Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Ordenação Presbiteral de Frei Gabriel Vargas Dias Alves

Ordenação

“Olhos fixos em Jesus Cristo”, pede Dom Edgar a Frei Gabriel

Moacir Beggo

 Pato Branco (PR) – Tendo a cena em que Jesus lava os pés de Pedro, no centro do belíssimo mosaico do presbitério da Igreja de São Pedro Apóstolo de Pato Branco (PR), Frei Gabriel Vargas Dias Alves recebeu a missão de amor-serviço do bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão (PR), Dom Edgar Xaxier Ertl, neste sábado, 11 de janeiro, ao ser ordenado presbítero na Celebração Eucarística, às 18 horas, tendo como concelebrantes o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, representando o Ministro Provincial Frei César Külkamp, que está em Angola, e o pároco Frei Alex Sandro Ciarnoscki.

No final da celebração, Dom Edgar deixou uma mensagem especial ao novo presbítero: “Frei Gabriel, você foi ordenado sacerdote no início deste ano de 2020 sob o Pontificado do Papa Francisco, que escolheu como referência do seu ministério, da sua missão na Igreja, o nome de Francisco de Assis. Está vivendo exatamente esse desprendimento, essa reflexão profunda, incluindo todas as realidades sociais, políticas, econômicas, religiosas, inclusive ecológica, falando muito de paz, de misericórdia, de compaixão, de amor. Então, termino dizendo a você hoje: olhos fixos em Jesus Cristo, tendo como modelo esta samaritana do Evangelho, que encontra com o Senhor, tendo como modelo o seu fundador Francisco de Assis e o atual Papa, que assume no seu Pontificado o seu fundador como referência, um ícone de santidade, de apostolado”, incentivou. “Conte com a minha oração!”, enfatizou.

Paroquianos, familiares, confrades, entre eles o Definidor Frei Alexandre Magno, lotaram a grandiosa Matriz paranaense. Frei Alisson Zanetti, animador do Serviço Vocacional da Província (SAV), saudou a todos com caloroso “paz e bem”.

Frei Leandro, que proclamou o Evangelho fez a chamada do candidato ao presbiterato e Frei Gustavo Wayand Medella, Vigário Provincial, apresentou Frei Gabriel e deu o testemunho em nome da Província Franciscana e do povo de Deus. “Reverendíssimo D. Edgar, srs. pais, povo de Deus. Na quarta-feira, em Petrópolis, eu chamei o Uber para ir até o Sagrado Coração de Jesus, o nosso Convento. E vendo o destino, o motorista perguntou: ‘Você é frei?’ Eu respondi: ‘Sou’. Ele falou: ‘Olha, eu e minha esposa temos um grande amigo que passou por esse convento e agora parece que está lá pelas bandas do Sul. Ele se chama Frei Gabriel’. E continuou: ‘Olha que rapaz, generoso, bom e amigo’. E aí, então, falei que viria para a ordenação. Ele se chama André e a esposa Flávia. Este testemunho, bastante fidedigno porque é espontâneo, vem corroborar com atitudes muito humanas, a bondade, a generosidade, mas que tem como motivação uma busca por Deus. Uma busca teologal, que o Frei Gabriel procura cultivar por Deus, pela Igreja e pelo povo. Qualidades que apareceram nos testemunhos junto à pastoral, à Paróquia, junto aos irmãos do SOS Vida e aos confrades desta Fraternidade. É por essa razão que o Definitório Provincial, em nome dos frades, damos o testemunho de que Frei Gabriel foi considerado digno para o sacerdócio”, confessou Frei Medella. VEJA MAIS SOBRE O RITO DE ORDENAÇÃO PRESBITERAL 

Na sua homilia, Dom Edgar partiu da primeira leitura, narrando a missão profética de Isaías, para perguntar: “Num mundo cada vez mais secularizado, o profeta de hoje ainda pode revelar a presença de Deus e anunciar o Reino de justiça e verdade? Creio que sim! Trata-se, pois, da sua missão, caro Frei Gabriel, e de todos nós ministros ordenados”, disse.

Referindo-se ao Evangelho escolhido para a ordenação, disse que é altamente significativo para o início do sacerdócio. “Um encontro inesperado entre Jesus e a samaritana, no poço de Jacó, ao meio-dia. Este encontro não é reservado a uma elite ou a pessoas virtuosas; pelo contrário, este encontro só é possível para aqueles que têm sede: sede de justiça, sede de dignidade, sede de perdão, sede de paz, sede de amor, sede de Deus. Estes levam muitas vezes uma vida sofrida; os outros, os virtuosos e os perfeitos não têm, muitas vezes, sede de nada… Eles acreditam na bebida da própria fonte; e, além disso, eles estão prestes a morrer de sede”, explicou.

O mosaico no presbitério da Matriz é uma obra do artista Lorenz Johannes Heilmair.

Segundo o bispo, os samaritanos eram considerados bastardos pelos judeus. “E aqui, imagine, trata-se não simplesmente de um samaritano, mas de uma mulher samaritana…. Trata-se, pois, de uma dupla exclusão, e, pior ainda, esta mulher da Samaria vai procurar água no poço de Jacó ao meio-dia, na hora mais quente do dia. Normalmente é de manhã, muito cedo, que as mulheres fazem esse trabalho; portanto, se ela vai ao poço ao meio-dia é porque ela não quer ser julgada pelos outros samaritanos… É, sem dúvida, porque ela vive uma outra exclusão na sua própria comunidade. Trata-se, pois de uma tripla exclusão. É a esta mulher rejeitada, excluída, condenada, que Jesus pede para beber… É a ela que ele oferece a possibilidade de encontrar o Cristo e de tornar-se testemunha da gratuidade da salvação oferecida, da água viva que mata todas as sedes”, ensinou.

A samaritana, com sua vida sofrida, é transformada por seu encontro com o Ressuscitado; de sorte que ela pode agora integrar novamente seu povo, sem ser rejeitada pelos seus. “O que significa que a fé cura todas as nossas feridas e devolve-nos a dignidade humana”, destacou o bispo.

“Esta será sua missão de ora em diante, caro frei. As sedes são muitas. Que, com o seu sacerdócio, muitos sejam saciados e incorporados na vida de Cristo e da Igreja. Assim como Jesus rompe com as fronteiras culturais e religiosas, assenta-se junto ao poço de Jacó e, através de um diálogo provocativo, ajuda a mulher samaritana a encontrar, dentro dela mesma, esse centro de onde emana sem cessar uma água que mata a sede, e não buscá-la em tantos poços secos ou rachados, eis o que esperamos também da parte sua, no exercício sacerdotal. Disse Santo Inácio de Antioquia que ‘uma água viva murmura dentro de mim e me diz: Venha para o Pai’. Como a samaritana, também diante de nós se apresenta uma alternativa: continuar buscando água viva e a justificação em poços secos e esgotados ou eleger “vida eterna” e deixar-nos arrastar pela oferta de transformação proposta pelo Jesus, que nos busca porque deseja ampliar nossa existência e comunicar-nos alegria e plenitude. E Paulo lhe ajudará no seu dia a dia: ‘Ora, trazemos um tesouro em vasos de barro, para que todos reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós’. Ou melhor, trazemos o tesouro em ‘baldes de barro’, como o da Samaritana. E perguntemo-nos: De quê tenho sede? Onde busco saciar minha sede? Eis sua missão, meu irmão Gabriel: sentar-se ao meio-dia nos poços desta Paróquia e dialogar com os buscadores/as de água”, completou.

Após a homilia, em diálogo com Dom Edgar, Frei Gabriel prometeu desempenhar a missão de presbítero com fidelidade, sabedoria, devoção e oração, unindo-se cada vez mais ao Cristo, Sumo Sacerdote. Prometeu ainda obediência e respeito aos bispos. Logo em seguida, em sinal de humildade e reverência, Frei Gabriel prostrou-se por terra e todo o povo entoou a Ladainha de Todos os Santos para que Deus abençoasse, santificasse e consagrasse o seu serviço ministerial. A Igreja da terra se uniu à Igreja do céu, suplicando a força do Espírito.

Em seguida, a assembleia acompanhou em silêncio a Prece de Ordenação. Ajoelhado, Frei Gabriel sabia que através da silenciosa imposição das mãos do bispo e dos presbíteros era Deus mesmo que colocava sobre ele a mão.

Terminada a oração consecratória, os pais de Frei Gabriel – Fábio Vicente e Dª Elisabete –  trouxeram a estola e a casula, vestes que representam o trabalho assumido pelo neo-sacerdote. Os seus confrades de Pato Branco, Frei Alex Sandro Ciarnoscki e Frei Neuri Francisco Reinisch, ajudaram-no na paramentação. Em seguida, de joelhos diante do bispo, teve a palma das mãos ungida pelo bispo com o óleo do santo Crisma. “Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem o Pai ungiu com o Espírito Santo, e revestiu de poder, te guarde para a santificação do povo fiel e para oferecer a Deus o santo Sacrifício”, rezou o bispo. Logo após, Dom Edgar amarrou as mãos do ordenado com uma fita que foi desamarrada pelos seus pais, que tiveram a graça de receber a primeira bênção do filho agora presbítero.

As oferendas do Pão e do Vinho foram trazidas pelos fiéis da Paróquia. Depois de Frei Gabriel apresentar ao povo o Pão e o Vinho, Dom Edgar o acolheu com a saudação da paz e um abraço fraterno, gesto com a qual todos os presbíteros, frades e familiares também o acolheram, parabenizando-o pelo seu sim.

A Missa prosseguiu na forma habitual, presidida por D. Edgar e concelebrada por todos os padres presentes. O neo-sacerdote celebrará sua primeira Missa solene neste domingo, às 9h30, nesta mesma igreja.

AGRADECIMENTOS

“Esta celebração não é minha. Ela não pertence a mim, nem é a mim que estamos celebrando neste dia. Eu sou apenas uma sílaba numa vasta história que não se inicia, nem se finda comigo. Uma história na qual Deus é o autor e o protagonista”, explicou o neopresbítero ao fazer seus agradecimentos. “A Deus a minha gratidão infinita. Mas o Altíssimo e soberano Deus, o sumo Bem, o verdadeiro Bem quis precisar de muitas pessoas para que isso fosse possível, dessa maneira quero ainda fazer alguns agradecimentos”, disse, enumerando Dom Edgar e a Igreja, a sua família representada por seus pais nesta celebração, a sua família Franciscana, a Fraternidade  de Pato Branco, onde reside, especialmente pelos confrades mais experientes: Frei Policarpo Berri e Frei Felipe Gabriel Alves, “por serem a escola viva do presbiterato na qual espero ter ainda a graça de muito tempo aprender”. Não fez os agradecimentos sem se emocionar.

Por último, agradeceu ao povo pela hospitalidade, pelo carinho, por cada gesto e oração pela sua vocação. “Particularmente, agradeço por cada vida que se doa nesta Paróquia, seja sob as luzes do presbitério ou nas sombras do anonimato e do invisível. O reino de Deus jamais seria possível sem a devoção e entrega de vocês. Continuo contando com às vossas orações, pois não existe presbítero que não seja sustentado pela oração do povo. A todos, a minha mais profunda reverência e gratidão”, reconheceu.

O Definidor Frei Alexandre, falando em nome da Província, disse que Frei Gabriel teve a graça de ter feito um caminho em várias frentes de evangelização. Já Frei Alex Alex agradeceu pelo trabalho de todas as pessoas que ajudaram a preparar este grande encontro e pela presença de todos nesta celebração.

Frei Alex apresentou os pais de Frei Gabriel para a assembleia, que receberam uma grande salva de palmas. “Nesta semana, tínhamos a tão esperada ordenação e a tão esperada chuva. Elas chegaram juntas. Que a tua a presença junto ao povo de Pato Branco, junto à Diocese, seja como a chuva, que traz esperança, que renova, e que traz vida nova. Muito obrigado por você estar conosco! Termino agradecendo a Dom Edgar. Conte conosco no projeto de evangelização, no projeto de anúncio do reino de Deus”, disse Frei Alex.

Frei Marx, em nome da turma, fez uma homenagem ao neopresbítero. “Felicidade a nossa de te conhecer; felicidade a nossa de fazer parte de um grupo tão diverso, mas acima de tudo com uma sede de dar ao mundo Jesus. Obrigado por tudo. Frei Gabriel sempre é visto muito sério, mas na vida fraterna sempre faz muitas piadinhas e é muito brincalhão”, disse, juntando a turma para um abraço coletivo em Frei Gabriel.

Nos agradecimentos finais do bispo, ele falou especialmente de Frei Policarpo Berri e Frei Felipinho, que “são dois pilares nesta Diocese. Obrigado pelo bem que fazem a esta Paróquia e a esta Diocese!”, disse. E dirigindo-se à Dª Elisabete, mãe do ordenado, disse: “Santa Mãe, continue rezando por seu filho. Hoje começa a missão dele. Dobre o joelho por ele, dobre os joelhos pela vida dos sacerdotes, religiosos/as e pela santificação de nossas famílias”.

Natural do Rio de Janeiro, onde nasceu no dia 14 de outubro de 1985, Frei Gabriel ingressou na Ordem dos Frades Menores em 2009, quando vestiu o hábito franciscano em Rodeio. Em seguida, cursou Filosofia e Teologia. Para ele, as experiências missionárias em Angola, na Amazônia e na Rocinha marcaram sua vida. Foi ordenado diácono em 2018 e foi transferido para prestar serviço na Frente de Educação da Província, residindo na Fraternidade Bom Jesus da Aldeia. Reside atualmente na Fraternidade São Pedro Apóstolo de Pato Branco.

Primeira Missa

Frei Gabriel inicia o seu ministério presbiteral

Moacir Beggo

 Pato Branco (PR) – Na Festa do Batismo do Senhor, que encerra o tempo do Natal e tem início o Tempo Comum, neste domingo, 12 de janeiro, Frei Gabriel Vargas Dias Alves iniciou o seu Ministério Presbiteral ao celebrar a primeira Missa na Matriz São Pedro Apóstolo de Pato Branco (PR), às 9h30. Ele foi ordenado presbítero ontem, sábado (11/1), pelo bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão (PR), Dom Edgar Xaxier Ertl.

Frei Alisson Zanetti, animador do Serviço Vocacional da Província (SAV), fez a acolhida do povo e deu as boas vindas a todos que participaram da Eucaristia. Entre os celebrantes, o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, e o Definidor Frei Alexandre Magno, representando toda a Província Franciscana da Imaculada Conceição.

“Por ser a sua primeira celebração, Frei Gabriel está apenas com a estola. Faltam alguns paramentos”, explicou Frei Alisson. “Os pais Fábio Vicente e Dª Elisabete, que tantas vezes vestiram o filho pequeno, agora vestem o filho sacerdote, trazendo a casula”, acrescentou. Revestido, Frei Gabriel deu início à sua primeira Missa.

Frei Alan Maia, que é colega de turma de Frei Gabriel, foi o convidado para fazer a homilia, como já é uma tradição na Província. Frei Alan, agradeceu pelo convite por participar deste “momento tão importante” na vida de Frei Gabriel, agora ministro ordenado no segundo grau do Sacramento da Ordem.

Frei Alan citou o lema da ordenação – “A água que eu lhe der será nele uma fonte que jorra para a vida eterna” (Jo 4,14) – para lembrar que Jesus é a Água Viva. “Frei Gabriel, Jesus nos sacia dessa sede de eternidade que temos. Como frade menor e presbítero, pedimos a Jesus que preencha a sua alma, seu coração, a sua vocação e ministério presbiteral. Que nós também, hoje, irmãos e irmãs, possamos ir ao ‘poço de Jacó’ buscar essa água que nos lava e nos sacia”, disse.

Segundo Frei Alan, tendo o profeta Isaías como inspiração, o sacerdote é chamado para o serviço e para responder com o seu ‘sim’ cada dia ao projeto de Deus e viver esse “múnus” (serviço) na simplicidade, na humildade, na bondade como frade menor no ministério presbiteral. “Nunca desanime com as dificuldades da missão. O Espírito do Senhor nos guia, indica o caminho e nos fortalece”, animou.

“Pelo nosso batismo, Deus nos convida a sermos luz. Colocar-se no serviço do Senhor, é ser instrumento de Deus para construção do ser humano e do mundo. Frei Gabriel, irmãos e irmãs, Deus está na origem da nossa vocação e missão, seja ela religiosa, presbiteral ou laical. Ele nos acompanha na concretização da missão que cada um de nós exercemos”, observou.

 

Segundo o evangelista Mateus, Jesus se sentia profundamente unido ao Pai e queria viver sempre como Filho amado. “Essa experiência de ser Filho amado será sua força vital durante toda a sua vida. E essa, irmãos e irmãs, deve ser a nossa experiência no seguimento de Jesus Cristo: ser homens e mulheres amados (as), escolhidos (as) de Deus”, ressaltou, acrescentando que só podemos ‘amar como Jesus amou’, fazendo a experiência de nos sentirmos amados por Deus Pai: “Abrir os olhos e ouvidos à presença e à ação de Deus em nosso interior. Estar sempre atentos, na nossa vida, aos movimentos do seu Espírito e acontecimentos. Deixar Deus trabalhar em nós. Pensemos na água, com sua força misteriosa, com sua capacidade de gestar vida. A água que corre, que flui, sempre é nova. Deus é a nossa fonte inesgotável: ar, alento, espírito, dinamismo, puro fluir. Irmãos e irmãs, precisamos nos atrever ao novo, ir por caminhos desconhecidos para descobrir nosso interior e nossa verdadeira identidade: ‘Filhos e filhas, amados do Pai’”.

 

Frei Alan concluiu: “Caro confrade e irmão, fostes ungido para ser instrumento de Deus; homem da misericórdia, do perdão, do amor. Que todas pessoas que te procurarem, encontrem em você, no ministério que exerce, a face desse Deus amor. Não tenho tanta experiência como padre, mas percebo na minha pequenez, na minha fragilidade o quanto aprendi e estou aprendendo com cada irmão e irmã que partilha comigo sua vida, suas fraquezas, enfermidades físicas e espirituais, seus pecados. Frei Gabriel, que todos encontrem em suas mãos ungidas a bênção de Deus, o perdão dos pecados, a unção na enfermidade, o Cristo vivo na Eucaristia, a mão estendida de acolhimento, o homem do diálogo. A Sagrada Escritura seja sempre sua fonte de inspiração e dela possa brotar no seu coração a oração. Cada dia, busque a Jesus Cristo, não tenha medo de O procurar, de pedir ajuda, de agradecer, de louvar. Coloque sua vida, seu ministério, sua vocação nas mãos de Jesus e ele te conduzirá”, indicou Frei Alan, pedindo que rezem sempre por Frei Gabriel, pela sua perseverança e sua missão:  “Que São Francisco interceda por você, sua vocação e, agora, como presbítero da Igreja. Deus abençoe o seu ministério presbiteral, a sua vocação religiosa!”.

Daiani e Paulo Barone falaram em nome da Paróquia nos agradecimentos. “Hoje, a nossa Paróquia está em festa pelo ‘sim’ de Frei Gabriel”. “Com o seu ‘sim’ ao sacerdócio, ele tornou-se o pai amoroso destas e tantas outras comunidades pelas quais passará”, disse, chamando as crianças vestidas de hábitos marrons, chamados carinhosamente de “franciscaninhos”, para trazerem os presentes, entre eles um quadro com o mosaico da Matriz: “Para que nunca esqueça de nossa Paróquia”.

Frei Neuri F. Reinisch, guardião da Fraternidade de Pato Branco, fez os agradecimentos, especialmente às pessoas que acolheram os frades que participaram da Semana Missionária em preparação para a ordenação presbiteral de Frei Gabriel e chamou todos os frades para se apresentarem ao povo. Com seus confrades no altar, Frei Gabriel deu a bênção final.

Entrevista

“Espero viver à altura das expectativas que Deus tem a meu respeito”

É com esse pensamento que Frei Gabriel Vargas Dias Alves, natural do Rio de Janeiro, onde nasceu no dia 14 de outubro de 1985, será ordenado presbítero no dia 11 de janeiro de 2020, na Paróquia São Pedro Apóstolo, em Pato Branco (PR). O bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão (PR), Dom Edgar Xaxier Ertl, fará a imposição das mãos durante a Celebração Eucarística, às 18 horas. Sua primeira Missa será no dia seguinte, às 9h30, no mesmo local da ordenação. Para este momento importante de sua vida, Frei Gabriel escolheu como lema: “A água que eu lhe der será nele uma fonte que jorra para a vida eterna” (Jo 4,14). Seu ingresso na Ordem dos Frades Menores se deu em 2009, quando vestiu o hábito franciscano em Rodeio. Em seguida, cursou Filosofia e Teologia. Para ele, as experiências missionárias em Angola, na Amazônia e na Rocinha marcaram sua vida. Foi ordenado diácono em 2018 e foi transferido para prestar serviço na Frente de Educação da Província, residindo na Fraternidade Bom Jesus da Aldeia. Reside atualmente na Fraternidade São Pedro Apóstolo de Pato Branco.

Conheça mais um pouco o novo presbítero da Província nesta entrevista a Moacir Beggo.


Site Franciscanos – Frei Gabriel, por favor, fale um pouco de sua vida e de sua família.

Frei Gabriel – Eu venho de uma família cujo núcleo familiar mais próximo é pequeno se comparado com outras famílias. O meu pai só tem uma irmã, a minha mãe só tem um irmão e eu, para não fugir à regra, tenho só uma irmã, três anos mais velha do que eu. Meu pai nasceu em Minhas Gerais mas foi morar no Rio ainda bebê, por isso consideramos que a família vem toda da zona oeste do Rio Janeiro. Estamos inseridos dentro de um núcleo maior, porque a “bisa” por parte de mãe teve 13 filhos. Então são muitos tios-avós e primos de 2° e 3° graus. Os meus pais são católicos, juntamente com alguns poucos tios e tios-avós, mas a grande parte da família é batista. Temos 5 ou 6 pastores na família, talvez mais agora… Nos marcou desde cedo a necessidade da tolerância ao diferente, de modo especial a tolerância religiosa, nem sempre fácil, mas fundamental. Isso fez com que se construísse laços e amizades com pessoas de várias tradições, uma riqueza muito grande nessa diversidade. Da família trago a fé, o respeito, e um grande traço de franqueza. A família é extremamente sincera, fala tudo que pensa, luta pelo que acredita e eu acho que trago um pouco disso.

Site FranciscanosComo se deu o seu discernimento vocacional?

Frei Gabriel – A esse tipo de pergunta sempre temos a versão resumida, pois nem sempre dá para explicar as coisas e a versão estendida (risos). Contextualizando, venho de uma família que podemos dizer ser imagem da vivência religiosa heterogênea, que marca grande parte das famílias hoje. O núcleo católico da minha família é bem pequeno e esse convive com uma grande parcela evangélica de confissão batista, alguns kardecistas e umbandistas. Desse modo crescemos numa certa liberdade religiosa, onde cada um escolhia o seu caminho. Mesmo tendo pai e mãe católicos, desde bem pequeno frequentava a Igreja Batista com a minha avó materna e outros familiares e desse modo continuei até por volta dos treze anos, quando decidi que algo faltava naquele espaço e então deveria me encontrar em outro lugar. Passei uns dois anos conhecendo diferentes experiências religiosas sozinho até aumentar minha frequência na missa e, aos 16 anos, decidi buscar a primeira Eucaristia e o sacramento da Crisma. Isso foi seguido de uma série de experiências muito intensas, grupos de jovens, vivências pastorais e uma grande convivência com a Congregação da Irmãs de Nossa Senhora de Belém. Observando as irmãs sempre ficava intrigado: Como podiam ser tão alegres o tempo todo? O que viviam dentro do convento que as fazia tão felizes? Algumas irmãs brincaram comigo ser uma pena elas não possuírem um ramo masculino, porque sintonizava muito com o carisma da anunciação que era o delas. Isso caiu em mim como uma semente de inquietação que reacendeu questões a respeito de ‘com o que valeria a pena consumir a minha vida que é finita e única…’ Dirigi-me às irmãs em busca de auxílio e disse que pensava em ser religioso, que não sabia onde, mas o pouco que conhecia de São Francisco me atraía. Por carta, a Madre me aconselhou a procurar o Convento Santo Antônio que não o conhecia.

Site Franciscanos – Por que escolheu a vida religiosa franciscana?

Frei Gabriel – Mais ou menos na mesma época, uma tia queria se confessar, mas disse que não poderia ser com qualquer padre; tinha que ser com o Frei Anselmo Fracasso, que ela, na época, o ouvia no rádio e me pediu companhia para ir até o Convento. Depois desse dia retornei em busca de informações sobre o discernimento e, com alguma espera devido a troca de animadores, conheci Frei Hermenegildo Pereira, que se tornou um grande amigo e fez com que me apaixonasse pela vida franciscana. No fundo é quase como se a vida franciscana tivesse me captado, não cheguei a cogitar de conhecer outros carismas.

Site Franciscanos – Como você define a Ordem do Presbiterado?

Frei Gabriel – Muitas coisas nós vivemos ou buscamos sem tentar isolar ou definir. Mas diante da sua pergunta, penso que o presbítero encerre algumas coisas em si que podem nos ajudar a esboçar uma resposta. Fazer parte da Ordem do presbiterado não é fazer parte de um grupo seleto de pessoas, dotadas de qualidades, experiências ou mesmo conhecimentos especiais. Não é ser melhor, muito menos superior. É assumir um lugar específico dentro do imenso corpo que é chamado a amar e a servir, onde o Cristo vive em todos nós, batizados. Logo, o presbítero é sinal do Cristo-cabeça, desse imenso corpo que pulsa, vibra e que age em unidade e pela unidade. Por isso, como sinal da cabeça deve buscar sempre o bem do corpo, servindo incansavelmente à sua integralidade que busca abraçar a criação inteira. Hoje, muitos se julgam detentores da mensagem ou mesmo da autoridade de cristo a ponto de se auto-intitularem conservadores, quando na verdade mutilam e instrumentalizam os membros desse corpo sagrado. Então, cada vez mais, eu penso que o presbítero alimentado pela Eucaristia é um sacramental da unidade.

Site Franciscanos – O que é para você ser presbítero franciscano?

Frei Gabriel – Para mim, ser presbítero franciscano é ser transparência, apenas uma visibilidade do Cristo sacerdote. Acho que alguns dos elementos mais característicos de Francisco são o seguimento de Cristo e o fato de ele não se apossar de nada. Por isso, ser presbítero franciscano significa ter sempre em mente que o único verdadeiro ministro da Igreja é o próprio Cristo. Na medida em que Ele se torna o modelo de ministério e a busca do presbítero é unicamente torná-lo sacramentalmente presente, ele é verdadeiramente pobre como o Cristo da cruz buscado por Francisco. Assim, ele pode servir a tantos crucificados e crucificadas do nosso tempo. Não porque esteja cheio de algo, mas ao contrário, porque está vazio.

Site Franciscanos – Quais suas expectativas para esta nova missão?

Frei Gabriel – Há algum tempo que busco não criar grandes expectativas a respeito de nada. Acho que a nossa mente é sempre muito pequena para supor os pensamentos de Deus ou o que trará o nosso bem e o dos outros. Na minha pequenez imaginei muitas coisas que o amor de Deus me mostrou não serem o melhor. E assim, como todos nós, eu me reinventei muitas vezes pelo caminho para descobrir que é melhor acolher do que projetar quando se trata de algumas dimensões da vida. Apesar das minhas limitações, eu espero viver à altura das expectativas que Deus tem a meu respeito. Que eu possa estar sempre atento à sua voz, para que como no lema escolhido tudo que eu faça seja fruição que conduz à eternidade da vida para a qual Ele nos criou.

Site Franciscanos – O que é ser presbítero na Pontificado do Papa Francisco?

Frei Gabriel – Com palavras e sobretudo com ações, o Papa Francisco tem demonstrado que ser presbítero significa ter coragem de dar a vida pelo Senhor e pelo seu povo. Alguém cujo mesmo óleo que lhe ungiu as mãos escorra até os pés para que possa ir ao encontro de todos, de modo especial, os mais excluídos e mais abandonados. Num espírito de doação cotidiana, simples, sem alarde, sem dar-se ares de importância. Fazer o que é necessário fazer pelo Reino de Deus. O próprio Papa se coloca como irmão. Desde o princípio, ele se confiou às orações do povo, vendo-se como parte dele, não acima. Tudo sempre de forma muito concreta, avesso ao culto das aparências.

Site Franciscanos – Que mensagem deixaria para um jovem que quer ser sacerdote?

Frei Gabriel – Eu diria que se ele quer ser sacerdote franciscano, antes de tudo seja frade, seja irmão. Na entrega e mútuo serviço cotidiano, que se dá no dia a dia da fraternidade, vamos nos percebendo falhos, inacabados. Pela admiração da graça de Cristo que se mostra no irmão, posso intuir os passos que devo dar, as bagagens que devo deixar. Deus vai nos provocando e nós vamos respondendo, nos abrindo ou fechando, fazendo barulho ou aprendendo a silenciar. E, aos poucos, Ele vai nos conduzindo pelo caminho. Não se preocupe com que você terá de fazer, pois não será você a fazer nada. Só permita que Ele faça através de você.