Ordenação Presbiteral de Frei Alvaci Mendes da Luz
Ordenação
“Você se tornará sacerdote cada dia”, diz Dom Hilário a Frei Alvaci
Por Moacir Beggo
Tubarão (SC) – Como era de se esperar, a moderna e gigantesca Catedral Diocesana de Tubarão (SC), lotou e fez uma celebração que ficará para sempre na lembrança dos tubaronenses, especialmente de Frei Alvaci Mendes da Luz, que foi ordenado presbítero, neste sábado (1/05), por Dom Hilário Moser, SDB, bispo emérito de Tubarão, que hoje reside em São José dos Campos (SP) e voltou à cidade especialmente para atender ao convite de Frei Alvaci.
Muito aplaudido na apresentação inicial, Dom Hilário lembrou que o momento era muito especial, pois reencontrava o coroinha que servia ao altar quando era bispo da Diocese. Ele teve como concelebrantes o Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, da Província Franciscana da Imaculada Conceição e o pároco da Catedral, Pe. Elias Della Giustina. O governo Provincial também esteve representado pelos Definidores Frei Mário Tagliari e Frei Samuel Ferreira de Lima, além de frades que acompanharam Frei Alvaci na formação, frades que residem com o novo presbítero na Fraternidade de São Paulo, frades de toda a Província, padres da Diocese, aspirantes da Província e seminaristas da Diocese.
Além do carinho do povo tubaronense, da Ordem Terceira Secular de Tubarão, Frei Alvaci também mereceu uma homenagem especial da comunidade de Nilópolis, que lotou um ônibus e viajou quase 20 horas para acompanhá-lo neste momento especial de sua vida. Foi o reconhecimento e a amizade do povo da Baixada Fluminense pelos anos de pastoral que Frei Alvaci prestou enquanto era estudante de Teologia em Petrópolis. Por ser assistente da Juventude Franciscana, Frei Alvaci também viu presentes os jovens da Jufra de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Florianópolis e Porto Alegre. Entre eles, o secretário nacional da Jufra, Alex Sandro Bastos Ferreira (SP).
Na liturgia da Palavra, o povo foi pego de surpresa pela equipe litúrgica. No término do Canto de Aclamação do Evangelho, um carteiro entrou pelo corredor central da igreja gritando que trazia uma carta. Ele atravessou a nave da igreja e entregou um envelope para Dom Hilário, que tirou do embrulho, em forma de presente, a Bíblia Sagrada. Entre assustado e surpreso, o povo aplaudiu a inovação.
Depois da leitura do Evangelho de São João 13 – “eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros” -, teve início do rito de ordenação. Frei Alvaci foi apresentado a Dom Hilário e uma testemunha deu depoimento considerando Frei Alvaci digno para receber o ministério presbiteral. Dom Hilário aceitou o pedido: “Com o auxílio de Deus e de Jesus Cristo, nosso Salvador, escolhemos este nosso irmão para a Ordem do Presbiterado”, disse.
Dom Hilário, na sequência, fez uma homilia bem “franciscana”, lembrando do pequeno Alvaci que lhe ajudava nas missas. “Já vai longe o tempo em que você, de sorriso nos lábios, vestido de coroinha, nesta catedral, junto a este altar, prestava serviço litúrgico na celebração do sacrifício do Senhor. Hoje, você está aqui de novo. Novamente revestido da túnica, mais sorridente do que nunca, está à espera do abraço de Jesus”, disse D. Hilário, ao referir-se a uma imagem de São Francisco de Assis abraçando Jesus Cristo e Ele por sua vez retribuindo o abraço de Francisco. “É uma dos mais belas e expressivas imagens”, disse, enfatizando: “A partir de hoje, como Francisco era o homem de Jesus Crucificado, você também será o homem de Jesus Bom Pastor”.
Dom Hilário, então, pediu a Frei Alvaci que abrisse seus braços, acolhesse o abraço de Jesus, e o retribuísse com todo seu coração, com toda sua vida.
“Francisco, o homem de Jesus Crucificado; Fr. Alvaci, o homem de Jesus Bom Pastor”, sublinhou.
Dom Hilário comentou como Francisco se tornou o homem de Jesus Crucificado, o homem do Evangelho, o homem do amor segundo o coração de Jesus. No final, ensinou a Frei Alvaci: “Lembre-se que, como padre, propriamente você não fica pronto hoje – para usar um palavreado caseiro; você se tornará sacerdote cada dia, na medida em que fizer frutificar o abraço que hoje Jesus lhe dá”.
Propósito do Eleito
Na sequência, no diálogo com Dom Hilário, Frei Alvaci disse o sim ao Ministério Presbiteral, suas funções e seu modo de vida. Então, Frei Alvaci,
prostrou-se ao chão, enquanto Frei Paulo César Ferreira entoou a Ladainha de Todos os Santos.
Terminada a ladainha, um grande silêncio tomou conta da Catedral. Pela imposição das mãos de Dom Hilário e pela prece de Ordenação foi conferido ao eleito o dom do Espírito Santo para o múnus de presbítero. O mesmo gesto os presbíteros repetiram, um a um, para significar a admissão do eleito na Ordem Presbiteral.
Teve início, então, a procissão em que os padrinhos de Frei Alvaci trouxeram a estola e a casula, que Frei José Lino Luckman e Frei Jhônatha Gerber ajudaram o novo presbítero a se vestir. Em seguida, Frei Alvaci teve as mãos ungidas com o óleo do Santo Crisma e recebeu de D. Hilário o cálice com o vinho e o pão, dando-se início à Liturgia Eucarística.
Frei Fidêncio agradece a D. Hilário
O Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, agradeceu em nome da Província a Dom Hilário pela disponibilidade em ordenar Frei Alvaci em Tubarão. “Frei Alvaci, você recebeu de D. Hilário mais do que uma homilia; um grande programa de vida para o seu Ministério Sacerdotal. Obrigado por suas palavras, D. Hilário, dentro da nossa mística e dentro da nossa espiritualidade franciscana”, disse Frei Fidêncio, agradecendo ao pároco da Catedral pela acolhida aos frades nesta semana de preparação para a ordenação.
E não esqueceu da família de Frei Alvaci: “Pai, mãe, obrigado porque vocês nos deram um amigo fiel, um companheiro necessário e um irmão com quem nós compartilhamos a nossa vocação franciscana e também nosso Ministério Sacerdotal. Obrigado à família por ter dado também à Igreja de Deus esse nosso irmão presbítero. A todos e a cada um, nós, frades menores, da Província Franciscana da Imaculada Conceição, somos muito gratos por esta fraterna acolhida nesta cidade de Tubarão”, completou o Ministro Provincial.
Frei Alvaci retribuiu aos agradecimentos do Ministro Provincial e disse que para ele é uma honra ser frade e pertencer à Província da Imaculada. “Se eu disser que não estou imensamente feliz, estou mentindo, porque o meu coração está cheio de alegria. Cheio de alegria por esta data. É tão bonito ver esta Catedral cheia. É tão bonito ver tanta gente que me ajudou para eu chegar até aqui. Foram 14 anos de caminhada, de estudos. E chegou 1º de Maio de 2010″, comemorou o novo presbítero.
Quero amar como o Cristo nos amou
Nos seus agradecimentos iniciou lembrando de Deus Pai, da Igreja Católica, na pessoa de Dom Hilário e dos padres da Diocese, da Ordem Franciscana, representada pelo Ministro Provincial, e, como disse, não nasceu de uma “chocadeira”. “Padre tem uma família. E uma família bem grande. Eu agradeço em primeiro lugar, pai e mãe, que eu amo de coração e eles sabem disso. Meus irmãos: Amanda, Aline e Alex. Meus tios, meus avós. Minha avó paterna está aqui, meu avô é falecido. Ele se chamava Alvaci, por isso o meu nome. Meu avô paterno, orgulho do meu pai, que em memória está lá no céu celebrando comigo. Agradeço meus bisavós, Antônia e Gregório, que tanto rezaram pela minha vocação. A família é grande porque tiveram 17 filhos. Em especial, agradeço meus tios que estiveram mais próximos e ajudaram organizar isso tudo. Dá um trabalhão, D. Hilário, preparar uma ordenação! Agradeço a minha tia Rosinéllia Bittencourt, que esteve à frente da organização. Obrigado!”, enfatizou, agradecendo os amigos que fez na caminhada, especialmente a caravana que veio da Baixada Fluminense e os jovens da Jufra. “Enfim, meu muito obrigado, a todo o povo de Deus. A gente não é sacerdote em causa própria. D. Hilário sabe disso em anos de sacerdócio que tem. A gente é sacerdote para servir o povo de Deus. Esse povo que a gente ama, que eu quero servir, quero amar como o Cristo nos amou, como é o lema da ordenação. ‘Assim como eu vos amei, amai-vos uns aos outros’”.
Frei Alvaci vai celebrar a primeira missa na Catedral no sábado, véspera do Dia das Mães. Neste domingo, sua primeira missa será na Paróquia Santa Terezinha, onde residem seus pais. No domingo, no dia das Mães, sua primeira missa será na Comunidade de origem, no bairro Campestre.
Primeira Missa
O início do ministério presbiteral de Frei Alvaci
Por Moacir Beggo
Depois da bela ordenação presbiteral de Frei Alvaci Mendes da Luz, no sábado (1º/5), na Catedral Diocesana de Tubarão, parecia que não sobrariam mais emoções, alegrias e comemorações. Mas não foi bem assim. A Primeira Missa do neo-sacerdote, neste domingo (2/5), na Paróquia de Santa Terezinha, no bairro onde residem os seus pais, registrou para a história desta Província, da comunidade e do novo presbítero um momento singular: na pequena e lotada igreja, o povo se ajeitou como pôde e fez uma celebração calorosa, familiar, emotiva, para marcar e comungar este início de ministério presbiteral.
Frei Alvaci, visivelmente emocionado o tempo todo, presidiu a sua primeira missa tendo ao seu lado como concelebrantes o Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, o pároco Pe. Edson Müller, da Paróquia de Santa Terezinha. Como na ordenação, seus confrades estiveram em peso, entre eles Frei José Lino Lückmann, vigário paroquial da Fraternidade de Lages (SC), convidado por Frei Alvaci para ser o pregador, o Definidor Frei Mário Tagliari e o guardião do Convento São Francisco, Frei Salésio Hillesheim. Entre os presentes, amigos (as) de Frei Alvaci de Nilópolis e Petrópolis (RJ), que vieram para a ordenação e participaram da Primeira Missa.
Depois de uma semana de muitas chuvas, Frei Alvaci teve uma Semana Missionária até a sua primeira missa de muito sol e céu azul. Tudo cooperou para que Frei Alvaci tivesse um início de ministério inesquecível. Como lembrou no início da celebração, depois de 14 anos de caminhada, havia chegado o grande momento.
E foi assim, lembrando o início desta caminhada de Frei Alvaci que Frei José iniciou a sua pregação. Explicou antes como foi o seu primeiro contato com o jovem Alvaci. Contou que o garoto Alvaci conheceu os franciscanos vendo um programa de televisão de Frei Silvério, de Lages. Era o costume de sua bisavó não perder o programa de Frei Silvério. “Frei Alvaci se encantou, não tanto pelo que Frei Silvério dizia, mas pelo hábito franciscano. Ali nasceu a vontade ser frade franciscano”, recordou Frei José.
Ingressou no Seminário Diocesano de Tubarão, “provavelmente porque era o mais perto, pois nem sabia onde existia um seminário franciscano”, mas segundo Frei José, ele logo abriu o jogo com os padres e Dom Hilário Moser, que o ordenou. Entrou em contato com Frei Albino Gabriel, depois trocou cartas com o orientador vocacional Frei Nélson Hillesheim e foi procurar a fraternidade fraciscana mais próxima de Tubarão, a Fraternidade do Sagrado Coração de Jesus, em Forquilhinha. “Lembro como se fosse hoje quando vi Alvaci”, revelou Frei José.
Frei José disse que chegou a contar 37 padres, junto com o bispo, na ordenação de Frei Alvaci. “Aqui também está um grande número de padres. Eu pergunto: O que nós, padres, poderíamos dizer para você do grande mistério do que é ser padre? Quem é o padre? Como deverá ser o seu ministério sacerdotal?”, perguntou Frei José.
“A gente poderia dizer como o poeta: o padre vive mais para os outros que para si mesmo. Ele sonha, incentiva, concretiza lindos projetos. Apesar do cansaço, finje não sofrer para fortalecer os fracos, para não abalar os pequenos. O padre substitui o choro pela canção, para suavizar a dor dos que sofrem. O padre perdoa os que lhe caluniam e ofendem, mesmo quando não lhe peçam perdão. Espera quando todos perderam a esperança. Ama a todos sem exceção. O padre incentiva a todos a lutar por um mundo melhor sem esmorecer. É capaz de transformar sua comunidade paroquial num santuário de paz, justiça e felicidade. Ele trabalha pela unidade na comunidade, na paróquia, na Igreja. O padre que é padre, reza. Ensina a arte da oração”, ensinou o pregador.
“Precisamos do padre para se fazer presente nos bons e maus momentos do nosso povo. E por falar nisso, Frei Alvaci, não seja apenas um padre de sacristia, da secretaria, ocupado com a administração da paróquia”, acrescentou, ensinando que se “o povo não vem até o padre, nós precisamos ir até o povo”.
Frei José lembrou que, por coincidência ou não, que o lema de sua ordenação foi tirado da liturgia do Evangelho do domingo, dia 2 de maio: “Como eu vos amei, assim também vos deveis amar uns aos outros”. “Belo e completo programa de vida para você”, enfatizou Frei José, emendando: “Ame e faça o que quiser, já dizia Santo Agostinho”.
No final de sua pregação, Frei José fez três perguntas ao novo presbítero: Qual é a pessoa mais importante? Qual é a obra mais importante? e Qual é o dia mais importante? Ele mesmo respondeu: “A pessoa mais importante é aquela pessoa que, em determinado momento do dia, está mais próxima de voce. Vem até você. A obra é quando você faz alguém feliz e o dia é hoje, porque o passado se foi e o futuro não chegou”.
Agradecimentos
Frei Alvaci voltou a agradecer a todos pela celebração e pela bonita festa da Ordenação Presbiteral. Destacou o carinho e a acolhida do Pe. Édson e das famílias que hospedaram os frades. “Os frades se sentiram em casa na Paróquia do Pe. Edson”, garantiu.
O Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, falou em nome da Província, novamente agradecendo à Diocese, à Paróquia e a todos que ajudaram na ordenação e na primeira misa.”Tenho certeza que esta ordenação de Frei Alvaci reverterá em bênção vocacional para esta Diocese. Obrigado à família de Frei Alvaci, pai, mãe. Mas eu queria dizer, Frei Alvaci, que além de sua família você tem a família franciscana”, disse o Provincial, chamando o guardião do Convento São Francisco, Frei Salésio Hillesheim, para dar um abraço em nome da fraternidade, onde Frei Alvaci reside e trabalha. “O guardião é responsável por aquela comunidade. Nada melhor do que termos alguém da fraternidade que vai ajudar a cuidar de você. Temos alguém responsável para que esta vocação cresça. Na fraternidade, ele é aquele que cuida dos frades. Queremos ter um grande cuidado pelos jovens sacerdotes, para que eles também, diante dos desafios do mundo moderno, não percam a graça, a dádiva da vocação. E São Francisco nos diz: ‘Considerai vossa dignidade, irmãos sacerdotes! E sede santos porque o Senhor é Santo’”, explicou Frei Fidêncio.
O pároco Pe. Edson retribuiu os agradecimentos de Frei Alvaci e Frei Fidêncio: “Quero manifestar a alegria por esta celebração tão bonita, marcando o Ano Sacerdotal em nossa Diocese. Eu sei que deu bastante trabalho, foi cansativo, não é Frei Alvaci, mas as famílias ficaram muito felizes. O nosso povo é acolhedor. Que bom que tudo isso pôde acontecer na nossa Paróquia, que está se iniciando: tem apenas 6 meses. É um momento forte e revigora o nosso ânimo de continuar o nosso trabalho e nossa missão”, completou.
As primícias de Frei Alvaci
As primícias do neo-sacerdote continuam: Hoje à noite, Frei Alvaci celebra na Matriz de Santa Terezinha, às 19h30, onde sua mãe Antônia, e seu pai, Sr. Vanderli, coordenam a Renovação Carismática, que se reúne toda toda segunda-feira à noite. Já nesta terça-feira, Frei Alvaci vai rezar em Forquilhinha, onde está a Fraternidade Franciscana do Sagrado Coração de Jesus. Na quarta-feira, Frei Alvaci celebra as primícias na Comunidade da Gruta e, na quinta-feira, celebra as primícias novamente na Matriz, com o início da Novena de Santa Terezinha. Na sexta-feira, celebra na Comunidade de São Brás, às 19h30, ficando para o sábado as primícias na Catedral, onde foi ordenado. No domingo, Dia das Mães, celebra em sua terra natal: a Comunidade do Campestre.
Entrevista
“Sou muito feliz com a escolha que fiz”
Catarinense de Tubarão, Frei Alvaci desde pequeno aprendeu a freqüentar a igreja. De família católica praticante, nasceu no dia 29 de outubro de 1981. Primeiramente ingressou no Seminário Diocesano Nossa Senhora de Fátima, em sua terra natal, aos 14 anos.
Ao fim do ensino médio, transferiu-se para a Ordem dos Frades Menores e passou a residir no Seminário São João Batista, em Luzerna (SC), onde permaneceu durante um mês em preparação para a entrada no Postulantado, em Guaratinguetá (SP), ocorrida em 2000. O Noviciado foi realizado no ano seguinte em Rodeio (SC).
Logo após, Frei Alvaci foi transferido para Rondinha,em Capo Largo (PR) onde viveu seus quatro primeiros anos de profissão temporária e concluiu o estudo de Filosofia. Em 2005 foi para Petrópolis, onde cursou a Faculdade de Teologia no Instituto Teológico Franciscano e, neste ano, a Província Franciscana da Imaculada designou-o para o primeiro trabalho no Pró-Vocações e Missões Franciscanas.
Frei Alvaci vai ser ordenado presbítero neste sábado, às 16 horas, em Tubarão (veja convite ao lado). Nesta entrevista, ele conta um pouco da história de sua vocação, explica por que decidiu tornar-se franciscano e deixa um recado para todos aqueles que pensam em ingressar na Vida Religiosa.
Por Moacir Beggo e Frei Gustavo Medella
Site Franciscanos – Conte um pouco da história de sua vocação.
Frei Alvaci – Desde pequeno eu trabalhava na comunidade (Nossa Senhora Aparecida, pertencente na época a Catedral de Tubarão-SC) e minha família sempre foi muito católica. Meu pai fazia questão de nos levar à igreja. Logo aos 11 anos, comecei a fazer acompanhamento e estágio no seminário diocesano, onde ingressei aos 14 anos, para cursar a oitava série. Eu entrei no seminário da minha cidade por estar mais perto da família, pois eu ainda era muito jovem. Lá eu concluí o Ensino Médio. Neste intervalo, procurei os franciscanos e depois fiz acompanhamento com os frades para ingressar na Ordem (OFM). Minha vocação nasceu de uma vivência de fé na família e na comunidade.
Site Franciscanos – Você deixou o seminário diocesano (que forma padres seculares) para ingressar na Ordem dos Frades Menores. O que lhe motivou a tomar esta decisão?
Frei Alvaci – Desde criança eu também pude conhecer os frades, através de Frei Silvério Weber (falecido em Lages-SC, em março de 2000), que aparecia muito nos canais de televisão da minha região. Ele fazia dois pequenos programas: um perto da hora do almoço e outro pelas 18h. Ver aquele franciscano na TV me chamou a atenção, principalmente por causa do hábito (veste franciscana). Eu já ingressei no seminário diocesano com idéia de me tornar frade. Na minha cidade, o acompanhamento vocacional direcionava os candidatos somente para a diocese. Lá dentro eu comecei a procurar os franciscanos. Pesquisei na lista telefônica e encontrei o Seminário São Francisco de Assis, de Ituporanga (SC). Telefonei para lá fui atendido por um frade, que me encaminhou primeiramente para contato com a Fraternidade de Blumenau. Depois, comecei a ser acompanhado pelos frades de Forquilhinha, porque era mais perto da minha casa. Quando comecei a conviver mais de perto com os franciscanos, fiquei impressionado com a vida fraterna. Os primeiros a me darem assistência foram Frei José Lino Lückman, Frei José Lorenz Führ e Frei João Vianney Erdrich, este último já falecido.
Site Franciscanos – O que significa para você a ordenação presbiteral?
Frei Alvaci – Para nós, franciscanos, ordenar-se sacerdote é uma escolha que podemos fazer durante a caminhada, podemos optar por nos ordenar ou não. De fato, como queria São Francisco, em primeiro lugar esta o “ser irmão menor” e depois os ministérios. Acho a vocação sacerdotal de uma beleza grandiosa e de um compromisso maior ainda, afinal, somos chamados como presbíteros a sermos “homens de Deus”, essa é sem dúvida a nossa maior obrigação e o porquê de nossa consagração. Achei muito bonito um texto de Dom Orlando Brandes, intitulado “viva o ano sacerdotal”, no qual ele diz justamente isso: “O padre é um perito nas coisas de Deus, é o administrador dos mistérios de Deus, por isso a vocação ministerial do padre é um mistério insondável de amor”. Afinal de contas, como afirma ainda Dom Orlando, quando uma pessoa vai a farmácia ela quer remédio, quando vai ao açougue quer carne, vai a padaria porque quer pão, quando vai ao padre ela quer encontrar Deus. Para mim, ordenar-se é consagrar-se inteiramente nesta vocação de ser homem de Deus, instrumento Dele no seio da humanidade. O padre não é anjo ou demônio, é homem consagrado no qual Deus apostou. Vaso de argila carregando em si o mistério.
Site Franciscanos – Você foi designado no último Capítulo Provincial para trabalhar no Pró-Vocações e Missões Franciscanas. O que está achando desta experiência?
Frei Alvaci – Quando fiz meu primeiro estágio em período de férias, depois que sai do noviciado, vim para São Paulo, para ajudar os frades no mês de julho justamente no “Pró-Vocações e Missões Franciscanas”. Na ocasião, Frei Mário [Tagliari] e Frei Atilio [Abati] estavam à frente deste serviço. Passaram-se quase dez anos e agora estou aqui. Fiquei muito feliz em saber que poderia ajudar a minha Província neste trabalho de união com os leigos em prol de nossas casas de formação e missão. Estou aprendendo muito e tenho muito ainda que aprender, afinal a quase vinte e cinco anos o Pró-vocações existe e ajuda nossa formação nas suas diversas etapas. Impressiona-me o carinho e a dedicação de pessoas simples, que todos os dias vem ao nosso encontro, e fazem como a viúva do evangelho sua oferta do coração. É bonito ouvir palavras como “isto é para os seminaristas”, “fico feliz em poder ajudar”, “precisamos de vocações”. Estas pessoas me fazem crer que este trabalho vale a pena e que é por eles que devemos rezar sempre mais.
Site Franciscanos – Em meio a tantos apelos da sociedade moderna, o que leva um jovem como você a atender o pedido de Jesus: “Vem e segue-me”?
Frei Alvaci – Costumo pensar e acredito nisso também, que a vida é feita de escolhas. O belo da vida é poder escolher, optar, dar o rumo que queremos para ela. O apelo de Jesus continua a ecoar no mundo, a mais de dois mil anos, e aqueles que respondem sim ao chamado Dele se comprometem a doarem-se como discípulos, com todas as implicações e exigências que o discipulado pede. Atender ao pedido é fazer a sua escolha de vida, é optar pelo caminho do mestre. Sim, os apelos da sociedade são muitos e o apelo do Cristo é um dentre tantos. Todos os chamados, todas as vocações são possibilidades de realizar-se como ser humano. Minha resposta ao chamado de Jesus tornou-se a minha opção de vida, o modo como quero dar o rumo da minha existência. Sou muito feliz com a escolha que fiz.
Site Franciscanos – O que você diria a um jovem sobre a vocação religiosa franciscana?
Frei Alvaci – Algo que me chama a atenção no franciscanismo, muito mais que em outras famílias religiosas – sou suspeito de falar é claro – é a nossa vocação à fraternidade universal. A sermos irmãos uns dos outros, a nos amarmos como o Cristo nos amou, a respeitarmos todas as criaturas como nossas irmãs. Não é à toa que o lema da minha ordenação é: “Assim como eu vos amei, amai-vos uns aos outros” (Jo 13, 34). Isto porque este fraternismo muito próprio nosso, franciscano, tornou-se algo pelo qual me apaixonei desde o início de minha caminhada. Sugiro aos jovens que sonham o ideal de Francisco, que se identificam com ele, a conhecer os franciscanos, nos mais diversos ramos da nossa grande família: frades, freiras, irmãos da Ordem Franciscana Secular, Juventude Franciscana, Institutos Seculares diversos que existem inspirados em Francisco de Assis. Deixe-se envolver por este ideal. E se dentro deles surgir a vontade de se consagrar como religioso franciscano, procure os frades, o convento mais próximo. Faça um acompanhamento vocacional e no fim responda você mesmo ao chamado do Mestre. Afinal de contas, como já falei acima, somos nós que damos o rumo que queremos para nossa vida. Como diz o nosso Pe. Zezinho em uma de suas canções: “a decisão é sua”.