Janeiro 2020
- Que palavras o Natal deixou em nós?
- Um suspiro e um desejo
- Um Deus próximo: um menino deitado nas palhas
- III. Os magos e a estrela: a busca do Senhor
- Na montanha de Greccio
- Presépio
Que palavras o Natal deixou em nós?
TIRANDO DO BAÚ COISAS NOVAS E VELHAS
Reinventando a vida a cada dia
Edição de janeiro de 2020
Tudo passa rapidamente. Já estamos avançados no mês de janeiro do ano de 2020. Neste primeiro número de nossa revista eletrônica gostaríamos de colocar em destaque aquilo que bem pode ter ficado dentro de nós, passados os dias do Advento e do tempo do Natal. Que palavras essenciais ficaram dentro de nós?
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Um suspiro e um desejo
Não desistir da luz, apesar de tantas sombras
Senhor, não sei bem o que será viver só de luz.
Estou tão habituado a coisas que acabam, ao dia e à noite,
aos prazos breves de duração.
Vou aceitando como inevitáveis sombras, silêncios, opacidades…
E, contudo, hoje o que te peço é que me ajudes a não desistir da luz.
Não quero, Senhor, recolher apenas em uma caixa as figuras do presépio, como se fossem sinais de um teatro anual que monto para minha consciência.
Não consigo arrumar numa gaveta as palavras que o Natal me deixou…
José Tolentino Mendonça
Um Deus que dança, Paulinas, p. 62
Um Deus próximo: um menino deitado nas palhas
Quem poderia imaginar o Deus altíssimo a nos sorrir no rosto do Menino
Existe uma alegria que só pode ser desfrutada pelos que se abrem à proximidade de Deus e se deixam atrair por sua ternura. Uma alegria que nos liberta de medos, desconfianças e inibições diante de Deus. Como temer um Deus que se aproxima de nós como criança? Como rejeitar quem se nos oferece como um pequeno frágil e indefeso? Deus não veio armado de poder para impor-se aos homens. Ele se aproximou de nós na ternura de uma criança que podemos acolher ou rejeitar.
Deus não pode ser o Ser “onipotente” e “poderoso” que nós imaginamos, encerrado na seriedade e no mistério de um mundo inacessível. Deus é essa criança entregue carinhosamente à humanidade esse pequenino que busca nosso olhar para alegrar-nos com seu sorriso.
O fato de Deus ter-se feito criança diz muito mais sobre Deus do que as nossas reflexões profundas e especulações sobre seu mistério. Se soubéssemos deter-nos em silêncio diante dessa criança e acolher do fundo de nosso Deus toda a proximidade e a ternura, talvez entenderíamos por que o coração de um crente deve deixar-se penetrar por uma alegria diferente nesses dias.
José Antonio Pagola
A Boa Notícia de Jesus
Vozes, p. 19-20
III. Os magos e a estrela: a busca do Senhor
O universo todo encontra a luz
Hoje os magos chegaram do Oriente, desejando ver a aurora do sol da justiça, do qual se lê: Eis um homem cujo nome é Oriente (Zc 6,12). Hoje adoraram o recém-nascido da Virgem, depois de guiados por uma estrela recém nascida. Não é isto uma grande consolação para nós? Que fazeis, ó magos, que fazeis? Adorais um menino que ainda mama, envolto em panos miseráveis , numa pobre choupana? Por ventura é Deus esta criancinha? Deus está no seu templo sagrado, o Senhor tem seu trono no céu (Sl 11,4)e vós o buscais num estábulo qualquer, no regaço da mãe?
Que fazeis? Por que lhe ofereceis ouro? É por ventura um rei? Mas onde está seu palácio real, seu trono, sua corte? Acaso é o estábulo o seu palácio, o presépio o seu trono, José e Maria sua corte?
Dos sermões de São Bernardo de Claraval
Lecionário Monástico I, p. 446
Na montanha de Greccio
A noite de Natal de São Francisco fica para sempre na memória dos corações simples: naquela noite a cristandade ganhou olhos de criança
Chegara o Natal. Todo o povo da localidade de Greccio e das redondezas tinha sido convocado. Vieram também os frades dos eremitérios vizinhos. Durante a noite, à luz de tochas, dirigiam-se todos para gruta aberta nas paredes da montanha. Os bosques faziam ressoar os cânticos de todos. No interior do rochedo tinha sido preparado um presépio com uma manjedoura e palha. Lá estavam também o boi e o burrico. “O Santo, diz Tomás de Celano, parou diante do presépio e suspirou, cheio de piedade e de alegria, como se estivesse realmente vendo o Menino deitado na manjedoura. Seu espírito e seu coração estavam em Belém. Cantaram Matinas e logo em seguida começou a Missa. Francisco, diácono que era, cantou o Evangelho. “Sua voz forte, doce, clara e sonora” anunciava o acontecimento tão feliz aos presentes, mas também a todos os homens do mundo inteiro. Nesta noite a cristandade ganhou novamente olhos de criança.
Éloi Leclerc
Presépio
Uma doce e quase ingênua e trágica poesia portuguesa
Numas palhinhas deitado,
abrindo os olhos a luz, l
oiro, gordinho, rosado,
nasce o Menino Jesus.
Uma vaquinha bafeja
seu lindo corpo divino,
de mansinho, que não a veja
e não se assuste o Menino!
Meia-noite. Canta o galo.
Por essa Judeia além,
dormem os que hão e matá-lo
quando for homem também!
E pensativa a Mãe pura
ouve, embalando Jesus,
os rouxinóis na espessura
dum cedro que há de ser cruz!
João Saraiva
1866-1948