Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

32º Domingo do Tempo Comum

32º Domingo do Tempo Comum

Entrega total

Muitos ricos depositavam grandes quantias, então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada, mas aí Jesus olha a proporcionalidade e diz que os ricos davam aquilo que lhes sobrava e a pobre mulher, apesar de dar muito pouco, era tudo que ela tinha.

É esse convite à generosidade total e corajosa ao cultivo de coração pobre desapegado capaz de doar-se inteiramente, Jesus se enxergou-se naquela pobre mulher porque ele mesmo filho de Deus não se apegou ao seu poder, mas se entregou por inteiro, o corpo, a alma, o espírito, para que pudéssemos ser salvos, para que pudéssemos ter em quem confiar, para que pudéssemos nos sentir amados de verdade.

É essa entrega total, generosa a meta da nossa vida.

Sabemos que não é fácil, temos apegos, temos condicionamentos, temos medos e maturidade que nos impedem dar esse passo radical.

O que podemos fazer então? Dar pequenos passos, pequenas superações, pequenas vitórias diárias, de avanço na generosidade, na empatia, na acolhida, na disponibilidade para o perdão, no desejo de fazer o bem, e assim, nós vamos aos poucos, chegando à mesma generosidade da pobre viúva.

Ainda que nos sintamos pobres e desvalidos diante de Deus, ele jamais vai desprezar o nosso esforço, ele sabe valorizar e sabe nos estimular naquilo que temos de melhor.

Obrigado santa mulher, obrigado santa viúva, pelo seu exemplo, pela sua coragem de ter sido tão destemida diante das possibilidades que Deus colocou na sua vida. E mesmo com dor, sofrimento, carência e pobreza, se entregou por inteiro.


FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.


Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Leituras bíblicas deste domingo

Primeira Leitura: 1 Reis 17,10-16

Leitura do primeiro livro dos Reis – Naqueles dias, 10Elias pôs-se a caminho e foi para Sarepta. Ao chegar à porta da cidade, viu uma viúva apanhando lenha. Ele chamou-a e disse: “Por favor, traze-me um pouco de água numa vasilha para eu beber”. 11Quando ela ia buscar água, Elias gritou-lhe: “Por favor, traze-me também um pedaço de pão em tua mão”. 12Ela respondeu: “Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. Eu estava apanhando dois pedaços de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperar a morte”. 13Elias replicou-lhe: “Não te preocupes! Vai e faze como disseste. Mas, primeiro, prepara-me com isso um pãozinho e traze-o. Depois farás o mesmo para ti e teu filho. 14Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘A vasilha de farinha não acabará, e a jarra de azeite não diminuirá, até o dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra’”. 15A mulher foi e fez como Elias lhe tinha dito. E comeram, ele e ela e sua casa, durante muito tempo. 16A farinha da vasilha não acabou nem diminuiu o óleo da jarra, conforme o que o Senhor tinha dito por intermédio de Elias.

Palavra do Senhor.


Sl 145(146)
Bendize, minha alma, bendize ao Senhor!

O Senhor é fiel para sempre, / faz justiça aos que são oprimidos; /
ele dá alimento aos famintos, / é o Senhor quem liberta os cativos. – R.

O Senhor abre os olhos aos cegos, † o Senhor faz erguer-se o caído; /
o Senhor ama aquele que é justo. / É o Senhor quem protege o estrangeiro, †
quem ampara a viúva e o órfão, / mas confunde os caminhos dos maus. – R.

O Senhor reinará para sempre! † Ó Sião, o teu Deus reinará /
para sempre e por todos os séculos! – R.


Segunda Leitura: Hebreus 9,24-28

Leitura da carta aos Hebreus – 24Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, imagem do verdadeiro, mas no próprio céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor. 25E não foi para se oferecer a si muitas vezes, como o sumo sacerdote que, cada ano, entra no santuário com sangue alheio. 26Porque, se assim fosse, deveria ter sofrido muitas vezes, desde a fundação do mundo. Mas foi agora, na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo. 27O destino de todo homem é morrer uma só vez, e depois vem o julgamento. 28Do mesmo modo, também Cristo, oferecido uma vez por todas para tirar os pecados da multidão, aparecerá uma segunda vez, fora do pecado, para salvar aqueles que o esperam.

Palavra do Senhor.


Evangelho: Marcos 12,38-44 ou 41-44

[A forma breve está entre colchetes.]

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – [Naquele tempo,] 38Jesus dizia, no seu ensinamento a uma grande multidão: “Tomai cuidado com os doutores da lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; 39gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. 40Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação”. [41Jesus estava sentado no templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias. 42Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. 43Jesus chamou os discípulos e disse: “Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. 44Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.]

Palavra da salvação.

Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus

Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus

Oração: “ Deus de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço”.

1 Primeira leitura: IRs 17,10-16

A shiva, do seu punhado de farinha, fez um pãozinho e o levou a Elias

Acab, rei de Israel, tinha se casado com Jezabel, filha de um rei pagião de Tiro e Sidónia. Jezabel promovia a religião de Baal, considerado o deus da chuva e da fertilidade, em prejuízo da fé no Deus de Israel. Como punição pelo pecado de idolatria, Elias anunciou uma seca que duraria até que Javé, Deus de Israel, mandasse chuva. Jurado de morte pela rainha, Elias teve que fugir. Por ordem de Deus, foi hospedar-se na casa de uma viúva em Sarepta, região donde viera a rainha. Lá Deus providenciou para o profeta uma hospedagem: “Eu ordenei a uma viúva de lá que te sustentasse” (v. 9). Chegando a Sarepta, o profeta pediu à viúva que lhe trouxesse água e pão. Ela jurou em nome do Senhor, Deus de Israel, que não tinha pão; na verdade, estava catando alguns gravetos para preparar o último pão para si e seu filho órfão, e depois esperariam a morte. Mesmo assim, Elias pediu-lhe que, primeiro, preparasse um pão para ele e só depois para si e seu filho. E prometeu em nome do Senhor, Deus de Israel: Não faltará farinha nem azeite até Deus mandar chuva sobre a terra. Ela acreditou na palavra de Deus anunciada por Elias. E o pão partilhado com generosidade se multiplicou: “E comeram, ele e ela e sua casa, durante muito tempo” (Evangelho; cf. Mt 14,13-21; Jo 6,9).

A historieta nos ensina que o Deus de Israel protege os pobres, representados pela viúva e o órfão, o que Baal é incapaz de fazer. Também hoje, os pobres confiam em Deus e partilham com mais facilidade o pouco que têm do que os ricos, que confiam nas riquezas (cf. Salmo responsorial).

Salmo responsorial: SI 145

Bendize, minha alma; bendize ao Senhor!

2 Segunda leitura: Hb 9,24-28

Cristo foi oferecido uma vez para tirar os pecados da multidão.

Cada ano, na festa da Expiação, o sumo sacerdote entrava no santuário para oferecer um sacrifício cruento em expiação de seus pecados e dos pecados do povo. Jesus ofereceu uma única vez o sacrifício da própria vida em expiação dos pecados da humanidade toda. Desta forma, aboliu todos os sacrifícios do antigo templo. Jesus ressuscitou e entrou definitivamente no santuário do céu, onde está junto de Deus como nosso intercessor. “O destino de todo homem é morrer uma só vez, e depois vem o julgamento” (v. 27). Cristo voltará uma segunda vez (juízo final), para salvar quem lhe for fiel. Nele podemos confiar, porque já agora intercede por nós junto do Pai.

Aclamação ao Evangelho

Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.

3 Evangelho: Mc 12,38-44

Esta viúva pobre deu mais do que todos os outros.

Os ensinamentos que Jesus dava aos discípulos e ao povo, desde a viagem da Galileia, terminam com sua entrada triunfal em Jerusalém (cap. 11). No capítulo 12 temos ensinamentos resultantes do confronto de Jesus com seus adversários e concluem-se com o Evangelho que hoje ouvimos. O texto se divide em duas cenas ligadas pelo tema da viúva. Na primeira cena Jesus está ensinando o povo na área do Templo e tece críticas aos escribas ou doutores da Lei de Moisés. Os escribas e fariseus acusavam Jesus de não observar o sábado e outras prescrições da Lei. Jesus os critica porque não fazem o que ensinam: Usam roupas vistosas, exibem-se nas praças e sinagogas, mas, a pretexto de longas orações, “devoravam as casas das viúvas”. A mesma crítica vale, hoje, aos que ensinam o povo cristão, mas não praticam sua mensagem.

A segunda cena mostra Jesus no Templo, sentado junto ao cofre das esmolas. Enquanto observava os mais ricos depositando punhados de moedas no cofre, Jesus viu uma pobre viúva que do fundo da sua bolsa tirou duas moedinhas, as únicas que possuía, e colocou-as no cofre. Era o cofre das esmolas que serviam para socorrer também os pobres de Jerusalém. Com os olhos de Deus, Jesus viu a cena e disse aos discípulos: “Esta viúva deu mais do que todos os outros”. De fato, ela ofereceu tudo o que tinha para viver; entregou sua vida nas mãos de Deus (Primeira leitura), enquanto outros davam apenas o que lhes sobrava.

Jesus deve ter ficado muito feliz com o gesto generoso da viúva. Ela entregou sua vida nas mãos de Deus. Em breve Jesus também iria entregar sua vida para salvar a humanidade do pecado do egoísmo. Na esmola daquela pobre viúva Jesus viu o Reino de Deus realizando-se no gesto de uma pobre viúva. Viu na prática o que tentava ensinar nas duas divisões dos pães (Mc 6,30-44; 8,1-9). Com seu gesto, a viúva ensinou muito mais que os escribas e fariseus, que não faziam o que ensinavam. Cumpria-se o caminho das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (cf. Mt 5,1). A viúva, entregando sua vida nas mãos de Deus, mostrou que o caminho do Reino de Deus era viável para os discípulos: “Quem perder a sua vida por amor de mim e pela causa do Evangelho, há de salvá-la”.


FREI LUDOVICO GARMUS, OFMé professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.

Crer e amar implica nada reter, nada pedir

Frei Clarêncio Neotti

Estamos em Jerusalém. Estamos no coração de Jerusalém e de toda a cultura e religiosidade judaica: no templo. O Evangelho de hoje traz os últimos ensinamentos de Jesus. O capítulo 13 é constituído pelo chamado ‘discurso es- catológico, isto é, que fala do fim de todas as coisas. Depois vem a paixão. A lição de hoje vem por meio do contraste, bastante comum no estilo de Marcos. Temos dois comporta- mentos: o dos escribas e o da viúva anônima. Os escribas são atacados por sua preocupação com o exteriorismo social e religioso e também por sua cobiça disfarçada em serviços aos necessitados. Vivian uma religião exibicionista e exploravam os pobres que precisavam de ajuda legal.

Às exterioridades e à cobiça dos escribas, Jesus contrapõe a generosidade e o desapego de uma viúva pobre, humilde, anônima. Se nos lembrarmos de que no Evangelho do domingo passado se nos pedia crer num só Deus e amá-lo de todo o coração e amar o próximo como a nós mesmos (Mc 12,30-31), aprendemos hoje que crer em Deus é uma atitude interna do coração e não a multiplicação de gestos exteriores que mais satisfazem a vaidade que a humildade e a adoração. E amar implica respeito ao que o próximo tem e é.

A lição se acentua e se completa com o exemplo da viúva, que dá tudo o que tem o que significa dar a própria vida, sem nada reter para si e sem nada pedir. Crer e amar implica esse desapego e doação. Crer e amar significa nada reter, nada exigir. A viúva é posta diante de nós hoje com como se fosse um espelho de viúva é Jesus, que deu generosamente tudo ao Pai, nada reteve para si, não se apegando nem à sua divindade nem à sua humanidade.


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

Neurose de posse

José Antonio Pagola

Uma das contribuições mais valiosas do evangelho para o homem contemporâneo é a de ajudá-lo a viver com um sentido mais humano no meio de uma sociedade que sofre de “neurose de posse”.

O modelo de sociedade e de convivência que configura nossa vida diária está baseado não no que cada pessoa é, mas no que cada pessoa tem. O importante é “ter” dinheiro, prestígio, poder, autoridade… Aquele que possui isto sai na frente e triunfa na vida. Aquele que não consegue algo disto fica desqualificado.

Desde os primeiros anos, educa-se a criança mais para “ter” do que ser. O que interessa é que ela se capacite para que no dia de amanhã senha uma posição, alguma renda, um nome, uma segurança. Assim, se inconscientemente, preparamos as novas gerações para a competição e a rivalidade.

Vivemos num modelo de sociedade que facilmente empobrece as pessoas. A demanda de afeto, ternura e amizade que pulsa em todo ser humano é atendida com objetos. A comunicação fica substituída pela posse de coisas.

As pessoas se acostumam a avaliar-se a si mesmas pelo que possuem. E desta maneira, correm o risco de ir se incapacitando para o amor, a ternura, o serviço generoso, a ajuda solidária, o sentido gratuito da vida. Esta sociedade não ajuda a crescer em amizade, solidariedade e preocupação com os direitos do outro.

Por isso adquire relevo especial em nossos dias o convite de Jesus a avaliar a pessoa a partir de sua capacidade de serviço e de solidariedade. A grandeza de uma vida se mede, em última análise, não pelos conhecimentos que a pessoa possui, nem pelos bens que ela conseguiu acumular, nem pelo êxito que pôde alcançar, mas pela capacidade de servir e ajudar outros a viver de maneira mais humana.

Quantas pessoas humildes, como a viúva do evangelho, contribuem mais para a humanização de nossa sociedade, com sua vida simples de solidariedade e ajuda generosa aos necessitados, do que muitos protagonistas da vida social, política ou religiosa, hábeis defensores de seus interesses, de seu protagonismo e de sua posição.


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

A verdadeira generosidade

Pe. Johan Konings, S.J.

Tempo de seca. O profeta migrante Elias, aliviado pela água do córrego do Carit e alimentado pelos corvos do céu, dirige-se a Sarepta, no pais vizinho (no Libano). Pede a uma pobre viúva um pedaço de pão, e ela, com a última farinha, prepara-o para o profeta. Depois, não tendo mais nada, ela terá de morrer de fome, ela e seu filho. Milagrosamente, porém, a partir daquele momento a farinha não termina mais (1″ leitura).

A generosidade da pobre viúva tornou-se proverbial. Viúva naquela sociedade geral- mente era pobre, sobretudo se não tivesse filho que a sustentasse. Assim era a viúva que entrou no templo, naquele dia em que Jesus estava observando a sala onde se depositavam as ofertas (evangelho). Ela tirou um donativo para o templo daquilo que lhe servia de sustento. Observa Jesus que os ricaços piedosos que passavam por aí davam uma ninharia de seu superfluo, enquanto a viúva deu tudo quanto tinha para viver, “toda sua vida” (tradução literal). É essa a generosidade que Jesus preza. E essa prática da generosidade é acessível a ricos e pobres, especialmente aos pobres, porque são menos apegados. Isso é importante, pois no tempo de Jesus-e ainda hoje – há quem pense que é preciso ser rico para oferecer donativos e assim agradar a Deus.

A observação de Jesus faz parte de uma crítica aos escribas que ensinam a Lei, mas, entretanto, exploram os pobres e “devoram as casas das viúvas” (Mc 12,38-41). Como? Induzindo as viúvas a entregar em herança as suas moradias em troca de uma mixirrica assistência? Não se sabe com exatidão a que Jesus se refere, mas sua observação constitui uma crítica violenta à generosidade calculista que encontramos em nossa sociedade hoje. Em vez de praticar a justiça social, em vez de fazer (e aplicar) leis que garantam a distribuição eqüitativa dos bens, a sociedade mantém um sistema de beneficência paternalista, que justifica lucros maio- res. As esmolas até se podem descontar do imposto…

A generosidade que Jesus preza é duplamente generosa. É radical, pois priva a gente do necessário. É gratuita, pois ocorre sob os olhos de Deus, com quem não é possível fazer negócios escusos. Dá-se tudo sem pedir nada de volta. “Loucura, a vida não é assim!” Mas na loucura está a felicidade de amar sem restrição nem cálculo, como que para responder ao infinito amor de Deus para conosco. Generosidade gratuita é imitação de Deus (Mt 5,45-48).

Mas, e o lucro que é o “céu”? “Deus te pague”, “Dar ao pobre é investir no céu”… Essas maneiras de falar, examinadas à lupa, mostram ainda muito egoísmo. Não devemos ser gene- rosos para comprar o céu. Devemos ser generosos porque o céu já chegou até nós, porque Deus veio à nossa presença em Jesus. Em certo sentido já ganhamos o céu, porque Jesus se doou a nós. E é por isso que queremos ser generosos s como a viúva da entrada do templo e a viúva de Sarepta. Por gratidão.


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022.  Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella