Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Ordenação Presbiteral de Frei João Francisco da Silva

Ordenação

Frei João Francisco está pronto para o pastoreio

 

Moacir Beggo

São Paulo (SP) –  Todo o simbolismo da parábola do Bom Pastor marcou a ordenação presbiteral de Frei João Francisco da Silva, no sábado (6/10), às 18 horas, na Paróquia Nossa Senhora de Fátima e São Roque, na Vila Tolstói, em São Paulo.

A Igreja e Fraternidade dos Frades Capuchinhos abriram suas portas para receber os Frades Menores da Província da Imaculada Conceição e o seu confrade Frei João Francisco, que foi ordenado presbítero pelas mãos do bispo franciscano de Óbidos (PA), Dom Bernardo Johannes Bahlmann.

O Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, fez o pedido a D. Bernardo no início do rito da ordenação para que ordenasse Frei João Francisco. Além da Fraternidade Capuchinha, de seus confrades , religiosos e religiosas, os postulantes do Seminário Frei Galvão, onde Frei João Francisco é orientador, a família do ordenando marcou presença junto com a mãe, Dona Maria Lindete da Silva.

A escolha do bispo ordenante de Frei João Francisco tinha um motivo especial. Dom Bernardo era o guardião do Convento São Francisco, em São Paulo, quando o jovem João Francisco procurou os frades para pedir orientação vocacional.

Esse gesto alegrou muito o bispo, que deixou sua diocese na Amazônia para ordenar o confrade. “Muito obrigado pelo convite de poder estar aqui na minha Província de origem. Confesso que muitas vezes sinto saudades do meu tempo na Província”, revelou.

Dom Bernardo lembrou que toda a liturgia do dia estava carregada com o simbolismo da parábola do Bom Pastor. A começar pelo lema escolhido por Frei João Francisco: “O Senhor é o Pastor que me conduz, não me falta coisa alguma”.

“Essa imagem do Bom Pastor expressa justamente o ministério presbiteral. O sacerdote é aquele que carrega os mais frágeis, os desprotegidos, os perdidos, e olha que não são poucos os que estão perdidos neste mundo tão complexo! Por isso, o sacerdote é hoje um referencial onde as pessoas procuram alívio, onde possam encontrar os ombros do Bom Pastor para nos ajudar nos momentos que precisamos”, ressaltou.

No meio da homilia, Dom Bernardo pediu às Irmãs Franciscanas da Ação Pastoral que levantassem para apresentá-las ao povo. E explicou: Frei João Francisco foi professor no colégio das irmãs, que têm como símbolo o Bom Pastor. “Se vocês observarem o tau que elas usam, há o símbolo de um báculo, porque elas têm como carisma o pastoreio, o Bom Pastor. Com certeza, Frei João Francisco, esse espírito que havia no Colégio onde você era professor o absorveu. E quem sabe não foi isso que aconteceu quando você procurou os frades no Convento São Francisco?”, perguntou o bispo de Óbidos.

Dom Bernardo deixou uma mensagem para Frei João Francisco, lembrando que o pároco de sua cidade natal disse que o presbítero, quando celebrasse a Missa, deveria desaparecer para o Cristo ficar em primeiro plano. “Essa é nossa função de padre. Nós deveremos desaparecer para o Cristo aparecer”.

Terminada a homilia teve início o rito de ordenação. Frei João Francisco  foi revestido das vestes litúrgicas por Frei Daniel Dallandrea, guardião da

Fraternidade do Postulantado Frei Galvão de Guaratinguetá (SP). Já como presbítero, Frei João recebeu o cálice e patena de Dom Bernardo e, pela primeira vez, ele exerceu o seu ministério, concelebrando com o bispo e os presbíteros.

AGRADECIMENTOS

O Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, agradeceu em nome dos frades da Província da Imaculada a presença do bispo de Óbidos, a acolhida dos Capuchinhos, a comunidade e a família. “Eu fui mestre do Frei João Francisco no Noviciado. Hoje, mais do que nunca, entendi o referencial, mãe e irmãos, dos quais ele falava muito. Vocês foram, sem dúvida, o grande pano de fundo da história de vida, da vocação de Frei João Francisco. Mãe, agora nossa mãe, irmãos e irmãs, nosso muito obrigado”, enfatizou.

Já o pároco Frei José Carlos de Oliveira, em nome de seus confrades da Fraternidade (Frei José Sales Ramos e Frei Claudio Moraes Messias), agradeceu à equipe missionária que durante quatro dias esteve na Paróquia e a Frei João Francisco: “Nos sentimos felizes por participar de sua história vocacional, sua história de fé. Foi aqui que foi batizado, recebeu a crisma e trabalhou pastoralmente, antes de fazer sua opção religiosa”.

O novo presbítero agradeceu ao bispo, aos frades, amigos, à comunidade, movimentos e pastorais. “Assim que eu procurei a Paróquia para organizar a minha ordenação, Frei José Carlos disse: ‘Nós suspendemos toda a nossa agenda e a estrutura é de vocês’. Muito obrigado a vocês por isso. Me sinto muito à vontade e me sinto em casa, como disse a mim Frei Juca. Realmente eu estou em casa”, agradeceu.

Até este momento, Frei João Francisco estava muito tranquilo e sereno. Mas não resistiu quando falou da importância de sua família na história vocacional, especialmente do papel de sua mãe.  “Dizem que a vocação nasce do berço. Recordo-me da minha infância, quando vínhamos limpar a igreja e carregávamos baldes, tirávamos o pó dos bancos, ‘tudo para Deus’, como minha mãe dizia. Acho que era um prenúncio desse ministério que hoje eu abraço, o ministério do serviço aos pequenos e humildes, que aprendi com a dureza da vida e com a suavidade e o frescor da oração colocada em meus lábios pela senhora, mãe, e pela avó, Maria das Dores, que hoje se alegra no céu juntamente com vô e meu pai, que a irmã morte levou precocemente. Obrigado por tudo mãe!”, completou a frase em meio ao choro, especialmente quando falou do pai.

Frei João Francisco celebrou a Primeira Missa na mesma Paróquia no domingo (7/10), às 11 horas, tendo como pregador Frei Adriano Freixo Pinto, que foi seu guardião em Petrópolis, enquanto era estudante de Teologia.

Entrevista

E Francisco entrou na vida de João…

 

“Sou feliz e realizado em minha vocação”. Assim é Frei João Francisco da Silva. Fraterno, calmo e muito convicto do caminho que escolheu assim que decidiu ingressar na Ordem Franciscana. No dia 6 de outubro, às 18 horas, na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, na Vila Tolstói, em Sapopemba, São Paulo, ele será ordenado presbítero pelas mãos do bispo franciscano de Óbidos (PA), Dom Bernardo Johannes Bahlmann. Natural de São Paulo, Frei João Francisco nasceu no dia 9 de julho de 1969. Filho de Antônio Oliveira (falecido) e Maria Lindete da Silva, ele é o penúltimo de cinco irmãos (Zélia, Antônio, Fátima, Sandra e José). Frei João Francisco ingressou na Ordem Franciscana ao fazer a primeira profissão religiosa no Noviciado de Rodeio em 2006. Como já tinha o curso universitário, ficou um ano em Rondinha (Filosofia) e cursou Teologia de 2008 a 2011. Foi ordenado diácono pelo Cardel Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, no dia 10 de março de 2012.  Professou solenemente na Ordem no dia 7 de agosto de 2011.

Por Moacir Beggo

Site Franciscanos – Fale como se deu o seu discernimento vocacional.

Frei João Francisco – Pertenço a uma família de tradição católica. Recordo-me que logo que meu pai faleceu, isso quando eu tinha 2 anos de idade, passamos a ter assistência dos frades capuchinhos na nossa paróquia. E toda vez que íamos à Missa, minha mãe nos orientava a ir “pedir a bênção aos freis”. Eu ficava admirado, olhava aqueles frades com seus hábitos surrados, barbas longas, olhar sereno e um testemunho de vida simples e fraterna que encantava a todos. Toda semana nós íamos ajudar na limpeza da Igreja e sempre algum frade passava para agradecer a equipe. Isso me marcou!  Anos mais tarde, em minha comunidade, chegaram as Irmãs Franciscanas da Ação Pastoral que nos introduziram na espiritualidade franciscana. Isso despertou um desejo pela vida de frade. Eu queria ser frade! Logo me interessei pela vida de São Francisco e fui em busca de orientação junto aos frades do Convento São Francisco, no Largo São Francisco. Passada a adolescência, deixei de lado essa busca vocacional. Passei a me dedicar sempre mais às atividades pastorais em minha comunidade. Sentia que precisava me dedicar mais intensamente ao serviço de Deus e dos irmãos empobrecidos. Estudei e me formei na universidade. Estava indo muito bem no namoro e profissionalmente até que um dia, numa conversa com um frade amigo, que costumeiramente visitava minha família, revelei a ele meu desejo de ingressar na vida religiosa franciscana. Ele me disse que era totalmente possível. Então procurei novamente os frades e prontamente fui acolhido para participar dos encontros vocacionais, retomando assim o antigo desejo adormecido em meu coração. Em fevereiro de 2004, deixei meus familiares e as pessoas que quero bem para iniciar uma experiência que mudou minha vida. Afirmo com convicção que sou feliz e realizado em minha vocação.

Site Franciscanos – E por que escolheu ser frade franciscano?

Frei João Francisco – Existem hoje muitos modos de realizar a vocação cristã, mas o carisma franciscano me oferece a possibilidade de vivenciar a contemplação na ação, ou seja, sem me desvincular da realidade, mas assumindo suas provocações, vou firmando meu propósito de viver na pobreza, na castidade e na obediência a serviço do Reino, com humildade. Sabemos que o carisma fundamental franciscano é viver na simplicidade e no despojamento a fim de testemunhar Jesus Cristo a todas as pessoas, em todos os tempos e lugares, principalmente na sociedade atual que, permeada pelo secularismo, perdeu o sentido de Deus e se norteia pela autossuficiência das pessoas. Daí a alternativa mais pertinente da opção franciscana para deixar-me conduzir pelo espírito de Deus e pela ousadia franciscana e melhor distinguir entre o que é ilusório e o que é eterno para mais coerentemente buscar a Deus e servi-lo nos irmãos e irmãs, promovendo os valores evangélicos da paz e do bem. É encantador em São Francisco suas palavras e sua prática; ele fez de sua vida uma doação total aos desvalidos e excluídos de seu tempo, sempre apontando o caminho para Deus aos que o seguiam; não fez falsas promessas, e lançou uma esperança que direciona para um mundo mais fraterno, a esperança cristã! Tornar-se frade franciscano hoje é assumir essa mesma causa, a causa de Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus; e neste sentido a opção franciscana é garantia dessa presença para muitos desvalidos que se reconhecem irmãos de Francisco de Assis e têm apreço pelos frades. A proposta franciscana é profundamente humana e evangélica e capaz de transformar situações de violência e hostilidade em ações fraternas em favor da criação e da vida. Enfim, escolhi ser frade franciscano para tornar o carisma e a presença franciscana conhecidos pelas pessoas e divulgar o vigor de que goza o cristianismo, a prática de Jesus Cristo, mesmo diante de um cenário tão avassalador de secularismo que fragiliza as pessoas; é fundamental apresentar essa proposta que valoriza o humano na sua totalidade, sem interesses secundários, como objetiva a proposta franciscana para todos que queiram abraçá-la.

Site Franciscanos – Como você compreende o serviço presbiteral na Igreja?

Frei João Francisco – Em primeiro lugar, é colocar definitivamente a minha vida sob o senhorio de Deus. Por isso, escolhi como lema o Salmo 23,1: “O Senhor é o pastor que me conduz, não me falta coisa alguma”. E nessa consciência quero prostrar-me diante do maior mistério que é Deus e procurar viver com ousadia, todos os dias, o Evangelho de seu Filho Jesus Cristo e servi-Lo no povo. Compreendo que a missão do presbítero é ser o representante de Cristo, ou seja, sinalizá-Lo, indicá-Lo, torná-Lo presente ao povo através da ação evangelizadora e do zelo apostólico. É fundamental ser uma presença de total transparência a fim de animar o rebanho e a vida da Igreja.   É, ainda, ocupar-se das coisas de Deus, como disse Jesus em certa ocasião: “Devo ocupar-me das coisas de meu Pai” (Lc 2,49). Essa é a essência do serviço presbiteral, cuidar do sagrado sem deixar de curar as feridas e sem deixar de ser comprometido com a realidade que me cerca. O nosso povo tem sede do sagrado e, sem demagogia, o sacerdote é enriquecido por essa dimensão da presença divina, por isso, o mediador entre Deus e os homens. Outro aspecto importante do serviço presbiteral é ser uma ação útil para os outros. Tenho a clareza de que é um serviço que vou prestar aos outros. Por isso, tem dimensão da “alteridade” (alter), voltada para o outro. É serviço, doação, doação integral do amor e condição essencial e existencial para o êxito do serviço presbiteral na busca da perfeição da caridade. Em suma, na atualidade e na vida da Igreja, o serviço presbiteral é antes de tudo estar na disposição de servir ao povo de Deus; por esse motivo, não pode ser confundido com poder ou status porque é acima de tudo graça divina e não mérito. Por essa razão, é confiado ao presbítero o múnus de ensinar, governar e santificar. De tudo isso fica uma certeza: “Você é sacerdote para sempre”… (Hb 5,6)

Site Franciscanos – Você pode nos apontar um desafio e uma motivação para ser presbítero hoje?

Frei João Francisco – Penso que a grande provocação para todo presbítero reside no campo da evangelização. Evangelizar nunca foi fácil, sempre foi um grande desafio, sobretudo atualmente, devido à avalanche de propostas e possibilidades oferecidas pela sociedade vigente. E o mundo urbano apresenta bons desafios para a ação evangelizadora. São desafios tão antigos e que ressurgem com uma nova roupagem, agora mais refinados e atraentes, que são capazes de enganar até os mais astutos e que exigem de nós uma postura compatível com a doutrina e os ensinamentos do Evangelho. É preciso fortalecer a fé do nosso povo e não se deixar seduzir por essas teorias vazias e negativas, que nada acrescentam de substancial para a existência humana. Porque carregadas de forte apelo sedutior, elas intervêm decididamente nas opiniões e visão de mundo que comprometem nossa conduta. É preciso ter, como ponto de partida, a coragem e ousadia de anunciar o Evangelho através do testemunho da própria vida e confrontá-la com tais desafios e sem esquecer que Jesus sempre estava a caminho (percorria cidades, aldeias, povoados), vivia na itinerância, ou seja, sempre próximo das pessoas pobres do caminho. Porém, essa minha compreensão traz implicações para a ação pastoral e evangelizadora da Igreja que se traduz em proposta de trabalho aos presbíteros: serem eles continuadores dessa proximidade com os mais pobres que vivem à margem do caminho de nossa sociedade e ajudá-los a encontrar caminhos de promoção da vida na dimensão da justiça, paz e ecologia.

Site Franciscanos – Sua primeira transferência foi para ajudar na formação no Postulantado Frei Galvão. Como está sendo esta experiência?

Frei João Francisco – Costumo dizer que essa transferência foi presente de Deus. Ao chegar no Postulantado, encontro uma fraternidade disposta ao trabalho e entusiasmada na vida fraterna e deles recebi apoio, incentivo e orientação para iniciar meus trabalhos. Nunca imaginei atuar na formação, mas quando veio a transferência fiquei refletindo acerca da responsabilidade de um formador e se eu a desempenharia conforme a necessidade; ainda mais numa etapa tão decisiva, pois antecede e prepara para o noviciado, e também para esses nossos jovens irmãos postulantes, que estão construindo um projeto de vida e já colocam os pés na vida religiosa como certeza dessa realização. Por esses motivos, não hesitei em assumir essa responsabilidade que é serviço e doação. Para mim, é extremamente satisfatório poder ajudar esses jovens nessa busca e também poder contribuir num dos trabalhos da Província em que há grande resistência para se atuar, daí a escassez de formadores. Mas a experiência está sendo positiva, porque me ajuda a refletir sobre o essencial da vida em que depositei minha total confiança e se estou sendo coerente com o propósito que almejo para toda a vida.

Site Franciscanos – Deixe uma mensagem para os jovens e esses jovens futuros frades.

Frei João Francisco – Cultivar um modo de vida regrado baseada em princípios que edificam o caráter humano, não é mais sensato e prudente que ceder aos caprichos da sociedade secularizada e materialista que favorece o Ter em detrimento do Ser? Vamos lá! É preciso criar maneiras de tornar a mensagem do Evangelho e nossa Igreja mais atrativa à realidade de nossa juventude. Como já disse, o jovem quer ser amado e está em busca deste espaço que o acolha e o conduza para a felicidade verdadeira. E a vida religiosa é uma alternativa saudável e aponta caminhos para a novidade que Cristo deixou para a humanidade: amar e ser amado.  Novidade do amor sem reservas. Porque Deus é em essência amor. E São Francisco compreendeu positivamente isto quando diz que “o Amor não é amado”. Amar a Cristo nos irmãos e praticar definitivamente seus ensinamentos é assumir a causa do seu Evangelho que já ultrapassa dois mil anos de existência. Nada dura tanto, só o amor, pois onde há amor Deus aí está! E não faltam exemplos de pessoas que acreditaram na proposta de Jesus e se realizaram. Deram a vida em defesa da justiça, da igualdade e da vida plena para todos. Atuaram na defesa dos povos crucificados e oprimidos, na busca de sua liberdade e dos seus direitos. Hoje vivemos rodeados de propostas um tanto audaciosas, mas passageiras, que servem apenas para nos tirar do foco de nossa vocação. É preciso acreditar no potencial da Vida Religiosa Franciscana e você também pode fazer essa diferença numa sociedade desigual. Acredite!