Apresentação do Senhor

- Apresentação do Senhor
- Leituras bíblicas deste domingo
- Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus
- Luz das nações
- Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella
Apresentação do Senhor
A salvação preparada por Deus para todos os povos
Frei Clarêncio Neotti
É uma belíssima cena esta da Apresentação de Jesus no templo. Une o Antigo e o Novo Testamento. Une o velho e o novo templo de Deus. Ao Pai é consagrado o Filho, e o Espírito Santo fala por meio dos lábios de Simeão e de Ana palavras que confirmam a missão salvadora e universal de Jesus, cumprimento da vontade do Pai. Presentes a velhice, a infância e a idade madura. Presentes um casal que oferece, uma viúva que louva, um ancião que profetiza. Presente a natureza com o que tinha de mais simbólico: um casal de jovens pombos, que mais tarde servirá de modelo para descrever a atitude do discípulo de Jesus (Mt 10,16) e a descida do Espírito, que consagrará publicamente o ministério de Cristo, no momento do batismo (Lc 3,22).
Presente, passado e futuro se ajeitam numa única moldura: o presente, na oferta de José e Maria; o passado, na espera/esperança de Simeão e Ana; o futuro, no menino que será a luz dos povos e na espada que traspassará o coração de Maria. O corriqueiro (pegar uma criança no colo) se encontra com o mistério (criança-salvação). A eternidade (Jesus sempre pertenceu ao Pai e com ele sempre foi uma coisa só) se abaixa para unir-se ao tempo e receber a consagração do mesmo Jesus feito homem.
José e Maria subiram discretamente ao templo. Repetiram o gesto de tantos outros jovens casais. De repente, seu gesto se alargou até o céu, quando Simeão agradeceu ao Senhor a sorte de encontrar o Menino aguardado, e se alargou até os confins do mundo, quando o predisse salvação e luz para todos os povos, e se estendeu a todos os tempos, vendo na criança oferecida o sacrifício definitivo do resgate ou da ruina dos filhos de Adão.
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.
Leituras bíblicas deste domingo
Primeira Leitura
Malaquias 3,1-4
Assim diz o Senhor: 1Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim; logo chegará ao seu templo o Dominador, que tentais encontrar, e o anjo da aliança, que desejais. Ei-lo que vem, diz o Senhor dos exércitos; 2e quem poderá fazer-lhe frente no dia de sua chegada? E quem poderá resistir-lhe quando ele aparecer? Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros; 3e estará a postos, como para fazer derreter e purificar a prata: assim ele purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata, e eles poderão assim fazer oferendas justas ao Senhor. 4Será então aceitável ao Senhor a oblação de Judá e de Jerusalém, como nos primeiros tempos e nos anos antigos
Palavra do Senhor.
Salmo Responsorial
Sl 23(24)
O rei da glória é o Senhor onipotente!
“Ó portas, levantai vossos frontões! † Elevai-vos bem mais alto, antigas portas, /
a fim de que o rei da glória possa entrar!” – R.
Dizei-nos: “Quem é este rei da glória?” † “É o Senhor, o valoroso, o onipotente, /
o Senhor, o poderoso nas batalhas!” – R.
“Ó portas, levantai vossos frontões! † Elevai-vos bem mais alto, antigas portas, /
a fim de que o rei da glória possa entrar!” – R.
Dizei-nos: “Quem é este rei da glória?” † “O rei da glória é o Senhor onipotente, /
o rei da glória é o Senhor Deus do universo.” – R.
Segunda Leitura
Hebreus 2,14-18
Irmãos, 14visto que os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição, para assim destruir, com a sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, 15e libertar os que, por medo da morte, estavam a vida toda sujeitos à escravidão. 16Pois, afinal, não veio ocupar-se com os anjos, mas com a descendência de Abraão. 17Por isso, devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. 18Pois, tendo ele próprio sofrido ao ser tentado, é capaz de socorrer os que agora sofrem a tentação.
Palavra do Senhor.
Evangelho
Lucas 2,22-40 ou 22-32
[A forma breve está entre colchetes.]
[22Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor, 23conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. 24Foram também oferecer o sacrifício – um par de rolas ou dois pombinhos -, como está ordenado na Lei do Senhor. 25Em Jerusalém havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele 26e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. 27Movido pelo Espírito, Simeão veio ao templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, 28Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: 29“Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; 30porque meus olhos viram a tua salvação, 31que preparaste diante de todos os povos: 32luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel”.]
33O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. 34Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. 35Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”. 36Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. 37Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações. 38Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. 39Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. 40O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.
Palavra da salvação.
Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus
Apresentação do Senhor 2 de fevereiro
Oração: “Deus eterno e todo-poderoso, ouvi as nossas súplicas. Assim como o vosso Filho único, revestido da nossa humanidade, foi hoje apresentado no Templo, fazei que nos apresentemos diante de vós com os corações purificados”.
- Primeira leitura: Ml 3,1-4
O Senhor, a quem buscais, virá ao seu Templo.
Malaquias profetizou pelo ano 450 a.C. Seu nome significa o mensageiro de Deus, ou anjo. Após o exilio, os profetas Ageu e Zacarias foram os grandes animadores da obra de reconstrução do Templo (520 a.C.). Um século depois, o fervor inicial havia enfraquecido. Os sacerdotes e levitas tornaram-se corruptos, aceitavam do povo animais defeituosos, ou até roubados, como oferenda ao Senhor (Ml 1,6-9…
[10:36, 28/01/2025] Adriana Rodrigues Província: santuário. Sua vinda será tão repentina como o dia do Senhor, que virá para julgar seu povo. Será como o fogo do fundidor que purifica metais, como prata e ouro. Ninguém lhe poderá resistir. Assim os levitas e sacerdotes serão purificados como a prata e o ouro, para se tornarem dignos de oferecer sacrifícios que agradem ao Senhor.
Salmo responsorial: S1 23
O Rei da glória é o Senhor onipotente.
- Segunda leitura: Hb 2,14-18
Jesus devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos.
Depois de afirmar que Jesus Cristo é superior aos anjos (1,5-14), o autor fala da condição humana (carne e sangue) assumida pelo Filho de Deus neste mundo. Jesus participou da nossa condição humana e submeteu-se à morte para destruí-la. Libertou-nos assim do medo da morte e do diabo, que detém o poder da morte (cf. Jo 12,31; 1Jo 3,8). Fez-se em tudo semelhante (solidário) a seus irmãos humanos. Sendo Filho de Deus e nosso irmão, tornou-nos filhos de Deus. Sendo um sumo sacerdote misericordioso, ofereceu sua vida em expiação de nossos pecados. Ele pode socorrer-nos na tentação porque sofreu as tentações (cf. Lc 4,1-13; 22,28) no deserto e antes de dar sua vida por nós: “Nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido por causa de sua entrega” (Hb 5,7).
Aclamação ao Evangelho
Sois a luz que brilhará para os gentios e para a glória de Israel, o vosso povo.
- Evangelho: Lc 2,22-40
Meus olhos viram a tua salvação.
O menino nascido em Belém foi circuncidado no oitavo dia do nascimento, quando recebeu o nome de Jesus (festa de 1º de janeiro). A mãe devia passar mais 33 dias para a purificação após o parto. Cumpridos os 40 dias, José e Maria levaram o menino Jesus ao Templo para apresentá-lo ao Senhor e cumprir os ritos previstos pela Lei. Segundo a Lei, todo o primogênito, primeiro menino nascido, pertencia ao Senhor e devia ser resgatado por um sacrifício cruento. Quando o casal era pobre, bastava oferecer um par de rolas ou dois pombinhos. Foi o que Maria e José fizeram.
Havia no Templo um velhinho muito piedoso, chamado Simeão. Inspirado pelo Espírito Santo, ele dizia que não haveria de morrer antes de ver o Messias Salvador, a “Consolação de Israel”. Quando Simeão viu José e Maria com o menino, tomou-o nos braços, louvou a Deus e disse: “Agora, ó Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz”. Na Anunciação, o anjo Gabriel comunicava a Maria quem seria o filho que iria conceber: Filho do Altíssimo, filho de Davi (Messias prometido) e Filho de Deus. Agora, Simeão louva o Senhor e reconhece que a promessa de ver o Salvador se cumpria antes de ele morrer. Cumpria-se também a promessa ao povo de Israel, porque nasceu “a luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”. Simeão prevê, portanto, que o menino será o salvador não só de Israel, mas de todos os povos. Maria e José ficaram admirados com as palavras de Simeão e ele disse para Maria: O menino “será um sinal de contradição” e que Maria haveria de sofrer muito por causa disso: “uma espada te traspassará tua alma”.
Na ocasião, uma mulher chamada Ana também se aproximou e, ao ver o menino, começou a louvar a Deus, falando do menino “a todos que esperavam a libertação de Israel” (cf. Lc 24,21; At 1,6).
FREI LUDOVICO GARMUS, OFM, é professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.
Luz das nações
Pe. Johan Konings
O Concilio Vaticano II intitulou o texto dedicado à Igreja com um título significativo. “Luz das Nações”. Este título tem uma história muito rica: foi atribuído pelo profeta Isaias ao Servo de Deus, que não é só um indivíduo, mas o próprio povo de Deus. É nesta linha que, numa nova aceitação, o novo povo de Deus, a Igreja, pode tomar este título como emblema de sua missão, exposta no texto conciliar. Mas antes disso situa-se o momento destacado no evangelho de hoje, quando o profeta Simeão confere a Jesus, filho de José e de Maria, o título de Luz das Nações “luz para iluminar as nações, glória de teu povo, Israel”.
No “Segundo Isaias” (42,6; 49,6), a libertação de Israel do exilio babilónico, proclamada pelo “Servo”, é também uma luz para as nações não-israelitas. O que Deus realiza para seu povo ilumina também os outros povos. Vale entender, nesta mesma linha, o que acontece a Jesus, plena realização do Servo, e a seu povo, o novo Israel, a Igreja.
Maria apresenta Jesus ao templo, isto é, ao Senhor Deus. Simeão reconhece nele o profeta que será sinal de reerguimento do povo, mas também de contradição – e a espada traspassará o coração de sua Mãe. O “reerguimento do povo” se realiza de modo representativo na história de Jesus na terra, passando pela morte e ressurreição. Obra maravilhosa que Deus opera em Jesus e, depois, não pára de operar naqueles que, com Jesus, lhe são dedicados, o Povo de Jesus, a Igreja.
Geralmente, o nosso povo, acostumado a sofrer, acentua a profecia de Simeão anunciando a espada que atravessará o coração de Maria e associa a presente festa à de N. Senhora das Dores. Mas no texto do evangelho essa frase é um parêntese. O acento recai em Jesus, luz da nações e glória de Israel, ou seja, aquele que vem completar o plano de Deus para com seu povo. Decerto, como sinal de contradição. Mas sinal glorioso. O sofrimento não pode constituir o horizonte fechado de nossa visão cristã. Em meio ao sofrimento, e talvez por meio desse sofrimento, o novo povo de Deus, mais ainda que o antigo povo exilado, é chamado a ser uma luz que testemunha e torna visível o maravilhoso projeto de Deus para todos os povos, não pelo brilho deste mundo, que se impõe pela dominação, mas pelo brilho da glória de Deus, que se esconde na pequenez de Maria e de seu Filho.
PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.
Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella