou. Se no princípio ir para o seminário franciscano foi circunstancial, isto é, por morar e pertencer a uma paróquia franciscana, depois tornou-se uma convicção.

Franciscanos – Depois de tantos anos de estudos, você está prestes a ser ordenado presbítero. Fale-nos como está essa expectativa.
Frei José Raimundo – A sensação que tenho é que vivemos sempre esperando por algo. Vivemos em estado de expectação. Assim foi todo o itinerário formativo, esperando e buscando a próxima etapa, a primeira profissão e a profissão solene. Depois, esperando a finalização dos estudos acadêmicos, e em razão da opção clerical, a espera pela ordenação. Não há como negar que chegar a esse momento iminente da ordenação presbiteral é, como a profissão solene, uma grande realização, a conquista do desejo pessoal que, sendo, quem sabe, resposta a uma eleição divina e do povo de Deus, seja, também, a conquista do desejo de Deus. Entretanto, vale uma consideração no sentido de não tornar esse momento um fim último da realização pessoal, pois se assim o fosse, o depois se tornaria vazio. A vida é marcada por grandes momentos, sendo a profissão solene e a ordenação presbiteral dois desses momentos, os quais me colocam num estado de vida. Em outras palavras, a ordenação é importante, marcante, mas exige que a vida após esse acontecimento seja um prolongamento daquilo que fora celebrado. As ótimas expectativas que tenho para ser ordenado estão acompanhadas das expectativas por exercer o ministério servindo ao povo de Deus, serviço esse caracterizado pelo jeito de ser de Francisco e de Clara de Assis. Serviço alegre, generoso, desprendido e, ao mesmo tempo, exigente, mas que com a graça de Deus será possível, apesar das fragilidades das quais não estou livre.

Franciscanos – O que é o presbítero para você?
Frei José Raimundo – Em poucas palavras poderia dizer que o presbítero, por obra do Espírito que o unge, é um ministro configurado a Cristo. Também aqui me recordo de São Francisco estigmatizado, semelhante a Cristo até no sofrimento, bem como aquilo que se diz a seu respeito de ser um outro Cristo. Francisco, Clara, os frades e todos os cristãos são chamados a configurar-se a Cristo. Entretanto, o presbítero, no exercício de seu ministério, configurado a Cristo, procede como Jesus, agindo com misericórdia, com o olhar compassivo, prolongando no tempo os mesmos gestos e sentimentos do Mestre e Senhor, zeloso no trato com as pessoas. Estou certo de que Deus mesmo confia ao presbítero pessoas e, qual pastor, ele deve interessar-se por elas, guiando-as e ajudando-as a superarem os obstáculos, os dramas que as afligem. No presbítero, através do presbítero, é Jesus mesmo quem age na vida das pessoas, nas famílias, nas comunidades de fé e na sociedade.

Franciscanos – Que desafios você espera como presbítero?
Frei José Raimundo – Certamente surgirão muitos desafios, alguns previsíveis, outros inesperados. Tenho bem presente dois que, talvez, sejam os maiores. O primeiro é manter a lucidez, a fidelidade e a radicalidade evangélicas, imerso neste mundo hodierno tão plural e, muitas vezes, sedutor. É imprescindível a auto-observação, a fim de perceber-me equivocado ou na iminência de equivocar-me. Outro grande desafio é manter o olhar atento na direção do outro que, possivelmente, me será confiado no exercício do ministério ordenado. Tendo em grande consideração a pessoa, com sua humanidade, preocupo-me em ter a dizer a coisa certa para quem vier em busca de ajuda, considerando que, para muitas pessoas, aquele momento pode ser decisivo. É uma responsabilidade muito grande! Há muita gente empobrecida, cuja humanidade precisa ser resgatada. Nesse sentido, mantenho presente os lemas de profissão e ordenação que escolhi. A referência primeira é Jesus, conforme me inspiram as palavras de Francisco escolhidas para a profissão solene: “Guardemos, portanto, as palavras, a vida, a doutrina, e o Santo Evangelho daquele que se dignou rogar a Deus por nós ao Pai” (RnB XXII,41). Tendo Jesus como forma de vida, não se pode agir de modo diferente, a não ser como “Servo de todos” (1Cor 9,19), lema da ordenação diaconal. Por fim, o serviço concreto realizado em favor dos necessitados, daqueles que têm fome, pessoas a quem foi negado ou tirado algo que lhes é imprescindível. Por isso, como presbítero-discípulo de Jesus, permaneço com boa disposição e de ouvidos atentos ao que Ele diz: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13).

Franciscanos – Você será presbítero no Pontificado do Papa Francisco. Como vê esse momento e o da Igreja?
Frei José Raimundo – Em muitos ambientes ouve-se falar muito bem da pessoa do Papa. Algumas atitudes dele que vêm a público e o que ele diz e escreve encantam muita gente. Mas o que há de encantador e atraente no Papa? O que há de extraordinário no que ele diz? Em minha modesta opinião, o que atrai e o extraordinário que vem da parte dele são justamente suas atitudes e as palavras evangélicas, originadas em Jesus, o homem do encontro, da acolhida, que percorreu os caminhos se empoeirando, se enlameando, encontrando pessoas e levantando-as de situações desumanas. Jesus é o amoroso misericordioso. Novamente aqui recordo-me de Francisco de Assis quando, na regra, escreve sobre observar o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Essa é a forma de vida dos frades, mas não só, é a forma de vida de todo cristão. Tudo o que fizermos nesse sentido está na dinâmica do seguimento fiel de Jesus. Em nosso tempo há desafios, velhos e novos, e é nesse contexto que a Igreja deve atuar evangelicamente, fazendo, de forma misericordiosa, “o óbvio”, no exercício da missão que lhe foi confiada pelo próprio Jesus.

Franciscanos – Deixe uma mensagem vocacional para terminar.
Frei José Raimundo – A todos e de modo especial aos jovens, lembro que aí está nossa vocação. Deus nos convoca ao serviço transformador do mundo, à construção do Reino, e, por consequência, à santidade. Várias são as formas de vida em que é possível responder a esse chamado. Quem sabe você, jovem, encantado pelo Evangelho, não possa responder ao chamado de Deus como frade franciscano. Encantado pelo Evangelho, encante-se pelo genuíno e evangélico carisma franciscano.

Entrevista a Moacir Beggo