Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“Todas as Igrejas para o mundo inteiro”

25/10/2011

                                                                                                          Imagem: Missão de Angola (Acervo Província)

Por ocasião do Dia Mundial das Missões gostaria de convidar todo o povo de Deus Pastores, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos para uma reflexão comum sobre a urgência e a importância que reveste, também neste nosso tempo, a ação missionária da Igreja. De fato, não cessam de ecoar, como chamada universal e apelo urgente, as palavras com as quais Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado antes de subir ao Céu, confiou aos Apóstolos o mandamento missionário:  “Ide, pois, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo ensinando-as a cumprir tudo quanto vos tenho mandado”. E acrescentou:  “Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo” (Mt 28, 19-20). Na empenhativa obra de evangelização ampara-nos e acompanha-nos a certeza de que Ele, o dono da messe, está conosco e guia incessantemente o seu povo. É Cristo a fonte inexaurível da missão da Igreja. Este ano, além disso, um ulterior motivo nos estimula a um renovado compromisso missionário. De fato celebra-se o 50º aniversário da Encíclica do Servo de Deus Pio XII Fidei donum, com a qual foi promovida e encorajada a cooperação entre as Igrejas para a missão ad gentes.

“Todas as Igrejas para o mundo inteiro”. É este o tema escolhido para o próximo Dia Mundial das Missões. Ele convida as Igrejas locais de cada Continente a uma partilhada consciência sobre a urgente necessidade de relançar a ação missionária perante os numerosos e graves desafios do nosso tempo. Certamente são diferentes as condições em que vive a humanidade, e nestes decênios foi realizado um grande esforço para a difusão do Evangelho, especialmente a partir do Concílio Vaticano II. Contudo, permanece ainda muito a fazer para responder ao apelo missionário que o Senhor nunca se cansa de fazer a cada batizado. Ele continua a convidar, em primeiro lugar, as Igrejas chamadas de antiga tradição, que no passado forneceram às missões, além dos meios materiais, também um número consistente de sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, dando vida a uma eficaz cooperação entre comunidades cristãs. Desta cooperação surgiram abundantes frutos apostólicos quer para as jovens Igrejas em terras de missão, quer para as realidades eclesiais de onde provinham os missionários. Perante o progredir da cultura secularizada, que por vezes parece invadir cada vez mais as sociedades ocidentais, considerando além disso a crise da família, a diminuição das vocações e o progressivo envelhecimento do clero, estas Igrejas correm o risco de se fecharem em si mesmas, de olhar com pouca esperança para o futuro e de diminuir o seu esforço missionário. Mas é precisamente este o momento de se abrir com confiança à Providência de Deus, que jamais abandona o seu povo e que, com o poder do Espírito Santo, o guia para o cumprimento do seu desígnio eterno de salvação.

O Bom Pastor convida a dedicar-se generosamente à missio ad gentes também as Igrejas de recente evangelização. Mesmo encontrando não poucas dificuldades e obstáculos no seu desenvolvimento, estas comunidades estão em crescimento constante. Algumas felizmente abundam de sacerdotes e de pessoas consagradas, não poucos dos quais, mesmo sendo tantas as necessidades in loco, são contudo enviados para desempenhar o seu ministério pastoral e o seu serviço apostólico noutras partes, também nas terras de antiga evangelização. Assiste-se desta forma a um providencial “intercâmbio de dons”, que redunda em benefício para todo o corpo místico de Cristo. Desejo fervorosamente que a cooperação missionária se intensifique, valorizando as potencialidades e os carismas de cada um. Além disso, espero que o Dia Missionário Mundial contribua para tornar cada vez mais conscientes todas as comunidades cristãs e cada batizado que a chamada de Cristo é universal para propagar o seu Reino até aos extremos confins do planeta. “A Igreja é por sua natureza missionária escreve João Paulo II na Encíclica Redemptoris missio, porque o mandato de Cristo não é algo contingente e exterior, mas atinge o próprio coração da Igreja. Segue-se daí que a Igreja toda e cada uma das Igrejas são enviadas aos não-cristãos. Mesmo as Igrejas jovens… devem participar quanto antes e de fato na missão universal da Igreja, enviando também elas, por todo o mundo, missionários a pregar o Evangelho, mesmo se sofrem escassez de clero” (n. 61).

Cinqüenta anos do histórico apelo do meu predecessor Pio XII com a Encíclica Fidei donum para uma cooperação entre as Igrejas ao serviço da missão, gostaria de recordar que o anúncio do Evangelho continua a revestir as características da atualidade e da urgência. Na mencionada Encíclica Redemptoris missio, o Papa João Paulo II, por seu lado, reconhecia que “a missão da Igreja é mais vasta que a “comunhão entre as Igrejas”; ela deve estar orientada também e sobretudo no sentido da missionariedade específica” (n. 65). O compromisso missionário permanece portanto, como foi várias vezes recordado, o primeiro serviço que a Igreja deve à humanidade de hoje, para orientar e evangelizar as transformações culturais, sociais e éticas; para oferecer a salvação de Cristo ao homem do nosso tempo, em tantas partes do mundo humilhado e oprimido por causa de pobrezas endêmicas, de violência e de negação sistemática dos direitos humanos.

A esta missão universal a Igreja não se pode subtrair; ela constitui para a Igreja uma força constrangedora. Tendo Cristo confiado em primeiro lugar a Pedro e aos Apóstolos o mandato missionário, ela compete hoje antes de tudo ao Sucessor de Pedro, que a Providência divina escolheu como fundamento visível da unidade da Igreja, e aos Bispos diretamente responsáveis da evangelização quer como membros do Colégio episcopal, quer como Pastores das Igrejas particulares (cf. Redemptoris missio, 63). Portanto, dirijo-me aos Pastores de todas as Igrejas colocados pelo Senhor como guias do seu único rebanho, para que partilhem a preocupação do anúncio e da difusão do Evangelho. Foi precisamente esta preocupação que estimulou, há cinqüenta anos, o Servo de Deus Pio XII a tornar a cooperação missionária mais correspondente às exigências dos tempos. Especialmente perante as perspectivas da evangelização ele pediu às comunidades de antiga evangelização que enviassem sacerdotes em apoio das Igrejas de recente formação. Deu assim vida a um novo “sujeito missionário” que, desde as primeiras palavras da Encíclica, tirou precisamente o nome de “Fidei donum”. Em relação a isto escreveu:  “Considerando por um lado as multidões sem conta de filhos nossos que, sobretudo nos Países de antiga tradição cristã, participam do bem da fé, e por outro a multidão ainda mais numerosa dos que ainda aguardam a mensagem da salvação, sentimos o ardente desejo de vos exortar, Veneráveis Irmãos, a amparar com o vosso zelo a causa santa da expansão da Igreja no mundo”. E acrescentou:  “Queira Deus que após o nosso apelo o espírito missionário penetre mais profundamente no coração de todos os sacerdotes e, através do seu ministério, inflame todos os fiéis” (AAS XLIX 1957, 226).

Demos graças ao Senhor pelos frutos abundantes obtidos por esta cooperação missionária em África e noutras regiões da terra. Multidões de sacerdotes, depois de terem deixado as comunidades de origem, dedicaram as suas energias apostólicas ao serviço de comunidades acabadas de surgir, em zonas de pobreza e em vias de desenvolvimento. Entre eles encontram-se não poucos mártires que, ao testemunho da palavra e à dedicação apostólica, uniram o sacrifício da vida. Também não podemos esquecer os numerosos religiosos, religiosas e leigos voluntários que, juntamente com os presbíteros, se prodigalizaram para difundir o Evangelho até aos extremos confins do mundo. O Dia Missionário Mundial seja ocasião para recordar na oração estes nossos irmãos e irmãs na fé e quantos continuam a prodigalizar-se no vasto campo missionário. Peçamos a Deus que o seu exemplo suscite em toda a parte novas vocações e uma renovada consciência missionária no povo cristão. De fato, cada comunidade cristã nasce missionária, e é precisamente com base na coragem de evangelizar que se mede o amor dos crentes para com o Senhor. Poderíamos dizer que, para cada um dos fiéis, não se trata simplesmente de colaborar na atividade  de evangelização, mas de se sentir eles mesmos protagonistas e co-responsáveis da missão da Igreja. Esta co-responsabilidade exige que cresça a comunhão entre as comunidades e se incremente a ajuda recíproca no que diz respeito quer ao pessoal (sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos voluntários) quer ao uso dos meios hoje necessários para evangelizar.

Queridos irmãos e irmãs, o mandato missionário confiado por Cristo aos Apóstolos diz respeito verdadeiramente a todos nós. O Dia Missionário Mundial seja portanto ocasião propícia para tomar mais profunda consciência e para elaborar juntos itinerários espirituais e formativos apropriados que favoreçam a cooperação entre as Igrejas e a preparação de novos missionários para a difusão do Evangelho neste nosso tempo. Contudo não esqueçamos que o primeiro e prioritário contributo, que somos chamados a oferecer à ação missionária da Igreja, é a oração.
“A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos diz o Senhor . Pedi, portanto, ao dono da messe para que mande trabalhadores para a sua messe” (Lc 10, 2). “Em primeiro lugar escrevia há cinqüenta anos o Papa Pio XII de venerada memória rezai pois, Veneráveis Irmãos, rezai mais. Recordai-vos das imensas necessidades espirituais de tantos povos ainda tão distantes da verdadeira fé ou privados de socorros para perseverar nela” (AAS, cit. p. 240). E exortava a multiplicar as Missas celebradas pelas Missões, observando que “isso responde ao desejo do Senhor, que ama a sua Igreja e a quer extensa e florescente em todos os ângulos da terra” (Ibid., p. 239).

Queridos irmãos e irmãs, renovo também eu este convite sempre muito atual. Propague-se em todas as comunidades a coral invocação ao “Pai nosso que está no céu”, para que venha o seu reino à terra. Faço apelo sobretudo às crianças e aos jovens, sempre prontos para generosos impulsos missionários. Dirijo-me aos doentes e aos sofredores, recordando o valor da sua misteriosa e indispensável colaboração na obra da salvação. Peço às pessoas consagradas e especialmente aos mosteiros de clausura que intensifiquem a sua oração pelas missões. Graças ao compromisso de cada crente, alargue-se em toda a Igreja a rede espiritual da oração em favor da evangelização. A Virgem Maria, que acompanhou com solicitude materna o caminho da Igreja nascente, guie os nossos passos também nesta nossa época e nos obtenha um novo Pentecostes de amor. Em particular, torne-nos conscientes de que todos somos missionários, isto é, enviados pelo Senhor a ser suas testemunhas em todos os momentos da nossa existência. Aos sacerdotes “Fidei donum”, aos religiosos, às religiosas, aos leigos voluntários comprometidos nas fronteiras da evangelização, assim como a quantos de vários modos se dedicam ao anúncio do Evangelho garanto uma recordação na minha oração, e concedo com afeto a todos a Bênção Apostólica.

Papa Bento XVI

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