Cardeal Sérgio da Rocha
“Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor” é o tema belo e desafiador da Campanha da Fraternidade, que se inicia com a Quaresma. A Campanha da Fraternidade não se restringe ao âmbito das comunidades católicas, pela sua finalidade e natureza dos temas abordados, que exigem reflexão e ação conjunta. Por isso, tem contado com a participação de entidades da sociedade civil, escolas, universidades, órgãos públicos e Igrejas cristãs. Neste ano, pela quinta vez, a Campanha da Fraternidade é assumida pelo CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), sendo, portanto, de caráter ecumênico. Não se trata de uma Campanha sobre ecumenismo, mas que representa uma importante iniciativa ecumênica.
O lema da Campanha da Fraternidade, sempre extraído da Bíblia, ilumina e orienta a reflexão e ação. Neste ano, é “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”, extraído da Carta de São Paulo aos Efésios (Ef 2,14a). Embora a temática da Campanha seja vivida além da Quaresma, ela tem acontecido de modo especial durante o período quaresmal. Uma das principais exigências da espiritualidade quaresmal é justamente o amor fraterno, com suas várias expressões.
A Campanha não se restringe ao âmbito das celebrações ou orações, nem mesmo do estudo ou reflexão, embora sejam muito importantes. Ela deve ser concretizada através de iniciativas pessoais e comunitárias que promovam a vivência da fraternidade nas diversas situações e ambientes, contribuindo para a construção de uma sociedade alicerçada no amor, na justiça e na paz, segundo o querer de Deus. A fé cristã não pode ser vivida apenas na esfera privada, nem ficar restrita ao interior dos templos; deve ser vivida e testemunhada na sociedade: na política, na economia, na cultura, nas periferias e centros urbanos, dentre outros. Os cristãos são chamados a ser “sal da terra” e “luz do mundo”, segundo as palavras de Jesus.
Os graves problemas sociais e desafios pastorais exigem muito diálogo, convivência fraterna e ação conjunta. Os cristãos podem encontrar no campo da caridade, da justiça e da paz, um espaço privilegiado para a vivência da unidade desejada por Cristo. São chamados a testemunhar a “fraternidade sem fronteiras”, que o Papa Francisco enfatizou na encíclica “Fratelli Tutti”, cultivando o diálogo respeitoso e fraterno entre as pessoas, nas comunidades, entre as Igrejas cristãs e outras confissões religiosas, na sociedade. Necessitamos superar a agressividade, os conflitos e a violência e construir uma cultura de diálogo e respeito. Esperamos que esta campanha da fraternidade ecumênica nos ajude a dialogar mais, a conviver de modo respeitoso, a unir as forças para amar e servir, especialmente quem mais sofre com a pandemia.
Cardeal Sergio da Rocha, Arcebispo de Salvador (BA) e presidente da CNBB de 2015 a 2019 (artigo publicado no site da CNBB).