Entrevista
Frei Alessandro Dias do Nascimento
Por Moacir Beggo
Recentemente, Frei Marcel Freire da Silva fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores na Paróquia de São Lourenço (MG). Três meses depois, é a vez de Frei Alessandro Dias do Nascimento voltar a esta comunidade para receber o Sacramento da Ordem. Ele será ordenado presbítero neste sábado, dia 28, às 10 horas, na Igreja de São Lourenço, pela imposição das mãos de Dom Diamantino Prata de Carvalho, bispo de Campanha (MG). Atualmente, os frades da Província da Imaculada Conceição não estão mais presentes na cidade mineira de São Lourenço, mas o testemunho deles, durante anos, deu frutos, como conta Frei Alessandro, confessando que o modo de vida dos frades pesou muito no seu discernimento vocacional. Além deste testemunho, a figura do Santo de Assis, na residência dos seus pais, sempre indicou o caminho. Ele é irmão de Frei Adriano Dias do Nascimento, que também é frade franciscano e foi ordenado presbítero em 2008. Acompanhe a entrevista:
Site Franciscanos – Conte um pouco da história de sua vocação
Frei Alessandro – Aos 9 anos de idade começou a despertar em mim a vontade de ser coroinha. Assim, em 1990 ingressei no grupo de coroinhas da Paróquia de São Loureço Mártir, em minha terra natal, São Lourenço (MG). Meus dois irmãos também foram coroinhas juntamente comigo. Durante os nove anos em que servi ao altar e auxiliei nos serviços de sacristia, pude me aproximar cada vez mais da pessoa de Jesus Cristo. E foi justamente a partir das celebrações litúrgicas e da alegria franciscana dos confrades que ali trabalhavam é que fui me encantando pela vida religiosa. Recordo-me muito bem das homilias profundas de alguns confrades…, esse modo de anunciar Jesus Cristo foi mexendo comigo. A pessoa de Jesus me encantava cada vez mais: seu modo de tratar as pessoas, o Reino que ele anunciava, o modo como ele viveu sua vida. Mas não foi um processo fácil, não. Aos 12 anos, quando havia revelado meu desejo de ser padre franciscano, sofri com as chacotas de colegas de classe que zombavam de mim, chamando-me de “padreco”… Isso me causou vergonha e, por hora, me fez abandonar essa “ideia”. Mas com o passar dos anos, continuando a participar da vida de Igreja, não teve jeito não: descobri que essa ideia era na verdade um forte desejo. Assim, após alguns anos de acompanhamento vocacional com Frei Diamantino (Prata de Carvalho, OFM, bispo de Campanha – MG) e Frei Perceval (Canuto Carvalho), e tendo concluído o Ensino Médio, decidi ingressar na Vida Religiosa Franciscana.
Site Franciscanos – Por que escolheu ser franciscano?
Frei Alessandro – Acredito não ser tão simples assim falar sobre isso. Pode parecer estranho, mas para mim não há outra maneira de entender a vocação franciscana senão como um “Dom de Deus”. Desde criança, na convivência familiar com meus pais e meus irmãos me senti fortemente envolvido pela alegria. E essa alegria tem me acompanhado ao longo da vida. O fato de ser coroinha numa paróquia franciscana proporcionou um contato muito direto com os frades que ali evangelizavam. O interessante é que desde que ingressei no grupo de coroinhas, percebi a presença de irmãos, frades, não apenas sacerdotes. A Fraternidade local era geralmente composta por frades sacerdotes e um confrade irmão leigo, Frei João José Gepp. O trabalho e a convivência com esses frades foram me ajudando a discernir o caminho com o qual me identifiquei. Embora possamos afirmar, enquanto frades, que em muito ainda pecamos no aspecto do acolhimento em nossas ações pastorais, os frades que por ali trabalhavam transmitiam um modo de ser alegre e feliz, pessoas que anunciavam a partir de um encontro com o Cristo pobre, humilde e crucificado. O sacerdócio exercido como um serviço a Deus e à humanidade muito me encantou desde aqueles tempos. Servir com alegria também foi um ideal que me tocou. E, assim, através do serviço ao altar, da escuta do Evangelho e da convivência fraterna me senti chamado e escolhido a também seguir a Jesus Cristo ao modo de São Francisco de Assis. Engraçado recordar que desde pequeno a figura de Francisco de Assis esteve presente em minha vida, seja através da convivência com os frades, de uma pequena imagem do santo que temos em casa desde aquela época, seja pelo ressoar daquela canção que sempre foi significativa para mim: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz”. Na verdade, sinto que é um desejo que me toma. E no meu processo de discernimento, sempre me via como um sacerdote franciscano. Sempre dizia a mim mesmo: “Se for para ser padre e não poder ser franciscano, não serve para mim, não me identifico assim!” E: “Se for para ser frade franciscano e não poder ser padre, também não me vejo assim”. Ou seja, o que me sinto chamado a ser é um frade franciscano que também tem uma vocação sacerdotal.
Site Franciscanos – Faça um resumo de sua formação e estudos na Província da Imaculada.
Frei Alessandro – Após um período de cerca de 7 anos de acompanhamento vocacional em minha terra natal, finalmente ingressei nesta caminhada da vida religiosa franciscana no Seminário São João Batista, em Luzerna (SC), no ano 2000, o chamado ano do aspirantado. Depois fui para um ano muito forte da nossa caminhada que é o ano do postulantado, em Guaratinguetá (SP), no ano de 2001 – ocasião na qual participei das missões e da ordenação sacerdotal de Frei Pedro Viana, em São Lourenço (MG). E especialmente em janeiro do ano 2002, até janeiro de 2003, vivenciei o Ano da Graça, que é o Ano de Noviciado, em Rodeio (SC). Até esse período, achava que nossa formação levaria 10 anos, ou seja 3 anos para se tornar frade e mais 7 anos para se tornar presbítero. Mas minha turma também foi surpreendida com a notícia de que, ao nosso período de estudos de Filosofia, seria acrescentado mais um ano de formação devido ao processo de legalização perante o MEC. Tudo bem! Então, no ano 2003, iniciei os estudos de Filosofia em Curitiba (PR), residindo na Fraternidade São Boaventura, em Rondinha/Campo Largo (PR), por um período de 4 anos. Foi uma etapa muito legal de estudos e de iniciação na vida pastoral. O que mais me marcou em termos de pastoral foi a maravilhosa experiência de atuar na Pastoral dos Surdos e de poder conhecer melhor os confrades e suas atividades através dos estágios de férias nos meses de julho, dezembro e janeiro. E depois, com a aprovação nos estudos filosóficos, cheguei à grande etapa do tempo da Teologia. Nesses quase 4 anos de formação teológica, tanto acadêmica como também prática, pude ter um contato maior com a vida da Ordem e da Família Franciscana, assim também como uma mais intensa participação na vida da Igreja particular (as dioceses). Se por alguns momentos da nossa caminhada, com seus desafios e desilusões, o ardor vocacional também experimentou um certo esfriamento e aridez, em outros, a chama ardente da vocação religiosa franciscana e sacerdotal também pôde alcançar maior intensidade e profundidade. E a maturidade vocacional que foi surgindo me ajudou a abraçar com alegria e a profissão solene no dia 2 de agosto de 2008, ano muito especial em minha vida. Assim também, posso afirmar que a intensa vivência pastoral nesse tempo forte da Teologia, seja nas comunidades de Petrópolis, seja nas comunidades da Baixada Fluminense (em especial em Xerém, onde exerci com alegria o serviço pastoral), foi de fundamental importância para o meu SIM à vocação religiosa e sacerdotal. E hoje reconheço que eu, assim como todos os religiosos e religiosas, estou em Permanente Formação. Ao Senhor; tenho muito a agradecer a Deus!
Site Franciscanos – Diante de tantas opções da vida moderna, o que leva um jovem de sua idade a assumir um propósito de vida tão exigente e radical?
Frei Alessandro – Jesus, sim, foi radical ao viver da forma que viveu e assumir intensamente sua vocação: doar-se ao Pai e à humanidade com e por amor. Acredito que a juventude de hoje também sente essa sede de amor no mundo e pelo mundo e traz consigo muita vontade de lutar, de transformar a realidade, ou mesmo de descobrir a beleza dela. Basta ter a mesma coragem que levou Jesus a lançar-se na aventura da vida. Jesus nos ensina a confiar no amor do Pai e em sua Divina Providência. Certamente, o jovem que busca encontrar e conhecer a si mesmo vai descobrir um sentido para sua vida. O próprio jovem pode descobrir e lançar para si esse sentido maior para a vida que o seguimento de Jesus Cristo propõe. O jovem não é conformista! É antes, audacioso e inventivo!
Site Franciscanos – Deixe uma mensagem, especialmente para o jovem que quer seguir a vida religiosa.
Frei Alessandro – Meu irmão e minha irmã, é uma alegria muito grande podermos descobrir que o Senhor nos chama a segui-lo. Todavia, ao iniciar a caminhada não desvie seu coração desse amor que o convida a cada dia. Os desafios da vida religiosa são enormes. Realmente, não é fácil! Meu irmão mais velho (Frei Adriano Dias do Nascimento), que também é meu confrade, já me dizia desde meu primeiro ano na vida religiosa: “Essa vida é pra homem mesmo!” Ora, ele tem toda a razão: não é nada legal fazer “corpo mole” diante das dificuldades e desafios que a humanidade atravessa atualmente em todos os níveis, especialmente no âmbito da vida religiosa. Contudo, não precisamos temer! Temos um Deus Encarnado a nosso favor. Um Deus que acompanha a nossa história, que caminha junto aos seus discípulos e nos envia a anunciar um Reino de Amor. Por própria experiência posso afirmar que somos muito fracos, mas também podemos contar com a graça de Deus. É justamente essa graça do Senhor que possibilita todo o SIM que ao longo de nossa caminhada os passos vacilantes vão exigindo cada vez mais. É ela que nos fortalece e nos encoraja a viver nossa vocação, servindo com alegria! Se você também se sente tomado por um Desejo profundo de seguir Jesus Cristo ao modo de São Francisco de Assis, venha com disposição de discípulo e perfeita alegria franciscana! O Senhor te chama!
