Um século já se foi, mas as palavras de um senador da República continuam atualíssimas:
“De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
A rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto”.
(Trecho do discurso “Sinto vergonha de mim”, do senador Rui Barbosa, no Senado Federal, em dezembro de 1914).
Certamente não é esse o Brasil que queremos! Queremos mudar tudo isso. Mas, não podemos fazê-lo tudo de uma vez, de uma hora para outra, como se fosse um milagre.
São tantos os problemas que poderemos ter centenas de opiniões de boa vontade e corretas. Entretanto, a situação está tão enraizada, tão complexa que envolve não somente a nossa conjuntura (não é uma correção pontual), mas também a nossa estrutura: a forma de governo, as instituições e empresas tanto particulares, como públicas.
Não obstante a tantos problemas, devemos tomar um como ponto de partida. Alguém já disse: os problemas do Brasil são três: educação, educação e educação! De fato, nitidamente, a prioridade recai na educação. Mas a variedade é grande, como as sucessivas referências à crise moral, a condenação à corrupção, os apelos para a melhoria na saúde, na segurança e na administração, a valorização dos professores, o respeito às religiões, a condenação às desigualdades sociais, a valorização das crianças, a dignificação dos aposentados, o aperfeiçoamento da agropecuária, particularmente da agricultura familiar, a condenação ao racismo, o domínio da escola privada em detrimento da escola pública, que é um dever do Estado, em todos os níveis, etc.
Penso que, educando o cidadão, seja o fundamento para que, com uma sociedade politicamente educada e civilizada, ciente de seus deveres e obrigações, teremos condições de reestruturar o nosso país. Poderemos trabalhar, dentro do “nosso” mundo, no limite de cada um, pelos direitos fundamentais do homem, por melhores e dignas condições de vida, educação, trabalho, moradia, saúde, lazer e justiça.
Justiça: este é outro setor que merece especial atenção. A falta de Justiça é o grande mal da nossa terra, o mal dos males. A injustiça desanima o trabalho, a honestidade, o bem: semeia no coração das gerações a semente da podridão, habitua os seres humanos a não acreditar senão na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, a corrupção, esta sim, está impregnada em todas as Instituições: Legislativo, Executivo, Judiciário, nas empresas particulares e públicas, enfim em todos os níveis.
Queremos justiça econômica, que seja pago um digno salário para os trabalhadores e haja uma justa distribuição da renda. Justiça social, igualdade para todos, sem discriminação de pessoas. Justiça tributária, que diminua a absurda carga de impostos sobre os trabalhadores e assalariados. Pagamos impostos de países desenvolvidos, recebendo em resposta serviços públicos, assistência médica, hospitalar e aposentadoria, de países subdesenvolvidos da pior categoria.
Justiça no trabalho, sem mordomias, sem privilégios para algumas classes trabalhistas, que acabem os auxílios: moradia, gasolina, passagens aéreas, correios, verba de gabinete, etc. O trabalho é parte fundamental da dignidade da vida humana. Hoje temos no Brasil 13 milhões de desempregados e quantas famílias estão passando fome? O trabalho torna possível simultaneamente o desenvolvimento da sociedade, o sustento da família e também a sua estabilidade e fecundidade.
Queremos um Brasil capaz de fomentar o desenvolvimento econômico e social, a preservação da natureza, a Justiça e, assim, assegurar um futuro mais promissor e de esperança a nossos filhos.
Penso que a partir destes pressupostos básicos, estaremos procurando, em primeiro lugar, o “Reino de Deus e sua Justiça”.
Do irmão em Cristo e Francisco,
Rosalvo Gonçalves Mota, OFS.