Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Fevereiro 2020

Sempre de novo o tema do amor fraterno

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor: vivei em harmonia, procurando a unidade. Nada façais por competição ou vanglória, mas com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, e não somente cuide do quem é seu, mas também do que é do outro.
Filipenses 2,2-4

Michel Hubaut, franciscano francês, escreveu densos textos sobre espiritualidade, mormente a respeito do caminho franciscano de viver. Inspirado em seus escritos propomos estas poucas linhas para reflexão e meditação.

Uma das características do comportamento de Francisco e de seus irmãos é recusar o julgar as pessoas e classificá-los em bons e maus. As fronteiras do bem e do mal passam pelo coração de cada um. Se Francisco faz uma opção deliberada pelos pobres, os excluídos de sua época, renuncia voluntariamente aos privilégios e aos poderes das classes sociais dominantes. Ele se torna irmão para todos, inclusive os ricos, os membros da burguesia, os ambiciosos prelados e os clérigos avarentos e concubinários. Imenso respeito pela pessoa humana.

A fraternidade é um dom de Deus e empenho do homem para superar eventuais conflitos, de modo especial dos que acontecem entre opressores e oprimidos. Como construir fraternidade sem solidariedade para com os mais necessitados em todos os sentidos? Forçosamente o amor universal deverá encarnar-se nas situações concretas da vida.

Amar oprimidos e opressores: podemos amar o que oprime denunciando uma tal maldade e sugerindo a conversão de seu coração. Não seria isso a necessária correção fraterna? Corrigir sem odiar. Eles também são irmãos.

Tornar-se irmão poderá significar aprender a viver essa situação. Amar o oprimido constituir-se-á em denunciar todas as causas de injustiça que os aviltam e procurar com eles os meios de uma autêntica libertação digna do homem e do projeto de Deus. Amar os opressores será fazer de sorte que eles tomem consciência da dignidade igual de todo homem. Combater com energia, mas nunca odiar. A liberdade evangélica e o respeito pelas pessoas de Francisco podem lançar luz sobre este desafio.

A fraternidade evangélica deverá ser o lugar privilegiado em que cada um possa fazer a experiência do perdão de Cristo. Em sua carta dirigida a um ministro que tinha dificuldades com um frade meio desviado do bom caminho Francisco manifesta sua confiança na força do amor no coração do homem. O Poverello pede que não se deixe partir sem uma palavra de bondade a um irmão que nos tenha ofendido pessoalmente.


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

Quando se envelhece... devagarinho

A Campanha da Fraternidade de 2020 se realiza em torno do tema do cuidado e da compaixão em seus mais deferentes aspectos. Segue uma página que nos faz refletir sobre aquilo que pode passar pela cabeça de que sabe que está envelhecendo devagarinho. Idosos que merecem e necessitam de cuidados. Necessário ficarmos atentos.

Na medida em que as pessoas vão envelhecendo experimentam uma gama de sentimentos muito variada. Quantas lembranças, quantas evocações na mente e no coração dos que avançam no tempo de viver.

Há a doce sensação do dever cumprido, da tarefa realizada, da missão quase finalizada: os idosos fazem desfilar pela mente sua vida, os primeiros anos, os filhos, os netos, as ocupações, os sucessos, o que não certo, o que ficou inacabado, os desentendimentos que aconteceram.

Um médico que envelhece, por exemplo, recorda-se dos começos, do tempo da “residência”, do primeiro consultório, das cirurgias bem-sucedidas e… mal-sucedidas. Um sacerdote, sentado no canto de seu quarto, esperando a hora de comer, faz passar por sua mente tantas pessoas que o procuraram para fortalecer a fé, vencer as tentações do desânimo e do desalento, a alegria de ter servido ao Senhor a vida toda.

Quando se envelhece há essa alegria de saborear os frutos que lentamente foram amadurecendo. Há a sensação de que outros estão a chegar, cheios de vida, sarados, com ideias novas… É preciso ceder-lhe o lugar. Por vezes os que envelhecem têm a impressão ou mesmo a certeza de que estão sobrando. Com discrição, com meias palavras e gestos nem sempre delicados as pessoas nos avisam. É a vez dos outros. Necessário deixar a passarela…

Quando o inverno da vida chega, vem a hora dos últimos despojamentos. Nem sempre o parecer do idoso é levado em consideração. Hábitos são mudados ou eliminados, programas completamente modificados, transações comerciais feita sem seu parecer.

Mas há muito e muito de bom. Quando se envelhece há mais tempo para dormir, para ler (embora os idosos sempre estão com sono), para refletir, tempo para ver as crianças correrem nos parques explodindo de vida, para acompanhar o desabrochar das rosas, tempo para purificar o coração de apegos e de mágoas, entulhos e remorsos.

O envelhecimento é o tempo belo da espera do Altíssimo, do Senhor bom e belo que nos inventou e acompanha passos e descompassos, nossas idas e vindas e nos quer dar o abraço nas portas da glória.

Inveja

Com sutileza o autor desta página nos traz uma de vida. São personagens desta fábula um vagalume e uma cobra.

Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um vagalume que só vivia para brilhar.

O vagalume vivia fugindo da feroz predadora e a cobra nem pensava em desistir de seus intentos.

O vagalume fugia, mas a cobra não desistia. Havia dois dias que o vagalume fugia… fugia.

No terceiro dia, já sem forças, ele parou e disse à cobra:

– Posso fazer-lhe três perguntas?
– Não costumo abrir este precedente para ninguém, mas já que vou comer você mesmo, pode perguntar…

– Pertenço à sua cadeia alimentar?
– Não.

– Te fiz alguma coisa?
– Não.

– Então, por que você quer me comer?
– Porque não suporto ver você brilhar…

Recados de São Francisco

Uma página de sadio otimismo

 

Não se trata de uma oração a São Francisco, mas de exortações do santo para nossos dias e nossa vida. Sem menção de autor, foi traduzida de texto que apareceu na revista francesa “Prier”, em outubro de 1986.

Meu irmão,
sei muito bem que você está coberto de razões para desânimo
e quase desespero e para reclamar da vida.
Gostaria de lhe dizer, no entanto, que há muitos motivos e razões para deixar levantada a esperança.
Não deixe que seu coração fique impregnado com a maré de terríveis noticias, bárbaras mesmo.
Para mudar o mundo, procure mudar o seu olhar.
Não fixe seu olhar nas trevas.

Eu, Frei Francisco seu pequeno servo peço:
olhe o mundo com os olhos de Cristo Jesus.
Ele, nosso Senhor e nosso Irmão,
sempre levou em consideração os pequenos gestos
como o óbolo da viúva, deixando-se encantar por ele.
Meu irmão,
tente ver como o Reino do amor emerge
lentamente através de mil pequenos gestos repetidos,
gestos de coragem, ternura, garra
que não, sem estardalhaço,
à lógica do dinheiro, do ódio ou da indiferença.

Preste atenção: você vai se surpreender
descobrindo homens e mulheres que, dia após dia,
inventam maneiras novas de viver, partilhar e esperar e que manifestam assim que o Reino de Deus está ao alcance de nossas mãos.

Preste atenção nesses homens e nessas mulheres que,
em vez de ficarem gritando que Deus é cego,
passam a emprestarem-lhe os seus olhos;
em de ficarem dizendo que Deus é desajeitado com suas mãos, emprestam-lhe as suas;
em vez de ficarem bradando que Deus é mudo,
emprestam-lhe sua voz.

Ouça o apelo daquele que chora “porque o Amor não é amado”.
Acorde a força que dorme dentro de você
e que aí foi delicadamente colocada pelo Bom Senhor.

O mundo necessita reencontrar o “olhar do coração”,
colher as flores da esperança para respirar e viver melhor.

Vida consagrada

No dia 2 fevereiro ocorreu o Dia do Religioso consagrado ao Reino. Umas poucas reflexões a respeito desse belo caminho de seguimento do Mestre.

♦ Somos cristãos. Somos discípulos de Jesus vivo e ressuscitado. Com falhas, muitas falhas, com avanços e recuos. Deixamo-nos seduzir por aquele que nos amou por primeiro. Temos vontade de tudo direcionar para ele. Amor, uma vontade de entrega irrestrita e ao seu mundo, como se fosse um desponsório. Ele sempre anda a nos rondar em nosso viver cotidiano, nos momentos de paz e nos dias escuros em que o homem perde o rumo. A amada que busca o Amado.

♦ Um chamado a segui-lo bem de perto. Seguimento marcado por vida de grande intimidade com ele, vivendo a se perguntar sempre: “O queres de mim? Não quero fazer a minha vontade… o que queres de mim?” Vida em fraternidade, mesma casa, mesmo endereço, mesma mesa, caixa comum, irmãos que cuidam dos de casa e dos jogados. Os religiosos são pessoas simples no falar, no andar, no vestir e no comer. Pessoas que fazem o voto de serem boas, profundamente boas. “Seu queres ser perfeito… Os que me seguem deixam bens e pai… abraçam o Evangelho e se dispõem a me seguir numa vida confiante no Pai”.

♦ Os religiosos e as religiosas são pessoas profundamente boas. Vivem na atmosfera do amor do Senhor e dos irmão de casa como os de fora. São pessoas que foram aprendendo a serem acolhedoras, gente com gosto de cuidar, corteses, tentam de aproximar das sempre com um atitude de simpatia. São quase como essas fadas que encontramos nos livros de história de crianças.

♦ Poderíamos que eles vivem como se vissem o Invisível. Uns se dedicam de coração e quase todo o tempo à oração. São mais contemplativos dos vivem no meio das pessoas: anunciando Evangelho, cuidando da educação em todos níveis, recolhendo os jogados à beira do caminho, vivendo para os outros.

♦ Uma palavra de Frei Giacomo Bini, ex-geral dos Menores, referindo-se à vida num mosteiro de clarissas, mas que vale para todas as casas de religiosos: “Quando entramos num mosteiro, percebe-se logo o clima que há nele. Não é preciso haver estudado anos de psicologia para perceber se há uma cultura da interioridade, um clima de silêncio. Sem esta cultura nada muda: existindo muros ou não, sejam eles transparentes ou não; e mais, seriam até mais bonitos se fossem transparentes, pois lhes permitiriam contacto com a natureza e com o mundo externo. Isso não deve lhes perturbar. É necessário que se crie com urgência uma cultura de interioridade, de silêncio interior, que se cultiva com a formação”.

Revista Eletrônica

TIRANDO DO BAÚ COISAS NOVAS E VELHAS
Reinventando a vida a cada dia
Edição de fevereiro de 2020

Continuamos a tirar coisas velhas e novo do Baú da vida. É isso! Carecemos de nos abastecer da sabedoria dos passado para podermos continuar a inventar a vida a cada instante em suas vistas a edição de fevereiro de 2020 de nosso Baú.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
freialmir@gmail.com