Ordenação Presbiteral de Frei João Manoel Zechinatto
Ordenação

Não tenho ouro nem prata, mas trago Jesus Cristo em meu coração”
Em clima de festa, fraternidade e emoção, a igreja de São Benedito recebeu uma assembleia numerosa, fiéis, paroquianos, frades vindos de diversas fraternidades da Província Imaculada Conceição e o clero da Diocese de Amparo, para a solene Celebração Eucarística da Ordenação Presbiteral de Frei João Manoel Zechinatto, neste sábado, 6 de setembro de 2025, às 17h. A celebração, presidida por Dom Luiz Gonzaga Fechio, bispo diocesano de Amparo, foi transmitida ao vivo e reuniu presencialmente e virtualmente quem desejava testemunhar o “sim” definitivo do novo presbítero a serviço da Igreja.

A Igreja estava repleta; o coro e as equipes de liturgia animaram a assembleia e as câmeras levaram o momento para além dos bancos: TV Frei Galvão, TV Franciscanos e as redes sociais da Província levaram a cerimônia para mais longe. Na saudação inicial, já se percebeu o tom afetivo da celebração: “Que bom ter a sua presença”, disse o bispo, recordando o gesto generoso da família e a alegria de ver a comunidade ampliar-se com o novo padre.

O momento de apresentação do candidato ao bispo, feito pelo Ministro Provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, revelou o reconhecimento coletivo por uma trajetória construída ao longo de anos de formação e serviço. Em palavras claras, Frei Paulo o apresentou “como alguém que, além de muitas virtudes, sabe reconhecer as suas limitações” e por isso é digno de receber a ordem do presbiterato.
O rito e seus sinais: entrega, unção e abraço
Após a proclamação do Evangelho, teve início o Rito de Ordenação. Em gesto de entrega total, Frei João prostrou-se diante do altar enquanto a assembleia entoou a ladainha de todos os santos. Pelo gesto central da imposição das mãos do bispo e pela prece de ordenação, foi conferido a ele o Espírito para o serviço presbiteral. Em seguida, os frades o revestiram com a estola e a casula; nas palmas das mãos foi derramado o óleo perfumado do Santo Crisma, símbolo da ação do Espírito que fortalece para o ministério. O novo padre deu a sua primeira bênção à família, momento que arrancou aplausos e muitas lágrimas.

As ofertas do pão e do vinho, apresentadas por seus tios, e o abraço fraterno do clero, ao som de “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz”, concluíram o gesto simbólico da acolhida no presbiterado.
“Seja feita a tua vontade”
Tomando como ponto de partida o lema escolhido pelo novo presbítero, “Seja feita a tua vontade”, o bispo convidou todos a refletirem sobre a centralidade dessa oração na vida cristã e, em especial, na missão sacerdotal.
“Seja feita a tua vontade. […] Se pararmos para pensar várias vezes no mesmo dia, e praticamente todos os dias, nossos pensamentos, nossas palavras e ações não correspondem a essa entrega”. Dom Luiz destacou que o ministério do presbítero deve ser sinal permanente dessa disponibilidade diante de Deus: “É nesta fidelidade, mesmo entre as fragilidades humanas, que o padre se torna testemunha da vontade do Pai”, acrescentou.

Comentando os gestos do rito da ordenação, Dom Luiz ressaltou o significado da unção das mãos: “O perfume da sua unção exala-se na oferta da boa nova, na pregação da verdadeira redenção e liberdade, na proclamação da graça, na consolação, na oferenda do óleo da alegria. É esse Espírito que fará você ser identificado como um homem de Deus.”
Para ele, a unção é mais do que um rito: é a confirmação visível de que o ordenando foi consagrado para levar a alegria do Evangelho. Em uma fala direta e simples, o bispo recordou o que Deus espera dos seus ministros: “O Pai não quer muitas palavras, e sim muita fé e muito amor. Que o seu coração trabalhe num contínuo esforço de elevar-se à vontade de Deus”. Segundo ele, a oração e o serviço pastoral devem estar livres da vaidade e da autopromoção, encontrando na fé e na caridade a sua autenticidade.
Dom Luiz fez memória de pessoas importantes na história vocacional de Frei João, como Frei Wenceslau Scheper, presença decisiva em seus primeiros passos de discernimento: “Recordo a presença e a referência de Frei Wenceslau na sua história”, disse. “O presbítero é sempre fruto de muitas mãos, de muitas presenças, de muitas orações”, acrescentou.

Ao concluir a homilia, o bispo indicou qual deve ser a marca do novo padre: “Será um sacerdote porque sabe amar. É no amor que se reconhece um padre: amor a Deus, amor ao povo, amor ao Evangelho. Este é o caminho que Jesus lhe pede hoje”.
Agradecimentos
A Paróquia São Benedito, em Amparo, terra natal do ordenando, expressou profunda gratidão por acolher a celebração da ordenação. A comunidade recordou a trajetória vocacional de Frei João, iniciada na capela de São Roque, e manifestou alegria por ver um filho da terra oferecer a vida ao serviço da Igreja. Agradeceram a todos que colaboraram na preparação da festa, ressaltando a importância de celebrar como família de fé.
Ainda nos agradecimentos, representantes provinciais também falaram em nome das fraternidades e da comunidade. Frei Marx Rodrigues dos Reis, em tom fraterno, presenteou simbolicamente o jovem ministro com metáforas floridas: “Depois que a rosa floresce, não é mais necessária nenhuma palavra, porque a primavera chegou”. Reconheceu nele um frade comprometido com o carisma franciscano e desejou bênçãos em sua nova missão como presbítero.

Frei Gustavo Medella, Vigário Provincial, fez menção à hospitalidade com que a paróquia recebeu a fraternidade durante a semana, lembrando mesas fartas, conversas e o desejo de permanência: “Quem recebe uma visita com a mesa farta diz: que bom que você veio! […] Eu quero que você fique”.
“Não tenho ouro nem prata, mas trago Jesus Cristo em meu coração. É Ele que eu quero oferecer com minha vida e com meu ministério”
Frei João Manoel Zechinatto tomou a palavra e, visivelmente emocionado, dirigiu seu agradecimento a Deus, à Igreja e a todos os que fizeram parte de sua trajetória vocacional. “Caros irmãos e irmãs, já há alguns dias, é difícil conseguir expressar o quanto meu coração está tomado de gratidão, alegria e um sentimento de graças a Deus”, iniciou.
O novo presbítero reconheceu suas fragilidades, mas também a ação da graça em sua vida: “Em minhas limitações, falhas e pecados que são muitos, foi a graça de Deus e o seu amor que me sustentaram”.
Em seguida, agradeceu a Dom Luiz Gonzaga Fechio pela ordenação e à Província Franciscana da Imaculada Conceição: “Obrigado pelo carinho e pelo acompanhamento durante toda a minha caminhada formativa”.
Dirigindo-se à comunidade local, Frei João destacou: “Obrigado à Paróquia São Benedito e à comunidade de São Roque, onde tudo começou, por me acolherem como filho e irmão”.

Também lembrou de cada fraternidade pela qual passou, inclusive da experiência missionária: “Sou grato às fraternidades que me receberam e formaram, e à missão em Angola, onde aprendi que ser frade é ser irmão em qualquer parte do mundo”.
Num gesto especial, mencionou as religiosas que os acolheram nos dias da ordenação: “Obrigado às irmãs, pelo carinho e pela hospitalidade que muito nos alegraram”.
Frei João não deixou de recordar sua família: “Sou grato à minha mãe, aos meus tios, primos, ao meu irmão Guilherme, e lembro com amor do meu pai, que me acompanha agora da eternidade”.
E encerrou seus agradecimentos recordando de sua vocação, leia na íntegra:
No dia 12 de maio de 1943, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na cidade de Petrópolis, foi ordenado um presbítero: um jovem frade alemão que não falava ainda muito bem a língua portuguesa. Sofreu com inúmeras doenças nos seus anos de formação e quase faleceu: Frei Wenceslau Scheper. Como lema do seu ministério, escolheu um trecho da oração do Pai-Nosso: “Seja feita a tua vontade”.
Na Missa de Natal do ano 2000, há 25 anos, dia em que me tornei coroinha, ele me convidou seriamente, como convém a um alemão, para que eu fosse frade. Aquilo permaneceu fundo em mim e eu passei a responder, a quem me perguntava, que queria ser frei. A última vez que o vi, em meados de 2009, na cidade de Bragança Paulista, recebi o mesmo convite – agora, ainda mais sério. Graças a Deus por esse convite que me inquietou; graças a Deus por esse convite que mudou a minha vida e que me trouxe até este dia.
Foi o sim a esse convite que me trouxe à vida franciscana e me ajudou a escrever uma história que define quem eu sou e quem eu quero continuar a ser, sempre mais. Uma vocação não é patrimônio de uma pessoa: nós somos a soma de milhares de pessoas que vão dando um pouco de si e nos vão construindo e moldando. A história de uma pessoa é sempre a história de tantas e tantas pessoas.
É simbólico que aqui, nesta igreja, eu seja gerado presbítero, igreja onde aprendi com uma geração de valorosos franciscanos o exemplo de uma vida de minoridade, de doação plena e de que, na austeridade e na simplicidade, exalavam um carinho profundo e genuíno pelo povo de Deus. Aprendi que é servindo e amando a todos e todas que se encontra a maior riqueza e a maior nobreza de um frade menor.
“Seja feita a tua vontade”, lema que repeti tantas vezes ao longo desses anos, foi me ensinando e me confirmando um Deus amoroso e misericordioso, que cuidou e velou pela minha vida. Um Deus que é bom, e bom em todo tempo. Possa eu, com coragem e valentia, ser fiel seguidor desses mistérios de anunciar ao mundo Jesus Cristo vivo e ressuscitado e o Seu Evangelho, porque eu creio cada vez mais que Ele é a única e derradeira resposta para o nosso mundo.
Não tenho ouro, não tenho prata, mas tenho Jesus Cristo – e Jesus Cristo ressuscitado. Tenho irmãos e irmãs, seguidores do mesmo Evangelho, e juntos, com o cálice da vida transbordando de alegria e de gratidão, meu brado: seja feita a tua vontade.
Para além do rito: um ministério em saída
A ordenação de Frei João é narrada não como ponto final, mas como continuidade de uma caminhada. Formado pela experiência de fraternidades diversas, por uma vivência missionária que o levou até Angola e pela vida de proximidade com as comunidades locais, o novo presbítero encara seu ministério sob o signo do serviço e da simplicidade franciscana. O lema escolhido “Seja feita a tua vontade” foi repetido como programa: não um convite à passividade, mas à abertura confiante à vontade de Deus que se faz serviço, anúncio e presença compassiva.
A festa terminou entre abraços, bênçãos e cantos. A Igreja de São Benedito permanece, assim, enriquecida por mais um filho que se entrega para consagrar a vida ao alimento do povo: a Palavra, a Eucaristia e o cuidado pastoral e sacramental.
Imediatamente após a ordenação, foram anunciados as primeiras celebrações: Frei João presidirá sua Primeira Missa na comunidade São Roque, em Três Pontes, às 10h; outra celebração será realizada na Paróquia São Benedito, às 18h, ocasiões que prometem reunir novamente seus familiares, os fiéis, frades e comunidade amparense.
A caminhada de Frei João
Frei João Manoel nasceu em Serra Negra (SP), em 15 de dezembro de 1992, e cresceu no distrito de Três Pontes, em Amparo. Desde a infância ajudava nas atividades da comunidade de São Roque, pertencente à paróquia de São Benedito. Sua história franciscana começou formalmente em 2015, passando por fraternidades e seminários em Santa Catarina e São Paulo, vivências missionárias, inclusive em Viana, Angola, e quatro anos de teologia em Petrópolis. Fez a primeira profissão em 2018, a profissão solene em 17 de setembro de 2022 e foi ordenado diácono em 15 de dezembro de 2024. Recentemente recebeu transferência para a Fraternidade Dom Paulo Evaristo Arns, em São Paulo, onde também serve na equipe de comunicação da Província.
Texto: Frei Augusto Luiz Gabriel/ Fotos: Frei Roger Strapazzon
Primeira Missa

O retorno ao ‘altar’ do batismo: Frei João celebra sua Primeira Missa na Comunidade de São Roque
A comunidade de São Roque, em Três Pontes, Amparo (SP), ficou pequena no último domingo, 7 de setembro, para celebrar um momento histórico e de muita emoção: a Primeira Missa de Frei João Manoel Zechinatto, ordenado presbítero no sábado (6/09). Amigos, familiares, frades vindos de várias fraternidades da Província e o povo de Deus lotaram a capela que no ano que vem celebrará seu centenário.

Logo no início, percebeu-se que não seria uma missa comum. Fiéis se acomodaram também do lado de fora, em espaços preparados pela comunidade. A emoção era visível: naquela mesma capela, na pia batismal, há 32 anos, Frei João havia recebido o sacramento que o inseriu na Igreja; agora, voltava como presbítero para presidir a Eucaristia pela primeira vez.

O altar, cuidadosamente preparado, tornou-se sinal visível da entrega e do serviço que Frei João agora abraça. Os cantos, conduzidos pelo ministério de música da comunidade, fizeram ecoar a alegria de todo o povo, que, desde o primeiro momento, participou com entusiasmo e devoção.

O clima era de festa, mas também de profunda espiritualidade. No gesto da assembleia, no olhar dos familiares e no sorriso das crianças que acompanhavam de perto, era possível perceber que aquela não era apenas a primeira missa de um jovem presbítero, mas um verdadeiro reencontro da comunidade com a sua própria história de fé.
‘Hoje vemos um novo fruto nascer para a Igreja’
As leituras proclamadas ajudaram a iluminar o sentido da vocação de Frei João: a sabedoria de Deus que conduz os passos do justo, a carta de Paulo a Filêmon como testemunho de fraternidade, e o Evangelho de Lucas (14,25-33), em que Jesus recorda as exigências do seguimento e do discipulado cristão com um programa oferecido para a realidade dos discípulos daquele tempo e que é atual e necessário para os nossos tempos também.

A homilia foi confiada a Frei Sérgio Pagan, filho da própria comunidade, que presidiu sua primeira missa no mesmo altar há 49 anos e que batizou Frei João. Em sua pregação, lembrou a trajetória vocacional do novo presbítero, unindo lembranças pessoais a liturgia do dia.
Frei Sérgio que atualmente reside em Niterói (RJ), recordou a história da comunidade e a presença franciscana que a moldou, evocando a figura de Frei Wenceslau Scheper, responsável pela construção da capela e formador de tantas vocações. “Vocês são testemunhas de que este chão é fértil. Aqui a Palavra de Deus foi semeada, e hoje vemos um novo fruto nascer para a Igreja”, afirmou.
Inspirando-se na primeira leitura, destacou que a sabedoria de Deus sempre se manifesta nos que se colocam à disposição para servi-Lo. “Não é a inteligência humana que sustenta a vocação, mas a graça que se derrama sobre os pequenos. Frei João é sinal dessa graça que floresceu nesta terra simples e generosa”, disse.
Ao comentar a carta de São Paulo a Filêmon, fez uma ligação direta entre a experiência apostólica de Paulo e a missão que Frei João agora assume. “Paulo chama Onésimo de filho na fé. Eu também posso dizer: João, você é meu filho espiritual. Quando o batizei, tracei o sinal da cruz em sua fronte e proclamei: tu és sacerdote, profeta e rei. Hoje, isso se cumpre de modo pleno em sua vida”.
O pregador também refletiu sobre o Evangelho do dia, que apresenta as exigências do seguimento de Cristo. Segundo ele, o chamado para “deixar pai, mãe, irmãos e até a própria vida” não significa abandono, mas um amor que se expande. “A partir de hoje, seu coração precisa ser maior. É o amor de Cristo que o envia a todos. Assim como Francisco de Assis, você não pertence mais apenas a sua família de sangue, mas a todos os irmãos e irmãs que encontrar no caminho”, ressaltou.
Dirigindo-se à assembleia, Frei Sérgio pediu que a comunidade continue acompanhando o jovem presbítero com oração e apoio, lembrando que a vocação não nasce isolada, mas é sustentada pelo povo de Deus. “Se Frei João chegou até aqui, é porque vocês rezaram, acreditaram, incentivaram. Continuem sendo para ele sustento e esperança”, pediu.
Concluindo sua pregação, retomou o tema central do Evangelho: a cruz como medida do discipulado. “Seguir Jesus é carregar a cruz todos os dias, mas não com tristeza. É a cruz da entrega, do serviço e do amor sem limites. João, que sua vida seja sempre um reflexo desta alegria de se dar totalmente”, indicou.
A comunidade rezou com fervor nas preces, pedindo pelo novo sacerdote, pela Igreja, pelas vocações e pela missão franciscana. O momento da consagração foi seguido de profundo silêncio e concentração, enquanto todos se uniam em adoração diante do mistério da Eucaristia.
Agradecimentos: ‘Hoje celebramos esse fruto’
No final da celebração coube a sua tia Deize Zechinatto Guarizo abrir esse momento de gratidão. Em suas palavras, destacou que a celebração era fruto de muitas orações, da fé transmitida entre gerações e do testemunho simples do povo de Deus.
“Hoje, nossa família, a Família Franciscana e toda a comunidade está em festa em poder celebrar mais um presbítero franciscano, filho desta terra. Se seu pai, sua avó, seu avô, seu padrinho e o Frei Wenceslau estivessem aqui hoje, estariam chorando de felicidade. Mas, com certeza, eles estão nos céus, orgulhosos em saber que, desta árvore que eles cultivaram, hoje celebramos esse fruto”, afirmou emocionada.

Deize recordou etapas importantes da caminhada vocacional de Frei João, desde o noviciado até a missão na Bahia, a experiência em Angola, o trabalho com os Canarinhos em Petrópolis e, mais recentemente, a presença na comunidade do Jardim Peri Alto, em São Paulo. “A vida nos pede coragem. Coragem, meu sobrinho! Viva belas e profundas aventuras, que este dia seja impulso para seguir em frente com ainda mais responsabilidade. Frei João Manoel, em nome de nossa família, seus amigos e de toda a comunidade, nossos parabéns! E não esqueça que a gente te ama muito e tem muito orgulho de você. Feliz e frutuoso ministério, e que São Francisco e Nossa Senhora Maria Santíssima intercedam sempre por ti”.

O Ministro provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, destacou que a missão assumida por Frei João é também a de todos os frades: “Essa é a nossa tarefa: cuidar da humanidade, da natureza e, especialmente, dos pequenos. Esse é o dom que recebemos de Deus por vocação, viver em fraternidade e o Evangelho em nossas relações. O João não está sozinho na missão, ele é irmão entre irmãos. Por isso chamei aqui os frades, os postulantes e vocacionados, porque o que se pode esperar de nós é que semeemos sempre a fraternidade, onde estivermos. Na palavra ‘obrigado’ existe o compromisso de corresponder à generosidade que recebemos. Cobrem de nós que sejamos frades que amem, que correspondam, que não abandonem o barco, sobretudo nas tempestades. Hoje, diante do povo, renovamos esse compromisso no dia em que o João dá o seu sim para servir a Deus pelo ministério presbiteral”.
‘Esta é a terra sagrada em que nasci para a fé’
Na sequência, foi a vez de Frei João Manoel expressar seus agradecimentos. Ele iniciou agradecendo pela presença de todos e sublinhando que a vida é sempre tecida com as histórias de muitas pessoas: “A história de uma pessoa é a soma de milhares de histórias que vão contribuindo e formando cada um de nós. Obrigado por serem parte da minha história, dessa história que é nossa”.

O novo presbítero recordou, com emoção, que há 32 anos, naquela mesma igreja, recebeu o batismo de Frei Sérgio Pagan, ao lado de um primo e uma amiga que também estavam presentes na celebração. “Esta é a terra sagrada em que nasci para a fé e onde aprendi a dar os primeiros passos. Aqui está a pia batismal que me gerou para a vida cristã, e hoje o Senhor me concede a graça de voltar como presbítero. Que eu saiba viver sempre com alegria e disponibilidade o chamado que recebi”.
Fez também memória da comunidade, dos familiares, dos confrades e dos vocacionados, agradecendo pela presença e pelo apoio constante. Antes de encerrar, Frei João quis rezar uma Ave-Maria em memória dos falecidos que marcaram sua caminhada, especialmente Frei Wenceslau, responsável pela construção da capela, e seu tio Osmair, falecido há poucos dias. “Celebramos a Páscoa dele e de tantos frades que deram a vida por este chão sagrado. Eles permanecem vivos em nosso coração”, disse.
A celebração terminou com a bênção final e um gesto de comunhão: frades, presbíteros e povo estenderam as mãos uns sobre os outros, abençoando-se mutuamente como sinal de fraternidade e missão. E assim, em clima de festa e confraternização, findou a Santa Missa, sinal de que a vida e a missão de Frei João já são parte inseparável da caminhada daquela comunidade.
Texto: Frei Augusto Luiz Gabriel/ Fotos: Frei Roger Strapazzon
Entrevista

“Uma vocação não é patrimônio de uma só pessoa, uma vocação é resultado da vida de fé de uma comunidade e de tantas pessoas que são ‘história’ e são ‘participantes’ na vida de um vocacionado.”
Assim, Frei João Zechinatto iniciou sua resposta quando lhe foi pedido que deixasse uma mensagem aos jovens vocacionados durante a entrevista que pode ser acompanhada nesta publicação.
Este conteúdo foi produzido para que possamos conhecer um pouco mais desse jovem que, em breve, se tornará presbítero, mas que sempre será o servo de Deus que, como frade franciscano, cumprirá sua missão em favor da paz e do bem.
Inspirados pelo lema “Seja feita a tua vontade” (Mt 6,10), a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil e Frei João convidam a todos para sua Ordenação Presbiteral, no dia 6 de setembro, às 17h, na Igreja Matriz de São Benedito, em Amparo (SP).
Depois de percorrer uma importante etapa formativa e de encontro com Deus no ambiente provincial, o frade está pronto para confirmar mais um sim a uma vocação já marcada pela vida fraterna, pela minoridade e pelo seguimento do Cristo pobre e crucificado, pelas mãos de Dom Luiz Gonzaga Fechio, Bispo Diocesano de Amparo.
Mas ele não estará sozinho em sua cidade natal, pois, além de seus confrades, seus familiares, convidados e amigos estarão todos unidos para celebrar este momento único da Ordenação Presbiteral, que marcará ainda mais profundamente a escolha pela caminhada religiosa de Frei João.
A fala do frade aos vocacionados, mencionada logo no início deste texto, reflete o que está em seu coração e em seu espírito franciscano, pois o presbiterado não retira o frade da vida comum, mas o insere ainda mais profundamente nela, oferecendo seus dons para animar a fraternidade e fortalecer a missão evangelizadora.
Na entrevista, Frei João Zechinatto apresenta mais detalhes sobre sua escolha de vida e sobre sua missão franciscana. Acompanhe abaixo.
Site Franciscanos – Na sua vida, qual o sentido do seu lema de Ordenação, tirado do Evangelho de Mateus: “Seja feita a tua vontade” (Mt 6,10)?
Frei João Zechinatto – Houve um frade alemão que viveu muitas décadas em Amparo, minha cidade natal, Frei Wenceslau Schepper. Era muito amigo da minha família e muito querido pelo povo da minha Comunidade de origem. Em muitos almoços nos domingos, ouvi atento suas histórias da Alemanha, das guerras, das dificuldades e desafios do passado e aquilo me marcou profundamente. Ele devia perceber o meu interesse e quando me tornei coroinha, na missa de Natal de 2000, ele me convidou para ser frei. Fiquei com esse convite na cabeça e sem nem muito entender passei a dizer para quem me perguntava o que eu queria ser quando crescer, que eu queria ser “frei”. Vim a descobrir que o lema de ordenação presbiteral de Frei Wenceslau foi esse “Seja feita a tua vontade”. Passei a tomar esse trecho da oração do Pai-Nosso como um norte e uma inspiração ao longo da formação inicial como frade menor e, agora, próximo da Ordenação Presbiteral escolhi esse versículo como lema para este ministério. É uma homenagem a este frade que tanto me inspirou e ainda me inspira, mas também, um propósito que busco, com muita sinceridade e luta, como norte para este serviço à Igreja, ao povo de Deus e a Jesus Cristo, nosso Senhor.
Site Franciscanos – No dia 6 de setembro será sua Ordenação Presbiteral. O que esse momento significa para você?
Frei João Zechinatto – Nestes últimos dias, estive em Retiro de preparação para a Ordenação e um frade já mais idoso me disse: “está pronto para servir ainda mais?” Isso ressoou profundamente em mim. Embora estejamos felizes por celebrar esse momento, é fundamental recordar que o ministério ordenado, enquanto desdobramento da vocação batismal, é uma forma de profundo serviço que se espelha do exemplo do próprio Cristo. O Senhor Ressuscitado e o seu Evangelho são inspirações indispensáveis aos serviços na Igreja, todos devemos ser servos dos mistérios de um Deus da vida e de um Deus que busca acolher a todos no seu projeto de salvação. Creio que a Ordenação Presbiteral acentua uma vocação acolhida a pedido da Igreja, da Província e do Povo de Deus e reforça a responsabilidade de uma missão em profunda intimidade com o Mistério Pascal do Senhor. E aqui, penso “responsabilidade” na raiz da palavra latina “respondere”, somos provocados a uma resposta no hoje, também com um olhar para o que veio antes. Celebrar essa Ordenação é responsabilizar-se para algo novo e profundo, mas é também a resposta da história de uma comunidade de fé, dos frades, familiares e amigos; e ao olhar para essa “atrás” busco a garra de iniciar o amanhã que desponta no horizonte, tendo como fundamento o serviço humilde e esperançoso; sempre rezando o lema proposto para esse momento: “seja feita a Tua vontade”!
Site Franciscanos – O que significa ser um frade franciscano?
Frei João Zechinatto – São Francisco é uma pessoa que exala “entusiasmo”, toda a sua vida é marcada por uma profunda obstinação por aquilo que a partir de Jesus Crucificado e o seu Evangelho iluminaram o seu coração e o seu existir. Entusiasmo é paixão, é animação, é perseverança, mas não podemos perder de vista a etimologia dessa palavra. “Entusiasmo”, do grego, é “estar cheio de Deus”, assim foi São Francisco, um homem entusiasmado, um homem cheio de Deus. Creio que o frade menor seja alguém chamado a ser cheio de Deus e se nos enchermos d’Ele, temos a missão de dividir o que de graça recebemos com os nossos irmãos e irmãs. Ser frade menor é buscar esse entusiasmo pela vida, nas mais simples e singelas coisas, poder maravilhar-se pelo viver e pelas coisas que nos rodeiam. Inspirados em São Francisco, ser um frade menor é dar sentido à vida, porque cheios de Deus vamos nos dando conta de que só Ele é o sentido pleno e só com Ele as coisas da vida têm suas cores mais belas.
Site Franciscanos – Frei João, sua ordenação como presbítero ocorre num ano cheio de significados, estamos no Ano Jubilar da Encarnação, ano dos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas e dos 350 anos de Criação da Província da Imaculada Conceição do Brasil. Qual o impacto desses acontecimentos em um momento tão significativo da sua vida religiosa?
Frei João Zechinatto – Eu tenho uma profunda admiração pela “história” enquanto fenômeno e suas implicações simbólicas na nossa vida. Acho sempre interessante e formidável esse fato tão humano de entrelaçar as questões da nossa vida e dar significados a elas. O Ano Santo é um tempo de graça por excelência, tempo de lembrarmos da encarnação do Senhor, algo tão singular na história e no tempo que precisamos anunciar e vivenciarmos com intensidade para assim estarmos mais próximos do próprio Evangelho, núcleo das Escrituras. Nesses tempos de crises e incertezas com relação ao futuro do próprio planeta é o canto de um santo do tempo medieval a poesia que sintetiza um modo de ser necessário e urgente para a história de quem estamos nos fazendo e de quem queremos ser. O “Cântico das Criaturas” é no meu ver o nosso “canto mais atual”, pois é a mudança da nossa relação com a Criação que dirá do nosso futuro. Francisco deu o tom: somos todos irmãos e irmãs numa Fraternidade Universal! E os 350 anos da nossa Província é a oportunidade de celebrar essa história de séculos de irmãos que construíram o sonho de uma fraternidade de Paz e de Bem entre o nosso povo. Se vivemos num tempo conturbado e tumultuoso, reforço que essas datas fortes nos lembram algo fundamental: nossas celebrações são respostas ao mundo! Celebrar a fé, nossa história e nosso carisma é uma resposta para o nosso tempo. Nessas celebrações recobramos a força, a esperança e qual o sentido daremos a história que queremos escrever!
Site Franciscanos – O seu convite traz uma ilustração do artista colombiano Julían García. O que o motivou na escolha desta imagem?
Frei João Zechinatto – No final do ano passado vi essa pintura e ela me prendeu a atenção. Notei que dos muitos elementos presentes na arte, estão os três principais da espiritualidade franciscana: o Presépio, a Cruz e a Eucaristia. Creio que a um frade, essa tríade é fundamental para a atualização do nosso carisma e ajuda-nos a intuirmos nossa mensagem espiritual para os nossos tempos. Nesta arte, o Senhor da Vida vem como menino, cheio de uma ânsia esperançosa de futuro, sua manjedoura é uma árvore, símbolo da vida que luta por frutificar. O pão e o vinho estão próximos a Ele. Maria e José o envolvem e apontam para Ele, mas o vislumbre da Cruz já o adorna. As cores são também vivas, muito próprias do nosso povo latino. Foi uma pintura que me chamou a atenção pela riqueza dos detalhes e é aquela máxima: “percebemos na arte muito mais a nós mesmos, do que as intenções do artista”.
Site Franciscanos – Como é para você voltar à sua terra natal para esse momento especial de sua caminhada vocacional na Igreja e na Ordem?
Frei João Zechinatto – Uma vocação não é patrimônio de uma só pessoa, uma vocação é resultado da vida de fé de uma comunidade e de tantas pessoas que são “história” e são “participantes” na vida de um vocacionado. É lindo a resposta litúrgica que dizemos no início da Celebração Eucarística: “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”. É o amor de Cristo que nos une e nos reúne; é ele também que nos chamou a essa vida, nos sustentou até aqui e nos conduzirá pelos caminhos a serem seguidos! Voltar para junto dos meus familiares, amigos e da minha comunidade natal é voltar para onde aprendi a celebração do amor, da fé e da esperança. É celebrar com eles uma vocação que nasceu com eles e se tornou o que é, graças a eles! É estar em união com a Igreja, porque não nos fazemos para nós mesmos, mas para um projeto universal, assim como a tradição define a Vida nova em Cristo. É estar junto dos meus confrades, meus irmãos que me ensinam sempre que o sonho de Francisco de Assis é possível e real! Reunidos todos nesse amor de Cristo, sinto-me honrado e com o coração cheio de gratidão, mesmo também me sentindo tão pequeno e não merecedor de tantas graças, mas é olhando além que repito com o salmista: bendirei o Senhor em todo o tempo!
Site Franciscanos – Qual mensagem você deixaria para os jovens que são vocacionados à vida religiosa franciscana e, assim como você, querem que também seja feita a vontade de Deus em suas vidas?
Frei João Zechinatto – Uma das questões que vejo no presente em que vivemos é talvez a dificuldade de compreender o que é o todo do “tempo da nossa vida”. Vivemos “momentos” e “instantes”, mas eles dizem de um recorte da vida e não da vida pensada em sua inteireza. Discernir uma vocação é buscar ler os instantes e os momentos, porém, já vislumbrando o quê do todo da vida pode ser empreendido. A vida franciscana é bela, profunda e grandiosa e ela fala à vida, na sua máxima grandeza. Se eu desse um conselho aos jovens em processo de discernimento vocacional, ele seria: “aonde você, lá na frente, quer estar? Quando você olhar para as décadas da sua vida, o que você imagina ou gostaria de ver? Veja além do agora e pensando no todo, como você o vê? ” A vida é uma construção e, facilmente, nos esquecemos disso, por isso, os instantes e momentos estão à serviço de um tempo de vida muito maior. Assim, uma vocação acertada é uma vocação que vê além das questões menores, que não se prende às dificuldades. Gosto do pensamento do Guimarães Rosa que diz: “o que tem de ser tem muita força”. Não desanimemos nas adversidades e tropeços, pois o Reino de Deus está sempre acontecendo. Ele não é um evento distante, mas é a presença viva de Deus que já germina no coração do mundo. Para percebê-lo é preciso tempo e vida: tempo para silenciar, escutar e discernir os sinais; vida para se gastar em amor, justiça e misericórdia. O Reino cresce na simplicidade dos gestos de paz, na partilha que vence a indiferença e na esperança que resiste ao desânimo. Quem se abre a esse mistério descobre que o Reino não é apenas instante futuro, mas realidade que pulsa aqui e agora, em cada momento e instante do pulsar dos nossos corações.
Adriana Rabelo Rodrigues