Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

1º Domingo da Quaresma

1º Domingo da Quaresma

Identificar as tentações

 

José Antonio Pagola

As tentações experimentadas por Jesus não são propriamente de ordem moral. São projetos nas quais lhe são propostas maneiras falsas de entender e viver sua missão. Por isso, sua reação nos serve de modelo para nosso comportamento moral, mas sobretudo nos alerta para não nos desviarmos da missão que Jesus confiou a seus seguidores.

Antes de mais nada, as tentações de Jesus nos ajudam a identificar com mais lucidez e responsabilidade as tentações pelas quais pode passar hoje sua Igreja e nós que a formamos. Como seremos uma Igreja fiel a Jesus se não estamos conscientes das tentações mais perigosas que nos podem desviar hoje de seu projeto e de seu estilo de vida?

Na primeira tentação, Jesus renuncia a utilizar Deus para “converter” as pedras em pães, saciando assim sua fome. Ele não seguirá esse caminho. Não viverá procurando seu próprio interesse. Não utilizará o Pai de maneira egoísta. Alimentar-se-á da Palavra de Deus. Apenas “multiplicará” os pães para saciar a fome das pessoas.

Esta é provavelmente a tentação mais grave dos cristãos dos países ricos: utilizar a religião para completar nosso bem-estar material, tranquilizar nossas consciências e esvaziar nosso cristianismo de compaixão, vivendo surdos à voz de Deus, que continua gritando para nós: “Onde estão os vossos irmãos?”

Na segunda tentação, Jesus renuncia a obter “poder e glória” sob a condição de submeter-se, como todos os poderosos, aos abusos, mentiras e injustiças nas quais se apoia o poder inspirado pelo “diabo”. O reino de Deus não é imposto,
ele é oferecido com amor. Ele só adorará o Deus dos pobres, fracos e indefesos.

Nestes tempos de perda de poder social é tentador para a Igreja procurar recuperar “o poder e a glória” de outros tempos, pretendendo inclusive um poder absoluto sobre a sociedade. Estamos perdendo uma oportunidade histórica de enveredar por um caminho novo de serviço humilde e de acompanhamento fraterno ao homem e à mulher de hoje, tão necessitados de amor e de esperança.

Na terceira tentação, Jesus renuncia a cumprir sua missão recorrendo ao êxito fácil e à ostentação. Ele não será um Messias triunfalista. Nunca porá Deus a serviço de sua vanglória. Estará entre os seus como aquele que serve.

Sempre será tentador, na Igreja, buscar o religioso para obter reputação, renome e prestígio. Poucas coisas são mais ridículas no seguimento de Jesus do que a ostentação e a busca de honras. Estas causam dano à Igreja e a esvaziam de verdade.


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.


Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos