Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Ezequiel: Valeu a pena a sua profecia?

22/08/2024

O texto sobre o qual vamos refletir é Ez 36,23-28. Trata-se da profecia de Ezequiel, homem de família sacerdotal, que conheceu a dor do Exílio na Babilônia, onde foi chamado por Deus para agir como profeta em 593 a.E.C., atuando até 572 a.E.C, quando foi assassinado.

Visto que o mês da Bíblia deste ano, setembro, seja dedicado à reflexão do livro de Ezequiel, gostaria de dar a conhecer a profecia e o profetismo de Ezequiel e perguntar se valeu a pena, isto é, o sofrimento, o sacrifício de Ezequiel ao profetizar, no sofrimento em terras babilônicas? A profecia morreu? Vale a pena profetizar, hoje? 

O texto proposto para a leitura de hoje é a palavra de esperança dita por Ezequiel diante de tantas injustiças cometidas pelos judeus exilados, de modo especial suas lideranças, as quais foram levadas para a Babilônia, juntamente com ele, a mando do rei Nabucodonosor, o Grande (605 a 562 a.E.C.). Ezequiel acredita que a intervenção do Senhor criará um céu e uma nova terra, dará ao ser humano um coração novo, pois Ele porá o seu Espírito no íntimo de cada um, e uma “Nova Aliança” será feita com o povo (36, 26-28). 

A profecia de Ezequiel

Ezequiel fez várias denúncias, a saber: tribunais com juízes que agem por suborno (Ez 22,12), promulgando sentenças criminosas (7,23); a cidade de Tiro, que abandona Jerusalém na defesa contra os babilônios (26); o império egípcio (29); a idolatria (18,5); o roubo (18,7.12.16.18; 22,29); assassinatos (7,23); luxo e riqueza como fruto da opressão do próximo (22,12); ânsia por enriquecimento (33,31); chefes (22,27), reis (34) e autoridades (22,6); sacerdotes (22,26); falsos profetas (22,28); Falsas Profetisas (13,17-23).  

Ezequiel crê que Deus vai agir depondo as autoridades e ocupando Seu lugar. Um novo Davi assumirá a Sua representação na terra (34; 45,8). O Senhor julgará o seu povo (39,21-29). O “Dia do Senhor” será de ira (22,24). Por fim, Ezequiel propõe como solução para tantos problemas a purificação do povo e o consequente recebimento de um novo coração e um novo espírito (11,19).

Ez 36,23-28 diz que Deus vai mostrar a sua santidade, de modo que todos os povos possam saber quem Ele é. Deus vai tirar o seu povo do exílio babilônico, vai conduzi-lo de volta à terra da promessa, purificá-lo de todas as impurezas e idolatria. Seu coração de pedra será arrancado. Um coração novo, de carne, lhe será dado. De volta para a terra dos pais, os exilados novamente voltarão a ser o seu povo, e Ele, seu Deus.

Vale a pena profetizar?

Ezequiel, assim como os profetas, cada um no seu contexto, num espaço de 800 anos, de Gad/Natan (1010 a 970 a.E.C.) a Daniel (ano 200 a.E.C.), denuncia, apresenta solução e espera. Cada profeta, atento aos problemas da sua sociedade, o que lhes era peculiar, soube, com base nas propostas da aliança feita com o Senhor, apresentar uma solução. Cada profeta vive um momento histórico diferenciado. Por isso, eles divergem na leitura da realidade e das soluções apresentadas. A história incorpora essa realidade. Todo projeto por eles apresentado analisa a realidade, critica-a e projeta uma esperança. Ao negar a esperança, paradoxalmente o profeta cria esperança. Esta nasce de uma realidade de morte e de injustiça. O povo toma consciência da situação e cria algo de novo. A esperança é, pois, realista e condicionada ao Deus que liberta. Voltemos à pergunta inicial: Ezequiel, valeu a pena a sua profecia?

A profecia é a Teologia da História. É o desejo de sempre construir a libertação de um povo, de sistemas e de pessoas. Profecia é a Palavra de Deus no meio do povo. Difícil, no entanto, é distinguir a palavra humana da palavra divina. Muitas vezes, elas se misturam na história. 

O profetismo bíblico inspirou o profetismo na Igreja. Observando a história da Igreja, percebemos várias nuanças do profetismo na vida dos monges do deserto, nas inúmeras congregações religiosas, nas divisões eclesiais (protestantismo, pentecostalismo etc.), na vida do clero e dos leigos. 

As igrejas necessitam de profetas para manter-se no caminho de Deus. Os profetas e profetisas, normalmente não assumem cargos de direção, mas cumprem a difícil tarefa de manter a direção eclesial no caminho. Assim, esses dois grupos são importantíssimos para a vida eclesial. No entanto, é lamentável quando o poder hegemônico silencia os profetas. 

A sociedade civil necessita de profetas para sobreviver. Inspirados na fé recebida na comunidade, muitas lideranças civis políticas se deixam guiar pelos princípios da ética, o que os leva a denunciar as situações de injustiça. A maioria, não! Por isso, para que tanta denúncia desde os tempos bíblicos, se nada mudou? As sociedades continuam injustas nas suas estruturas. 

Valeu a pena profetizar? A profecia valeu a pena porque a palavra profética deu fruto ao longo da história. Ela continua sempre atual. A esperança profética não pode morrer. A esperança é o combustível de todo e qualquer ser humano. Quem perde a esperança deixa de viver. Mesmo que estruturas não mudem, não podemos deixar de esperar num outro mundo possível. Homens e mulheres novas renascem a cada dia. E mesmo que eles envelheçam e voltem para o nada, há de se esperar sempre.  

O profeta é o ser humano da crise, do sofrimento. Os profetas não são compreendidos nas suas ações e palavras proféticas, pois estão sempre além do tempo e das pessoas. Conseguem ver o que os outros não veem, por estarem sempre mergulhados em uma eterna crise, neles e nos outros.

A palavra e força unem-se na ação profética. Uma palavra bem-dita derruba barreiras, alimenta sonhos, impulsiona a esperança. Ela não dá a casa pronta, o pão, mas ensina como buscá-lo. Em contrapartida, uma palavra maldita põe tudo a perder. Ela destrói esperanças. A palavra profética é sempre bem-dita. Por isso, ela é eterna, no sonho e na conquista. Temos que esperar sempre! Temos que ser profetas sempre, mesmo que o tempo não seja para tanto. 


Frei Jacir de Freitas Faria

Referências

SICRE, José Luís. Profetismo em Israel. Petrópolis: Vozes, 1996.

FARIA, Jacir de Freitas. Profetas e profetisas na Bíblia: história e teologia profética na denúncia, solução, esperança, perdão e nova aliança. 4a. Reimpressão. São Paulo: Paulinas, 2024.  

Download WordPress Themes
Download Best WordPress Themes Free Download
Download WordPress Themes
Free Download WordPress Themes
udemy paid course free download
download lenevo firmware
Premium WordPress Themes Download
free download udemy paid course