Frei Fábio Vasconcelos, ofm
O Papa Francisco completa, neste dia 13 de março, 10 anos do seu Pontificado. E, de muitas maneiras, as palavras e gestos de Francisco nos fazem sonhar. Dentro do seu magistério, evidenciamos que a palavra sonho ganhou muita força. Em uma recente entrevista, dada à Elisabetta Piqué, jornalista do “La Nación”, ficou claro o sonho de Francisco com uma Igreja mais pastoral, mais justa e mais aberta. Neste pequeno texto, nos permitimos viajar nos sonhos do Papa Francisco que retomam os grandes sonhos do Vaticano II.
O cantor Belchior, que muito bem compôs a afirmação: “Viver é melhor que sonhar”, igualmente podemos dizer que sem sonhar não se pode viver. Sem sonhar, a Igreja não caminha. O teólogo franciscano Guiseppe Buffon, ao comentar a Querida Amazônia, afirma que “o sonho é a visão do profeta, para não ser comprimido pelo presente, prisioneiro da museificação do passado”. As sagradas escrituras trazem fortemente a imagem do sonho. O bispo de Roma, em uma catequese sobre José, “homem que sonha”, destacou que “na Bíblia, como nas culturas dos povos antigos, os sonhos eram considerados um meio pelo qual Deus se revelava”[1].
O Papa não teme dizer que tem sonhos. Francisco não apenas se permite sonhar como conta aos outros os seus sonhos, além disso, convida as pessoas a sonharem juntas. Em Evangelli Gaudium, ele expressou o seu sonho missionário: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação” (EG, 27).
Francisco de Assis é com toda certeza um grande modelo de sonhador, que, com os olhos abertos, soube concretizar muitos de seus sonhos. “São Francisco de Assis, ainda muito jovem e cheio de sonhos, ouviu a chamado de Jesus para ser pobre como Ele e restaurar a Igreja com o seu testemunho” (CV 52). Os seus biógrafos contam de sonhos que tiveram importância na vida do Santo, e o fizeram mudar de caminho. Algumas narrativas chegam a falar que o Papa Inocêncio III sonhou que a Basílica do Latrão, prestes a ruir era segurada por Francisco, mostrando sobretudo a missão de Francisco de reconstruir a Igreja. Francisco sonha, acima de tudo, em viver o Evangelho, servindo ao verdadeiro Senhor. Em Fratelli Tutti, o Papa Francisco aponta para o santo de Assis como “pai fecundo que suscitou o sonho de uma sociedade fraterna” (FT, 4).
Sabemos que existem diante aos sonhos também as “quimeras”, ou as falsas ilusões no contexto contemporâneo, e sobre elas também o Papa Francisco nos faz despertar. Nas sombras de um mundo fechado, muitos sonhos são feitos em pedaços. O antropocentrismo moderno tem como consequência, nos diz o Papa Francisco, “um sonho prometeico de domínio sobre o mundo, que provocou a impressão de que o cuidado da natureza fosse atividade de fracos” (LS 116). Podemos por os sonhos de um novo mundo possível e “mostrar outros sonhos que este mundo não oferece” (CV 36).
Ao falar aos jovens cristãos, Francisco os convidou a sonhar e a encontrar em Jesus a “verdadeira fonte que mantém vivos os nossos sonhos, projetos e grandes ideais” (CV, 32). Ele convida a Igreja a dialogar com os sonhos dos jovens. A juventude, vista como um tempo de sonho e opções, é chamada por Francisco caminhar perseverante na trilha dos sonhos. Os jovens são movidos pelos seus ideais mais belos e podem juntos sonhar os sonhos do Reino de Deus.
Em Querida Amazônia, Francisco manifesta os seus sonhos para aquela bendita obra do Criador. São sonhos, sociais, ecológicos, culturais e eclesiais. Sonhar e partilhar os sonhos como fazem os povos da Amazônia permite animar-se mutuamente para concretizar essas ideias. Sonhar nos permite ver outros horizontes, abrir novos caminhos. Esses passos firmes de utopia embalaram o percurso do Sínodo de 2019, continuam guiando aqueles que abraçam os sonhos de Francisco, que são sonhos inspirados pelo Espírito Santo.
Frente aos desafios que não tenhamos o medo, cultivemos sonhos corajosos! Temos ainda sonhos que nos questionam, sonhos que nos inquietam. Às vezes ficamos horas pensando em seus significados mais profundos. Esses sonhos do Papa, de algum modo, também tocam em nós e nos movimentam. Diante de tudo isso podemos nos perguntar: e nós, qual são nossos sonhos? Com que Igreja sonhamos? Que os sonhos de Francisco nos animem a buscar sempre mais a realização do projeto de Deus!
Fábio Melo Vasconcelos, OFM, é frade da Custódia São Benedito da Amazônia e cursa o último ano de Teologia no Instituto Teológico Franciscano (ITF) de Petrópolis (RJ). Reside na Fraternidade do Sagrado de Petrópolis.
[1]FRANCISCO. São José, homem que sonha. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/documents/20220126-udienza-generale.html. Acesso em: 11/03/2023.