Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Folias e silêncio

11/02/2024

Imagem ilustrativa: Canva (www.canva.com/pt_br/modelos)

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Chegaram as folias do carnaval com suas cores, enfeites, artes e danças – a música contagia os foliões. Um tempo diferente, aguardado e aproveitado de modos variados. Na folia, busca-se o bem mais almejado pelo coração humano: a alegria. Sem alegria não se dá conta de viver – dobra-se o “peso” que recai sobre a vida. Cada coração procura – e tem o direito de achar – a felicidade para emoldurar os desafios do cotidiano. O anseio pela alegria é tão intenso que pode levar a exageros. Um frenesi de experiências e de sensações que comprometem dignidades, ferem inteirezas. Essas experiências e sensações, ao invés de levarem à alegria que emoldura a vida, cavam um buraco enorme na interioridade, comprometendo os alicerces da existência humana. Adequadamente procurar a alegria no tempo do carnaval é lição preciosa, para garantir mais sentido ao viver. Uma lição que inclui respeitar o semelhante e descartar exageros de todo tipo. É preciso cuidado para não se perder o rumo na busca pela alegria. As artes, as gingas e as danças deste tempo de carnaval não dispensam o zelo pela própria unidade interior, fiel da balança no equilíbrio dos relacionamentos, fonte de sabedoria para encontrar felicidade, distanciando-se do vazio que mina as forças para bem viver.

Na busca pela alegria, há, pois, de contracenar as festas deste tempo com o necessário silêncio que amalgama a unidade interior de cada pessoa. O silêncio leva mais qualidade para o viver. Seus frutos incluem a capacitação para pronunciar palavras mais adequadas, para agir com mais cortesia, em todas as circunstâncias, expressando zelo incondicional pela inteireza do semelhante – do amigo, do familiar, do desconhecido, de cada pessoa, pois todos têm uma dignidade sagrada. Dedicar momentos ao silêncio ajuda, especialmente, a evitar exageros, verificáveis na desordenada ânsia de se alcançar a alegria. Essa desordem leva a um vazio que corrói o coração humano, fazendo-o querer encontrar a felicidade a qualquer preço, por todo tipo de meio. Importante lembrar que alegria é um bem e uma virtude, não é um entorpecente. Quando simplesmente é confundida com uma sensação intensa e passageira, provoca uma lacuna, uma cegueira no ser humano, fazendo-o perder o autocontrole.

O caçador de alegrias duradouras tem que esmerar-se na competência do silêncio – fundamental para obter a sabedoria que permite reconhecer onde está a verdadeira felicidade. É preciso exercitar-se no silêncio mesmo quando há muitos atrativos externos, inclusive aqueles que se expressam a partir das fantasias, das gingas, das festas. Muitos dedicam-se ao silêncio neste tempo de folias, convictos de que essa dedicação auxilia na busca por uma vida qualificada e saudável, coerente com as sendas da misericórdia e da verdade. Não se trata de simples oposição entre folias e silêncio – não são os pecaminosos e os iluminados. A procura pela alegria na folia, com as suas nuanças culturais, expressões típicas, não pode dispensar o exercício do silêncio, que revigora a alma e o corpo. Deve-se cultivar um saudável equilíbrio. O corpo precisa de repouso e de cuidados para não se exaurir no afã da folia. Ele se reabastece com a unidade interior alcançada a partir do silêncio, mesmo aquele silêncio curto e breve.

Dedicar-se a instantes de quietude alimenta uma clarividência sapiencial sobre os caminhos para se viver bem. Praticar o silêncio, com a ajuda da natureza, da quietude do próprio ambiente doméstico, ou de lugares marcados por uma mística religiosa e contemplativa, contribui para qualificar a existência do ser humano. Vale até um breve minuto de silêncio para se conectar à própria interioridade, potencializando-a com inteirezas que somente podem ser conquistadas a partir da contemplação. A vivência da folia pode, assim, ser temperada pela sabedoria que se conquista a partir dos instantes de silêncio, para se festejar com autenticidade e equilíbrio. O ser humano não dá conta de viver sempre na superfície, necessitando revisitar cotidianamente a sua interioridade para iluminar a exterioridade. E o silêncio é o único caminho para mergulhar no mais profundo de si e de Deus, e retornar à superfície do mundo com as energias renovadas, capacitando-se para o exercício de responsabilidades cidadãs na construção de uma sociedade justa e solidária, conforme os parâmetros da amizade social.

Os místicos e sábios consideram o caminho do silêncio como “a arte das artes”, “a ciência das ciências”, por permitir encontrar o lugar do coração – aquela terra de onde jorra uma água com força de fecundar as alegrias almejadas, alicerce que não deixa alegria alguma ser passageira e ilusória. No tempo das folias, o silêncio é experiência indispensável, fonte de recomposição da unidade interior, para superar futilidades e desequilíbrios que distanciam o ser humano da verdadeira e duradoura felicidade. As folias constituem um caminho possível para se experimentar alegria, mas é preciso reconhecer: o silêncio alicerça a existência de cada pessoa. Valham as alegrias duradouras fecundadas pela prática do silêncio.


Dom Walmor Oliveira de Azevedo é Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

Download WordPress Themes Free
Download Nulled WordPress Themes
Premium WordPress Themes Download
Free Download WordPress Themes
free download udemy course
download huawei firmware
Download Nulled WordPress Themes
ZG93bmxvYWQgbHluZGEgY291cnNlIGZyZWU=

Conteúdo Relacionado