Ordenação Presbiteral de Frei Jean Carlos Ajluni de Oliveira
Ordenação
Frei Jean: “Hoje é o dia mais feliz da minha vida”
Frei Augusto Gabriel e Moacir Beggo
São José da Barra (MG) – Depois de duas horas e meia de uma celebração simples e bela, a ordenação presbiteral de Frei Jean Carlos Ajluni de Oliveira, neste sábado (21/11), no ginásio poliesportivo de São José da Barra (MG), parecia caminhar para o final tranquilamente, quando vieram os agradecimentos e sobrou emoção para todos. Frei Jean, que segurou o choro durante todo o rito, não resistiu e, em vários momentos, teve de interromper a sua fala. “Eu falo brincando que demorei vinte anos para ser padre, mas valeu a emoção por todos esses anos. Hoje, certamente, é o dia mais feliz da minha vida. Espero que eu seja muito feliz, e certamente serei, perseverando no sacerdócio”, professou, emocionando a todos e especialmente a família.
E foi assim durante três horas (das 17 às 20 horas). Frei Jean abraçou o ministério presbiteral num dia que ficará para sempre na memória do povo da pequena cidade São José da Barra. Cerca de 40 frades e religiosas de todos os cantos do país, um ônibus de amigos do Rio de Janeiro, uma amiga da Itália e amigos da Síria se juntaram ao bispo Dom Caetano Ferrari, da Diocese de Bauru e ex-provincial da Província da Imaculada, ao pároco Pe. Janício de Carvalho Machado para celebrar esse momento de entrega na vida de Frei Jean. Ou como disse D. Caetano: “Frei Jean quer ser padre a partir de Jesus, para glorificar o Pai, para produzir frutos de bem, na partilha do pão e no serviço de lava-pés”, enfatizou o bispo, que também recebeu a primeira profissão do ordenando na Ordem Franciscana quando era Provincial da Província da Imaculada.
Num momento de tantas atrocidades promovidas por terroristas no mundo, D. Caetano ressaltou a escolha para o bem e para a paz de Frei Jean. “Que bom a gente ver e assistir numa comunidade um jovem que quer produzir frutos, não de guerra, não de ódio, não de morte, mas frutos de bem; partilhando a vida, o pão, lavando os pés, ao modo de Francisco, irmão do bem, da misericórdia, irmão da paz”, disse D. Caetano.
Frei Luís Fernando, D. Caetano, Frei Jean e o Pe. Janício
Exortou Frei Jean que, sozinho, não vai conseguir viver esse ideal. “Só permanecendo ligado ao tronco da videira, que é Jesus, poderemos conseguir”, disse, referindo-se ao Evangelho. D. Caetano citou o Papa Francisco no final e lembrou que ele sempre pede conversão de vida. “O padre é tirado do povo para servir o povo e viver no meio do povo. O padre e o bispo são assim. Não devem exercer o ministério com se fossem funcionários”, disse. “Somos padres não para nós mesmos, mas para os outros. Para a Igreja. Não somos anjos, mas humanos. O povo compreende bem isso”, completou, agradecendo Frei Jean por tê-lo convidado para esta celebração.
Após a homilia, o rito continuou com o propósito do eleito (VEJA MAIS SOBRE O RITO DE ORDENAÇÃO). Em seguida, foi cantada a Ladainha de todos os Santos, quando o eleito prostrou-se, como sinal de sua total entrega a Deus. Veio, então, o momento central da ordenação com a imposição das mãos e a Prece de Ordenação. Na sequência, a última parte do rito: unção das mãos, vestição do eleito com a casula e a estola.
Os amigos de Frei Jean, Fátima e Sergio, trouxeram suas vestes sacerdotais. Pe. Nélson Fernandes, antigo pároco desta Paróquia e quem batizou Frei Jean, teve a alegria de revesti-lo com as vestes sagradas, enquanto o coro entoou: “Reveste-me Senhor com a tua graça”.
Frei Jean dá a bênção à sua irmã gêmea Jeane
Depois, com a unção das mãos com o óleo do santo Crisma, D. Caetano atou as mãos de Frei Jean e sua mãe, D. Catarina, desatou a fita e recebeu a primeira bênção do neopresbítero. Os sobrinhos, Davi e João Gabriel, carregaram em procissão o cálice e a patena para serem entregues a Frei Jean. O rito terminou com o abraço do bispo, dos sacerdotes e religiosos e da família. Na sequência, teve início da liturgia eucarística.
PÓS-COMUNHÃO
Frei Jean, que viveu em Jerusalém e tem descendência árabe, pode contar com a presença de um grupo de amigos sírios, refugiados que estão residindo em Belo Horizonte e vieram junto com o Pe. George Rateb Massis, da Igreja do Sagrado Coração de Jesus dos Siríacos Católicos. A jovem Naden Zakour emocionou com um belo canto em árabe que dizia assim, segundo explicou Frei Jean: “O Senhor é a luz dos dias da minha vida”.
AGRADECIMENTOS
Frei João Mannes, Definidor da Província, agradeceu em nome do Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, e de toda a Província, ao bispo D. Caetano, aos confrades, aos familiares, a Frei Diego Melo, coordenador do Serviço de Animação Vocacional, ao povo e, por último, fez um agradecimento especial ao pároco Pe. Janício pelo acolhimento e dedicação nestes dias.
Pela comunidade, Raquel Queiroz disse que este foi um dia abençoado. “Deus recebeu o seu sim, Frei Jean. Deus o escolheu e fez o seu coração pertencer a ele e, a seu tempo, o chamou para o seu ministério. Seu sacerdócio nos enche de esperança. Sua juventude nos enche de sonhos. Sua fé enfeita nossa Igreja. Estamos aqui, seus amigos da boa terra, homens e mulheres de fé, que confiamos na sua vocação. Queremos tomar parte do seu sim. Pense em nós todos ao longo do seu ministério. Quando vier o cansaço, o medo, lembre-se deste dia, de nós”, prometeu.
Na sequência, um coro de crianças de flautas doces tocou e o maestro Tales cantou “Doce é sentir”, emocionando o povo e Frei Jean.
MAIS EMOÇÕES
“Louvado sejas meu Senhor por ter chamado à vida nesta família, nesta comunidade São José, e nesta família franciscana. Quero agradecer a Paróquia São José, de forma muito especial o Pe. Janício, que nesses dias não foi apenas um pároco. Ele foi o meu pai (o pai de Frei Jean é falecido) e nele agradeço a todos”, disse Frei Jean.
Frei Jean agradeceu os formadores de duas etapas em sua caminhada. “Dei uma parada no meio, mas foi vontade de Deus”, explicou. Ele também não esqueceu a família, os amigos, especialmente Maria Bruno, a italiana que fez a Primeira Leitura, e os seus amigos sírios que vieram de longe, assim como seus confrades da Custódia do Sagrado Coração de Jesus, da Província de Santa Cruz, da Província do Santíssimo Nome, da Custódia das Sete Alegrias de Nossa Senhora e da Imaculada Conceição. “É quase uma reunião da Conferência dos Frades Menores do Brasil”, brincou. Mas ele chorou ao agradecer o canto dos sírios, ao agradecer D. Caetano e o povo.
“Quando entrei no Noviciado tinha um sonho muito grande de usar o hábito franciscano e o sr. entregou ele a mim. Hoje, realizo outro sonho de me vestir com as vestes sacerdotais. Os orientais têm o costume de rezar sempre pelos bispos de suas ordenações. Certamente sempre rezarei pelo sr.”, garantiu.
Por último, agradeceu seus colegas de turma que estavam presentes, o prefeito João Passos, e pessoas importantes da comunidade, como Rosa e Roseli, que ajudaram na organização desta celebração. Por último, consagrou o seu ministério a São Francisco, a São José e à Imaculada Conceição. Pediu aos frades que o ajudasse a cantar “Salve Mestre, Pai Amado”, “São José, a vós nosso amor” e “Imaculada Conceição”.
E, na confraternização, depois de um dia intenso, Frei Jean ainda teve forças para dançar com os sírios.
Primeira Missa
A Primeira Missa de Frei Jean em São José da Barra
Frei Augusto Gabriel e Moacir Beggo
São José da Barra (MG) – Ordenado presbítero no sábado, Frei Jean Carlos Ajluni de Oliveira celebrou a sua Primeira Missa no domingo, solenidade de Cristo Rei, na Paróquia São José, em São José da Barra (MG). A Igreja lotou para celebrar este momento tão especial na vida do neopresbítero, que, como disse na ordenação, precisou esperar vinte anos. Talvez por toda essa experiência que passou pela formação religiosa franciscana, Frei Jean parecia um sacerdote experiente. Seguro, ele conduziu a celebração com leveza e devoção, tendo ao seu lado os concelebrantes Frei João Mannes, definidor da Província da Imaculada e Guardião na Fraternidade de Rondinha, e Pe. Janício de Carvalho Machado, pároco da Paróquia São José, além do diácono Luís Fernando Nunes Leite e do cerimoniário Frei Alan Leal de Matos.
Um grande número de frades e religiosas de todo o país permaneceu em São José para participar desta celebração, que começou às 9 horas de uma manhã dominical com temperatura agradável.
Como é de costume na Província, o neopresbítero não faz a primeira homilia e convida uma pessoa que marcou a sua história de vida para isso, especialmente no período de formação. Frei Jean convidou o seu conterrâneo Frei Benedito Gonçalves, mais conhecido como Frei Dito entre seus confrades. Natural de São José do Alegre (MG), Frei Dito vestiu o hábito franciscano em 1º de janeiro de 1986 e foi ordenado presbítero em 11 de dezembro de 1993. Atualmente reside na Fraternidade Nossa Senhora da Boa Viagem, na Rocinha (RJ). Frei Dito foi o primeiro formador de Frei Jean, quando ainda ingressou no Seminário Menor Santo Antônio, em Agudos.
“Eu o acompanhei naqueles primeiros tempos. É emocionante para mim – e deve ser também para Frei Lauro Formigoni que está aqui -, recordar e participar deste momento de sua vida. Frei Jean era um garotinho pequeno, não falava nada, nas horas vagas ficava quieto. Mas hoje ele fala bastante, fala até em outras línguas!”, recordou Frei Dito, contando que encontrou Frei Jean na Rodoviária Tietê de São Paulo, às 5h30, quando recebeu o convite para ser o pregador deste dia.
“E chegou esse tempo tão sonhado na vida dele. Aliás, ontem à noite, perguntei a ele: ‘Jean, o que mudou na sua vida depois da ordenação?’ O Frei José (Francisco dos Santos) interrompeu e disse: ‘Não, ele tem que dormir primeiro uma noite para dizer se mudou alguma coisa’. Então, agora, a gente pode perguntar se mudou alguma coisa na sua vida”, disse a Frei Jean, que respondeu com um sorriso. Frei Dito continuou: “Não mudou nada. A ordenação não muda nada. Quando há uma ordenação, a gente pensa em algo mágico. Mas não vai acontecer nada disso. Ordenação só dá trabalho para a gente”, brincou.
Bem ao seu estilo mineiro, Frei Dito foi claro e didático ao falar do ministério que Frei Jean assumiu. “A gente assume um trabalho e continua sendo um irmão, porque é isso que a gente é, ou que deveríamos ser por vocação. A nossa vocação de frade é a de ser irmão. O frade assume se quiser o serviço, o trabalho presbiteral. O Frei Lauro, por exemplo, não quis assumir esse serviço. Ele preferiu outro serviço, tão santo e em pé de igualdade. O Frei Lauro, durante muito tempo, trabalhou nos nossos seminários cuidando da horta, da lavoura, dos animais, da casa. Esse serviço é tão nobre, é tão construtor do reino de Deus, como o que os presbíteros fazem. Então, a gente só assume um serviço para a Igreja”, explicou o pregador.
O REINO DE DEUS
Tomando a liturgia solene de Cristo Rei, Frei Dito lembrou que a palavra rei já leva a imaginar algo poderoso, grande. “Alguém importante, com roupas brilhantes, coroa de ouro, cetro de lado, sentado no trono. Tem até umas representações de Cristo Rei desse jeito. Eu acho que Jesus deve ter dor de barriga quando vê essas ilustrações. Ele deve ficar muito chateado com isso, porque não foi isso que ele quis. O reinado que quis – e ele falava muito do Reino de Deus – é aquele em que todo mundo fosse igual, inclusive ele. Por isso, Cristo não deve gostar dessas representações. Jesus se fez nosso irmão e serviu a nós. É dessa forma que ele quer ser visto”, ressaltou, lembrando que os apóstolos pensavam na construção física de um reino. “Mas Jesus fugia dessas coisas, porque nunca quis ser mais do que ninguém. No seu reino havia lugar para a igualdade. Jesus foi aquele que andou descalço pelas ruas ‘empoeirentas’ da Palestina. Seus pés deviam estar sempre empoeirados. Não devia ser diferente com a sua túnica. Jesus era assim e encontrou seu trono numa cruz por conta de seu desejo de fazer um mundo melhor. O seu palácio, a sua casa, era a que ele mesmo descrevia: ‘as raposas têm tocas, os pássaros têm seus ninhos, mas eu não tenho onde repousar a cabeça’. Esse é o reinado de Jesus. Ele quis um mundo igual, de fraternidade, de justiça, de partilha. Por isso, fez um último desejo ainda em vida: ele ensinou para nós a Eucaristia, sacramento maior de seu reino, onde todo mundo é igual, onde todo mundo come e partilha do mesmo pão”, frisou.
A CELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA
Segundo Frei Dito, esse é certamente o maior sinal daquele que assumiu esse serviço do presbiterado. “Ontem, Frei Jean recebeu o cálice com a patena, num sinal disso. O seu serviço é aquele que vai semear o Reino de Deus. E o Reino de Deus é muito mais do que Igreja. Nem sempre nós, Igreja, traduzimos para o mundo o Reino de Deus. E aí precisamos fazer sempre o ‘mea culpa’: precisamos ser mais Reino de Deus e menos Igreja preocupada com a liturgia, o rito. A Igreja precisa ser mais prática, portadora da justiça, da fraternidade, do amor, da partilha. Como presbítero somos enviados a celebrar os sacramentos. Mas isso não pode ser sempre celebração. Temos que nos recordar que antes de os sacramentos serem celebrações, eles foram vivências, foram vida. O próprio Jesus vivenciou isso. E é na vida do Senhor que os sacramentos surgiram. Na fé dos primeiros irmãos, os sacramentos foram surgindo. Então, quando a gente celebra os sacramentos, não se deve fazer dele só celebrações, mas deve se ter em conta que eles são experiências de vida que devem ser vivenciadas de novo. Se se inverte o valor das coisas, os sacramentos se tornam meras celebrações. Muito bonitas, aliás, muito bem elaboradas, mas desprovidas, descoladas da experiência que os fez surgir como sacramentos. Então essa é uma preocupação que a gente precisa ter, para que possamos ser portadores do reino de Deus”, observou
Para o pregador, o presbítero, aquele que assume este trabalho, não pode se esquecer disso. “Ele pode fazer a celebração mais bonita que for, mas enfeitada que for, mas se ela estiver distanciada da experiência que a fez surgir, ela é nula, ela é inválida. Aliás, as diretrizes de Evangelização dizem isso: que a comunidade que celebra a Eucaristia sem preocupação nenhuma com os pequenos deste mundo, celebra invalidamente”, disse, enfatizando que o presbítero não assume esse serviço só para a Igreja, mas para o mundo.
“O que a gente deseja para o Frei Jean é isso. Que o seu serviço presbiteral possa frutificar. Para isso, ele escolheu bem o seu lema: “Permanecer na videira”. Ontem, nosso o bispo já falou sobre isso. Mas vale lembrar que a palavra permanecer tem o sentido de facilidade: ‘ah eu estou permanecendo’, ‘estou respousando no Senhor’. Permanecer não é isso. É perpetuar no mundo as mesmas ações do Senhor. A seiva que corre em nós, ligada ao tronco da Videira, é a seiva da indignação, do amor aos pequenos, da justiça, dos pobres, dos doentes, dos sofredores. Isso não é passividade, é algo profundamente transformador e gera frutos”, ensinou.
“MEXER COM IGREJA”
Frei Dito ponderou, contudo, que essa missão tem desafios, especialmente na sociedade e também na Igreja de hoje. Ele contou que, no ano passado, o seu pai foi morar para sempre ao lado do Pai. Estava com 90 anos e sofria com a doença de Alzeimer, tendo dificuldades para reconhecer as pessoas e não falava ‘coisa com coisa’. “Quando fui visitá-lo, ele olhou para mim e eu pedi a sua bênção. Ele me olhou com um olhar meio vago e minha irmã que cuidava dele, disse: ‘Pai, você não está conhecendo? É o Dito’. Então, ele disse: ‘Oh, Dito, tudo bem? Você ainda mexe com Igreja?’ (risos). De fato, ‘mexer’ com Igreja não é fácil. Então, Frei Jean, você vai ‘mexer com Igreja’. Você sabe que na Igreja tem de tudo, como em qualquer outro lugar. A maioria do nosso povo gosta muito de nós, vive a sua fé com devoção e profundidade, mas na Igreja aparece cada enrosco, cada gente amarga, azeda. Muitas pessoas encontram na Igreja o lugar para descarregar suas neuras. E, nesse sentido, é preciso saber como lidar com isso. Os desafios serão muitos, isso é inevitável. Tem até movimentos dentro da Igreja querendo rezar a Missa em latim! Mas a gente precisa se alegrar com as coisas boas, com aqueles que querem ser de fato portadores do Reino de Deus. E com aqueles outros, você tem que ter paciência. Aliás, paciência é uma coisa que não deve faltar muito para você, não é mesmo, Frei Jean? Ele sempre foi assim paciente, demorava para se encolerizar, mas quando se encolerizava, sai de perto…”, revelou.
PACIÊNCIA MINEIRA
“Dizem que nós, mineiros, somos pacientes. Não sei se é muito verdade isso. Tem até uma piadinha de mineiro para encerrar. ‘Um mineiro, em certa circunstância, foi condenado à morte. E aí, chegou o dia da sentença e o levaram para o paredão. Iria ser fuzilado. Quando o comandante da tropa chegou, disse o seguinte: ‘Você foi condenado à morte e vai ser fuzilado, mas é costume que cada sentenciado diga suas últimas palavras ou faça até um pedido’. O mineiro pensou bem e disse: ‘Eu quero comer uma jaca’. O comandante disse: ‘Puxa vida, mineiro, tanta coisa para você falar no último instante de sua vida. Você poderia pedir outras coisas…. E quer logo uma jaca?! Além disso, nem é tempo de jaca. A época de jaca é só daqui a seis meses’. O mineiro, então, disse: ‘Não tem problema, eu espero’” (risos).
“Que Frei Jean possa ser paciente com o povo de Deus, pois vale a pena, apesar de todos os problemas e desafios. Paz e bem para você”, encerrou Frei Dito.
A descontração também contagiou o neopresbítero que fez todo mundo rir quando disse após a comunhão: “Sempre quis dizer isso: agora, os avisos paroquiais!”…
No final da celebração, Frei Jean recebeu mais homenagens da comunidade e o Pe. Janício agradeceu a presença de todos e disse que a ordenação de Frei Jean foi um marco para a Paróquia. “Nesses dias, convivendo com vocês, pude conhecer um pouco a espiritualidade franciscana e o modo de vida dos frades, diferente da minha formação como diocesano em doze anos de Seminário”, contou o pároco . “Esse espírito fraterno, com certeza, contagiou a nossa Paróquia, que está celebrando as Santas Missões em preparação para o centenário da Diocese de Guaxupé”, disse. “Que esta celebração nos fortaleça ainda mais na nossa caminhada. Espero que nos encontremos mais vezes”, completou.
Entrevista
“Ser Frade Franciscano é uma grande alegria!”
Moacir Beggo
Diz um ditado popular que “mineiro não fala, proseia”. Frei Carlos Ajluni Oliveira deu-nos a honra de uma “prosa”, onde falou um pouco de sua vida, de sua caminhada vocacional e de suas expectativas como sacerdote de Cristo. Isso porque Frei Jean será ordenado presbítero pela imposição das mãos do bispo diocesano de Bauru, Dom Caetano Ferrari, no dia 21 de novembro, às 17 horas, no Ginásio Poliesportivo de São José da Barra (MG).
Nesta cidade, mora a família de Frei Jean, mas ele nasceu em Passos (MG), no dia 8 de julho de 1979. Vestiu o hábito de São Francisco de Assis no dia 15 de novembro de 2009 e professou solenemente Ordem dos Frades Menores no dia 6 de dezembro de 2014.
Frei Jean vai celebrar a sua Primeira Missa no dia 22 de novembro, às 9 horas, na Igreja Matriz de São José.
Site Franciscanos – Como se deu seu discernimento vocacional?
Frei Jean – Desde muito cedo me interessei pela vida na Igreja, participando de diversas atividades em minha Paróquia no interior de Minas Gerais. Aos poucos fui me sentindo chamado à vida religiosa e, conhecendo a história de São Francisco de Assis, pensava em ser Franciscano, apesar de não conhecer nenhum franciscano pessoalmente. No entanto, o processo de discernimento foi mais longo e complexo do que parecia no início. Comecei a caminhada na Província, a qual foi interrompida por alguns anos, até que num certo momento o chamado à vida religiosa franciscana falou mais forte, quando retomei a caminhada e estou muito feliz.
Site Franciscanos– Quando resolveu ingressar no seminário?
Frei Jean – Eu tenho alguns amigos em Santos (SP) que sabiam do meu desejo de ser franciscano. Num primeiro momento me levaram à Igreja dos Capuchinhos do Embaré, mas lá não me senti acolhido, então me levaram ao Convento Santo Antônio do Valongo. Quem estava lá naquele ano era Frei Rozântimo, que nos acolheu muito bem, eu, minha mãe e meus amigos, nos convidou para tomar café, nos deu atenção. Foi então que percebi que era “daqueles franciscanos” que eu queria ser. Por indicação dos frades, escrevi a Frei Severino Clasen, então procurador vocacional, que me mandou um cartão postal, que guardo até hoje, com a data do estágio em Agudos. Lembro que fui ver no mapa da escola onde ficava Agudos… Meu padrinho pagou a passagem e fiz minha primeira viagem sozinho. No ano seguinte entrei no Seminário Santo Antônio e iniciei a caminhada na Província.
Site Franciscanos – Como foi sua caminhada formativa?
Frei Jean – Como já acenei antes, não foi muito linear. Entrei em Agudos em 1995 e fui até o último ano de Filosofia em 2002, quando em conversa com o Mestre achou-se por bem que eu interrompesse o processo formativo para melhor discernimento vocacional. Fui pra Minas Gerais, e ainda no final daquele ano consegui emprego em São Paulo, primeiro numa loja de um sírio no Brás, e em dezembro de 2002 entrei na Volkswagen do Brasil. Trabalhei lá por alguns anos, como também na Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Neste tempo “fora” pude amadurecer como pessoa e também como cristão. Me lembro que frequentava sempre as Missas, principalmente aos domingos, nas igrejas próximas de onde morava. Durante este tempo, o desejo de ser frade continuou até que, após algumas viagens ao Exterior, quis fazer uma experiência vocacional na Custódia da Terra Santa, experiência esta que foi decisiva para que eu retomasse o contato com a Província da Imaculada, com a qual me identificava mais e onde já havia passado alguns anos na formação. Desde o primeiro momento, a Província foi muito acolhedora na pessoa de seus frades e eu retomei o processo formativo em 2009, fazendo a profissão solene 2014.
Site Franciscanos – Como você se define como pessoa?
Frei Jean – Uma pergunta difícil de responder, não é fácil se definir. Digamos que sou bem mineiro, num primeiro momento tímido e mais reservado, mas após um tempo de convivência, ou como dizemos em Minas, ‘depois de pegar confiança’ a timidez dá lugar à conversa e ao riso, gosto muito de contar histórias, uma herança de família?! É comum as pessoas me acharem um tanto quanto sisudo, mas também atribuo isso à timidez e à herança da família materna, mas a convivência faz mudar esta primeira impressão. De modo geral tento ser muito prático no trato diário, uma das marcas que os anos de trabalho me deixaram. Discursos prolixos me incomodam, apesar de, por vezes, serem necessários. No dia a dia procuro ser discreto e comedido e acredito possuir uma autocrítica bastante acentuada.
Site Franciscanos – Fale um pouco de sua vida e sua família.
Frei Jean – Sou filho do Sr. João e de D. Catarina. Meu pai faleceu no final de 2008 após lutar alguns anos contra o câncer. Tenho um irmão mais velho que se chama Jairo e uma irmã gêmea chamada Jeane. Tenho dois lindos sobrinhos, João e Davi, um de cada irmão. Fui criado numa família muito unida, não somente pais e irmãos, mas também tios, tias e primos. A família de um modo geral sempre foi e ainda é uma forte referência para todos nós. O que atinge positivamente ou negativamente um primo, por exemplo, repercute fortemente em toda família. A família de minha mãe tem um jeito mais quieto e muito amoroso, já a do meu pai é igualmente amorosa, mas ao mesmo tempo festeira e falante. Sou muito grato a Deus pela minha família.
Site Franciscanos – Como você define o ministério sacerdotal?
Frei Jean – Não pretendo desenvolver aqui uma teologia do sacramento da Ordem. De forma breve, acredito que a própria expressão “ministério sacerdotal” já define a sua natureza. O presbítero, o qual recebeu pela prece da Igreja e a imposição das mãos do seu pastor o segundo grau do sacramento da Ordem, é aquele que a comunidade de fé elegeu e ordenou para servir, em todas as dimensões que são exigidas por este serviço. Será um bom sacerdote quem for um servo bom e fiel, a exemplo de Cristo.
Site Franciscanos – Quais as suas expectativas como presbítero na Igreja do Papa Francisco?
Frei Jean – Particularmente não gosto da expressão “Igreja do Papa”, a Igreja é de Cristo e dos fiéis cristãos, sejam eles leigos ou clérigos. Tive a graça de nascer no início do Pontificado de João Paulo II, passar por Bento XVI e agora o Papa Francisco. Tenho uma admiração especial por cada um deles por diversos motivos. O Papa é chamado a presidir a Igreja Universal na caridade, a ser o mais Servo entre os servos, a construir pontes (pontífice), a ser vigário de Cristo, ou seja, ser sinal de Cristo no mundo, vocação de todo batizado. Será um bom Papa quem conseguir em sua vida testemunhar tudo isso. Nesta ótica, acredito que o Papa Francisco certamente será marcante na história da Igreja e contribuirá ainda mais para com a Igreja de Cristo do que já contribuiu nestes poucos anos. O importante é não definir a Igreja ou o ser cristão a partir do Papa, mas juntamente com ele, que está num serviço de grande responsabilidade, procurarmos todos nós viver em plenitude o nosso batismo, sempre a partir do Evangelho. Como presbítero, minha expectativa é essa: ser acima de tudo um cristão autêntico e evangélico.
Site Franciscanos – O que diria para um jovem que procura a vida religiosa franciscana?
Frei Jean – Se um jovem procura a vida franciscana é porque recebeu de Deus um dom muito precioso. Eu diria a este jovem que, em espírito de gratidão a Deus por um dom tão bonito, o faça multiplicar e restitua estes dons para tudo e todos. No esforço, constância, determinação, perseverança, fidelidade ao chamado e na disposição ao serviço. Ser frade franciscano é uma grande alegria!