Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Para onde se caminha?

03/10/2022

                                         Imagem ilustrativa: Canva (www.canva.com/pt_br/modelos)

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Perguntas contam decisivamente na definição de rumos e nos discernimentos para escolhas que incidem sobre a vida. Perguntar é tão essencial quanto responder bem. Por vezes, conta mais a clarividência da pergunta – capaz de contribuir para a lucidez decisiva da resposta. Para onde se caminha? Uma interrogação que precisa incidir nas dimensões pessoal, familiar e social. A resposta revela valores escolhidos, princípios respeitados e práticas comportamentais inspiradoras. Não se pode caminhar por qualquer via ou direção. A irresponsabilidade na definição do percurso a ser seguido pode levar a prejuízos pesados que demandam, além de longo tempo, muitos esforços e investimentos para superar fracassos. Para onde se caminha? Questão que incide diretamente na existência humana, configurando rumos e consequências. Essa pergunta remete à responsabilidade de cada pessoa na configuração de uma adequada resposta.

Reagir à interpelação – Para onde se caminha? – é tarefa cada vez mais difícil, considerando, dentre outros, os riscos que surgem com a cultura tecnológica. Há, por exemplo, uma expressiva disseminação de notícias falsas – a mentira passando-se por verdade. Sabe-se ainda que o ambiente digital é também lugar onde muitos espalham o ódio, ou buscam construir a própria imagem, alcançar reconhecimento, pela destruição perversa da inteireza moral de seu semelhante. Deixa-se de lado o compromisso com a verdade para se esconder em um covarde anonimato, buscando propagar juízos destrutivos. Perde-se o compromisso com o bem do outro, o bem de todos. No lugar desse compromisso, torna-se cada vez mais habitual a perversidade de quem vê no semelhante um concorrente. Uma visão equivocada, pois todos são operários na mesma vinha, cujos frutos e abundância dependem da cooperação mútua e da participação criativa de cada um.

Nessa crescente tendência de se buscar destruir o outro, com quem se diverge, cai em desuso a pergunta feita por Jesus Mestre aos acusadores da mulher adúltera. Jesus, com a sua pergunta, indicou que jogasse a primeira pedra quem não tivesse pecado. O questionamento do Mestre alcançou efeito estupendo pois fez com que todos saíssem, um a um, certamente convictos de seus próprios limites. Uma lição que precisa ser aprendida na contemporaneidade, pois rumos sombrios são tomados quando não se pensa na edificação do semelhante: é preciso zelar pela convivência humana e cidadã. O compromisso com esse zelo inclui muitos exercícios, inclusive uma reflexão cotidiana a partir dessa pergunta: para onde se caminha? Pode-se caminhar na direção das “sombras de um mundo fechado”, ou buscar gerar um “mundo aberto”, como nos diz o Papa Francisco, nos capítulos primeiro e terceiro de sua Carta Encíclica, Fratelli Tutti, sobre a amizade social. Somente se pode caminhar adequadamente, em direção a metas frutuosas quando o ser humano compreende que só pode alcançar a sua plenitude na sincera oferta de si mesmo.

A alegria de viver apenas se efetiva quando são encontrados rostos para amar. Esse encontro é remédio que cura preconceitos e discriminações, ódio e indiferenças. Caminhar-se-á na direção de um “mundo aberto” na medida em que vínculos são criados em comunhão e fraternidade, realidades mais fortes que a morte. Por isso, as relações interpessoais precisam ganhar amplitude para além dos territórios da própria família ou de pequenos grupos. O Papa Francisco fala de uma espécie de lei de êxtase – “sair de si mesmo para encontrar nos outros um acrescentamento de ser”. E lembra: “A partir da intimidade de cada coração, o amor cria vínculos e amplia a existência, quando arranca a pessoa de si mesma para o outro”.

Reconhecer, a partir da racionalidade e da espiritualidade, o valor único do amor é essencial para bem responder a esta pergunta: para onde se caminha? Há de se investir na constituição de uma estatura espiritual e humana que seja medida pelo amor. Assim, podem ser corrigidos descompassos, reorganizados raciocínios e redefinidas posturas, superando o que descompassa a vida e as limitações do viver humano. Consequentemente, encontra-se a cura para a enganosa perspectiva que leva tantas pessoas a pautarem a própria conduta considerando que a vida se resume à disputa por interesses. Uma visão distorcida que faz prevalecer o confronto – uns contra os outros, o tempo todo. A solidão, os medos e inseguranças, que são também consequências dessa perspectiva equivocada, levam a um caos insuportável. Para onde se caminha? Uma interrogação que não pode ser tratada de qualquer maneira, pois remete a responsabilidades cidadãs importantes, ao compromisso de cada um para que a humanidade tome novo rumo, a partir do encontro de qualificadas respostas.


Dom Walmor Oliveira de Azevedo é Arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Download Nulled WordPress Themes
Free Download WordPress Themes
Download Nulled WordPress Themes
Download WordPress Themes Free
udemy course download free
download coolpad firmware
Download WordPress Themes
online free course

Conteúdo Relacionado