Frei Augusto Luiz Gabriel
Esta frase do Papa Francisco serviu de inspiração para este artigo, visto que a família desempenha um importante papel no enfrentamento da pandemia da Covid-19. Desde que este tempo desafiador começou, as famílias se encontram muito mais próximas e unidas em seus lares. Nossas casas tornaram-se também espaços de trabalho, convivência e lazer. Em alguns casos, o lar deixou de ser apenas uma estrutura de quartos e salas, ou a localização de pessoas que vivem no mesmo endereço. Foi preciso ter a capacidade constante de se reinventar de diferentes formas e meios, foi preciso ter a capacidade de sonhar, de esperançar.
Mas, o que é de fato uma família? É o lugar do humano por excelência, o berço do ser humano, o espaço onde se aprende a ser gente, o paradigma dos relacionamentos. É no seio da família que se faz as primeiras e fundamentais experiências de nossas vidas. É nela que se vive a comunhão das existências.
De um lado, o distanciamento social provocou alterações nas relações familiares. A recorrente preocupação com a saúde pessoal e coletiva, estresse, sobrecarga no trabalho home office, alterações de humor e desequilíbrio emocional, afetaram o convívio saudável das famílias e, infelizmente, enquanto algumas famílias vivem a crise da pandemia, outras ainda vivem a pandemia da violência. Sem contar os inumeráveis entes queridos que tiveram suas vidas ceifadas pela doença.
Por outro lado, o distanciamento social aproximou os membros familiares, visto que até então muitos pais trabalhavam fora e só estariam com seus filhos em um terço do dia, geralmente à noite, por exemplo. Os benefícios dessa reviravolta foram, sem dúvida, muitos, como por exemplo: o preparo dos alimentos e das refeições em conjunto, as rodas de conversa, o auxílio nos trabalhos domésticos e escolares, a oração do terço em família, dentre outros. A pandemia, com tudo que vem causando, pode ser ruim momentaneamente, mas também poderá servir para mudar as pessoas e seu modo de ver e de se relacionar. A família precisa ser uma comunidade de pessoas que se estimam, uma comunhão de vida, de troca de gentilezas, um espaço onde não existam máscaras.
A família de Nazaré é uma forte fonte de inspiração para nós cristãos. Foi criativa, soube ouvir os apelos de Deus e se reinventar constantemente. Embora nem sempre tenha compreendido os passos de Jesus, soube perscrutar a vontade de Deus. Neste sentido, nós também podemos ser ousados e criativos na tarefa de nos reinventarmos neste tempo de pandemia. Para ser fermento de fraternidade e de amor na sociedade, busque ser mais próximo de seus pais, irmãos e parentes. Se morar longe, faça ligações de vídeo. Use a tecnologia a seu favor. Sintonize canais de televisão com conteúdo saudável e busque por formação e informações verdadeiras e coerentes. Reze em família! É preciso se alimentar da fé e somar forças para, juntos, superarmos este delicado momento. Siga em e com a família pelo caminho da verdade, amor e da fraternidade.
2021: ANO DA FAMÍLIA
Neste ano de 2021, quinto aniversário da Exortação Apostólica Pós-sinodal, Amoris laetitia, sobre a beleza e a alegria do amor, o Papa Francisco instituiu a abertura do “Ano da Família”. Teve início no último dia 19 de março, dia de São José, e terminará no dia 26 de junho de 2022, durante o 10º Encontro Mundial das Famílias, em Roma. Segundo o Sumo Pontífice, na família há três palavras que devem ser sempre protegidas: ‘permissão’, ‘obrigado’, ‘perdão’. Ou seja, pode-se experimentar uma sincera fraternidade, amorosidade e comunhão. Mas isso somente, segundo o Sumo Pontífice, “quando os afetos são sérios, profundos, puros, quando o perdão prevalece sobre as discórdias, quando a dureza cotidiana da vida é suavizada pela ternura mútua e pela serena adesão à vontade de Deus”.
Frei Augusto Luiz Gabriel, ofm, é frade estudante de Teologia no Instituto Teológico Franciscano (ITF). Este artigo foi publicado originalmente na “Revista Ave-Maria”.