Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Teologia do amor de Deus no Dia das mães

10/05/2012

Por Frei Jacir de Freitas Faria, OFM (*)

I. INTRODUÇÃO GERAL

Hoje, dia das mães, é dia de falar do amor; amor de Deus e amor de mãe. As leituras de hoje nos oferecem pistas para a vivência do amor fraterno, divino, maternal e solidário. O amor existe somente em função do outro. Pedro, judeu e seguidor de Jesus, entende que o amor salvífico de Deus é também para os pagãos. Já Jesus declara amor pelo seu Pai, Deus, quem nos criou e nos convoca a amar uns aos outros, sendo Ele o amor. Tudo isso veremos nas leituras de hoje.

Amor não é questão abstrata, mas experiência de vida que vem de Deus, de Jesus e de nossas mães. O amor de Deus por nós se concretizou na presença de seu Filho encarnado. Já “o amor de mãe envolve muitos sentimentos. A mãe está no filho que chora, ri, briga, apanha, vence, sonha, perde, se frustra… A mãe está em todas as fases de sua vida. Ser mãe é viver a vida em etapas, nas etapas da vida do filho. O filho é quase uma extensão da mãe” (Cf. Faria, Jacir de Freitas, História de Maria, mãe e apóstola do seu filho, nos evangelhos apócrifos, 2. ed., Petrópolis: Vozes, 2006, p. 11).

II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS

I leitura (Atos 10,25-26.34-35.44-48): Pedro toma consciência de que a salvação não é somente para os judeus. O judeu é chamado a amar o seu próximo. 

Lucas, relatando, em Atos dos Apóstolos, a visita de Pedro ao centurião da corte itálica, em Cesareia, descreve um passo decisivo na conversão de Pedro, quem defendia zelosamente a adaptação dos valores da fé judaica ao cristianismo. Pedro defendia que o não judeu, ao abraçar a fé cristã, teria que fazer a circuncisão. Cornélio, o pagão que se tornara um temente a Deus, simpatizante do judaísmo, homem de oração e de esmola, pediu a Pedro que fosse à sua casa. O encontro dos dois foi marcado pela prostração de Cornélio diante de Pedro, gesto que evidenciou, na pessoa de Pedro, a presença de Deus. Pedro refuta tal atitude, afirmando que ele era apenas um homem. Cornélio e sua casa, representantes da gentilidade, se encontram com Pedro. Nesse momento, ocorre a declaração pública de Pedro de sua conversão: “Dou-me conta, em verdade, de que Deus não faz acepção de pessoas, mas que, em qualquer nação, que o teme e pratica a justiça, lhe é agradável” (v.34-35).  Numa via de mão dupla, a família de Cornélio se deixa catequizar por Pedro e o catequista Pedro se deixa catequizar pelos seus catequizandos.

A visão que Pedro teve em Jope (At 10,9-16) e o encontro com Cornélio selaram, definitivamente, a sua mudança de posição. Nesse contexto de aproximação dos gentios e mudança de mentalidade de Pedro, o Espírito Santo desce sobre todos os presentes, na maioria, não judeus. Esses começam a falar em línguas e a louvar a Deus. Pedro, não tendo dúvida dos fatos, pede que pagãos fossem batizados em nome de Jesus.

Os fatos ocorridos acima demonstraram a sabedoria dos apóstolos em levar a fé em Jesus a todos os povos. Para além das mesquinharias da fé judaica, o cristianismo de Jesus ressuscitado ganhou novos adeptos e se expandiu mundo afora. Caso Pedro tivesse se mantido nos preconceitos de raça, religião e pureza ritual de seu povo, o cristianismo teria se tornado uma dentre as tantas religiões que já sucumbiram na história da humanidade.

 

Evangelho (João 15,9-17): Jesus nos escolheu para Nele permanecer no amor

O evangelho de hoje é a continuidade do domingo anterior, a parábola da videira e seus ramos. Amar é a chave de interpretação de Jo 15,9-17. Jesus ama sua comunidade, assim como Deus o amou. A comunidade é chamada a permanecer no amor, guardar os mandamentos, amar uns aos outros. Jesus deu a vida por amor e isso devia ser o combustível que haveria de mover a comunidade. Nada menos que nove vezes aparecem amar e amor no texto, o que prova a centralidade dessa temática.

O verbo amar e seu substantivo amor são largamente utilizados no cotidiano de nossas vidas. Muitas vezes, eles chegam a ser banalizados. Quantos casais iniciam sua vida conjugal chamando o(a) parceiro(a) de ‘meu amor’, bem como de seu correlato, ‘meu bem’. Amor/amar é um bem precioso que poucos de nós conseguimos vivenciar de forma eficaz. Na relação marital, o que vemos, infelizmente, é que, com o passar dos anos, a máxima ‘meu bem’ se transforma em ‘bem longe’. ‘Meu amor’ em ‘meu pesadelo’. Toda relação, se não for refeita sempre, acabará perdendo o seu encantamento. Amar é um caminho sempre aberto, apesar de a estrada ser sempre a mesma e, por mais batida que ela seja, ela precisa ser reaberta sempre. A arte de amar no casamento consiste em acreditar sempre, perdoar sempre, encantar-se sempre com o projeto de vida selado. De um casal é dito também que eles são cônjuges, termo que deriva de canga, instrumento utilizado no mundo agrário para atrelar os bois no serviço do arado. Em outras palavras: quando duas pessoas diferentes resolvem unir-se em matrimônio, elas colocam sobre seus pescoços uma canga. É como se dissessem: vamos caminhar juntos no mesmo projeto, apesar das nossas diferenças. O amor é exigente, quase como uma canga.

Fazendo uso do simbolismo do casamento, entendamos o que Jesus, no evangelho de hoje, tem a nos dizer sobre o amor eterno que foi estabelecido entre ele, o Pai e a comunidade. Vários pontos são estabelecidos nessa relação amorosa: a) observar os mandamentos de Deus que Jesus mesmo havia seguido. Esses mandamentos são todos aqueles que possibilitam uma relação justa entre as pessoas, concretizadas em obras libertadoras. Ninguém é escravo de ninguém. Deus não nos criou para sermos explorados. É assim na relação matrimonial e na sociedade. Quando o parceiro oprime e trai o outro, a amor deixa de existir; b) viver na alegria. Solidariedade e respeito na vida comunitária nos dão frutos de alegria; c) observar o mandamento. Antes, no texto, mandamento foi usado no plural, agora é expresso no singular para ressaltar a sua importância: amar uns aos outros. A consequência dessa opção nos leva a sacrificar, a dar a vida por quem amamos. Ademais, nos tornamos amigos, confidentes e parceiros em um único projeto. A morte de Jesus na cruz foi o testemunho claro dessa sua fala. A comunidade que nasce dessa relação amorosa com Jesus não se torna o seu servo, agindo por comandos e ordens, mas é amiga e colaboradora no projeto do reino. A vida familiar também é assim: um projeto de vida comunitário. Jesus escolhe a comunidade para ser sua amiga e parceira (v.16).

Duas conclusões se impõem da relação entre Jesus e a comunidade: produção de frutos e o recebimento de Deus de todos os pedidos feitos. “Amai-vos uns aos outros”, essa é chave de leitura da vida amorosa, ensinada por Jesus.

II leitura (II João 4,7-10): Deus nos amou enviando seu Filho e nos convidando a viver o amor solidário

A primeira carta de João nos apresenta, na leitura de hoje, uma raridade teológica do amor divino. Ela se liga ao evangelho e ao dia das mães. Mãe é sinal de amor. Deus é amor e, também, pai e mãe de todos nós. Ele nos deu a vida e um Filho que, qual uma mãe, doou a sua vida por todos nós. Tudo em nossa vida depende do amor. Sem amor, sem Deus, sem mãe, nenhum de nós existiria. Mãe e Deus não se dão a conhecer teoricamente, mas pela prática do amor. “Amar é entregar-se, como a mãe, em tantas noites mal dormidas, para acalentar o filho e fazê-lo crescer. Ser mãe não é padecer no paraíso, mas é amar e aceitar os limites da vida. É viver no paraíso da vida, aqui e ainda não, no mistério de Deus que se encarnou no meio de nós no seio de uma mulher, Maria-Mãe, que reverenciamos nesse mês de maio. Ser mãe é não ter armas para atirar contra o filho, pois o amor a desarma sempre. Mãe é aquela que impõe limites ao filho, pois a sua experiência lhe ensinou que o mundo tem limites. O filho tem que aprender a lição cedo, pois senão o mundo o devorará violentamente. E quantas mães sofrem por saber que, apesar de terem ensinado esta lição ao filho, a droga do mundo o tragou” (Cf. Faria, Jacir de Freitas, História de Maria, mãe e apóstola do seu filho, nos evangelhos apócrifos, 2. ed., Petrópolis: Vozes, 2006, p12).

Ser como Deus-Mãe, que nos carrega na palma de sua mão, é vivenciar o amor solidário com o outro, nas suas angústias e nas lutas por melhores dias, por justiça social. Portanto, sigamos o eterno conselho da comunidade joanina: “amemo-nos uns aos outros, pois o amor é de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus” (v.7).

III.  PISTAS PARA REFLEXÃO

Demonstrar as dificuldades da igreja do passado, que acabou vestindo a casaca do judaísmo, dos preceitos e dos ritos. Igreja que ainda hoje se vê mergulhada em preconceitos, moralismo e regras, o que impede a expansão das propostas do reino. Ligar essa questão com a catequese que Pedro realizou na casa de Cornélio, a qual possibilitou a todos o entendimento e o crescimento na nova religião abraçada por eles. Nessa mesma linha, perguntar pelo modo como a catequese é aplicada na comunidade.

Perguntar pela experiência de amor vivida pela comunidade e pelo exemplo das mães. Fazer uma correlação do amor de Deus, da comunidade e o das mães.

Demonstrar que o amor solidário/social exige de nós o compartilhar com os que nada têm e a lutar pelo fim das injustiças sociais.

Frei Jacir de Freitas Faria, OFM é Padre franciscano, escritor, mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, de Roma, especialista em evangelhos apócrifos, professor de exegese bíblica no Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA, em Belo Horizonte e em cursos de Teologia para leigos. Autor de uma centena de artigos. Autor e coautor de quinze livros, sendo o último: Infância apócrifa do menino Jesus. Histórias de ternura e travessura. Petrópolis: Vozes, 2010. Diretor Geral e Pedagógico dos Colégios Santo Antônio e Frei Orlando, ambos em Belo Horizonte.
Veja mais: www.bibliaeapocrifos.com.br
Free Download WordPress Themes
Download Premium WordPress Themes Free
Free Download WordPress Themes
Download Best WordPress Themes Free Download
download udemy paid course for free
download karbonn firmware
Free Download WordPress Themes
lynda course free download