Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Páscoa do Senhor

Páscoa do Senhor

Crer no Ressuscitado

 

José Antonio Pagola

Nós, cristãos, não devemos esquecer que a fé em Jesus Cristo ressuscitado é muito mais do que o assentimento a uma fórmula do credo. Muito mais inclusive do que a afirmação de algo extraordinário que aconteceu ao Jesus morto há aproximadamente dois mil anos.

Crer no Ressuscitado é crer que agora Cristo está vivo, cheio de força e criatividade, impulsionando a vida para seu último destino e libertando a humanidade de cair na destruição da morte.

Crer no Ressuscitado é crer que Jesus se faz presente no meio dos que creem. É tomar parte ativa nos encontros e nas tarefas da comunidade cristã, sabendo com alegria que, quando dois ou três nos reunimos em seu nome, ali está Ele pondo esperança em nossa vida.

Crer no Ressuscitado é descobrir que nossa oração a Cristo não é um monólogo vazio, sem interlocutor que escute nossa invocação, mas diálogo com alguém vivo que está junto de nós na própria raiz da vida.

Crer no Ressuscitado é deixar-nos interpelar por sua palavra viva recolhida nos evangelhos, e ir descobrindo praticamente que suas palavras são “espírito e vida” para quem sabe alimentar-se delas.

Crer no Ressuscitado é viver a experiência pessoal de que Jesus tem força para mudar nossa vida, ressuscitar o bom que há em nós e ir nos libertando do que mata nossa liberdade.

Crer no Ressuscitado é saber descobri-lo vivo no último e mais pequeno dos irmãos, convidando-nos à compaixão e à solidariedade.

Crer no Ressuscitado é crer que Ele é “o primogênito entre os mortos”, é nele que já se inicia nossa ressurreição e é nele que já se abre para nós a possibilidade de viver eternamente.

Crer no Ressuscitado é crer que nem o sofrimento, nem a injustiça, nem o câncer, nem o infarto, nem a metralhadora, nem o pecado, nem a morte têm a última palavra. Só o Ressuscitado é Senhor da vida e da morte.


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.


Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Textos bíblicos para este domingo

Primeira Leitura

At 10,34a.37-43

Naqueles dias, 34aPedro tomou a palavra e disse: 37“Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo pregado por João: 38como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele.

39E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. 40Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se 41não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos. 42E Jesus nos mandou pregar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos. 43Todos os profetas dão testemunho dele: ‘Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados’”.


Salmo

Sl 117

— Este é o dia que o Senhor fez para nós:/ alegremo-nos e nele exultemos!

— Este é o dia que o Senhor fez para nós:/ alegremo-nos e nele exultemos!

— Dai graças ao Senhor, porque ele é bom!/ “Eterna é a sua misericórdia!”/ A casa de Israel agora o diga:/ “Eterna é a sua misericórdia!”

— A mão direita do Senhor fez maravilhas,/ a mão direita do Senhor me levantou./ Não morrerei, mas ao contrário, viverei/ para cantar as grandes obras do Senhor!

— A pedra que os pedreiros rejeitaram,/ tornou-se agora a pedra angular./ Pelo Senhor é que foi feito tudo isso./ Que maravilhas ele fez a nossos olhos!


Segunda Leitura

Cl 3,1-4

Irmãos: 1Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, 2onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. 3Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. 4Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória.


Evangelho

Jo 20,1-9

1No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. 2Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”.

3Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. 4Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 5Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. 6Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão 7e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte.

8Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou. 9De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.

Reflexões do exegeta Frei Ludovico Garmus

Domingo da Páscoa

Frei Ludovico Garmus

 Oração: “Ó Deus, por vosso Filho Unigênito, vencedor da morte, abristes hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando a ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos na luz da vida nova”.

  1. Primeira leitura: At 10,34a.37-43

Comemos e bebemos com ele depois que ressuscitou dos mortos.

Lucas traz um exemplo de como poderia ser a pregação inicial dos apóstolos (querigma), testemunhas da ressurreição de Cristo, para os que ouviram falar de Jesus, mas ainda não conheciam a fé cristã. Pedro está na casa de Cornélio, comandante do exército romano, que o convidou para que falasse sobre Jesus de Nazaré algo mais do que ele já conhecia. Por isso, Pedro não perde tempo em falar de coisas já conhecidas: “Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo pregado por João”. Invertendo a frase, temos a estrutura dos evangelhos sinóticos: atividade de João Batista, atividade de Jesus na Galileia, paixão e morte de Jesus na Judeia. Pedro afirma que Jesus só andou fazendo o bem por toda a parte, porque “foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder” (v. 38). Apesar do bem que fazia na terra dos judeus e em Jerusalém, acabou sendo morto, pregado numa cruz. Mas Deus o ressuscitou ao terceiro dia e Jesus se manifestou a eles. Os apóstolos foram escolhidos como testemunhas qualificadas, porque “comeram e beberam com Jesus depois que ressuscitou dos mortos”. Jesus foi constituído por Deus como Juiz dos vivos e dos mortos. Quem nele crê recebe o perdão dos pecados.

Salmo responsorial

Este é o dia que o Senhor fez para nós:

alegremo-nos e nele exultemos.

  1. Segunda leitura: Cl 3,1-4

Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo.

O autor do texto que ouvimos convida os cristãos a guiarem sua vida pelos valores celestes e não pelos da terra. O cristão deve morrer para tudo que leva ao pecado, para viver uma vida nova em Cristo. Isso é simbolizado pelo batismo: No símbolo da imersão na água batismal morre o homem velho e, ao emergir, nasce o homem novo, para viver uma vida nova em Cristo. Como Cristo ressuscitou e está com Deus, diz o autor, nossa vida “está escondida, com Cristo, em Deus”. Esta vida se manifestará quando Cristo voltar triunfante em sua glória, no fim dos tempos. É o que diz Paulo ao falar da ressurreição dos mortos: “Cristo ressuscitou dos mortos como o primeiro dos que morreram”. Por isso, “assim, em Cristo todos reviverão. Cada qual, porém, em sua ordem: Cristo como primeiro fruto, em seguida os que forem de Cristo por ocasião de sua vinda” (1Cor 15,20-23). Quando isso acontecer, “o último inimigo a ser vencido será a morte” (1Cor 15,26). Para Marta, que chorava a morte de seu irmão Lázaro, Jesus diz: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11,25).

Sequência

Cantai, cristãos, afinal: “Salve, ó vítima pascal”!
Cordeiro inocente, ó Cristo abriu-nos do Pai o aprisco.
Por toda ovelha imolado, do mundo lava o pecado.
Duelam forte a mais forte: é a vida que enfrenta a morte.
O rei da vida, cativo, é morto, mas reina vivo!
Responde, pois, ó Maria: no teu caminho o que havia?
“Vi Cristo ressuscitado, o túmulo abandonado.
Os anjos da cor do sol, dobrado ao chão o lençol…
O Cristo, que leva aos céus, caminha à frente dos seus!”
Ressuscitou de verdade. Ó Rei, ó Cristo, piedade!

Aclamação ao Evangelho: Aleluia, Aleluia, Aleluia.

         O nosso cordeiro pascal, Jesus Cristo, já foi imolado.

                Celebremos, assim, esta festa, na sinceridade e verdade.

  1. Evangelho: Jo 20,1-9

Ele devia ressuscitar dos mortos.

No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai de madrugada ao túmulo e encontra a pedra removida. É uma das mulheres que estavam junto à cruz, com a mãe de Jesus e o discípulo que Jesus amava. Não vai ao túmulo para ungir o corpo de Jesus, como as mulheres em Mc 16,1, pois Nicodemos e José de Arimateia já o tinham feito, usando aromas e trinta quilos de mirra e aloés (Jo 19,39-40). Como a mulher do Cântico dos Cânticos (Ct 3,1), bem de madrugada, ainda “no escuro”, ela sai para visitar o sepulcro e chorar o seu amado. Vendo a pedra removida, sai correndo para avisar a Pedro e ao outro discípulo: “Tiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram”. Os dois discípulos também correm para verificar o que aconteceu e buscar uma explicação. Com o Senhor morto e o sepulcro fechado, a vida parecia ter parado. Mas a pedra, que parecia selar para sempre o destino do Mestre, foi removida e o sepulcro estava aberto e vazio. Primeiro entra Pedro e encontra apenas as faixas de linho, que envolviam o corpo, e o sudário, que envolvia a cabeça de Jesus. Depois entra o outro discípulo e encontra as mesmas coisas que Pedro; mas, ele “viu e creu”.

Por que Pedro viu apenas viu um sepulcro vazio e panos espalhados pelo chão? Por que o discípulo amado, a testemunha por excelência, “viu e creu”? Pedro pode ter pensado o que Madalena pensou: alguém roubou o corpo de Jesus, boato mencionado por Mateus. O discípulo amado, fiel a Jesus até aos pés da cruz, acreditou nas Escrituras que anunciam sua ressurreição. Porque amava, viu não apenas um sepulcro vazio, mas também os panos esvaziados, afrouxados, testemunhando a vitória de Jesus sobre a morte, porque tinha o poder de dar sua vida e de retomá-la (10,17-18). Por trás do discípulo amado pode estar a figura do Apóstolo João. Representa, também, todo o cristão iniciado na fé, que ama o Senhor, como Maria Madalena e o discípulo amado e é amado pelo Senhor. É, por excelência, a testemunha de Cristo Ressuscitado. Ele representa pessoas como eu e você, que não viram Cristo ressuscitado, mas crêem. Ele não crê apenas porque “viu” o Cristo Ressuscitado como Maria Madalena e os Apóstolos. Crê porque compreende a Escritura (como os iniciados), “segundo a qual Cristo devia ressuscitar dos mortos”.


FREI LUDOVICO GARMUS, OFMé professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.

Quem ama tem mais facilidade de crer

Frei Clarêncio Neotti

Várias vezes Jesus disse que viera para os pecadores arrependidos (Mt 9,13), as ovelhas desgarradas (Mt 18,12-14) e os filhos pródigos (Lc 15,11-32). Hoje, ao começar a contar o principal fato da história da salvação, João põe em primeiro lugar Maria de Magdala, que fora pecadora pública, mas que, convertida, seguira Jesus. Madalena é então o símbolo das pessoas lembradas no terceiro discurso de Pedro: “Todos os que creem recebem o perdão dos pecados” (At 10,43).

Também a presença de João, “a quem Jesus amava” (v. 2), nesta manhã de Páscoa, torna-se um símbolo. Quem ama tem mais facilidade em crer; quem ama corre mais depressa, encurta distâncias, intui verdades. Os dois verbos que ocorrem na narração a respeito de João (viu e creu) são o ponto central, porque já são consequência do milagre da ressurreição. Ele viu os sinais da ressurreição. Como também nós podemos ver os sinais, que são suficientes para quem ama. A partir da ressurreição devemos nos guiar pelos sinais que Jesus fez e deixou, porque já não será visto em sua forma física. A partir da ressurreição, os sinais provocam a fé, e só pela fé é possível ver Jesus. Há uma nova maneira de Jesus estar presente na comunidade. A fé depende do tamanho do amor, e o amor se alimenta na fé. Ao contar a Última Ceia, João evangelista observa: “Tendo amado os seus, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Essa frase pode ser sinônimo de ressuscitar, porque ressuscitar não é retomar o antigo corpo, mas é ir morrendo através do amor sempre maior aos outros e ao grande Outro, que é Deus, e que, por amor, faz comunhão conosco, faz-nos viver de sua vida divina e eterna.


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

Ele vive, Ele vive!

Frei Almir Guimarães

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. Saiu correndo… (Jo 20,1).

Celebrar é tornar atual, fazer conhecida alguma coisa que nos encheu de vida e de alegria. Celebrar a Páscoa de Jesus é fazer de sorte que sua ressurreição seja para nós um sentido de vida. Não somos chamados a viver de qualquer modo, mas intensamente. Não podemos envelhecer. A atualização da festa da Páscoa nos faz renascer. Nosso nome é renascido, renascida, renato, renata.

1. A vida se esconde na morte

♦ Ele tinha vindo do seio do Pai propor um mundo diferente no qual os últimos são os primeiros e os primeiros os últimos, os que lavam os pés dos outros são príncipes, gente de raça nobre, parecidos com o Filho de Deus, lavador da impureza da humanidade Veio para nos convidar insistentemente a fazer um mundo de entendimento e de fraternidade, mundo de profundidade e densidade, veio ensinar-nos a vantagem de rezar no quarto, de perfumar a cabeça quando fizermos jejum, a dar sem ver a quem, veio criar um mundo despojado, veio criar novamente, recriar.

♦ Andou pelos caminhos de um cantinho da terra fazendo o bem, curando os corpos e dando saúde aos corações. Deus estava com ele. Dele se disse que passou a vida fazendo o bem.

♦ Conheceu o reconhecimento de uns e outros. Conheceu também a perseguição e a contradição, a agonia, a traição, o jardim das oliveiras, a tortura, a solidão no alto da cruz… e esse Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?

♦ Um grão morrendo, aceitando morrer… Ninguém lhe tirava a vida, ela a dava livremente. Alguém feito dom até o fim, colocado morto na terra fria de um sepulcro.

2. Ressuscitou

♦ Não se trata da reanimação de um cadáver. É ele, mas é ele diferente. Aparece a alguns, aqui e ali. Apareceu a uns poucos privilegiados que seriam testemunhas de sua vida nova.

♦ É reconhecido através de certos gestos e pelo tom com que pronuncia algumas palavras: a fração do pão, o tom de voz com que diz o nome da mulher que o amava, Maria.

♦ O corpo de Jesus não ficou na morte. Ele inteiro vive junto do Pai e perto de nós: na leitura das Escrituras, nos gestos mais límpidos de amor, na comunidade dos fiéis, quando dois ou três se reúnem para amar, nos sinais dos sacramentos.

♦ Um corpo humano, como todos os corpos humanos, corpo transfigurado que está na glória.

3. Nossa vida está escondida com Cristo em Deus

♦ “Pois morrestes e a vossa vida esta escondida, com Cristo em Deus” (Cl 3, 3).
♦ Ressuscitamos com Cristo. Nossa vida está escondida em sua vida.
♦ Vida velha: banalidades, dinheiro, prestigio, nós mesmos, conversa jogada fora, lero-lero, coisas vazias, superficialidade, cessarão da circulação do sangue e do arfar dos pulmões.
♦ Vida de intrigas, de competição cega, de irrefletida acumulação.
♦ Pela ressurreição do Senhor vivemos nova vida. Essa vida está escondida com Cristo em Deus.

4. Mas onde ele está?

♦ Na fé viva dos cristãos que experimentam o coração a arder.
♦ No serviço aos irmãos, sobretudo ao últimos, aos que não contam e aos mais abandonados.
♦ No momento em que dois ou três estiverem reunidos efetivamente em nome dele.
♦ No anúncio límpido do Evangelho proclamado e ouvido como uma boa nova de Deus.
♦ Nas palavras e gestos com os quais os cristãos confortam e ajudam os demais.
♦ Na Eucaristia, mistério de comunhão, celebrado como memorial do amor maior que consiste em dar a vida.
♦ Na reserva eucarística, pão sagrado que chama os cristãos para a oração e promove a fraternidade.
♦ Nos que amam, perdoam e buscam caminhos de justiça, de liberdade, de reconciliação e de amor(cf. Josep Maria Rovira Belloso, teólogo espanhol

Pensamento final

“Assim, para cada um dos que creem, a Páscoa é a passagem de um modo de viver para outro; é a saída do Egito e imersão no Mar Vermelho e caminho do deserto até a terra da promessa. Em uma palavra, é êxodo deste mundo ao Pai, em seguimento de Jesus, cabeça do novo povo, animado pelo sopro vital do seu Espírito. Batizados na sua morte e ressurreição, caminhamos numa novidade de vida. O nosso “êxodo” coincide com a duração da vida, até a maturidade, até a última passagem que é a morte: o nosso crescimento se dá conforme à correspondência à lei da vida divina em nós, isto é, o amor” (Missal Dominical e Festivo da Paulus).


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

A “Páscoa” do Messias e do seu povo

Pe. Johan Konings

Na noite do Sábado Santo para “o primeiro dia da semana, os primeiros cristãos celebravam a ressurreição do Senhor Jesus. Por isso, o primeiro dia da semana chama-se domingo, dia do Dominus, “Senhor”. Atualmente, a liturgia prevê três momentos de celebração da Páscoa: a missa da Vigília Pascal, de noite, a missa do domingo de manhã e a missa da tarde. Aprofundamos aqui o sentido da primeira celebração.

A liturgia da vigília pascal inicia com a celebração da luz nova e do círio pascal. Depois, leem-se diversas leituras do A.T. (sete, ou no mínimo três). Uma dessas leituras (a 3ª) lembra o significado da Páscoa no A.T.: a passagem do Senhor Deus para libertar seu povo, arrancando-o das mãos dos egípcios e fazendo-o passar pelo Mar Vermelho a pé enxuto (Ex 14, 15-15,1). Para os cristãos, Páscoa é a comemoração da passagem de Jesus, da morte à glória. Deus mostrou-se mais forte que os inimigos de seu plano de amor, que mataram o Messias. O amor venceu, e ressurgiu imortal. O Messias vai agora à frente de seu povo, na “Galileia”, lugar onde se encontram os discípulos. Glorioso, o ressuscitado conduz novamente os seus fiéis, como ensina o evangelho da Vigília Pascal.

Também nós temos de realizar nossa passagem. No início da Igreja, a noite pascal era a noite em que se administrava o batismo. O batismo significa a nossa “travessia do Mar Vermelho”, a nossa descida com Cristo no sepulcro, para com ele voltar à vida nova, tornando-nos criaturas novas, mortas para o pecado, mas vivendo para Deus, em Cristo (leitura do Novo Testamento, depois do Glória festivo). Na Vigília Pascal renovamos o nosso compromisso batismal. Morremos e ressuscitamos com Cristo. Essa renovação do compromisso batismal é o “selo” que confirma a conversão empreendida na quaresma. A profissão de fé na Páscoa, em torno; da água batismal benzida na mesma hora, é renovação de nosso batismo, uma “míni-ressurreição”. Mas a consolidação da nossa conversão deve mostrar-se, sobretudo, em nossa prática da caridade e justiça. A Campanha da Fraternidade não terminou; devemos consolidá-la pela prática de nossa vida renovada!

Então a alegria da Páscoa não será por causa do coelhinho e dos presentes que o comércio avidamente nos forneceu. Será a alegria de quem passou da morte para a vida, trilhando os passos de Jesus. Será também a alegria do novo povo de Deus, que segue seu Messias. E esta alegria será verdadeira, somente se este povo realiza o amor e a fraternidade pelos quais Cristo deu a sua vida. Mostrará por sua vida que o amor de Cristo foi vitorioso.


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022.  Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella