Dom Walmor Oliveira de Azevedo
A Igreja Católica, nos seus mais de dois mil anos de história, inspirada e interpelada, em primeiro lugar, pela Palavra de Deus – luz luzente no caminho e lâmpada para os pés -, e pelas riquezas de sua tradição, acolhe o desafio de buscar respostas necessárias a um mundo que precisa ter o sabor do Evangelho de Jesus Cristo. A fidelidade ao Evangelho e à Tradição alicerçam a escuta desta convocação também ouvida por São Francisco de Assis, há muito séculos: “Reconstrói a minha Igreja”. Agora, essa convocação nasce no coração amoroso do Papa Francisco, que interpela o Povo de Deus para viver o tempo do Sínodo, até outubro de 2023. Uma reconstrução para marcar a contemporaneidade com funcionamentos que garantam o incondicional respeito ao dom inviolável da vida, por uma sociedade justa e solidária. Caminho que envolve todos os fiéis, com abertura para escutar homens e mulheres de boa vontade, especialmente na chamada fase diocesana. Essa fase terá início nas mais de 3000 dioceses de todo o mundo, nas igrejas-catedrais, a partir do próximo domingo, 17 de outubro. Um processo sinodal com a singularidade da participação de todos, fruto do entendimento profético e da convocação evangélica do Papa Francisco.
O Sínodo remete a Igreja aos horizontes sempre inspiradores e interpelantes do Concílio Ecumênico Vaticano II, com a irremediável tarefa de revisitar suas fontes, retomar experiências e banhar-se da mística do Evangelho para dar conta, neste tempo do terceiro milênio, do laborioso desafio da reconstrução. A grande meta é ser, sempre mais, uma Igreja de comunhão, participação e missão. A instância Sínodo dos Bispos, nascida por inspiração de São Paulo VI, então Papa, para dar continuidade às inspirações, indicações e práticas do Concílio Vaticano II, incorpora e efetiva uma importante inovação: além de ser mecanismo de consulta, torna-se caminho para a participação do Povo de Deus, preparando a celebração da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2023. Os católicos todos estão convidados a compreender a importância do processo sinodal para adequadamente participar – clarividentes na consideração das céleres e profundas mudanças culturais e civilizatórias contemporâneas, conscientes da necessidade de novas respostas aos desafios atuais, pela convicção de que o seguimento de Jesus é precioso. O Evangelho é arca de respostas ansiadas pelo coração humano e, com a contribuição do processo sinodal, poderá inspirar um novo jeito de ser, viver e missionar.
“Para uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão”, eis a convocação do processo iniciado pelo Papa Francisco. Refletindo sobre o caminho percorrido, todos os fiéis, lado a lado, juntos, devem investir, sempre mais, em nova aprendizagem sobre viver a comunhão, participar da Igreja e abrir-se à missão. Continuamente aperfeiçoar o “caminhar juntos”, amadurecendo a compreensão de que todos são o Povo de Deus peregrino. Cada cristão católico está, pois, especialmente convocado a se expressar, com espírito de amoroso pertencimento, de modo orante e lúcido, em atenta escuta ao Espírito Santo de Deus, sobre os novos caminhos que a Igreja deve seguir em sua missão. Indispensável é sempre se recordar que o Espírito Santo tem inspirado o caminho da Igreja, nestes mais de dois mil anos, convocando os fiéis a dar efetivo testemunho do amor de Deus, pela oportunidade de cada um de contribuir para o bem da humanidade.
O processo sinodal convocado e iniciado pelo Papa Francisco inspira cada pessoa a assumir suas responsabilidades para que a comunidade cristã, de modo cada vez mais credível, em diálogo e cooperação com outros segmentos da sociedade civil, capacite-se para oferecer respostas, ações e práticas com o sabor do Evangelho de Jesus Cristo. O grande apelo é para que todos caminhem juntos neste tempo de aceleradas transformações para uma grande reação missionária. Todos convictos de que é tarefa da cidadania civil, fecundada pela cidadania do Reino de Deus, reconstruir a sociedade, para que seja mais fraterna e justa, superando vergonhosas desigualdades.
As muitas crises, agravadas pela pandemia da Covid-19, evidenciam ainda mais a necessidade urgente de se reconstruir a humanidade pela experiência da fé. Para isso, é imprescindível a missionária reconstrução da Igreja – servidora e sacramento de salvação. Neste processo de reconstrução, a Igreja inteira está desafiada a confrontar a cultura do clericalismo, superar os abusos de poder, investir no agir eclesial, com a participação de todos, encantando o mundo com um jeito novo de ser e de viver o Evangelho de Jesus. Renove-se a Igreja pela ação do Espírito Santo e pela escuta amorosa da Palavra de Deus, em uma grande experiência mística e profética: reconstruir a Igreja é contribuir com o Sínodo. Participe, informe-se, compreenda e contribua com o processo sinodal que reconstrói a Igreja.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo é Arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB).