Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Domingo de Ramos e da Paixão

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

Com os Crucificados

 

José Antonio Pagola

O mundo está cheio de igrejas cristãs presididas pela imagem do Crucificado, e está cheio também de pessoas que sofrem, crucificadas pela desgraça, pelas injustiças e pelo esquecimento: doentes privados de cuidado, mulheres maltratadas, anciãos ignorados, meninos e meninas violentados, emigrantes sem documentos nem futuro. E gente, muita gente afundada na fome e na miséria no mundo inteiro.

É difícil imaginar um símbolo mais carregado de esperança do que essa cruz plantada pelos cristãos em toda parte: “memória” comovente de um Deus crucificado e lembrança permanente de sua identificação com todos os inocentes que sofrem de maneira injusta em nosso mundo.

Essa cruz, erguida entre as nossas cruzes, nos lembra que Deus sofre conosco. Deus se condói da fome das crianças de Calcutá, sofre com os assassinados e torturados do Iraque, chora com as mulheres maltratadas diariamente em seu lar. Não sabemos explicar a raiz última de tanto mal. E, mesmo que o soubéssemos, não nos adiantaria muito. Só sabemos que Deus sofre conosco. Não estamos sós.

Mas os símbolos mais sublimes podem ficar pervertidos se não recuperarmos sempre de novo seu verdadeiro conteúdo. O que significa a imagem do Crucificado, tão presente entre nós, se não vemos marcados em seu rosto o sofrimento, a solidão, a tortura e a desolação de tantos filhos e filhas de Deus?

Que sentido tem trazer uma cruz sobre nosso peito se não sabemos carregar a mais pequena cruz de tantas pessoas que sofrem junto a nós? O que significam nossos beijos no crucificado se não despertam em nós o carinho, a acolhida e a aproximação aos que vivem crucificados?

O Crucificado desmascara como ninguém nossas mentiras e covardias. A partir do silêncio da cruz, Ele é o juiz firme e manso do aburguesamento de nossa fé, de nossa acomodação ao bem-estar e de nossa indiferença diante dos que sofrem. Para adorar o mistério de um Deus crucificado não basta celebrar a Semana Santa; é necessário, além disso, aproximar-nos mais dos crucificados, semana após semana.


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.


Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos