Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Na arte da política

22/10/2022

                                                                                                                                             Arte:: CNBB

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

A arte da política, em razão de sua importância para a humanidade, consolidou-se como uma ciência. Estudos sobre a temática da política constituem horizonte largo e inspirador, fortalecendo um relevante campo do saber humano. Outras disciplinas, a exemplo da filosofia, da antropologia e da sociologia, também se dedicam à arte da política, comprovando a sua relevância na configuração do bem comum. Sendo uma arte, a política pede investimentos de seus agentes na sua aprendizagem, pois exercê-la inadequadamente pode ter consequências desastrosas para a sociedade, com incidências graves na vida cidadã. Prejuízos civilizatórios que causam erosões na convivência humana, com atrasos que produzem consideráveis perdas. Oportuno é lembrar que a arte política não se esgota, absolutamente, na possibilidade garantida pela liberdade cidadã, em se cumprindo pré-requisitos legislativos, de sufragar o próprio nome em um pleito eleitoral. Torna-se, pois, necessário refletir sobre o envolvimento de todos, imprescindível, com a política na contemporaneidade.

Por isso, é interessante considerar a política como arte da tergiversação, isto é, exercício de altercações e entendimentos que podem produzir iluminações capazes de propor rumos novos, arquitetar respostas para problemas. Um exercício que possibilita também contribuir para o inegociável respeito a princípios e valores fundamentais. A dedicação à política precisa guardar a grandeza e a envergadura necessárias para qualificar o tecido da cidadania. Ao invés disso, observa-se deteriorações muito perigosas. Dentre elas, está a engenharia de mentiras para arquitetar convencimentos, misturando valores nobres com contravalores. Essas mentiras são disseminadas especialmente no ambiente digital, com consequências altamente nocivas ao bem da sociedade.

Percebe-se a perversão de se pretender conquistar consenso e anuências pelo caminho da difamação gratuita, não raramente mentirosa. Muitos investem nesse caminho buscando encobrir o próprio limite. As narrativas no âmbito da política tornam-se perigosas porque frequentemente são perversas. Um nível tal de perversidade que faz valer, tão simplesmente, o propósito de vencer a qualquer custo. Para alcançar a vitória a qualquer preço, são promovidas inadequadas misturas, rifados critérios intocáveis no âmbito do relacionamento humano, constituindo uma verdadeira babel de acusações e estremecimentos. Ao palco da política é levado o que acirra confusões apaixonadas e pouco racionais. As crescentes irracionalidades são responsáveis por perdas de todo tipo, muitas irreparáveis.

A influência do exercício da política na sociedade merece atenção especial dos agentes políticos sob pena de se tornarem os grandes promotores de radicalizações, responsáveis por erodir o tecido civilizatório da sociedade. Os extremismos praticados no período eleitoral deixam profundas marcas que não se cicatrizam, simplesmente, após a apuração das urnas. Essas marcas atrasam a solução de problemas. São, pois, necessários paradigmas inspiradores de cidadania, construídos a partir da arte de se fazer política. Esses paradigmas ultrapassam limites próprios do universo partidário. São essenciais à constituição da “política melhor”, a serviço do bem.

Eis uma fundamental tarefa cristã: levar à prática política os parâmetros da “política melhor”, bem apresentados pelo Papa Francisco, no capítulo 5º da Carta Encíclica Fratelli Tutti. Entre outras indicações, é preciso lembrar que a “política melhor” guarda o compromisso de cumprir uma tarefa educativa, pelo desenvolvimento de hábitos solidários, da capacidade de pensar a vida humana de forma mais integral. Essa tarefa educativa precisa reconhecer a necessidade de se cultivar a profundidade espiritual, importante também para a promoção de qualificadas relações sociais. Uma qualificação capaz de preparar a sociedade para reagir às injustiças, às aberrações e aos abusos de poderes econômicos, tecnológicos, políticos e midiáticos. Trabalhar pela “política melhor” não é, assim, tarefa de única pessoa. Precisa envolver a sociedade e suas instituições, fortalecidas a partir da identidade e da missão de cada uma. A arte da política não pode admitir mediocridades, sob pena de sacrificar o bem comum.


Dom Walmor Oliveira de Azevedo é Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Download Best WordPress Themes Free Download
Download Best WordPress Themes Free Download
Download WordPress Themes
Premium WordPress Themes Download
lynda course free download
download lava firmware
Premium WordPress Themes Download
ZG93bmxvYWQgbHluZGEgY291cnNlIGZyZWU=

Conteúdo Relacionado