15º Domingo do Tempo Comum
- 15º Domingo do Tempo Comum
- Leituras bíblicas deste domingo
- Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus
- Evangelização e egoísmo se excluem
- Está na hora: vamos pelo mundo afora...
- O que não devemos levar
- Evangelizar
- Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella
15º Domingo do Tempo Comum
Braços abertos e coração livre
Frei Gustavo Medella
Ao enviar os discípulos, Jesus pede que não levem nada pelo caminho. A missão é o lugar da liberdade, dos braços abertos, do coração vazio de tudo para se preencher com a Graça de Deus. O texto do envio missionário (Mc 6,7-13) serve sempre de provocação, a fim de que os discípulos possam deixar de lado todo fardo que por ventura tenham acumulado no caminho (vaidade, prepotência, desânimo, medo, desilusão…) para retomar a confiança na Providência Divina.
O poder sobre os espíritos impuros que o Senhor concede aos seus deve começa a agir a partir de dentro daqueles que são enviados, eliminando todo tipo de imaturidade e carência que certamente vão pesar durante a missão. Buscar ater-se ao essencial é sempre um desafio, especialmente num mundo de tantas possibilidades sedutoras. Tomar o máximo de cuidado para não se colocar no centro, mas deixar que o Evangelho tome o seu lugar de protagonista do empenho missionário deve ser tarefa diária para aquele que se dispõe a ser discípulo-missionário. O Senhor é quem chama e envia. Também é Ele quem providencia o necessário para que tudo corra bem.
FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.
Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos
Leituras bíblicas deste domingo
Primeira Leitura: Am 7,12-15
Naqueles dias, 12disse Amasias, sacerdote de Betel, a Amós: “Vidente, sai e procura refúgio em Judá, onde possas ganhar teu pão e exercer a profecia; 13mas em Betel não deverás insistir em profetizar, porque aí fica o santuário do rei e a corte do reino”.
14Respondeu Amós a Amasias, dizendo: “Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros. 15O Senhor chamou-me, quando eu tangia o rebanho, e o Senhor me disse: ‘Vai profetizar para Israel, meu povo’”.
– Palavra do Senhor.
Responsório (Sl 84)
— Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!
— Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!
— Quero ouvir o que o Senhor irá falar:/ é a paz que ele vai anunciar./ Está perto a salvação dos que o temem,/ e a glória habitará em nossa terra.
— A verdade e o amor se encontrarão,/ a justiça e a paz se abraçarão;/ da terra brotará a fidelidade,/ e a justiça olhará dos altos céus.
— O Senhor nos dará tudo o que é bom,/ e a nossa terra nos dará suas colheitas;/ a justiça andará na sua frente/ e a salvação há de seguir os passos seus.
Segunda Leitura: Ef 1,3-10
3Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu.
4Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor.
5Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão da sua vontade, 6para o louvor da sua glória e da graça com que nos cumulou no seu Bem-amado.
7Pelo seu sangue, nós somos libertados. Nele, as nossas faltas são perdoadas, segundo a riqueza da sua graça, 8que Deus derramou profusamente sobre nós, abrindo-nos a toda a sabedoria e prudência.
9Ele nos fez conhecer o mistério da sua vontade, o desígnio benevolente que de antemão determinou em si mesmo, 10para levar à plenitude o tempo estabelecido e recapitular, em Cristo, o universo inteiro: tudo o que está nos céus e tudo o que está sobre a terra.
– Palavra do Senhor.
A missão dos discípulos
Evangelho: Mc 6,7-13
-* Jesus começou a percorrer as redondezas, ensinando nos povoados. 7 Chamou os doze discípulos, começou a enviá-los dois a dois e dava-lhes poder sobre os espíritos maus. 8 Jesus recomendou que não levassem nada pelo caminho, além de um bastão; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. 9 Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. 10 E Jesus disse ainda: «Quando vocês entrarem numa casa, fiquem aí até partirem. 11 Se vocês forem mal recebidos num lugar e o povo não escutar vocês, quando saírem sacudam a poeira dos pés como protesto contra eles.» 12 Então os discípulos partiram e pregaram para que as pessoas se convertessem. 13 Expulsavam muitos demônios e curavam muitos doentes, ungindo-os com óleo.
* 6b-13: Os discípulos são enviados para continuar a missão de Jesus: pedir mudança radical da orientação de vida (conversão), desalienar as pessoas (libertar dos demônios), restaurar a vida humana (curas). Os discípulos devem estar livres, ter bom senso e estar conscientes de que a missão vai provocar choque com os que não querem transformações.
Bíblia Sagrada – Edição Pastoral
Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus
15º Domingo do Tempo Comum
Oração: “Ó Deus, que mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé rejeitar o que não convém ao cristão, e abraçar tudo que é digno desse nome”.
- Primeira leitura: Am 7,12-15
Vai profetizar para meu povo.
Hoje ouvimos o relato biográfico da vocação do profeta Amós. Amós era um pastor de Técua, uma localidade no reino de Judá, 20km ao sul de Jerusalém. Como pastor, Amós circulava pelo reino de Judá e também no reino de Israel em busca de pastagens. Frequentava o templo de Jerusalém e o santuário de Betel, em Israel, próximo à fronteira de Judá, onde podia participar do culto e vender suas ovelhas. Nas suas andanças, Amós percebeu a gravidade da violação dos direitos humanos básicos, praticada pelos que detinham o poder político e religioso. Sentiu que Deus o chamava para ser seu profeta (3,8): “Um leão rugiu, quem não temerá? O Senhor Deus falou, quem não profetizará?” As práticas cultuais – dizia – eram uma mentira (4,4-5; 5,4-6.21s). Deus não se agradava das festas religiosas, dos sacrifícios, da música e dos cantos sem a prática da justiça. Antes preferia ver “o direito correndo como água e a justiça como rio caudaloso” (5,21-25). Preocupado com as críticas de Amós, o sacerdote Amasias de Betel denunciou-o junto ao rei como conspirador: “O país já não pode suportar todas as suas palavras”. Pior ainda, Amós anunciava que o rei morreria na guerra e o povo de Israel seria deportado “para longe de sua terra” (7,10-11). Por outro lado, para evitar que o rei mandasse matar Amós, expulsou-o do santuário de Betel. Amasias proibiu Amós de falar em Betel porque era o santuário do rei e não devia usar este púlpito para fazer ameaças contra o reino de Israel, ganhando ali o seu pão. O profeta não devia intrometer-se na política do Estado. Amós respondeu-lhe que não falava ali para ganhar seu sustento. Para isso tinha duas profissões, era pastor e agricultor. Foi Deus que o tirou do cuidado das ovelhas para falar em seu nome ao povo de Israel. Amós, como profeta, era o porta-voz de Deus para o povo. Era também a voz do povo injustiçado junto às autoridades. Era ainda o porta-voz do povo junto a Deus: era solidário com o povo sofredor e por ele suplicava (7,1-6).
Salmo responsorial: Sl 84
Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade,
e a vossa salvação nos concedei!
- Segunda leitura: Ef 1,3-14
Em Cristo, ele nos escolheu antes da fundação do mundo.
O início da Carta aos Efésios começa com um hino de louvor, que resume a história de nossa salvação. É uma “bênção” dirigida a Deus (“Bendito seja Deus…”) e uma bênção recebida “do seu Espírito, em virtude de nossa união com Cristo”. Trata-se de uma meditação com o tema “Deus em Cristo e nós em Deus”. Os motivos desta “bendição” são nossa eleição e predestinação em Cristo desde toda a eternidade, a redenção pelo sangue de Jesus, a adoção como filhos de Deus em Cristo, o perdão dos pecados e o dom do Espírito Santo.
Aclamação ao Evangelho: Ef 1,17-18
Que o Pai do Senhor Jesus Cristo nos dê do saber o Espírito;
conheçamos, assim, a esperança à qual nos chamou como herança.
- Evangelho: Mc 6,7-13
Começou a enviá-los.
Segundo Marcos, depois de expulso da sinagoga (14º domingo), Jesus nunca mais voltou a pregar em sinagogas. Jesus ganha agora o espaço público, as ruelas e praças das aldeias. Jesus já havia escolhido os Doze “para ficarem em sua companhia e para enviá-los a pregar” (Mc 3,14). Mas, na realidade, não os enviou logo em missão. Eram ainda aprendizes. Faltava-lhes qualificação para pregarem ao povo. Agora que Jesus não entra mais numa sinagoga para pregar e os discípulos estão mais bem preparados, “começa a enviá-los dois a dois”. Recebem a missão de pregar a todos a conversão, preparando-os para boa-nova do Reino de Deus. A pregação é confirmada com o poder de expulsar demônios e curar os “doentes, ungindo-os com óleo”. Devem fazer o que Jesus fazia. Mas Jesus os previne sobre as dificuldades da missão: Deviam levar apenas um cajado de peregrino e sandálias nos pés, para enfrentar as longas caminhadas. Se Jesus não foi bem recebido em Nazaré, o mesmo poderia acontecer com eles.
O Papa Francisco nos pede que sejamos uma Igreja em saída; que saiamos do aconchego de nossas comunidades para estarmos mais junto do povo sofredor, a fim de curar suas feridas, as do corpo e as da alma. O apelo do Papa dirige-se não só aos sacerdotes, mas também para os religiosos e leigos. Todos somos Igreja em saída.
FREI LUDOVICO GARMUS, OFM, é professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.
Evangelização e egoísmo se excluem
Frei Clarêncio Neotti
Jesus reparte com os Apóstolos a missão de pregar. Gesto fraterno e de confiança, mas lhes impõe uma condição, até hoje essencial para os que querem pregar em nome dele: o desapego. Desapego dos interesses familiares (pão), da segurança pessoal (sacola), da posse de bens (dinheiro) e da ostentação vaidosa (duas túnicas). Mateus e Lucas (Mt 10,10 e Lc 9,3) lhe tiram também o bastão, ora símbolo de comando, ora símbolo de defesa, porque o Apóstolo deve ir como quem serve e propõe (2Cor 4,5), não como quem manda e determina. Porque o Apóstolo deve preocupar-se somente com a defesa da verdade, chamada Jesus Cristo, e essa jamais se defende pela força.
As coisas da família são boas em si; mas o apóstolo deve ter uma mentalidade mais ampla: olhar para além da cerca de um quintal e ver os contornos infinitos da grande família de Deus. Os bens materiais são presentes do Senhor; mas o apóstolo deve ultrapassar as coisas visíveis, para alcançar os bens invisíveis da fé. A preocupação com o sustento faz parte da condição humana; mas o apóstolo deve levar em conta que não é só de pão que vive o homem, mas há outro alimento: a Palavra de Deus (Mt 4,4). O discípulo deve esquecer-se de si mesmo e preocupar-se com as coisas de Deus. Isso exige um despojamento contínuo da ostentação, da vaidade, das aparências falsas.
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.
Está na hora: vamos pelo mundo afora...
Frei Almir Guimarães
Estamos novamente com Marcos. Breve, sucinto sem muitos desdobramentos. Começa a hora dos discípulos. Foram formados para irem pelo mundo. Esse ir nunca foi tão importante como em nossos dia. Uma Igreja e saída… dirigindo-se às periferias existenciais… sem medo. Nós que convivemos com o Mestre sentimos uma obrigação de amor de dirigirmo-nos aos homens e mulheres de nosso tempo. Nossas comunidades paroquiais fazem o que podem para serem significativas para os que estão fora. Pode ser que estejamos pensando ainda que nossa “força” de influenciar consiga resultados. O mundo está fora do alcance de nossas práticas. É hora de ir…É hora de criar novos modos de ir.
♦ Segundo Marcos Jesus permitia que ao irem pelo mundo os discípulos levassem um bastão para a caminhada, objeto quase imprescindível para defesa pessoal, sandálias sem as quais se feririam os pés nos caminhos pedregosos. O que interessa a Jesus é o espírito de simplicidade e de renuncia. Os apóstolos deverão postergar tudo o que não lhes é estritamente necessário: sacola, cinturão, duas túnicas, dinheiro. Chegando a um lugar que procurassem logo acomodação, evitando de ir de casa e casa a fim de não abusar da hospitalidade. Seja seu principal intento pregar a salvação A renúncia a todas as coisas supérfluas acentuará sua mensagem: a salvação de Deus vai aos pobres, mas exige a um tempo fé e conversão. Quem não receber os missionários fica excluído da salvação. Em sinal de que os missionários nada têm em comum com tais localidades, sacudam contra elas até o pó de seus pés. Apesar de sua pobreza exterior, os embaixadores de Cristo estão revestidos de poder e dignidade
♦ Ir pelo mundo… buscar as pessoas… como encontra-las? Onde reuni-las? Como atingir o seu íntimo e constatar que entraram num processo de conversão, que se revestem de Cristo, das cores do Sermão da Montanha, que estão num sério propósito viver humanamente e estarem se abrindo a Alguém que as ama… como? onde?
♦ Antes de mais anda nossas paróquias precisam ser espaços de acolhida, de diálogo, locais abertos e não somente cuidar de sacramentos. Locais de encontro de oração, de fóruns, de liturgias belas, sem “rubricismos” e firulas, lugar de reflexão onde se conversa abertamente sobre todas as questões do homem e da sociedade, onde se fala na verdade sem retóricas ultrapassadas. Suas portas não podem ser fechadas muito cedo nem apressadamente. As pessoas têm seus horários. A reforma de nossas paróquias comporta um ir pelo mundo, estar à disposição de todos, mesmo que não nos desloquemos fisicamente.
♦ A criação de pequenas comunidade é indispensável. Grupos que se reúnam frequentemente. O estilo das comunidades de base deveria ser proposto novamente. Não esquecer que o Ressuscitado se faz presente quando pessoas se reúnem em seu nome. Pequenos grupos onde se faz a experiência do amor fraterno, onde somos conhecidos pelo nosso nome, grupos da ajuda e onde se poderia regularmente rezar e celebrar a Eucaristia. Grupos de casais e de famílias, grupo dos catequistas. Mas atenção nada de “panelas”. De quando em vez uma reunião de todos numa noite ou tarde, com música, alegria e a partilha coisas gostosas. Todos saindo e perguntando quando será o próximo encontro. Imprimir em tudo simplicidade e verdade, não deixar que alguns monopolizem tudo. Não exagerar no tempo de duração dos encontros. Bom senso.
♦ Não se pode limitar o ir pelo mundo ao quadro paroquial. Há que inventar meio e modos de estar mais perto dos pobres envergonhados, de criar mecanismos de reunião dos jovens para além de encontros com violão. Os movimentos precisarão rever seus objetivos Eles existem em benefício da evangelização. Não são elite da Igreja. Vivendo seu carisma que estejam perto dos sem teto, nos que estão sob o ponto do suicídio, dos que buscam uma mão para sair de um atoleiro.
♦ Ir pelo mundo…abrir os olhos. O conhecido e o antigo método da Ação Católica pode nos ajudar: ver, julgar e agir. Examinar os dramas do mundo e, devagar e discretamente, dar nossa colaboração em grupo, dois a dois e não dar tiros de livre atiradores. Ver…casamentos frágeis, juventude sem critérios de discernimento, insolidariedade, cristianismo superficial e emocional, indiferentismo, publicidade que corrói. Ver e reagir dentro de nossas limitações.
♦ Reavivar o dinamismo da compaixão. Vejamos o que os diz José Antonio Pagola: “A partir de sua experiência radical de compaixão, Jesus introduz na história um princípio decisivo de ação: “Sede compassivo como vosso Pai é compassivo”. A compaixão é a força que pode mover a história para um futuro mais humano, A compaixão ativa e solidária é a grande lei da dinâmica do reino. A lei que nos levará a reagir diante do clamor dos que sofrem e mobilizar-nos para construir um mundo mais fraterno. É esta a grande herança de Jesus que nós cristãos precisamos recuperar hoje em nossas paróquias e comunidades” (Pagola, Voltar a Jesus, p 76).
Estado de missão
Espero que todas as comunidades se esforcem por usar os meios necessários para avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária que não pode deixar as coisas como estão. Nesse momento não nos serve uma ‘simples administração’ . Constituamo-nos em estado permanente de missão em todas as regiões da terra
Papa Francisco, “A alegria do Evangelho”, 25
Oração
Não tens mãos
Jesus, não tens mãos.
Tens apenas as nossas mãos para construir um mundo
onde habite a justiça.
Jesus, não tens pés.
Tens apenas os nossos pés para por em marcha
a liberdade e o amor.
Jesus não tens lábios.
Tens apenas os nossos lábios para anunciar aos pobres
o reino de Deus.
Jesus não tens meios.
Tens apenas a nossa ação para fazer com que homens e mulheres sejam irmãos.
Jesus, nós somos o teu Evangelho, o único Evangelho que as pessoas podem ler para acolher teu reino.
(Anônimo)
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.
O que não devemos levar
José Antonio Pagola
Nós cristãos nos preocupamos muito que a Igreja conte com meios adequados para cumprir eficazmente sua tarefa: recursos econômicos, poder social, plataformas eficientes. Parece-nos o mais normal. No entanto, quando Jesus envia seus discípulos para prolongar sua missão, ele não pensa no que devem levar consigo, mas precisamente no contrário: o que não devem levar.
O estilo de vida que Jesus lhes propõe é tão desafiador e provocativo que logo as gerações cristãs o suavizaram. O que devemos fazer nós com estas palavras de Jesus? Apagá-las do evangelho? Esquecê-las para sempre? Tratar de ser também hoje fiéis ao seu espírito?
Jesus pede a seus discípulos que não levem consigo dinheiro nem provisões. O “mundo novo” que ele busca não se constrói com dinheiro. Quem levará adiante seu projeto não serão os ricos, mas pessoas simples que saibam viver com poucas coisas, porque descobriram o essencial: o reino de Deus e sua justiça.
Não levarão nem sequer surrão, ao estilo dos filósofos cínicos, que levavam pendurada ao ombro uma bolsa onde guardavam as esmolas para assegurar-se o futuro. A obsessão pela segurança não é boa. A partir da tranquilidade do próprio bem-estar não é fácil criar o reino de Deus como um espaço de vida digna para todos.
Os seguidores de Jesus andarão descalços, como as classes mais oprimidas da Galileia. Não levarão sandálias. Tampouco túnica de reserva para proteger-se do frio da noite. As pessoas devem vê-los identificados com os últimos. Se se afastarem dos pobres, não poderão anunciar a Boa Notícia de Deus, o Pai dos esquecidos.
Para os seguidores de Jesus não é ruim perder o poder, a segurança e o prestígio social que tivemos quando a Igreja dominava tudo. Essa perda pode ser uma bênção se nos levar a uma vida mais fiel a Jesus. O poder não transforma os corações; a segurança do bem-estar nos afasta dos pobres; o prestígio nos enche de nós mesmos.
Jesus imagina seus seguidores de outra maneira: livres de ataduras, identificados com os últimos, com a confiança posta totalmente em Deus, curando os que sofrem, buscando a paz para todos. Só assim se introduz no mundo o seu projeto.
JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
Evangelizar
Pe. Johan Konings
Amós não era profeta nem “filho de profeta” – termo bíblico para dizer discípulo (1ª leitura). Não ganhava seu pão profetizando. Era pastor e agricultor. Tampouco era cidadão da Samaria; era de Judá, que vivia em conflito com os samaritanos. Mesmo assim, Deus o escolheu para dar um sério aviso ao sacerdote de Betel, santuário da Samaria.
Tampouco eram missionários profissionais os doze que Jesus enviou a anunciar a proximidade do Reino de Deus (evangelho). Estavam entregues à sua missão, à boa-nova que deviam anunciar. Estavam entregues à hospitalidade das casas que encontrassem. Recebiam, sim, de Deus, o poder de fazer uns discretos sinais, curas, exorcismos. Nada deviam ter de si mesmos: nem dinheiro, nem roupa de reserva. Só sandálias e um bom cajado para caminhar. Pois deviam avançar com pressa. O tempo se cumpriu!
Na encíclica Evangelii nuntiandi, o Papa Paulo VI escreveu que cada evangelizado deve ser evangelizador. Se acreditamos na boa-nova do Reino, não a podemos esconder aos nossos irmãos. Se acreditamos que a prática de Jesus inaugurou a salvação do mundo e mostrou o caminho para todas as gerações, não podemos guardar isso para nós. O mundo tem de ouvir isso. “Como poderão crer, se não ouvirem”(Rm 10,14). Quem crê verdadeiramente, tem de evangelizar. Mas como?
Não precisa ser especialista, capaz de discutir nas ruas e nas praças. Nem precisa de treinamento para aprender a enrolar as pessoas ingênuas e tirar um “dízimo” ou uma “aposta” de quem nem tem dinheiro pra criar os seus filhos… Jesus deu aos doze galileus poder de curar e de expulsar demônios. (Naquele tempo chamava-se demônio qualquer doença inexplicável, sobretudo de ordem psíquica). Ou seja, Jesus lhes deu força para fazer bem ao povo ao qual anunciavam a proximidade do Reino. Esses gestos eram um aperitivo do Reino. O bem que muitas pessoas fazem em sua generosa simplicidade é um aperitivo do Reino de Deus. Já tem o gostinho daquilo que chamamos o Reino – quando é feita a vontade do Pai, como rezamos no Pai-Nosso.
A própria prática do Reino é anúncio do Reino – provavelmente, o anúncio mais eficaz. Vendo a prática do Reino, as pessoas vão perguntar o porquê: as “razões de nossa esperança” (1Pd 3,15). Se nos comportarmos com simplicidade, entregues àquilo em que acreditamos, ajudando onde pudermos – mas sem apoiarmos causas erradas, estruturas injustas – o mundo perguntará que esperança está por trás disso, que fé nos move, que amor nos envolve. Então, responderemos: o amor que aprendemos de Jesus, que deu sua vida por nós.
A palavra do pregador será fidedigna, se acompanhada de uma prática que mostre o Reino… na prática.
PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.
Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella