Julho 2018
- JULHO 2018
- I. PRA COMEÇO DE CONVERSA
- II. UMA REFLEXÃO
- III. COMEMORANDO
- IV. PEQUENA ANTOLOGIA DE TEXTOS SELETOS
- V. UMA PRECE QUE NÃO PARECE UMA PRECE
JULHO 2018
Mais uma edição de nossa revista “Tirando do Baú”. Ela chega às telas de todos ainda no tempo festivo da Copa do Mundo. Será que sabemos celebrar, sobretudo nas cidades? Nosso número festeja e exalta o tema da amizade. A 20 de julho ocorre o Dia do Amigo. Que palavra doce! Em julho se celebra o dia dos avós, a festa de Joaquim e Ana, traze,ps um bela página de um diário de um franciscano idoso. Reinventando a vida a cada e tirando do baú da vida coisas novas e velhas.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
I. PRA COMEÇO DE CONVERSA
Saber celebrar… Saber festejar
“Aquele que celebra não é impotente. Torna-se um criador porque é um amante”
Gostamos de estar juntos. Gostamos de dançar juntos. Gostamos de fazer coisas bonitas e divertidas. Gostamos de rir daquilo que fizemos. Gostamos de pôr cores vivas nas paredes – e em nós mesmos. Gostamos de nossas pinturas que são malucas. A celebração é maluca: a maluquice de não nos submetermos, ainda que “eles”, os “outros”, aqueles que tornam a vida impossível, parecem ter todo o poder. A celebração é o começo da confiança, portanto do poder
(Thomas Merton, Amor e Vida, Martins Fontes, p. 56-57).
A festa faz parte da vida. Em todas as culturas e religiões sempre se deu lugar importante a esses dias, espaços, momentos em que quebra-se a mesmice do cotidiano, desligam-se as antenas dos compromissos pesados. Faz-se a memória dos feitos belos e grandiosos que marcaram nossas trajetórias pessoais e sociais. A festa tem a ver com um justo ócio, um merecido descanso. Na vida não basta apenas trabalhar. É preciso dormir até mais tarde, andar descalço dentro de casa, pisar descalço na grama abrir as janelas e contemplar as nuvens dançando nos espaços com olhos limpos, em êxtase. Não somos peças de uma máquina.
Nesses meses de junho e julho vivemos um clima de jubilosa alegria. Penso na atmosfera gerada pela Copa de Futebol realizada na Rússia…Quem diria? A Rússia, país cheio de desejos de dominação, que amedrontava o mundo foi palco de um espetáculo esfuziante. Os belos estádios, jogadores do mundo inteiro, festa, jogadores empenhados na busca do êxito. Êxito, fugaz é verdade. Teoricamente um mês de confraternização nas ruas, cidades e estádios. Cores das bandeiras dos países, sol e vida, originalidade dos uniformes dos jogadores. Em casa e nas ruas a televisão ligada o tempo todo com movimento dos torcedores nas arquibancadas… Nosso rosto andou descontraído.
Os petropolitanos, nesta mesma época, vivemos dias de festa, mais uma vez, com a passagem do dia do colono alemão, a 29 de junho: desfiles, danças, vestes da época, gente, muita gente, barracas de comidas em todos os cantos, ônibus fretados, um sem número de vans e a cidade era toda sorriso. Os visitantes ficaram perto do verde e contemplaram os manacás da terra explodindo em flores. Bebida, cerveja, muita cerveja, cerveja demais. Afinal, de contas…dá para compreender. Festa. Faz parte da festa comer e beber…Não continuo no meu embalo…Não quero ser propagandista de um produto que, não bebido sem moderação, pode ser catastrófico. Mas faz parte da festa, lembrando os colonos alemães, faz parte dos festejos os canecões de cerveja.
Festa, momentos de lazer nas grandes cidades. Aos domingos há uma multidão de pessoas caminhando pelo Aterro do Flamengo e Avenida Atlântica no Rio de Janeiro. Os carros não circulam e a cidade se torna espaço de lazer… crianças correndo, carrinhos de algodão doce, ciclistas, gente tomando sol nas areias da Princesinha do mar. Festa na cidade. O mesmo acontece na famosa Avenida Paulista que se torna salão engalanado para os pedestres. Podemos fazer festa na cidade.
Damos novamente a palavra a Thomas Merton. Ele escreve a respeito das cidades antigas da América que eram espaços de celebração, de alegria, do culto, do jogo, do louvor. Nossas cidades são diferentes. Palavras duras e palavra de esperança:
“Não somos maias nem zapotecas pré-clássicos. Não construímos nossa própria cidade. Somos despejados neste alienado acampamento de ratos, no qual não somos desejados, no qual somos constantemente lembrados, por todas as coisas à nossa volta, de que somos impotentes. Esta cidade não é construída para a celebração ainda que se intitule a si mesma de “Cidade da Diversão”. Diversão por dinheiro. A diversão encontra-se nos prédios onde você paga para entrar. Podemos dançar na rua, mas isso não alterará o fato de que nossos prédios são degradáveis, o aluguel é alto demais, o lixo não é coletado, os quintais parecem crateras feitas por bombas. Não tem importância. Podemos agora começar a mudar esta rua esta cidade. Começaremos a descobrir nosso poder de transformar nosso mundo. Aquele que celebra não é impotente. Torna-se um criador, porque é um amante” (Thomas Merton, op. cit., p. 55-56).
Durante os festejos ligados à Copa da Rússia, quando caminhamos pelo Aterro do Flamengo do Rio ou pelos espaços da Avenida Paulista esquecemos as falcatruas descobertas pela operação Lava-Jato. Alguns estão se aproveitando da festa para tomar indecentes decisões de soltura de responsáveis por tantos crimes. Aproveitam-se da festa. Enquanto vemos a arte de Philipe Coutinho, Neymar, Cristiano Ronaldo determinadas raposas continuaram agindo nas trevas de seus corações porque não sabem festejar. Sabem falar apenas o bailado egoísta entre seus parceiros tenebrosos. A partir de agora, atenção, vamos prestar atenção nos programas dos candidatos às eleições. Que Deus nos dê a graça de encontrar nomes que, com sua nobreza, possam nos dar motivos de festa.
“Aquele que celebra não é impotente. Torna-se um criador porque é um amante”.
II. UMA REFLEXÃO
Elogio da idade avançada
Neste mês, a 26 de julho, ocorre o dia dos avós, data em que se comemora a festa dos pais de Maria, Sant’Ana e São Joaquim dia dos avós. Normalmente os avós são pessoas de certa idade. Que todos leiam com gosto estas linhas inspiradas no diário de um franciscano idoso, reflexão que tiramos de um baú, de um antiquíssimo número da revista Vita Minorum.
Julho de 1983
A velhice é um tempo de graça. Normalmente nesta quadra da vida as paixões se abrandam. A fantasia perturba menos o trabalho do intelecto. Julga-se as pessoas com mais benevolência. Pensa-se mais naquilo que se fez e menos naquilo que ainda resta por fazer. O forte desejo de ser valorizado, estimado, compreendido não preocupa mais tanto. Sem desprezar os jovens, nesta altura da vida, esboça-se um sorriso quando eles expõem seus projetos tão parecidos com os nossos. Muitos dos nossos sonhos nunca se realizaram. Mesmo assim, com nossa idade avançada, não permitimos que eles morram. Temos ainda uma secreta esperança de que eles vão se realizar. Quem sabe os que chegam abracem os ideais que abraçamos.
Não se perde mais tempo com inúteis tagarelices e com leituras que não são necessárias. Não se acompanha com tanta avidez as notícias veiculadas pelos meios de comunicação. Não se estranha o mundo. Vai-se, no entanto ganhando consciência de um outro mundo, mais estável. Não se dá importância exagerada, ao que na realidade tem pouco valor e é efêmero. Não se busca consenso nem a atenção dos outros. Nessa quadra da existência experimenta-se uma liberdade interior raramente atingida em outro período da vida. Aos poucos vamos nos aproximando de Deus que é eterno. Adquire-se a capacidade de “partilhar”, de perdoar, de escutar, de sorrir face às próprias fraquezas e às fraquezas dos outros sem desprezar ninguém. O coração da pessoa envelhecida se dilata na medida do coração de Deus…
A infância é bonita e agradável, mas é um período de inconsciência. O tempo da idade avançada é talvez um pouco menos festivo, mas desprovido de malícia e é um período de vida consciente. A juventude é ardorosa, mas inconsequente. A idade madura talvez seja menos calorosa, mas quem sabe mais dada à reflexão. A idade jovem é orgulhosa, tende a afirmar-se, sobrepor-se e colocar-se em posição de superioridade. A velhice é mais humilde, longânime, deixa lugar para os outros porque seu intento é degustar e viver em plenitude o momento presente. Nada deixa para o amanhã. O bem tem que ser feito aqui e agora. Daí a urgência de fazer todo o bem possível. Para a pessoa de idade avançada o tempo é pleno, cada momento é uma espiga madura e cheia. Não dá para deixar vácuos, cancelamentos e adiamentos. Tudo o que o Espírito sugere será realizado imediatamente O ancião não em tempo para saudades. Como nenhuma outra pessoa, vincula-se ao presente.
III. COMEMORANDO
O tema da amizade
Ocorre a 20 de julho o dia da amizade. Nesta nossa revista eletrônica cabe bem uma reflexão sobre um tema tão caro e tão querido.
⇒ Vamos conversar sobre um tema belo e delicado: amigos, amizade. “Há palavras que fazem viver”, diz o poeta Paul Eluard. A palavra amizade é precisamente uma delas. Ela não se confunde com a camaradagem que une os companheiros de trabalho. Verdade, que pode começar por aí. É diferente dos laços amorosos que unem um homem e uma mulher no estreitamente dos corpos e dos corações. Isto não quer dizer que os casados não possam usufruir das benesses da amizade. André Comte-Sponville diz lembrar-se com emoção da afirmação de uma mulher referindo-se ao marido ao dizer: ‘É meu melhor amigo”.
⇒ Difícil discorrer sobre a amizade: “Difícil falar de amizade sem cair na banalidade, ser taxado de idealismo ou quem ignora seus desvios. A amizade, como a música, é questão de justeza, de precisão; a amizade não tolera notas falsas; uma execução desequilibrada quebra a harmonia. Não é como uma troca de ideias agradável e mundana entre pessoas frequentando boa companhia, não se confunde com a experiência de camaradagem que une companheiros de trabalho ou de esporte, nem com a paixão amorosa. Há mil matizes na amizade, segundo as estações da vida mas sempre um “não sei o que” a caracteriza, um sabor único ao coração e que o coração reconhece” (Marie-Thérèse Abgrall, Saveurs d’amitié, Christus 209, p.8).
⇒ Tentemos ir adiante. Há tantas amizades: aquela que vivem os colegas da escola ou de um clube esportivo; os que viveram juntos a experiência de excursões; os homens e mulheres maduros que gostam de se encontrar simplesmente pela alegria do encontro, em torno de um copo. Camaradagem? Amizade?
⇒ Triste ouvir alguém dizer: “Não tenho mais amigos. Todos me abandonaram”. Uma tal constatação pode levar alguém ao mais profundo abismo, acelerar a destruição de um ser diante dos fracassos amorosos e profissionais ou simplesmente existenciais. Somente um amigo verdadeiro pode ser buscado para curar as feridas sem machucar mais ainda.
⇒ O amigo não faz discursos, não precisa se preocupar com demonstrações, isto é, provas de amizade. A amizade é fortemente ancorada pela confiança colocada em alguém. Os dois caminham juntos, mas abertos. Os que se estimam como amigos evitam de manchar o relacionamento com qualquer sorte de paixão e pretensão de posse egoísta.
⇒ No começo, sim, pode existir uma camaradagem. As crianças, os que frequentam jogos, os trabalhadores de uma fábrica são colegas e camaradas. Para que daí brote a amizade será preciso fazer vibrar uma outra corda, descobrir outra dimensão, ou seja, da interioridade. O momento em que costumam nascer amizades é no tempo da adolescência. Começa-se a estimar pessoas que estão fora do circuito familiar. Há um jogo de profunda estima entre dois que até então nada mais eram do que dois.
⇒ A amizade é, antes de tudo, experiência de encontro, presença de um na vida do outro, um reconhece o outro com seu mistério e sua riqueza. No começo tudo parece depender uma “química”. No nascedouro da amizade há alegria de se reencontrar, prazer de estarem juntos, facilidade de comunicação. Os amigos se sentem bem um perto do outro, não somente pelo interesse da conversa nem por participarem de atividades em comum. Há uma espécie de acordo de fundo que se traduz por certos índices: uma claridade no semblante, olhares que se cruzam com certa conivência ou cumplicidade, vivacidade, gestos de cordialidade.
⇒ Mais do que prazer, a amizade faz nascer alegria nos amigos, quer dizer um sentimento de crescimento da vida. Spinoza diz que na amizade vive-se a passagem para uma maior perfeição. Diante do amigo com ele descubro-me mais rico interiormente do que pensava. Parece que o amigo faz brotar o melhor de mim mesmo, sempre sem desejo de posse. Que riqueza!
⇒ A amizade é a experiência de um acordo, de uma concórdia, de uma paz mais do que uma semelhança. Os amigos podem discordar um do outro, sem que nada se perca do acordo essencial entre os dois.
⇒ Os amigos conversam, se comunicam. Mas as palavras não constituem o todo. Um dos charmes da amizade vem de uma “liga”, de uma feliz alternância entre silêncio e palavra. Se a palavra é essencial, ela não é indispensável Um relacionamento se torna efetivamente amistoso quando suporta o silêncio.
⇒ Há muitas e belas páginas escritas sobre a caminhada e a amizade. Quantas amizades não foram nutridas ou alimentadas por longas horas ou dias de caminhada, passeio, competições, caminhadas em que se está lado a lado, próximos um do outro, mas levados pelo movimento e pelo ritmo. Cada caminhando com seu próprio passo, mas no mesmo Não é o face a face. O olhar dos dois se dirige para o horizonte que é comum e livremente percorrido por um e pelo outro. Fala e silêncio, conversa e momentos sem fala. Estar perto, mas também viver em silêncio e separados. A amizade é como uma caminhada comum com pausas, retomadas. A concórdia interior supõe ou exige uma abertura a uma maior. A amizade é inseparável de uma busca, de um ideal, de uma comum aspiração.
⇒ A amizade começa com a experiência de um encontro. Esse encontro, porém, só se tornará amizade se confirmado por um segundo, terceiro, e depois, por uma série de encontros. Se depois do segundo e em seguida acontecer decepção e vazio, o elã do começo nada mais terá sido que uma simpatia que costumamos conhecer em nossa vida. A amizade nasce e se alimenta de muitos encontros.
IV. PEQUENA ANTOLOGIA DE TEXTOS SELETOS
Em torno da amizade
Textos antigos
Teofraste ( 379-287 a.C.)
Quando se dizia: “Ele é amigo deste homem”. Teofraste observava: “Então por que ele é pobre e o outro rico? Quem não partilha os bens não pode ser chamado de amigo!”
Quando lhe perguntavam: “Quem são teus amigos?” Teofraste respondia: “Como é que vou saber? Sou rico, quer dizer, tenho muito dinheiro e poucos amigos”.
Epicuro (341-270 a.C.)
A amizade deverá sempre procurada por ela mesma, embora tenha sua origem numa necessidade de ajuda.
O que vale na amizade não é tanto a ajuda que os amigos podem nos dar mas nossa confiança em tal ajuda.
Cícero (106-43 a.C.)
Que existe de mais delicioso do que ter alguém a quem nos dirigirmos como se fosse a nós mesmos? Que adiantaria a riqueza nos sorrir se não tivéssemos com quem partilhar e usufruir dela como nós? Ou então, quando miseráveis e pobres, que dor não ter alguém que se sinta tocado por nossa desventura?
De todos os bens que recebi por sorte ou pela natureza não há nenhum que possa comparar-se à amizade com Cipião. Concordância de pensamento em termos de política, sábios conselhos a respeito de negócios particulares, momentos de descanso charmosos…essa amizade tinha tudo isso. Não tenho nenhuma ideia de um dia ter ferido Cipião fosse com que fosse. Nunca ouvi dele uma palavra que me desse tristeza. Sua casa era minha, nosso modo de viver o mesmo, tudo era comum entre nós, não somente servimos às armas juntos, como viajamos juntos e juntos passamos um tempo no campo. Que direi de nosso gosto comum pelo estudo e da vontade comum de crescer no saber?
Um eco do Novo Testamento
Na cristologia contemporânea percebe-se hoje um deslocamento para dois títulos, ambos de origem neotestamentária e que, talvez, respondam melhor à experiência atual: Cristo Amigo e Mestre. O título de “Amigo” aparece no Evangelho de João e sublinha a relação amistosa e confiante que Jesus estabelece com os crentes: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor; chamo-vos amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer (Jo 15,15). Cristo não é só Senhor que salva, mas o Amigo próximo que compreende e acompanha. A teologia atual sublinha a importância de um Cristo amigo numa época em que não poucos experimentam a solidão existencial.
José Antonio Pagola
O caminho aberto por Jesus
Mateus, p. 160
Gregório de Nazianzeno e Basílio Magno
Dois amigos
Encontrávamo-nos em Atenas. Como o curso de um rio, que partindo de uma única fonte se divide em muitos braços, Basílio e eu nos tínhamos separado para buscar a sabedoria em diferentes regiões. Mas voltamos a nos reunir como se tivéssemos posto de acordo, sem dúvida porque Deus assim quis.
Nessa ocasião, eu não apenas admirava meu grande amigo Basílio vendo-lhe a seriedade dos costumes e a maturidade e prudência de suas palavras, mas ainda tratava de persuadir os outros que não o conheciam tão bem a fazerem o mesmo. Logo começou a ser considerado por muitos que já conheciam sua reputação.
Que aconteceu então? Ele foi quase que o único entre todos os que iam estudar em Atenas a ser dispensado da lei comum; e parecia ter alcançado maior estima do que comportava sua condição de novato. Este foi o prelúdio da nossa amizade, a centelha que fez surgir nossa intimidade; assim fomos tocados pelo amor mútuo.
Com o passar do tempo, confessamos um ao outro nosso desejo: a filosofia era o que almejávamos. Desde então éramos tudo um para o outro; morávamos juntos, fazíamos as refeições à mesma mesa, estávamos sempre de acordo aspirando os mesmos ideais e cultivando cada vez mais estreita e firmemente nossa amizade.
Liturgia das Horas I, p. 1111-1112
V. UMA PRECE QUE NÃO PARECE UMA PRECE
Quando se faz uma faxina
Uma vez por semana, ao menos,
convém fazer a faxina em casa.
E com essa poluição, nem te falo!
Uma vez por semana seria bom
fazer a faxina em si mesmo
sobretudo devido às tentações.
Hoje, Senhor, é dia de faxina.
Abro a janela de minha vida.
Jogo fora tudo o que está
entupindo gavetas e armários.
Esses hábitos e conformismos,
essas vaidades e inutilidades.
Essas táticas sujas e esses comprometimentos,
esses arranjos realizados longe de teus olhos.
Tudo isso me coloca em correntes
rouba o tempo que eu poderia consagrar
a viver em liberdade e a amar o próximo
que continuas a me dar.
Sim, dia de perdão,
dia de liberdade,
temo de graças.
Afinal de contas a vida não dura tanto assim
que eu possa ficar sempre adiando
de começar a viver aquilo que teu evangelho
chama de vida eterna.
Hoje, sim, hoje Senhor,
escrevo em minha agenda
que começou minha vida nova.
Michel Wagner
Pastor da Igreja Reformada da França