Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Ordenação Presbiteral de Frei Jeâ Paulo Andrade

Ordenação

“Deus quer que você seja um padre feliz, Frei Jeâ!”

 

Frei Clauzemir Makximovitz

Assisti-nos, Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso, autor da dignidade humana e distribuidor de todas as graças, que dais crescimento e vigor a todas as coisas, e que, para formar um povo sacerdotal, estabeleceis, em diversas ordens, os ministros de Jesus Cristo, vosso Filho, pela força do Espírito Santo.

Assim inicia a prece pela qual Frei Jeâ é ordenado sacerdote. O Bispo emérito de Rio do Sul, Dom José Jovêncio Balestieri, após a oração lhe impõe as mãos, gesto bíblico e apostólico que confere, junto com a prece de ordenação, o Espírito Santo, ordenando para o serviço sacerdotal. Neste gesto, o bispo é seguido pelos sacerdotes concelebrantes. Esse, entretanto, é o ponto central de uma celebração repleta de momentos ímpares.

No peito eu levo uma cruz, no meu coração o que disse Jesus dizia o canto inicial escolhido por Frei Jeâ. E essa foi a tônica dos dias de preparação para a ordenação e de toda a celebração litúrgica. O Cristo, pobre, humilde e crucificado é o que dava sentido a tudo isso, e pulsava no peito de cada um, motivando, unindo em comunhão e emocionando.

 O povo de Imbuia (SC), conhecidos e amigos de Frei Jeâ, parentes, confrades e ex-colegas de turma encheram o salão da Paróquia Santo Antônio, e participaram com alegria desta festa de toda a comunidade, festa em que toda a Igreja se alegra.

É Deus quem nos reúne aqui, disse Dom José… Abramos os nossos braços e acolhamos o seu perdão como um abraço de Pai.

A liturgia da Palavra parecia iluminar ainda mais o tom franciscano e cristológico da caminhada do futuro presbítero. A teologia da Cruz, tão presente na espiritualidade do discipulado e no lema escolhido por Frei Jeâ: “Tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24).

A apresentação do candidato, feita pelo Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vamboemmel, foi focada na confiança no processo formativo da Província e nas consultas ao povo de Deus, nos locais de pastoral em que Frei Jeâ trabalhou: em Curitiba, na comunidade da Rocinha no Rio de Janeiro, e atualmente em Concórdia, dentre todos os locais de trabalho de Frei Jeâ.

Pedida e aceita a ordenação, Dom José falou como verdadeiro pastor, aconselhando Frei Jeâ a nunca negar ao povo esse direito de reconhecer no padre o seu pastor. Para tanto, o sacerdócio precisa estar a serviço do povo. O povo tem direito de estar perto do padre, de se sentir próximo, até mesmo na hora do jantar ou do almoço. Mas antes de tudo, o padre precisa rezar… E mais, é preciso que o povo veja que o padre reza. Mas também de nada vale rezar só para ser visto. Isso porque o povo quer que o padre seja feliz. “Deus quer que você seja um padre feliz, Frei Jeâ!” – reafirmou Dom José. E coroando esse acento todo pastoral à teologia do presbiterato, finaliza Dom José: “Nós devemos obedecer todas as leis da Igreja, temos de observar os planos diocesanos e paroquiais, mas antes de tudo, sempre deve prevalecer a misericórdia”!

Motivado por tão belas palavras, Frei Jeâ manifesta seu consentimento a respeito de seu chamado ao Ministério Presbiteral, suas funções e seu modo de vida. O momento em que Frei Jeâ se prosta ao chão pedindo a oração e intercessão de todos ilustra bem o sentido de toda a celebração: “Roguemos, irmãos e irmãs, a Deus Pai todo-poderoso que derrame com largueza a sua graça sobre este seu servo, que ele escolheu para o cargo de Presbítero”  – pediu Dom José antes da ladainha de todos os santos.

Ordenado, o novo presbítero recebe de suas avós as vestes litúrgicas de seu ministério, a casula e a estola, e dois confrades o auxiliam a vestir-se. Suas mãos ungidas são amarradas com uma fita e Seu Amilton e Dona Zelir, pais de Frei Jeâ, desatam-na das suas mãos. Seus pais, aqueles que tantas vezes abençoaram e que continuarão abençoando, recebem a primeira benção do filho como padre.

Ao final todos percebiam que na solenidade da celebração refletia a simplicidade de toda uma comunidade que só queria agradecer a Deus por tanto que Ele lhes concedera. Nas palavras de agradecimento, Frei Jeâ, com muita emoção, lembrou de cada um e agradeceu a todos por este momento e por todos os outros. “Eu não mereço tudo isso”, disse ele, e mais “essa celebração não é minha, mas de todos vocês”! Pediu ainda que Deus lhe ajudasse a ser um bom pastor.

Lembrando que Frei Jeâ fez um estágio em Angola, os noviços entoaram um canto de agradecimento que dizia: sakidila – que pode ser traduzido como ação de graças – enquanto entraram dançando até o altar.

Ó Deus, que fizestes do vosso Filho único sumo e eterno sacerdote, dai aos que ele escolheu como ministros e dispensadores dos vossos mistérios fidelidade à missão que receberam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Primeira Missa

Frei Jeâ Paulo celebra a Primeira Missa em Imbuia

 

 

Frei Clauzemir Makximovitz

Imbuia (SC) – “Tome a sua cruz e me siga “. A comunidade de Campo das Flores, reunida, parecia uma grande e feliz família, como de fato era. Parentes, amigos, confrades, colegas de turma e ex-colegas também…  Todos queriam participar deste momento tão especial na vida da comunidade, de cada um presente e, de modo especial, de Frei Jeâ.

O canto vocacional abrindo a celebração já anunciava o louvor pela vida e missão de cada um dos presentes… Apresentando suas primícias em oferenda, Frei Jeâ, muito sereno, presidiu pela primeira vez a Eucaristia! “Esta é a primeira vez que eu presido a Missa”, disse ele logo no início.  “Nós tempos formação e aprendemos a celebrar, mas se eu fizer alguma coisa errada, vocês me perdoem”…pediu.

A empatia geral com a simplicidade do neopresbítero refletia na comunhão de fé daqueles que juntos professam-na partindo o pão. Frei Moacir Longo era promotor vocacional e encaminhou Frei Jeâ para o seminário. Por representar um importante papel em sua caminhada, Frei Jeâ o convidou para fazer a homilia de sua primeira Missa.

Com muito carinho e familiaridade, Frei Moacir agradeceu o convite e lembrou, desde o início, que uma vocação precisa ser cultivada. Como o terreno precisa ser preparado para que dê fruto, assim o papel da família e de toda a comunidade é imenso no cuidado de uma vocação. Demonstrando muita proximidade, chamou os pais de Frei Jeâ, Senhor Amilton e Dona Zelir, primeiros responsáveis pelo terreno humano onde brotou a vocação do neossacerdote franciscano.

Mas sua família não são só seus pais… toda a comunidade é também esse terreno a ser cultivado, por isso chamou a primeira professora e a primeira catequista de Frei Jeâ, ressaltando a importância de seus papéis na caminhada que se iniciou em casa. Reconhecendo ainda a importância e responsabilidades da família religiosa que Frei Jeâ escolhera, e da presbiteral que agora abraçara, Frei Moacir ressaltou a necessidade de acolher o lema de ordenação “Tome a sua cruz e me siga” como mandato pessoal de cuidado do outro. Sim, são muitas as vezes que nossa vocação é nos fazer de Cireneus e auxiliar os outros com suas cruzes, mas é preciso humildade para também aceitar o auxílio quando necessário.

No ofertório, os tios de Frei Jeâ trouxeram uma cesta com produtos da agricultura local, acompanhando as ofertas de pão e vinho. Ao apresentar as oferendas, Frei Jeâ sentia nas mãos trêmulas o peso do Mistério, tantas vezes concelebrado, mas agora pela primeira vez presidido.

Ao final da Missa, uma de suas irmãs fez, como homenagem, um breve histórico de sua caminhada, recordando o nascimento, a devoção familiar, as travessuras e brincadeiras da infância, os momentos de separação e os de alegria, emocionando toda a família e os presentes.

Frei Jeâ renovou os agradecimentos da noite da ordenação e os estendeu a todos os presentes e que contribuíram de alguma forma para a celebração e para esse momento de felicidade. Por fim convidou a todos para o almoço oferecido pela comunidade.

Entrevista

Frei Jeâ Paulo Andrade

 

 

Por Moacir Beggo

“O lugar do padre é com o povo. Se se perde essa dimensão, perde-se o sentido do ministério abraçado”. Em sintonia com o Papa Francisco, que disse que o presbítero tem que ter o “cheiro das ovelhas”, Frei Jeâ será ordenado presbítero no dia 6 de julho deste ano, em Imbuia (SC), por Dom José Balestieri, bispo emérito da Diocese de Rio do Sul. Sua ordenação acontecerá às 18h30 na Paróquia Santo Antônio de Imbuia e, no dia seguinte, 7 de julho, Frei Jeâ celebrará a Primeira Missa às 10 horas na Capela Santa Cruz, de Campo das Flores, no mesmo município onde nasceu.

Acompanhe a entrevista

Comunicações – Fale um pouco de sua família e sobre seu discernimento vocacional.

Frei Jeâ – Nasci no dia 21 de julho de 1986. Tenho duas irmãs, Jane e Tatiane. Sou o terceiro, o caçula. Meus pais, Amilton e Zelir, residem em Imbuia, lugar onde dei os primeiros passos na escola da vida e da fé. Eles, além de marido e mulher, são primos de 2º grau; quando se casaram, além do exame de consanguinidade, minha mãe fez uma promessa que, se os filhos nascessem saudáveis, daria o nome de um santo para cada um deles. O meu segundo nome é uma referência a São Paulo. Minhas irmãs têm como segundo nome Terezinha e Aparecida. Minha família sempre foi muito religiosa; meus avós foram lideranças na comunidade. Acolhiam os freis que vinham de longe, muitas vezes a cavalo, para celebração da Missa e dos sacramentos. Meus pais também sempre estiveram envolvidos com os trabalhos comunitários. Acho que tudo isso contribuiu para que eu começasse a fazer um discernimento vocacional. Frei Moacir Longo me acompanhou e me encaminhou para o Seminário de Ituporanga. Entrei com 13 anos, em 2000, para fazer a oitava série; fui da última turma a concluir o Ensino Fundamental em Ituporanga antes de se tornar Aspirantado. Sempre fui muito decidido a responder positivamente ao chamado de Deus que já sentia desde criança.

Comunicações – O que representa para você chegar à ordenação presbiteral depois de tantos anos de estudo?

Frei Jeâ – Analisando hoje, vejo que tudo aconteceu de forma muito natural. Contabilizo 13 anos de formação. Metade da minha vida eu passei no convento, não consigo me imaginar fora dessa realidade. Tenho certeza que a ordenação presbiteral não é um mérito pessoal, mas graça de Deus. Exige estudo e oração, não representa um título, mas um serviço concreto à Igreja e ao Povo Deus. Meu lema de ordenação é justamente nessa linha, tomar a cruz e seguir e servir o Cristo pobre e crucificado, do modo que eu sou, com minhas virtudes e cruzes.

Comunicações – Você concorda com o Papa quando diz que o presbítero tem que ter o “cheiro das ovelhas”?

Frei Jeâ – Excelente a expressão para falar sobre o ministério sacerdotal. Frade eu sou por opção, para conversão de vida, para fazer penitência, para viver os votos em fraternidade. Mas, se além de frade sou presbítero, tenho obrigação de estar com as ovelhas. Difícil imaginar um padre de gabinete. O lugar do padre é com o povo. Se se perde essa dimensão, perde-se o sentido do ministério que abraçou. É preciso um discernimento muito grande para assumir esse serviço. Espero cuidar bem das ovelhas confiadas a mim.

Comunicações – Quais os desafios que um jovem presbítero tem neste momento da Igreja?

Frei Jeâ – Muitos. Parece que a Igreja atual vive numa multiplicidade de “igrejas”, onde cada uma se reveste de identidade e verdade próprias e absolutas. Uma “tradicionalista”, outra “liberal”, “carismática” etc. É preciso reconhecer que somos uma só Igreja buscando realizar o projeto evangélico de Cristo. O Reino de Deus, do amor e da misericórdia deve estar acima de qualquer ideologia. Acho que um jovem presbítero deve estar consciente desses desafios e ser um ponto de referência e não de divisão. Aliás, misericórdia é uma palavra bem adequada ao se tratar de temas importantes para a sociedade atual que respingam diretamente na ação eclesial e pastoral.

Comunicações – Fale um pouco sobre como é o religioso Frei Jeâ?

Frei Jeâ – Em geral falo pouco. Como religioso me sinto bastante realizado. Gosto muito do que faço. Acredito que a vida em fraternidade é um exercício de autoconhecimento. Estou aprendendo muito sobre mim depois da primeira transferência. Não sou um frade perfeito, entendo meus limites, convivo bem com eles, mas procuro melhorar sempre.

Comunicações – Como você acolheu a sua transferência para Concórdia?

Frei Jeâ – Bem. Era o que me imaginava fazendo depois da formação. A fraternidade e o povo me acolheram muito bem. A paróquia é enorme, são 63 comunidades, mais da metade delas de capelas do interior. Vejo duas realidades bastante distintas nessa paróquia: as capelas do interior, onde nossa presença quase se resume à celebração mensal, e outra realidade dos bairros e do centro, muito urbana e com muitas pastorais. As pessoas acham estranho um frade jovem por aqui. Quando cheguei, com frequência, ouvia: “Mas ele já é frei?”, “Mas pode ser frei assim novo?”, “Será que o frei não vem celebrar?”. Temos muito trabalho e tenho a constante preocupação de estar em comunhão com projeto fraterno e paroquial.

Comunicações – O que diria para um jovem que deseja ingressar na vida religiosa?

Frei Jeâ – Eu lembraria uma frase dita pelo Papa Francisco logo no início de seu ministério: “Quero uma Igreja pobre e para os pobres”. Esse é o projeto evangélico de Cristo. É também a inspiração de São Francisco. A motivação para a vida religiosa não deve ser a busca por reconhecimento ou status social, mas sempre o Evangelho.