Ordenação Presbiteral de Frei Alan Leal de Mattos
Ordenação
Petrópolis (RJ) – Frei Alan Leal de Mattos recebeu neste sábado (4/6), às 10 horas, o segundo grau do Sacramento da Ordem, pela imposição das mãos do bispo diocesano de Petrópolis, Dom Gregório Paixão, OSB, durante a Celebração Eucarística na Catedral São Pedro de Alcântara, Padroeiro da Cidade Imperial e do Brasil. Ele também recebeu de Dom Gregório um detalhado itinerário para o seu ministério presbiteral durante a homilia: “Tudo deve ser feito para os irmãos, com aquela Paz e aquele Bem que você assumiu na sua vida e que deve ser transmitido a todas as pessoas”.
Frades de toda a Província da Imaculada Conceição, especialmente das Fraternidades do Regional do Rio de Janeiro, marcaram presença neste momento importante na vida religiosa de Frei Alan. Entre eles, o Ministro Provincial Frei Paulo Roberto Pereira. Sacerdotes, religiosos, religiosas e seminaristas também se uniram ao povo de Deus para render graças ao Altíssimo Deus nesta celebração. As vozes dos Canarinhos de Petrópolis se fizeram presentes deixando a liturgia mais solene e bela.
O rito da ordenação obedeceu à seguinte ordem: a eleição do candidato; homilia, propósito do eleito; ladainha; imposição das mãos e prece de ordenação; unção das mãos e entrega da patena e do cálice. Após a liturgia da Palavra, Frei Alan se apresentou como candidato à ordenação e o Ministro Provincial Frei Paulo Pereira o apresentou ao Bispo, que diante dos presentes, o acolheu.
Em sua homilia, o bispo recordou como o jovem Alan, do bairro Mosela, fez o seu discernimento vocacional e foi apresentado a São Francisco de Assis.
Depois deste resumo, Dom Gregório definiu todos os serviços que Frei Alan vai ter no seu ministério presbiteral: “A primeira coisa que gostaria de dizer para você neste momento é: não esqueça de onde você partiu. Quem não sabe de onde vem, não sabe para onde vai. Portanto, uma história precisa ser mantida porque foi ela que serviu de alicerce para o edifício que depois foi constituído”, indicou o bispo.
Dom Gregório pediu para Frei Alan não esquecer de seus primeiros compromissos como religioso. “Você amou a Deus pelo testemunho de São Francisco e, através desta grande graça, você fez votos. Seja fiel àquilo que foi a primeira lembrança de uma aliança sua com Deus e, principalmente, da fidelidade de Deus em sua aliança para com você”, acrescentou.
Depois, Dom Gregório disse que Frei Alan tinha diante dos seus olhos, uma estola diaconal. “Lembre-se sempre: quando você usar uma casula como sacerdote, coloque no seu coração o tempo todo a estola que você ainda carrega até esse momento. O sacerdote é, antes de mais nada, um servidor. Não nega, pela etapa nova, o seu diaconato, mas a sua vida será sempre a beleza de um testemunho, que deve chegar a todos, principalmente aos pobres, e a sua consagração se deu principalmente por amor a eles”, exortou.
“Por outro lado, como nós ouvimos nos Atos dos Apóstolos e na segunda carta que São Paulo escreveu aos Coríntios, existe um ponto fundamental da nossa vida como ministros do Senhor. E o que é que eu acho principal naquilo que o Apóstolo disse? Nós precisamos pregar a Jesus Cristo e a sua obra, porque podemos sempre correr o risco de arrumar discípulos para nós, sejam aqueles que estão do nosso lado, sejam pelas redes sociais. E as pessoas correm o risco de buscar, de admirar e de adorar a nós do que Aquele que é o único que deve ser adorado”, alertou.
Para o bispo, ao assumir o sacerdócio de Jesus Cristo, pela força da sua palavra, Frei Alan deve apresentar às pessoas aquele que é o Senhor. “Você deve fazer com que aqueles que chegam perto de você sejam discípulos de Jesus Cristo. Nenhum Evangelho pode ser pregado, nenhuma doutrina pode ser passada, senão aquela que Ele entregou aos apóstolos, que nos deixou através de sua Palavra, que ele, com alegria tão grande, resolveu repartir do tesouro do seu coração para que a gente possa inundar o coração dos outros e fazer com que eles fiquem com Aquele que deve ser realmente a presença viva dentro do coração e, ao mesmo tempo, digo para você: Em todo o seu serviço como sacerdote coloque a alma feliz, alegre, como ensinou São Francisco de Assis através das suas atitudes”, indicou.
E prosseguiu: “Tudo deve ser feito para a glória de Deus. Tudo deve ser feito com a perfeição daquele que na terra já consegue enxergar a glória do céu. Tudo deve ser feito para os irmãos, com aquela Paz e aquele Bem que você assumiu na sua vida e que deve ser transmitido a todas as pessoas”.
Para o bispo, assim o altar será a mesa da partilha, o altar será a mesa da presença. “O altar será a mesa da contemplação e, diante dos olhos de todos, o altar deve ser sempre para os outros e para você fundamentalmente o lugar da adoração. Sirva ao altar de Deus e faça com que o povo de Deus se alimente da graça desse novo tempo”, sublinhou.
p”Ao mesmo tempo, observando a fragilidade da sua vida, seja capaz de ser misericordioso para com todos aqueles que se aproximam de você pedindo que, em nome do Pai, do Filho e do Espírito, o perdão lhe seja concedido. Dê a boa Palavra. Ensine o que a Igreja nos ensinou e, fundamentalmente, experimentando em você mesmo essa misericórdia e que ela chegue ao coração de todos”, continuou.
Dom Gregório prosseguiu definindo os sacramentos do batismo, do matrimônio e a santa unção: “Alegre-se pelo crescimento da Igreja, pelos filhos que nos procuram desejando a água santa do batismo e, ao mesmo tempo, como marca da sua presença, alegre-se também por aqueles, que acreditando no amor, desejam constituir família, e daqueles, que pedindo a sua presença, choram e lamentam a partida porque amaram tanto, mas ao mesmo tempo sabem da glória da ressurreição onde nós todos desejamos chegar e nela partir para a glória de Deus definitivamente”.
“Ora, Frei Alan, o que posso dizer para você, o que repito para mim muitas vezes, a nossa vida deve ser um constante hino de louvor à glória do céu, mas ao mesmo tempo deve ser uma profunda vigilância porque nós somos as primeiras testemunhas de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, para que esse mundo creia e se liberte, tenha vida e possa ser transformado no projeto que ele nos deixou”, aconselhou.
Para o bispo, esse testemunho será muito exigido de Frei Alan e nunca deverá esquecer de uma coisa que pode ser muito dura: “Você perdoará ao longo de sua vida como sacerdote milhares de pessoas, entretanto, entenda, que se um erro grave for cometido, nem sempre nós, sacerdotes, somos perdoados por uma falta que cometemos. Portanto, é preciso acreditando na misericórdia do Senhor, perceber todos os atos da nossa vida para que sejamos testemunhas vivas desta presença na vida de todos os irmãos”, orientou.
“Cabe, portanto, meus irmãos e minhas irmãs, ao Frei Alan rezar, dobrar o joelho, se colocar diante do Senhor, porque assim que deve viver um sacerdote. E, ao mesmo tempo, eu peço que toda a assembleia se una numa oração constante por ele e por todos aqueles que se colocam à disposição do serviço do Senhor porque nunca nos faltará profunda alegria, mas momentos de tristeza. Nunca nos faltará um desejo imenso de ir adiante, mas de vez em quando a preguiça que nos isola e nos entristece. Nunca faltará a alegria da santidade que inebria a nossa vida, mas sempre uma tentação que nos persegue pela força do inimigo para que a gente pare, para que a gente caia, e para que a gente se entristeça. Portanto, somos sustentados por vocês, pela oração de vocês, pelo testemunho de vocês”, disse.
“Vejam neste frade, que agora será ordenado, o irmão que lhes indicará o caminho da vida, mas ao mesmo tempo vejam nele um filho que precisa de acalento, um filho que precisa de profundo cuidado, um filho que precisa de oração para que não desista mas para que entregue a vocês aquilo que ele mesmo recebeu e, com vocês pelo serviço a todos, principalmente aos pobres, realizar a obra que agora vemos realizada como primeiro momento, para que ele possa entregar no último a vida que Deus lhe deu e, ao mesmo tempo, o ministério que Deus lhe confiou”, pediu.
O bispo, então, concluiu: “Seja feliz meu irmão, porque um padre triste é um triste padre. Alegre a vida dos outros. Não perca tempo com pseudoproblemas, mas olhando o que é essencial e, vendo a graça de Deus em sua vida, a transmita a todos irmãos e irmãs pela força, pela graça, pelos dons que nos vêm pelo Espírito Santo”.
Na continuidade do rito, durante o propósito do eleito, diante da Igreja e no diálogo com o bispo, Frei Alan disse sim ao ministério presbiteral, suas funções e seu modo de vida. Então, ele se prostrou ao chão, como sinal de total entrega a Deus, enquanto Frei Felipe Carreta iniciou a Ladainha de Todos os Santos.
O momento central da ordenação aconteceu com a imposição das mãos, um gesto de tradição bíblica e apostólica, e a prece da ordenação. O bispo e todos os presbíteros impuseram as mãos sobre Frei Alan, a fim de que o Espírito Santo possa iluminar e renovar o seu coração no serviço a Deus em favor de todo o povo de Deus.
Acolhido entre os presbíteros, Frei Alan foi revestido com as vestes litúrgicas, trazidas pela Tia Laurita e o tio Carlinhos. Frei Ivo Müller e Frei Edrian Pasini ajudaram o neopresbítero a retirar as vestes de diácono e a colocar a estola, sinal de seu serviço, e a casula, a veste própria do pastor.
A Tia Laurita e o tio Carlinhos receberem a primeira bênção do neopresbítero, que foi acolhido, então, com um abraço pelos presbíteros, com quem dividirá o ministério, e pelos confrades presentes, com quem ele faz a sua caminhada no seguimento de Jesus Cristo, nos passos de Francisco.
Ordenado, Frei Alan concelebrou no altar, quando teve início a Liturgia Eucarística. As oferendas do Pão e Vinho, sobre o altar, foram apresentadas juntamente com a oferenda da vida e vocação de Frei Alan, que celebrou pela primeira vez como presbítero.
Na sua fala, Frei Alan disse que agradecia a Deus “por ter me concedido, pela força do seu Espírito, a graça de poder servir a Ele e a Igreja de Jesus Cristo”. Depois, agradeceu a Dom Gregório, ao Ministro Provincial, a Frei Fidêncio Vanboemmel, que o batizou, e aos familiares. “Gostaria de mencionar aqui meus avós, em particular minha avó Minervina, que me criou como um filho, minha tia avó Augusta, duas mulheres de grande fé. E meu pai, que nos deixou no Natal do ano passado. Sei que do céu eles se alegram comigo e intercedem por mim”, emocionou-se.
Agradeceu os leigos das paróquias onde trabalhou e a todos que vieram “de longe e de perto”. Agradeceu aos Pe. Lucas e ao Frei Jorge Schiavini e aos paroquianos das Paróquias São Judas Tadeu da Mosela e Sagrado Coração de Jesus. Agradeceu a Frei Marcos Andrade e ao maestro Lischt e o Coral dos Carinhos, os frades, seminaristas e o Serviço de Animação Vocacional da Província.
“Escolhi por lema ‘Santifica-o pela verdade’. Que minha vida e meu ministério sejam de tal modo verdadeiros que possam agradar a Deus e que, cada vez mais, eu tenha largueza de coração e seja um sacerdote como nas palavras de nosso Pai São Francisco: ‘Que vive retamente segundo a forma da Igreja Romana’. Que pela intercessão de Maria Santíssima, Rainha dos Menores, nosso Pai São Francisco, nossa Mãe Santa Clara e de São Pedro Alcântara, padroeiro desta Catedral, a minha vida possa ser um sacrifício de louvor agradável ao Deus Altíssimo, em Jesus Cristo”, pediu.
Atualmente, Frei Alan reside em Curitibanos (SC), onde é guardião da Fraternidade e auxilia na Paróquia Imaculada Conceição e nas rádios pertencentes à Fundação Frei Rogerio.
Frei Alan vai celebrar a Primeira Missa neste domingo, às 11 horas, na Paróquia São Judas Tadeu, na Mosela, em Petrópolis.
Frei Roger Strapazzon (fotos) e Moacir Beggo
Primeira Missa
Petrópolis (RJ) – O Domingo de Pentecostes (05/06) de 2022 ficará marcado para a história da Paróquia São Judas Tadeu, no bairro Mosela, em Petrópolis (RJ). A simbólica e solene liturgia proposta para este dia ganhou um sentido ainda mais especial: a “primeira missa” ou primeira presidência de uma Celebração Eucarística realizada por Frei Alan Leal de Mattos, ordenado presbítero no dia anterior (04/06) na Catedral São Pedro de Alcântara da referida cidade.
A Celebração Eucarística foi preparada com muito carinho, desde os cantos até a ornamentação. Além disso, o outono petropolitano também brindou os participantes com um clima ameno e agradável, de céu azul, deixando a manhã de domingo ainda mais envolvente. Por isso, com esta atmosfera, o pároco da referida paróquia, padre Lucas Thadeu da Silva, acolheu a todos ao início da celebração afirmando que “é com muita alegria que nós acolhemos o Frei Alan, filho desta comunidade de fé, filho de nossa paróquia. Ele que aqui foi batizado, celebrou tantas vezes a Eucaristia com a comunidade participando ativamente, aqui dando os primeiros passos na fé, hoje retorna para que neste mesmo altar presida a Eucaristia. Queremos também acolher todos os irmãos franciscanos na pessoa de Frei Paulo Roberto Pereira, ministro provincial. A nossa paróquia tem uma história franciscana, e por isso, para nós, recebê-los é motivo de grande alegria. Por isso celebremos este dia de Pentecostes e elevemos a Deus uma prece agradável por tudo aquilo que Ele faz em nossas vidas”.
Após a Proclamação do Evangelho, Frei Jeâ Paulo Andrade, do Serviço de Animação Vocacional da Província Franciscana, lembrou a todos um costume: “Na primeira missa de um frade recém-ordenado presbítero, ele convida um outro padre para fazer a homilia. Frei Alan escolheu padre Luís Garcia Melo, primeiro pároco desta paróquia”.
Padre Luís fez uma homilia simples e profunda, cativando a todos, pois com sua experiência partilhou com Frei Alan conselhos e reflexões sobre o presbiterado. Ele iniciou lembrando o Salmo 42, versículo 4: “Subirei ao altar de Deus, de Deus que alegra a minha juventude!”. Com esta frase brincou que ele mesmo já não está tão jovem, mas que aquele que serve a Deus permanece sempre jovem, uma vez que está oferecendo o melhor de si ao Senhor. E, a partir dessa proposta, lembrou a frase do escritor tcheco Franz Kafka: “Quem mantém a capacidade de ver a beleza, nunca envelhece”.
Assim, como de um pai para um filho, o presbítero convidado para a homilia afirmou que Frei Alan precisa manter sempre em sua recordação os dias fortes que viveu com a sua ordenação e primeira missa. “Segure na lembrança estes momentos de tanta beleza. Que além de guardar sua juventude, te ampararão nos momentos de fraqueza. E por isso lembro uma frase de um franciscano capuchinho, Ignácio Larrnãga, que afirmou: ‘Segure os momentos fortes, que os momentos fortes te segurarão nos momentos de fraqueza’. E esta é a lógica do amor, do prisioneiro pelo amor, daquele que se deixou seduzir e por isso não tenha medo, pois o Senhor que nos revestiu com seu Espírito é fiel: sempre estará conosco”.
Além disso, Padre Luís afirmou que a Eucaristia é o grande modelo de entrega: “Corpo dado, sangue derramado. Quando permaneço com Ele e dou a minha vida unida à D’Ele, eu também sou corpo dado. E quando nos tornamos prisioneiros deste Amor, ouvimos de Jesus: já não vos chamo servos, chamo-vos amigos. Amigos que experimentam a verdadeira liberdade dos autênticos Filhos de Deus, experimentando a eterna juventude”.
E como conselho a Frei Alan, Padre Luís o convidou a nunca se afastar do amor experimentado no seu encontro com Jesus. E para demonstrar a importância desta perseverança, ele contou uma história: “Um músico foi se apresentar num programa de calouros. Eu, que estava assistindo como leigo, achei que ele se apresentou belamente. Quando abriram a palavra aos jurados, um deles afirmou ao músico: ‘se você deixar de tocar um dia, você percebe a diferença. Se você deixar de tocar dois dias, os entendidos percebem. Se você deixar três dias, o público percebe’. Frei Alan, não podemos deixar de viver um só dia sem esta oferta de amor ao Senhor, ao povo. Estar sempre afinado. Basta a cada dia seu cuidado. Cada dia ver este amor fluir em nosso coração e em nossos lábios, pela celebração constante da Eucaristia”.
Ao final da homilia, ambos os presbíteros se abraçaram num gesto de comunhão fraterna enquanto a assembleia aplaudiu efusivamente esta bonita amizade que surgiu na fé. A celebração continuou com os ritos de costume. Após a comunhão, Frei Neuri Francisco Reinisch, representando a Frente de Comunicação da Província Franciscana e a Paróquia São Pedro Apóstolo de Pato Branco (PR), fez sua homenagem a Frei Alan afirmando “Obrigado pelo seu sim, que Deus lhe abençoe e ilumine. Estar participando deste momento importante para você é uma grande alegria. Ele é importante não só para você, mas para a comunidade, para onde você for”. E o frade encerrou sua fala convidando um casal de paroquianos da paróquia do Sudoeste do Paraná para entregar a frei Alan um presente.
Em nome da Paróquia anfitriã da celebração, Solange Zimbrao, também proferiu algumas palavras a Frei Alan. Inicialmente ela recordou de forma breve a sua caminhada de fé. Em seguida, lembrou um trecho da homilia de cada dia do tríduo em preparação para a Ordenação Presbiteral, fazendo a comunidade perceber que toda a caminhada feita foi um momento intenso de reflexão e animação. Por fim, afirmou: “Obrigada pelo seu sim, que a Virgem Santíssima, São Judas Tadeu e o Pai Francisco, como tão carinhosamente vocês os chamam, intercedam por você. Evangelize com a própria vida e, se preciso for, use palavras!”. E encerrando sua homenagem, a comunidade entregou presentes a frei Alan.
Findando e coroando as homenagens, Frei Paulo Roberto Pereira, emocionou a todos. Primeiramente provocou uma calorosa salva de palmas da Assembleia quando agradeceu aos irmãos e irmãs envolvidos em toda a preparação da ordenação, missão e tríduo. “A bondade do Senhor reservou para nós celebrarmos Pentecostes com o dom da vida ministerial de Frei Alan e de toda a Igreja. Os dons do Espírito Santo forjam a Igreja, enviam a Igreja em missão. Por isso quero agradecer aos missionários que nesta semana foram a Igreja enviada pelo Espírito”.
E falando ao neo-presbítero, com voz embargada, recordou que “a vida pessoal do Alan reservou para a ele a possibilidade de ter diversas mães, e este jeito de ser maternal, cuidadoso, ele já está vivendo lá em Curitibanos [a fraternidade onde o frade é guardião, na serra catarinense]. Cuidando do Frei Pedro [Caron] já em idade avançada. E o Alan vai lá onde ele está. Leva o remédio, leva o Pedro para tomar café, coloca o Pedro na cama. E vai no dia seguinte acordá-lo dizendo: ‘frei, está na hora!’. Esse jeito maternal, cuidadoso, deverá ser parte do seu presbiterado, do seu sacerdócio, que é a marca da Igreja: cuidar do mais frágil com jeito de mãe. Muito obrigado!”.
Após a celebração, Padre Lucas convidou a todos os presentes para um delicioso almoço. Na confraternização não faltou alegria e sentimento de gratidão pelos dias transcorridos de celebrações e missões.
Frei Gabriel Dellandrea (texto) e Frei Roger Strapazzon (fotos)
Entrevista
A cidade de Petrópolis, que celebrou no ano passado 125 anos de presença franciscana, vai ver um dos seus filhos se tornar presbítero no próximo dia 4 de junho, Frei Alan Leal de Mattos será ordenado pelas mãos do bispo diocesano de Petrópolis, Dom Gregório Paixão, OSB, na Catedral São Pedro de Alcântara, às 10 horas. Frei Alan vai celebrar a Primeira Missa no dia seguinte, às 11 horas, na Paróquia São Judas Tadeu, na Mosela, em Petrópolis.
Natural de Petrópolis (RJ), onde nasceu no dia 19 de novembro de 1986, Frei Alan ingressou no Aspirantado São Francisco de Assis de Ituporanga (SC) em 2010 e vestiu o hábito franciscano no dia 12 de janeiro de 2012, em Rodeio (SC), onde fez a primeira Profissão no dia 3 de janeiro de 2013. Concluiu o curso de Filosofia em 2015. Fez o Ano Missionário no Convento da Penha, em Vila Velha (ES) e na Paróquia Santa Clara em Colatina (ES), em 2016. Concluiu o curso de Teologia em 2020. Em 19 de dezembro do mesmo ano foi ordenado diácono na Igreja do Sagrado Coração de Jesus em Petrópolis (RJ). Em 2021 foi transferido para Pato Branco (PR) a serviço da evangelização junto à Paróquia São Pedro Apóstolo e às rádios e TV pertencentes a Fundação Cultural Celinauta. Desde 2022 reside em Curitibanos (SC), onde é guardião da Fraternidade e auxilia na Paróquia Imaculada Conceição e nas rádios pertencentes à Fundação Frei Rogerio.
Site Franciscanos – Frei Alan, conte um pouco de sua história de vida?
Frei Alan – Falar de si é sempre um desafio, mas vamos lá. Eu nasci em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Fui criado na casa de meus avós, Minervina e Pedro, junto com uma prima chamada Aline. Morávamos, nós e mais minha tia Tânia, mãe de minha prima e, de certo modo, minha mãe também. Minha mãe Sônia morava também em Petrópolis e não muito longe da casa de meus avós.
O ambiente em casa era muito religioso. Até minha primeira Eucaristia me recordo de todos irmos à Missa dominical. Mas quando cheguei na adolescência, me afastei da fé. Algumas vezes participava no grupo de jovens por que era requisito para poder jogar bola na quadra da comunidade. Coisas de adolescente.
O ambiente familiar passou a ser menos coeso com diversos parentes passando a frequentar outras denominações cristãs. Mas o respeito e a convivência sempre se mantiveram. Uma das tradições que guardo com alegria no coração era a de toda a família se reunir no Natal para a ceia da véspera. Apesar das diferenças, nos reuníamos para celebrar e rezar como família o nascimento de Cristo, nosso Senhor.
Eu era muito aplicado nos estudos e também gostava de jogar vídeogame com os amigos. Durante a juventude fiz alguns amigos que mantenho até hoje. Alguns eram bem participativos nas suas comunidades. Isso chamava minha atenção e contribuiu para o meu retorno à Igreja.
Com a vida aparentemente encaminhada, afinal estava quase me formando na faculdade, trabalhando no setor de tecnologia da informação de uma faculdade, tudo parecia estar no seu curso normal. Mas, eu comecei a sentir que faltava algo e comecei a me perguntar o que seria. Após conversas com um amigo meu, chamado Felipe, que era ministro da Eucaristia, eu percebi que era da vivência na comunidade de fé e resolvi retornar a participar das missas na Paróquia do Sagrado e também na minha comunidade de São Judas Tadeu.
Um pouco depois, fiz o curso de catecumenato para receber o Sacramento da Confirmação. Foi durante esse curso que se iniciou meu discernimento vocacional.
Site Franciscanos – Fale mais sobre esse discernimento vocacional?
Frei Alan – Eu nunca havia antes na minha vida pensado na Vida Religiosa Franciscana. Parecia algo distante das minhas capacidades. Mas, durante o curso do catecumenato um dos frades estudantes que acompanhavam o curso me perguntou se eu não gostaria de ser frade. Minha resposta imediata foi: ”Deus me livre! Essa vida não é para mim”. Mas, confesso que a pergunta permaneceu ali como uma possibilidade.
Depois de um tempo, após ter recebido o Sacramento da Confirmação, numa Missa dominical, um frade estudante deu um testemunho de sua história vocacional. Era meu conterrâneo, Frei Gustavo Medella. E, ao ouvir a sua história, decidi dar um passo adiante e conhecer melhor a vida de frade.
Site Franciscanos – Ali você sentiu que queria ser frade franciscano?
Frei Alan – Ser franciscano me encantou, em primeiro lugar, pela pessoa da São Francisco. Difícil achar alguém que não se encante com a história desse grande homem. Tudo que ele viveu e como ele viveu foram de uma intensidade tão grande que parece que nos arrasta para dentro desse mistério de Deus que ele queria conhecer e amar. Mas um outro aspecto me fez escolher a forma de vida franciscana: a vida fraterna. Recordo vivamente que durante o tempo de vocacionado participei das celebrações do Transitus de São Francisco na Paróquia do Sagrado e naqueles dias, nós, vocacionados, também participamos das celebrações internas dos frades. E eu fiquei encantado com a diversidade de frades, cada uma na sua singularidade, mas reunidos em torno de um mesmo propósito: viver a vida evangélica vivida por São Francisco. Isso para mim foi decisivo e muito marcante. E para essa vida é como o tesouro escondido do Evangelho. Deixamos tudo, vendemos tudo o que temos para possuir esse dom inestimável.
Site Franciscanos – Depois de tantos anos de estudos, você está prestes a ser ordenado presbítero. Fale-nos como está essa expectativa.
Frei Alan – Pra ser sincero, está uma mistura de sentimentos. Serenidade, calma, agitação, alegria, apreensão, etc.
Acho que isso se dá devido à grandeza do que me é confiado pela Igreja. Como diz São João Crisóstomo, os sacerdotes são os oficiantes dos maiores dons de Deus e isso constitui uma grande responsabilidade diante de Deus e da Igreja. Mas, ao mesmo tempo, sei que isso não depende da minha capacidade. Antes de tudo, Deus nos auxilia com a sua graça e, o que me deixa mais tranquilo, tenho a Fraternidade Provincial que me acompanha com as suas orações e conselhos para exercer esse ministério com a dignidade que ele exige.
Site Franciscanos – O que é ser frade presbítero para você?
Frei Alan – Quando penso no presbítero franciscano, a primeira coisa que me vem à mente é a Carta a toda Ordem de São Francisco que diz aos irmãos sacerdotes que todo o querer deles deve ser ordenado para Deus. Buscar antes a vontade de Deus que a minha, dentro do ministério que me é confiado. E isso é difícil, porque é muito fácil confundirmos nossas necessidades, desejos e aspirações como “vontade de Deus”.
São Francisco percebe isso e, mais à frente na carta, diz que nada se deve reter para si mesmo, mas deve-se fazer uma doação total de si mesmo a Deus para poder receber aquele que é doação sem limites. Creio que ser presbitério franciscano é permear sua vida com o esvaziamento, a exemplo de Cristo, para que o nosso amor, reverência e adoração estejam de acordo com o mistério que celebramos.
Site Franciscanos – Há espaço para o carisma franciscano no mundo de hoje?
Frei Alan – Creio que mais do que espaço, haja uma necessidade do nosso carisma hoje. As váris relações : família, trabalho, amizades etc. se tornaram frágeis por conta das diversas situações sociais e também devido aos anos de pandemia que vivemos.
Dar espaço para conhecer as razões do outro, perdoar o outro, não fazer das distinções muros intransponíveis, mas aprender a lidar com elas de modo sereno, construindo pontes é simplesmente viver a fraternidade como São Francisco a viveu. A contribuição do nosso carisma está nessa necessidade de nosso mundo de nos percebermos novamente como irmãos, de enxergamos o outro a partir do mistério de que somos irmanados em Cristo Jesus e reaprendermos a amar como nosso Senhor nos ama.
Site Franciscanos – Vale a pena ser religioso franciscano? Deixe uma mensagem para os jovens que querem conhecer o carisma franciscano.
Frei Alan – Uma coisa que eu sempre digo para mim e quando tenho a oportunidade para os demais é que ser frade não vale somente a pena, mas vale a vida toda. É uma vida pela qual eu sinto felicidade em “gastar” minha vida. Ser frade, viver a vida que o bem-aventurado Francisco viveu pode parecer difícil. Mas uma coisa eu tenho certeza é que os jovens não desejam uma vida fácil, cômoda, mas desejam o desafio. A vida Franciscana é o maior desafio que já tive na vida. Viver o Evangelho é uma aventura pela qual vale a pena se doar inteiramente.
E mesmo que todo desafio tenha a sua dificuldade, suas lutas, eu posso dizer: se você, jovem, acha que é possível que Deus tenha te chamado a viver o carisma de Francisco, não tenha medo. Dúvidas, questionamentos, desânimo, todas essas coisas nós todos, frades, vivemos em algum momento. Isso é humano, faz parte de quem nós somos. Mas a graça do Deus Altíssimo nunca nos abandona. Em meio às nossas fragilidades resplandece a força do Altíssimo que brilhou e continua a brilhar em Francisco, Clara, Antônio e tantos outros e que nós também, hoje, desejamos levar essa luz ao nossos irmãos e irmãs. Venha viver essa vida Franciscana também conosco!
Entrevista a Moacir Beggo