Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Viagem do Papa Francisco a Maurício, Madagascar e Moçambique

Aos jovens: Continuem sendo testemunho de paz e reconciliação ao país

Cidade do Vaticano – O Papa Francisco, no seu segundo discurso oficial em Maputo nesta quinta-feira (5), encontrou os jovens no Pavilhão do Clube de Desportos do Maxaquene, conhecido como Maxaca – uma sociedade com tradição no futebol, tanto que já ganhou cinco títulos nacionais. Do esporte, porém, hoje o espaço acolheu mais de 4 mil jovens cristãos, muçulmanos e hindus para um grande encontro inter-religioso com o Pontífice.

Durante cerca de uma hora intensa com a juventude de Moçambique, o Papa conseguiu conhecer um pouco da realidade local das diferentes confissões religiosas que se apresentaram, através da arte do canto e de coreografias especiais, demonstrando diferentes temas e motivos de preocupação dos jovens do país. Um hino comum às denominações religiosas também foi interpretado na ocasião que precedeu o discurso do Pontífice.

Jovens: vocês são importantes e precisam saber disso!

“O que pode haver de mais importante para um pastor do que estar com os seus? O que há de mais importante para um pastor do que encontrar-se com os seus jovens? Vocês são importantes! Precisam saber disso, precisam acreditar nisso: vocês são importantes! Porque não são apenas o futuro de Moçambique ou da Igreja e da humanidade; vocês são o presente! Com tudo o que são e fazem, já estão contribuindo para ele com o melhor que hoje podem dar. Sem o entusiasmo de vocês, dos cânticos, da alegria de viver, o que seria desta terra? Vê-los cantar, sorrir, dançar, no meio de todas as dificuldades que vivem – como justamente nos contava você – é o melhor sinal de que vocês, jovens, são a alegria desta terra, a alegria de hoje”, disse o Papa.

O Papa iniciou o discurso enaltecendo a expressão tão autêntica da alegria que caracteriza o povo de Moçambique. É uma “alegria que reconcilia e se torna o melhor antídoto capaz de desmentir todos aqueles que querem dividir, fragmentar ou contrapor. Como faz falta, em algumas regiões do mundo, a alegria de viver vocês!”, sublinhou Francisco.

A presença das diferentes confissões religiosas no local também elogiada pelo Pontífice, demonstrando a união familiar através do “desafio da paz”, da esperança e da reconciliação. Com essa experiência, disse ele, é possível perceber que “todos somos necessários: com as nossas diferenças, mas necessários”.

“Vocês, jovens, caminham com dois pés como os adultos, mas, ao contrário dos adultos que os mantêm paralelos, vocês colocam um atrás do outro, pronto a arrancar, a partir. Vocês têm tanta força, são capazes de olhar com tanta esperança! São uma promessa de vida, que traz em si um certo grau de tenacidade (cf. Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 139), que não devem perder nem deixar que lhe roubem”, acrescentou.

As inimigas da esperança: resignação e ansiedade

O Papa, então, procurou responder a duas perguntas feitas pelos jovens, em questões interligadas, sobre como realizar os sonhos da juventude e como contribuir para solucionar os problemas que afligem o país. A indicação do Pontífice veio do próprio caminho de riqueza cultural apresentado pelos jovens, através da arte, uma expressão “de parte dos sonhos e realidades”, sempre regada de esperança, mas também de ilusões. Além disso, o Papa voltou a insistir com os jovens para não deixar que “roubem a sua alegria”, para não deixar de cantar e se expressar conforme as tradições de casa.

Francisco também alertou para ter cautela com “duas atitudes que matam os sonhos e a esperança: a resignação e a ansiedade”.

“São grandes inimigas da vida, porque normalmente nos impelem por um caminho fácil, mas de derrota; e a porta que pedem para passar é muito cara… Paga-se com a própria felicidade e até com a própria vida. Quantas promessas de felicidade vazias que acabam por mutilar vidas! Certamente conhecem amigos, conhecidos – ou pode mesmo ter acontecido com vocês – que, em momentos difíceis, dolorosos, quando parece que tudo cai em cima de vocês, ficam prostrados na resignação. É preciso estar muito atento, porque essa atitude «faz com que encaminhe pela estrada errada. Quando tudo parece estar parado e estagnante, quando os problemas pessoais nos preocupam, as dificuldades sociais não encontram as devidas respostas, não é bom dar-se por vencido» (Ibid., 141).”

A inspiração do esporte: Eusébio da Silva e Maria Mutola

E para dar um exemplo de inspiração em pleno tempo do futebol, o Papa recordou o jogador Eusébio da Silva, o “pantera negra”, que começou a carreira no clube de Maputo. O atleta não se resignou diante de graves dificuldades econômicas da família e da morte prematura do pai. O futebol o ajudou a perseverar, disse Francisco, “chegando a marcar 77 gols para o Maxaquene!”.

O Pontífice então fez a analogia do jogo em equipe para falar da importância de se empenhar pelo país com a tática da união e independentemente daquilo que diferencia as pessoas.

“Como é importante não esquecer que «a inimizade social destrói. E uma família se destrói pela inimizade. Um país se destrói pela inimizade. O mundo se destrói pela inimizade. E a inimizade maior é a guerra. E hoje vemos que o mundo está se destruindo pela guerra porque são incapazes de sentar e falar. Sejam capazes de criar a amizade social! Não é fácil, sempre é preciso renunciar a qualquer coisa, é preciso negociar, mas, se o fizermos pensando no bem de todos, podemos fazer a experiência maravilhosa de deixar de lado as diferenças para lutar juntos por um objetivo comum. Quando se consegue encontrar pontos coincidentes no meio de tantas divergências e, com esforço artesanal e por vezes fadigoso, lançar pontes, construir uma paz que seja boa para todos, isso é o milagre da cultura do encontro» (Ibid., 169).”

O Papa lembrou, então, o provérbio africano conhecido e citado mundialmente para “sonhar junto”, que diz: «Se quiser chegar depressa, caminha sozinho; se quiser chegar longe, vai acompanhado». Mas sem que a ansiedade seja inimiga dos sonhos da juventude por um país melhor, alertou o Papa, porque eles são conquistados com “esperança, paciência e determinação, renunciando às pressas”.

O outro exemplo do esporte citado pelo Papa veio do testemunho de Maria Mutola, que aprendeu a perseverar, apesar de perder a medalha de ouro nos três primeiros Jogos Olímpicos que disputou. O tão sonhado título dourado veio na quarta tentativa, quando a atleta dos 800 metros alcançou venceu nas Olimpíadas de Sidney. “A ansiedade não a deixou absorta em si mesma”, ao conseguir nove títulos mundiais”, comentou Francisco.

A importância dos idosos e da Casa Comum

O Papa ainda aconselhou a não esquecer do apoio dos idosos, que podem ajudar a realizar sonhos sem que “o primeiro vento da dificuldade” venha a impedir. Escutar as pessoas mais experientes, valorizando as tradições e fazendo a própria síntese, como aconteceu com a música, o ritmo tradicional de Moçambique: da marrabenta nasceu o pandza, com toque moderno.

O comprometimento com o cuidado da Casa Comum também foi lembrado pelo Papa, num país que tamanha beleza natural, mas que também já sofreu com o embate de dois ciclones. O desafio de proteger o meio ambiente é um forma de permanecer unidos para ser “artesãos da mudança tão necessária”.

O poder da mão estendida e da amizade ao país

Dessa forma explicativa, Francisco procurou encorajar os jovens a encontrar novos caminhos de paz, liberdade, entusiasmo e criatividade, e “com o gosto da solidariedade”, para responder às provações e problemas vividos no país. “Grande é o poder da mão estendida e da amizade”, acrescentou o Papa, para que “a solidariedade cresça entre vocês e se torne na melhor arma para transformar a história”. E Francisco finalizou o discurso lembrando os jovens que não esqueçam o quanto Jesus os ama: “Este amor de Deus é simples, quase silencioso, discreto: não esmaga, nem se impõe; não é um amor estridente nem exibicionista; é um «amor feito de liberdade e para a liberdade, amor que cura e eleva. É o amor do Senhor que se entende mais de levantamentos que de quedas, mais de reconciliação que de proibições, mais de dar nova oportunidade que de condenar, mais de futuro que de passado» (Ibid., 116). Eu sei que vocês acreditam nesse amor que torna possível a reconciliação; porque acreditam nesse amor, tenho a certeza de que vocês têm esperança e que não deixam de percorrer com alegria os caminhos da paz”.


Solidariedade às vítimas do ciclone

Ao deixar a nunciatura, o primeiro compromisso oficial foi a visita de cortesia ao Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, no Palácio presidencial “Ponta Vermelha”. Houve um encontro a portas fechadas, a apresentação da família do presidente e a troca de dons. Ali mesmo no Palácio presidencial o Pontífice dirigiu suas primeiras palavras às autoridades, aos representantes da sociedade civil e ao corpo diplomático.

Em seu discurso, o primeiro pensamento do Papa foi às vítimas dos recentes ciclones Idai e Kenneth. “Infelizmente, não poderei ir pessoalmente até junto de vós, mas quero que saibais que partilho a vossa angústia, sofrimento e também o compromisso da comunidade católica para fazer frente a tão dura situação ”.

Mas foi à paz que o Pontífice dedicou grande parte do seu pronunciamento. O Papa mencionou o recente acordo assinado na Serra da Gorongosa para a cessação definitiva das hostilidades militares e o Acordo Geral de 1992 em Roma. A história não deve ser escrita pela luta fratricida, disse o Papa, mas pela capacidade de se reconhecer como irmãos. É preciso ter “a coragem da paz! Uma coragem de alta qualidade: não a da força bruta e da violência, mas aquela que se concretiza na busca incansável do bem comum”.

Francisco prosseguiu afirmando que a busca pela paz é um trabalho árduo, requer determinação mas sem fanatismo, coragem mas sem exaltação, tenacidade mas de maneira inteligente: “não à violência que destrói, sim à paz e à reconciliação”.

O Pontífice encorajou as autoridades a prosseguirem no caminho do desenvolvimento, avançando nas áreas da educação e da saúde, “para que ninguém se sinta abandonado”, especialmente os jovens. “Não cesseis os esforços enquanto houver crianças e adolescentes sem educação, famílias sem teto, trabalhadores sem trabalho, camponeses sem terra… Tais são as bases dum futuro de esperança, porque futuro de dignidade! Tais são as armas da paz. ”

Tendência à espoliação
Por fim, o Papa recordou que a paz convida a olhar também para a Casa Comum. Moçambique foi “abençoada por sua beleza natural”, mas constata a tendência à espoliação, “guiada por uma ânsia de acumular que, em geral, não é cultivada sequer por pessoas que habitam estas terras, nem é motivada pelo bem comum do povo”. Uma cultura de paz, concluiu Francisco, implica um desenvolvimento produtivo, sustentável e inclusivo, “onde cada moçambicano possa sentir que este país é seu”.

“ Senhor Presidente, distintas Autoridades! Todos vós sois os construtores da obra mais bela a ser realizada: um futuro de paz e reconciliação. (…) Peço a Deus que possa – eu também – contribuir para que a paz, a reconciliação e a esperança reinem definitivamente entre vós. ”


Imagem e informações: Vatican News

“O sacerdote é o mais pobre dos homens se Jesus não o enriquece com a sua pobreza”

Cidade do Vaticano – Reavivemos nosso chamado vocacional, e que o nosso sim comprometido proclame as grandezas do Senhor e alegre o espírito do nosso povo em Deus nosso Salvador. E encha de esperança, paz e reconciliação o vosso país, nosso querido Moçambique. Foi o que disse o Papa Francisco no aguardado encontro com os bispos, sacerdotes, religiosos, consagrados, seminaristas, catequistas e animadores pastorais, na tarde desta quinta-feira (05/09) na Catedral da Imaculada Conceição, em Maputo, capital do país do sudeste da África, primeira etapa desta sua 31ª Viagem Apostólica Internacional.

O discurso do Santo Padre foi precedido, além da saudação de boas-vindas ao ilustre visitante feito pelo presidente da Comissão para o Clero e a Vida Consagrada, Dom Hilário da Cruz Massinga, do testemunho de um sacerdote, de uma religiosa e de um catequista, testemunhos marcados pelos sérios desafios, sofrimentos, mas também pela viva esperança.

Na reflexão do Pontífice, um convite a renovar a resposta ao chamado vocacional, a renovar a fé e a esperança:

“Encontramo-nos nesta catedral, dedicada à Imaculada Conceição da Virgem Maria, para compartilhar como família aquilo que nos acontece; como família, que nasceu naquele sim que Maria deu ao anjo. Ela, nem por um momento olhou para trás. Quem narra estes acontecimentos do início do mistério da Encarnação é o evangelista Lucas. No seu modo de o fazer, talvez possamos descobrir resposta para as perguntas que fizestes hoje, e encontrar também o estímulo necessário para responder com a mesma generosidade e solicitude de Maria.”

Contrastar a crise de identidade sacerdotal

Perguntáveis que fazer com a crise de identidade sacerdotal, como lutar contra ela? A propósito, o que vou dizer relativamente aos sacerdotes é algo que todos (bispos, catequistas, consagrados, seminaristas) somos chamados a cultivar e fomentar, ressaltou Francisco.

“Perante a crise de identidade sacerdotal – disse o Papa –, talvez tenhamos que sair dos lugares importantes e solenes; temos de voltar aos lugares onde fomos chamados, onde era evidente que a iniciativa e o poder eram de Deus. Às vezes sem querer, sem culpa moral, habituamo-nos a identificar a nossa atividade quotidiana de sacerdotes com certos ritos, com reuniões e colóquios, onde o lugar que ocupamos na reunião, na mesa ou na sala é de hierarquia.”

Se Jesus não o enriquece, sacerdote é o mais pobre de todos

“Creio não exagerar se dissermos que o sacerdote é uma pessoa muito pequena: a grandeza incomensurável do dom que nos é dado para o ministério relega-nos entre os menores dos homens”, ressaltou o Pontífice, acrescentando:

“O sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua pobreza; é o servo mais inútil, se Jesus não o trata como amigo; é o mais louco dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com Pedro; o mais indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho. Não há ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às suas forças.”

Voltar a Nazaré para nos renovarmos como pastores

Tendo precedentemente aludido ao Anúncio do Anjo feito a Zacarias em Jerusalém e a Maria em Nazaré, apresentado pelo evangelista São Lucas, Francisco enfatizou que voltar a Nazaré pode ser o caminho para enfrentar a crise de identidade, para nos renovarmos como pastores-discípulos-missionários.

“Vós próprios faláveis de certo exagero na preocupação de gerar recursos para o bem-estar pessoal, por ‘caminhos tortuosos’ que muitas vezes acabam por privilegiar atividades com uma retribuição garantida e criam resistências a dedicar a vida ao pastoreio diário”, ressaltou.

Doação na proximidade ao povo fiel de Deus

“Não podemos correr atrás daquilo que redunda em benefícios pessoais; os nossos cansaços devem estar mais relacionados com ‘a nossa capacidade de compaixão: são compromissos nos quais o nosso coração estremece e se comove’.”

“Para nós, sacerdotes – acrescentou o Santo Padre–, as histórias do nosso povo não são um noticiário: conhecemos a nossa gente, podemos adivinhar o que se passa no seu coração.” “E, assim, a nossa vida sacerdotal se vai doando no serviço, na proximidade ao povo fiel de Deus…, etc., o que sempre, sempre cansa.”

Fugir do “mundanismo espiritual” ditado pelo consumismo

Francisco observou que renovar o chamado “passa, muitas vezes, por verificar se os nossos cansaços e preocupações têm a ver com um certo ‘mundanismo espiritual’ ditado ‘pelo fascínio de mil e uma propostas de consumo a que não conseguimos renunciar para caminhar, livres, pelas sendas que nos conduzem ao amor dos nossos irmãos, ao rebanho do Senhor, às ovelhas que aguardam pela voz dos seus pastores’”.

“Renovar o chamado passa por optar, dizer sim e cansar-nos com aquilo que é fecundo aos olhos de Deus, que torna presente, encarna o seu Filho Jesus. Oxalá encontremos, neste saudável cansaço, a fonte da nossa identidade e felicidade!”

Um olhar aos jovens: reconhecer a própria vocação

Por fim, o Pontífice dirigiu-se também ao jovens que se interrogam ou que já se sentem chamados para a vida consagrada:

“Tu que ainda te interrogas ou tu que já estás a caminho duma consagração definitiva dar-te-ás conta de que ‘a ansiedade e a velocidade de tantos estímulos que nos bombardeiam fazem com que não haja lugar para aquele silêncio interior onde se percebe o olhar de Jesus e se ouve seu chamado’”.

“Procura, antes, aqueles espaços de calma e silêncio que te permitam refletir, rezar, ver melhor o mundo ao teu redor e então sim, juntamente com Jesus, poderás reconhecer qual é a tua vocação nesta terra.”

Francisco concluiu destacando que a Igreja em Moçambique é convidada a ser a Igreja da Visitação: “não pode ser parte do problema das competências, menosprezos e divisões de uns contra os outros, mas porta de solução, espaço onde sejam possíveis o respeito, o intercâmbio e o diálogo”.


A forma como crianças e idosos são tratados revela grandeza de um povo, diz Papa

Antes de dirigir-se à Catedral da Imaculada Conceição para o encontro com a Vida Consagrada de Moçambique na tarde desta quinta-feira, o Papa Francisco reuniu-se na Nunciatura Apostólica em Maputo com uma delegação da Diocese de Xai-Xai. Quando era arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio havia instituído uma geminação entre as duas dioceses.

A delegação foi guiada pelo bispo Dom Lucio Andrice Muandula, acompanhado pelo bispo emérito, cardeal Julio Duarte Langa.

Após uma breve saudação de Dom Muandula, o Papa Francisco recordou as origens da relação entre as dioceses e como o intercâmbio entre as duas fortaleceu os sacerdotes, religiosos e seminaristas em sua missão, abrindo-os a uma perspectiva apostólica.

Depois enfatizou a importância da oração de uns pelos outros e o valor das crianças, riqueza de uma nação, e dos idosos: “As crianças e os idosos são o tesouro de um povo e a maneira como cuidamos deles, revelam a grandeza de um povo”.

A comunidade de Xai-Xai

Conhecida até a independência de Portugal em 1975 como Colônia João Belo , Xai-Xai é a capital da Província de Gaza, com cerca de 143 mil habitantes. Cidade portuária, a segunda após a capital Maputo, localiza-se entre o Oceano Índico e o Rio Limpopo.

Distante 224 km ao norte de Maputo, a construção da estrada EN1 (1970) – que liga a capital moçambicana com o restante do país – contribuiu de forma determinante para o desenvolvimento de Xai-Xai, tranquila cidade provincial e centro comercial.

Em fevereiro de 2000, chuvas intermitentes que atingiram Moçambique fizeram com que o rio Limpopo, deixando a cidade submersa por cerca de 3 metros de água e lodo.

Após recuperar-se deste trágico evento com muito trabalho, as suas praias e os seus grandes hotéis são hoje uma alavanca para o turismo nacional e internacional.

Não se pode ser cristão e viver sob a lei de talião

Maputo – Com a missa no estádio nacional Zimpeto, na periferia de Maputo, o Papa Francisco concluiu sua visita a Moçambique. A chuva e o frio não diminuíram o entusiasmo dos milhares de fiéis que aguardavam a chegada do Pontífice com cantos e danças tradicionais. Em sua homilia, o Papa refletiu sobre uma passagem do Sermão da Planície, contida no Evangelho de Lucas. Depois de escolher os seus discípulos e ter proclamado as Bem-aventuranças, Jesus acrescenta: «Digo-vos a vós que Me escutais: “Amai os vossos inimigos”» (Lc 6, 27).

“Jesus não é um idealista, que ignora a realidade; está a falar do inimigo concreto, do inimigo real, que descrevera na Bem-aventurança anterior (6, 22): aquele que nos odeia, expulsa, insulta e rejeita como infame”, disse. Portanto, explicou Francisco, Jesus não nos convida a um amor abstrato, etéreo ou teórico, redigido em escrivaninhas para discursos, mas a seguir o seu exemplo, pois amou aqueles que o traíram e o mataram.

Alta é a medida que o Mestre propõe!

É difícil falar de reconciliação quando ainda estão vivas as feridas causadas durante tantos anos de discórdia, afirmou, mas mesmo assim Jesus Cristo convida a amar e a fazer o bem. Isso vai além de simplesmente ignorar nosso inimigo, mas implica também abençoar e rezar por ele. “Alta é a medida que o Mestre nos propõe!”

“Com tal convite, Jesus – longe de ser um obstinado masoquista – quer encerrar para sempre a prática tão usual –ontem como hoje – de ser cristão e viver sob a lei de talião. Não se pode pensar o futuro, construir uma nação, uma sociedade sustentada na «equidade» da violência. Não posso seguir Jesus, se a ordem que promovo e vivo é «olho por olho, dente por dente». Nenhuma família, nenhum grupo de vizinhos ou uma etnia e menos ainda um país tem futuro, se o motor que os une, congrega e cobre as diferenças é a vingança e o ódio”. Jesus propõe a primeira regra de ouro ao alcance de todos: fazer aos outros aquilo que gostaríamos fizessem a nós. Isso significa reciprocidade e implica amar-se e ajudar-se sem esperar nada em troca.

Paradoxo humano
O Pontífice faz uma amarga constatação: “o mundo desconhecia – e continua sem conhecer – a virtude da misericórdia, da compaixão, matando ou abandonando deficientes e idosos, eliminando feridos e enfermos, ou divertindo-se com os sofrimentos dos animais”.

“Superar os tempos de divisão e violência supõe não só um ato de reconciliação ou a paz entendida como ausência de conflito, mas o compromisso diário de cada um de nós. Trata-se de uma atitude, não de fracos, mas de fortes, uma atitude de homens e mulheres que descobrem que não é necessário maltratar, denegrir ou esmagar para se sentirem importantes; antes, pelo contrário…”, acrescentou.

O Papa aponta então para o paradoxo de Moçambique: um território cheio de riquezas naturais e culturais, mas com uma quantidade enorme da sua população abaixo do nível de pobreza. “E por vezes parece que aqueles que se aproximam com o suposto desejo de ajudar, têm outros interesses. E é triste quando isto se verifica entre irmãos da mesma terra, que se deixam corromper; é muito perigoso aceitar que a corrupção seja o preço que temos de pagar pela ajuda externa.”

Agir a serviço de interesses políticos ou pessoais é ser ideológico. Este é o termômetro, disse o Papa: “Se Jesus for o árbitro entre as emoções em conflito do nosso coração, entre as decisões complexas do nosso país, então Moçambique tem garantido um futuro de esperança.”

Despedida

A missa no estádio Zimpeto foi o último compromisso do Papa em Moçambique. Antes de deixar o estádio, Francisco fez sua saudação final: “Irmãs e irmãos moçambicanos, sei do sacrifício que tivestes de fazer para participar nas celebrações e encontros e também que se molharam todos. Espero que com água benta! Aprecio-o e agradeço-o de coração. E agradeço também a quantos não o puderam fazer, em consequência dos recentes ciclones: Queridos irmãos, senti de igual modo o vosso apoio! E digo a todos: tendes tantos motivos para esperar! Vi-o, toquei-o com a mão nestes dias. Por favor, guardai a esperança; não deixeis que vo-la roubem”.

Da sacristia, o Pontífice se dirige diretamente ao aeroporto internacional de Maputo para a cerimônia de despedida. A próxima etapa é a capital malgaxe, Antananarivo, onde Francisco chegará depois de três horas de voo.

 


Papa visita hospital que atende pacientes com Aids

A visita ao hospital de Zimpeto foi o primeiro compromisso do Papa Francisco nesta sexta-feira, na periferia de Maputo. Trata-se de uma estrutura inaugurada há pouco mais de um ano e que atende cerca de dois mil pacientes. Em especial, dentro do hospital funciona um centro – chamado Dream – para pessoas com Aids/HIV, administrado pela Comunidade de Santo Egídio.

Diante de funcionários, médicos, enfermeiros e pacientes, o Papa Francisco pronunciou o seu discurso inspirando-se na parábola do Bom Samaritano. “Este Centro mostra-nos que houve quem parou e sentiu compaixão, quem não cedeu à tentação de dizer ‘não há nada a fazer’, ‘é impossível combater esta praga’ e se animou a buscar soluções.”

Atenção amiga

Os pobres não precisam ser delegados a alguém, mas do envolvimento pessoal de quem ouve o seu clamor, prosseguiu o Pontífice, citando sua mensagem para o Dia Mundial dos Pobres de 2018. “A solicitude dos fiéis não pode limitar-se a uma forma de assistência – embora necessária e providencial num primeiro momento –, mas requer aquela atenção amiga que aprecia o outro como pessoa e procura o seu bem.”

Voluntários

Para falar do trabalho dos voluntários, Francisco citou novamente a Parábola do Bom Samaritano. São as pessoas que, curadas “com dignidade na sua dignidade, transmitem esperança a muitas outras pessoas”. A visita ao hospital se conclui com a saudação do Papa a 20 doentes e conhecendo duas repartições do Centro de tratamento a pessoas com Aids.

Às Carmelitas: A clausura situa-vos no coração de Deus

O Papa Francisco visitou nesta manhã de sábado (07) o Mosteiro das Carmelitas Descalças de Antanananarivo, onde rezou com as cerca de 100 religiosas, de vários mosteiros em Madagascar, a oração da Hora Média. Também estavam presentes cerca de 70 noviças. A comunidade religiosa das Carmelitas de Antanananarivo, que foi fundada em 1927, compreende atualmente 13 irmãs de clausura com votos perpétuos, três professas, uma noviça e uma postulante. A ocupar as religiosas, diariamente, além da oração, que marca os diferentes momentos do dia, a realização de paramentos litúrgicos e bordados, a preparação das hóstias e o trabalho na horta.

O Mosteiro, cuja primeira pedra foi colocada em setembro de 1937 e concluído vinte anos mais tarde, sofreu danos em 2004 causados por chuvas fortes e ciclones; as obras de restauração terminaram em 2017. Francisco deixou de lado o sua homilia preparada e conversou com as religiosas improvisando uma reflexão.


Eis o texto integral da homilia preparada pelo Papa Francisco entregue às religiosas:

Dileta Madre Madalena da Anunciação,
Irmãs muito amadas!

Agradeço-vos a receção calorosa e as palavras da Madre que dão voz a todas as monjas contemplativas dos diferentes mosteiros deste país. Obrigado a todas e cada uma de vós, queridas Irmãs, por terdes deixado brevemente a clausura para manifestar a vossa comunhão comigo e com a vida e a missão de toda a Igreja, especialmente a de Madagáscar.

Agradeço a vossa presença, a vossa fidelidade, o testemunho luminoso de Jesus Cristo que ofereceis à comunidade. Neste país, há pobreza; é verdade, mas existe também tanta riqueza! É rico de belezas naturais, humanas e espirituais. Também vós, Irmãs, fazeis parte desta beleza de Madagáscar, do seu povo e da Igreja, pois é a beleza de Cristo que resplandece nos vossos rostos e nas vossas vidas. Graças a vós, a Igreja em Madagáscar é ainda mais bela aos olhos do Senhor e também aos olhos do mundo inteiro.

Os três salmos da Liturgia de hoje expressam a angústia do salmista num momento de provação e perigo. Permiti que me detenha no primeiro salmo, ou seja, numa secção do Salmo 119, o mais longo do Saltério, composto de oito versículos por cada letra do alfabeto hebraico. O autor é, sem dúvida, um homem de contemplação, alguém que sabe dedicar longos e maravilhosos momentos à oração. Na estrofe de hoje (Sal 119/118, 81-88), a palavra que aparece mais vezes e dá o tom ao conjunto é «suspirar», usada principalmente em dois sentidos.

O orante suspira pelo encontro com Deus. Vós sois o testemunho vivo deste anseio inextinguível que habita no coração de todos os homens. No meio das múltiplas ofertas que pretendem – mas não conseguem – satisfazer o coração, a vida contemplativa é a tocha que conduz ao único braseiro eterno, «a chama viva de amor que docemente fere» (São João da Cruz). Vós representais «visivelmente a meta para onde caminha a comunidade eclesial inteira, que avança pelas estradas do tempo com o olhar fixo na futura recapitulação de tudo em Cristo, preanunciando assim a glória celeste» (Francisco, Const. ap. Vultum Dei quaerere, 2).

Somos sempre tentados a satisfazer o anseio de eternidade com coisas efémeras. Estamos expostos aos mares revoltos que acabam apenas por afogar a vida e o espírito: «Como o marinheiro no mar alto precisa do farol que indique a rota para chegar ao porto, assim o mundo tem necessidade de vós. Sede faróis para os que estão perto e sobretudo para os afastados. Sede tochas que acompanham o caminho dos homens e mulheres na noite escura do tempo. Sede sentinelas da manhã (cf. Is 21, 11-12) que anunciam o nascer do sol (cf. Lc 1, 78). Com a vossa vida transfigurada e com palavras simples ruminadas no silêncio, indicai-nos Aquele que é caminho, verdade e vida (cf. Jo 14, 6), o único Senhor que oferece plenitude à nossa existência e dá vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Gritai-nos como André a Simão: “Encontramos o Messias” (cf. Jo 1, 40); anunciai, como Maria de Magdala na manhã da ressurreição: “Vi o Senhor!” (Jo 20, 18)» (Ibid., 6).

Mas o salmo fala de «suspirar» também noutro sentido e tem a ver com a intenção dos ímpios, daqueles que pretendem destruir o justo; perseguem-no, preparam-lhe ciladas e querem deitá-lo ao chão. Um mosteiro é sempre um espaço, onde chegam as dores do mundo, as da vossa gente. Sejam os vossos mosteiros – no respeito do vosso carisma contemplativo e das vossas constituições – lugares de guarida e escuta, especialmente para pessoas muito infelizes. Hoje acompanham-nos duas mães que perderam os seus filhos e representam todas as tribulações dos vossos irmãos insulares. Permanecei atentas ao clamor e às misérias dos homens e mulheres ao vosso redor, que vêm ter convosco consumidos pelo sofrimento, a exploração e o desânimo. Não sejais daquelas que escutam apenas para matar o tédio, satisfazer a curiosidade ou arranjar temas de conversa.

A este respeito, tendes uma missão fundamental a desempenhar. A clausura situa-vos no coração de Deus e, consequentemente, no lugar onde Ele colocou o seu coração. Escutais o coração do Senhor para O ouvir também nos vossos irmãos e irmãs. Com frequência, as pessoas ao vosso redor são muito pobres, frágeis, agredidas e feridas de mil maneiras; mas estão cheias de fé e, instintivamente, reconhecem em vós testemunhas da presença de Deus, preciosas referências para O encontrar e obter a sua ajuda. Para tanta tribulação que as consome interiormente, lhes rouba a alegria e a esperança, fá-las sentir-se estrangeiras, vós podeis ser um caminho para aquele rochedo de que fala outro Salmo: «Ó Deus, ouve o meu clamor, atende a minha oração. Dos confins da terra grito por Ti, com o meu coração desfalecido. Coloca-me sobre o rochedo que me é inacessível» (Sal 61/60, 2-3).

A fé é o maior bem dos pobres! É muito importante que esta fé seja anunciada e fortalecida neles, que os ajude realmente a viver e a esperar. E que a contemplação dos mistérios de Deus, manifestada na vossa Liturgia e nos vossos tempos de oração, vos permita descobrir melhor a sua presença ativa em cada realidade humana, mesmo a mais dolorosa, e dar graças porque, na contemplação, Deus vos oferece o dom da intercessão. Pela vossa oração, como mães carregais às costas os vossos filhos, levando-os para a Terra Prometida. «A oração será mais agradável a Deus e mais santificadora, se nela procurarmos, através da intercessão, viver o duplo mandamento que Jesus nos deixou. A intercessão expressa o compromisso fraterno com os outros, quando somos capazes de incorporar nela a vida deles, as suas angústias mais inquietantes e os seus melhores sonhos. A quem se entrega generosamente à intercessão, podem-se aplicar estas palavras bíblicas: “Eis o amigo dos seus irmãos, aquele que reza muito pelo povo” (2 Mac 15, 14)» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 154).

Sem vós, queridas Irmãs contemplativas, que seria da Igreja e de quantos vivem nas periferias humanas de Madagáscar? Que aconteceria a todos aqueles que trabalham na vanguarda da evangelização e, lá de modo particular, em condições muito precárias, difíceis e, por vezes, perigosas? Todos se apoiam na vossa oração e no dom sempre renovado da vossa vida; um dom, muito precioso aos olhos de Deus, que vos faz participar no mistério da redenção desta terra e das queridas pessoas que nela vivem.

«Estou como um odre exposto ao fumo»: diz o Salmo (119/118, 83), referindo-se ao tempo decorrido enquanto vive este duplo modo de ser consumido: suspirando por Deus e suspirando por causa das dificuldades do mundo. Às vezes, quase sem querer, afastamo-nos caindo «na apatia, na rotina, na desmotivação, na acédia paralisadora» (Const. ap. Vultum Dei quaerere, 11). Pouco importa os anos que tendes ou a dificuldade em andar ou de chegar a tempo ao serviço! Não somos odres expostos ao fumo, mas troncos que ardem até se consumir no fogo que é Jesus, Aquele que nunca falha e que cobre todas as dívidas.

Obrigado por este tempo de partilha, confio-me às vossas orações. Confio-vos todas as intenções que trago durante esta viagem a Madagáscar; rezemos juntos para que o Espírito do Evangelho possa germinar nos corações de todo o vosso povo.


“Não pode haver verdadeira abordagem ecológica sem uma justiça social”

Antananarivo – O Papa Francisco encontra-se em Madagascar, segunda etapa da sua 31ª Viagem Apostólica, após ter visitado, por três dias, Moçambique. O dia do Santo Padre teve início com a celebração da Santa Missa, em privado, na Nunciatura Apostólica em Antananarivo, capital de Madagascar.

A seguir, o Papa se transferiu, de automóvel, ao Palácio Presidencial, a quase 20 km, para uma Visita de cortesia ao presidente malgaxe, Andry Rajoelina. Depois, no vizinho Centro de Cerimônias, manteve um encontro com as Autoridades, civis e religiosas, representantes da Sociedade Civil e de algumas Confissões Religiosas e o Corpo Diplomático.

Após a saudação do Presidente da República, Francisco pronunciou seu discurso, citando, inicialmente, o preâmbulo da Constituição do país, onde se destaca um dos valores fundamentais da cultura malgaxe: o fiha-vanana, que evoca o espírito de partilha, ajuda mútua e solidariedade, mas, também a importância dos laços familiares, da amizade e da benevolência entre os homens e para com a natureza. E o Papa continuou: “Assim se revelam a ‘alma’ do seu povo e os traços peculiares, que o caracterizam, constituem e lhe permitem resistir, corajosa e abnegadamente, às múltiplas contrariedades e dificuldades que tem de enfrentar diariamente. Devemos reconhecer, valorizar e apreciar esta terra abençoada, pela sua beleza e inestimável riqueza natural, mas também a sua ‘alma’, que dá a força para se comprometer com a aina, a vida”.

Depois da independência, explicou o Papa, esta nação aspira à estabilidade e à paz, implementando uma alternância democrática positiva, que testemunha respeito pela complementaridade dos estilos e projetos. Isto demonstra que “a política é um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem, quando é vivida como serviço à coletividade humana”.

Por isso, completou Francisco, a função e a responsabilidade política constituem um desafio permanente para os que têm a missão de servir e proteger os seus compatriotas, especialmente os mais vulneráveis, e promover as condições para um desenvolvimento digno e justo, envolvendo todos os atores da sociedade civil. E exortou: “Nesta perspectiva, encorajo-os a lutar, vigorosa e decididamente, contra todas as formas endêmicas de corrupção e especulação, que aumentam a disparidade social, e a enfrentar as situações de grande precariedade e exclusão, que geram sempre condições de pobreza desumana”.

Daí, afirmou o Papa, a necessidade de se estabelecer mediações estruturais, que possam garantir uma melhor distribuição da renda e a promoção integral de todos, especialmente os mais pobres. Tal promoção não se pode limitar a uma mera assistência, mas requer uma participação plena na construção do futuro do país.

Mas, recordou Francisco, não se pode falar de desenvolvimento integral sem prestar atenção e cuidar da nossa Casa Comum. Não se trata apenas de buscar instrumentos para preservar os recursos naturais, mas soluções integrais para a única e complexa crise socio-ambiental. A propósito, o Papa recordou: “A linda ilha de Madagascar é rica de biodiversidade vegetal e animal, uma riqueza ameaçada pelo excessivo desflorestamento, em proveito de poucos. A sua degradação compromete o futuro do país e da nossa Casa Comum”.

As florestas, ainda existentes, acrescentou o Papa, estão ameaçadas pelos incêndios, a caça furtiva, a derrubada desenfreada de madeiras preciosas, o contrabando e as exportações ilegais. Por isso, é preciso criar condições para respeitar o meio ambiente e ajudar as pessoas a sair da pobreza. Por isso, afirmou: “Não pode haver verdadeira abordagem ecológica nem uma ação concreta de salvaguarda do meio ambiente sem uma justiça social, que garanta o direito ao destino comum dos bens da terra às gerações atuais e às futuras. Todos nós devemos nos comprometer neste caminho, inclusive a comunidade internacional”.

A globalização econômica, cujas limitações são cada vez mais evidentes, frisou Francisco, não deveria levar a uma uniformização cultural. O próprio povo deve assumir, aos poucos, seu controle, tornando-se artífice do seu destino.

O Santo Padre concluiu seu discurso, citando a Beata Vitória Rasoa-manarivo, beatificada por São João Paulo II, em sua visita ao país há trinta anos. Seu testemunho de amor pela sua terra e suas tradições, o serviço aos mais pobres, como sinal da sua fé em Cristo, indicam-nos o caminho que devemos percorrer. Por fim, o Papa referiu-se à obra da Igreja católica no país: “Desejo reafirmar a vontade e a disponibilidade da Igreja Católica em Madagascar de contribuir, em diálogo permanente com os cristãos das outras confissões e religiões e com a sociedade civil, para o advento de uma verdadeira fraternidade, que valorize a promoção e o desenvolvimento humano integral de todos, sem nenhuma exceção e exclusão”.


Papa planta árvore de baobá junto com presidente malgaxe

No final do encontro com as autoridades de Madagascar na manhã deste sábado (07/09), no jardim do Ceremony Building, o Papa Francisco e o Presidente Andry Rajoelina plantaram uma árvore em recordação da visita, enquanto no interior do edifício um coro infantil cantava uma canção. A árvore plantada por Bergoglio e o presidente Rajeolina é a baobá. Ambos colocaram terra vermelha à volta dela. A baobá é uma árvore que cresce em condições climáticas extremas.

“Vim como semeador de paz e esperança: possam as sementes lançadas nesta terra dar ao povo malgaxe frutos abundantes! O Senhor abençoe todos vocês”. É a frase escrita à mão em francês, momentos antes, e assinada pelo Papa Francisco no Livro de Honra durante a visita ao Palácio Presidencial de Madagáscar e ao Chefe de Estado Rajoelina.

A Igreja Católica em Madagascar

A Ilha de Madagascar tem uma população de cerca 23.652.000 habitantes, com uma densidade populacional de 40 hab/km2. Destes, 8.233.000 declaram-se católicos. Eles estão distribuídos em 22 Circunscrições Eclesiásticas e 438 paróquias. Há mais de 9 mil centros pastorais em todo o país.

Madagascar tem 25 bispos (situação em 31 de julho de 2019), 892 sacerdotes diocesanos e 855 sacerdotes religiosos. Os religiosos não sacerdotes são 735, as religiosas professas 5.0006, os membros de Institutos Seculares 133, os missionários leigos 1.703 e os catequistas 14.395.

O arcebispo da capital, Antananarivo, é Dom Odon Marie Arsèn Razanakolona, nascido em Fianarantsoa 24 de maio de 1946; ordenado sacerdote em 28 de dezembro de 1975; nomeado em Ambanja em 28 de novembro de 1998; consagrado bispos em 11 de abril de 1999; promovido em 7 de dezembro de 2005.

Quanto às vocações sacerdotais, há 930 seminaristas menores e 1.977 seminaristas maiores. A Igreja Católica é proprietária ou administra 5.367 maternais e escolas primárias, 1.024 escolas médias e secundárias e 62 escolas superiores e universidades.

Os estudantes nos maternais e escolas primárias são 479.421, nas escolas médias inferiores e secundárias 202.144 e em institutos superiores e universidades 16.479.

Quanto aos centros caritativos e sociais de propriedade da Igreja Católica ou dirigidos por eclesiásticos ou religiosos, há 20 hospitais, 217 ambulatórios, 24 leprosários, 26 casas para idosos, pessoas com invalidez, 154 orfanatrófios e jardins da infância, 31 consultórios familiares, 7 centros especiais de educação e reeducação, além de 32 outras instituições.

“José do Egito”, resgatando a dignidade das crianças em Madagascar

O Papa Francisco chegou na tarde desta sexta-feira (06∕09), a Madagascar, na capital Antananarivo, que acolheu o Santo Padre de braços abertos e lhe deu as boas-vindas: Tongasoa, saudação em malgaxe que significa “seja bem-vindo” que encontramos pelas ruas da cidade que hoje está completamente blindada, com policiais por todos os cantos da capital. O Papa chegou a Madagascar, chamada de “Terra vermelha”, como “Semeador de paz e esperança”, conforme diz o lema dessa viagem.

A imprensa hoje destaca a chegada do Papa Francisco ao aeroporto internacional de Ivato, em Antananarivo, e um pouco do programa de sua estada de três dias aqui que será bem intenso. Cita em particular dois eventos: a missa no Campo Diocesano de Soamandrakizay, no domingo, em que são esperadas 1 milhão de pessoas, e o encontro do Papa Francisco com o presidente Andry Rajoelna.

A manchete do jornal “L’express de Madagascar” é “Prontos para o grande dia”. O título principal do jornal “Midi Madagasikara” é “A chegada do Papa Francisco a terras malgaxes”, e a do jornal “Les Nouvelles” é “O Papa Francisco com cheiro de santidade”.

Antananarivo é uma capital bem movimentada com quase dois milhões de habitantes, com um grande número de jovens e crianças que vemos circular pelas ruas da cidade.

A população de Madagascar é de 25 milhões de habitantes. Um país pobre, com uma situação higiênica difícil. Somente 2% da população tem água encanada. A expectativa de vida do povo malgaxe é de 40 anos. Não obstante a condição de pobreza é um povo alegre, acolhedor e batalhador, que luta para superar a condição de pobreza em que vive.

Um exemplo de superação da pobreza é a “Cidade da Amizade” em Akamasoa que significa “Bons amigos”, local que o Papa Francisco visitará, no próximo domingo, e que eu também pude conhecer. Ali vivem 25 mil pessoas. Esta cidade foi fundada pelo sacerdote argentino de origem eslovena pe. Pedro Opeka, missionário Lassalista que chegou a Madagascar em 1970. Foi ele mesmo quem levou para conhecer a Cidade da Amizade.

Nessa cidade tem um hospital, escolas e uma universidade que acolhe também estudantes que não fazem parte dessa comunidade, e cada família tem a sua pequena casa. As crianças vão à escola e os jovens recebem uma formação profissional.

Ali dentro tem três pedreiras onde as pessoas trabalham quebrando pedras com martelos e picaretas, pedras de vários tamanhos. Os pais sustentam suas famílias com a venda dessas pedras para a cidade e arredores. Ali também tem uma grande carpintaria que produz cadeiras e bancos para as escolas da capital Antananarivo.

A Comunidade Shalom tem um projeto aqui, em Madagascar, que como o da Cidade da Amizade, em Antananarivo, ajuda as pessoas carentes. Trata-se do projeto “José do Egito”, realizado na cidade de Antsiranana, situada norte da ilha, que também existe em algumas missões da Comunidade Shalom no Brasil.

A responsável local da Comunidade Shalom e do projeto “José do Egito” é Vanda Santos, natural de Salvador (BA).

Aos jovens: Com Jesus, há sempre novos horizontes

A vigília com os jovens concluiu o primeiro de eventos oficiais do Papa em Madagascar. O Campo Diocesano de Soamandrakisay parecia acolher uma edição reduzida da Jornada Mundial da Juventude, com milhares de jovens congregados.

Depois de assistir a danças e cantos, Francisco dirigiu seu discurso à juventude inspirando-se no testemunho dado por dois jovens malgaxes. “Como é bom encontrar dois jovens com uma fé viva, em movimento!”, elogiou o Papa.

“O discípulo de Jesus, se quiser crescer na sua amizade, não deve permanecer imóvel, a lamentar-se debruçado sobre si mesmo. Deve mover-se, agir, comprometer-se, seguro de que o Senhor o sustenta e acompanha”, disse.

O Senhor nos chama pelo nome
O primeiro testemunho foi de Rova Sitraka, que contou sua experiência como agente pastoral numa prisão. “Na tua missão, aprendeste a renunciar aos adjetivos e a chamar as pessoas pelo seu nome, como o Senhor faz conosco”, comentou o Papa.

O Senhor não nos chama pelo nosso pecado e erros, mas pelo nosso nome, porque cada um é precioso a seus olhos. Já o diabo, apesar de conhecer os nossos nomes, prefere nos chamar e recordar continuamente os nossos pecados e os nossos erros; e, assim, faz-nos sentir que, por mais que façamos, nada pode mudar, tudo permanecerá igual. “O Senhor não age assim”, explicou o Papa.

“O Senhor chama-nos pelo nosso nome e diz-nos: «segue-Me!» Não para nos fazer correr atrás de ilusões, mas para transformar cada um de nós em discípulo-missionário aqui e agora”, acrescentou.

Com Jesus, encorajou Francisco, há sempre novos horizontes. Ele quer nos transformar e fazer da nossa vida uma missão. Mas pede para não termos medo de colocar as mãos na massa. Através dos jovens, disse ainda o Papa, o futuro entra em Madagáscar e na Igreja.

“O Senhor os convida a ter coragem, unidos a Ele, para escrever a mais bela página de sua vida, para vencer a apatia e oferecer uma resposta cristã aos numerosos problemas que vocês têm que enfrentar”.

O encontro pessoal com Jesus é insubstituível
O Senhor, porém, não quer aventureiros solitários, acrescentou o Pontífice. “O encontro pessoal com Jesus é insubstituível, não de maneira solitária, mas em comunidade. Sozinhos podemos fazer grandes coisas, sim; mas juntos podemos sonhar e comprometer-nos com coisas inimagináveis”.

Citando a experiência da jovem Vavy Elyssa, Francisco convidou os jovens a jamais se isolarem. “Esta é uma das piores tentações que podemos ter.”

“Somos uma grande família e podemos, queridos jovens, descobrir que temos uma Mãe: a protetora de Madagascar, a Virgem Maria”.

“Ela disse «sim» sem subterfúgios. É o «sim» das pessoas que querem comprometer-se prontas a assumir os riscos, que querem apostar tudo, sem outra garantia para além da certeza de saber que são portadoras duma promessa”, acrescentou.

O Papa então concluiu: “A Ela, quero confiar a vida de todos e cada um de vós, das vossas famílias e dos vossos amigos, para que não vos falte jamais a luz da esperança e Madagáscar possa ser cada vez mais a terra que o Senhor sonhou.”


ÍNTEGRA DO DISCURSO AOS BISPOS

O primeiro compromisso do Papa Francisco na tarde deste sábado foi o encontro com os bispos malgaxes na Catedral de Andohalo, em Antananarivo. Trazemos o discurso que o Santo Padre havia preparado, SEM os acréscimos feitos ao improviso.

“Amados irmãos no episcopado!

Obrigado, Senhor Cardeal, pelas suas palavras de boas-vindas em nome de todos os irmãos. Agradeço também por ter querido, com as mesmas palavras, mostrar como a missão que abraçamos se desenrola no meio de contradições: uma terra rica e tanta pobreza; uma cultura e uma sabedoria herdadas dos antepassados, que nos fazem valorizar a vida e a dignidade da pessoa humana, mas temos também de constatar a desigualdade e a corrupção. Nestas circunstâncias, é difícil a tarefa do pastor.

«Semeador de paz e de esperança» é o tema escolhido para esta visita, mas nele pode ecoar também a missão que nos foi confiada. De facto, somos semeadores, e aquele que semeia fá-lo na esperança; fá-lo contando com o seu esforço e empenho pessoal, mas sabendo que há muitos fatores que têm de concorrer para que a semente germine, cresça, se torne espiga e, por fim, grão abundante. O semeador cansado e preocupado não desanima, não desiste, nem pega fogo ao seu campo quando algo corre mal. Sabe esperar, confia, assume as deceções da sua sementeira. Mas nunca cessa de amar este campo confiado aos seus cuidados. E embora às vezes lhe venha a tentação de o fazer, não o abandona nem confia a outrem.

O semeador conhece a sua terra, «palpa-a», «sente-a» e prepara-a para que possa dar o melhor de si mesma. Como o Semeador, nós, bispos, somos chamados a lançar as sementes da fé e da esperança nesta terra. Para isso, devemos desenvolver este «olfato» que nos permite conhecer melhor e também descobrir o que compromete, dificulta ou arruína a sementeira. Assim, «os pastores, acolhendo as contribuições das diversas ciências, têm o direito de exprimir opiniões sobre tudo aquilo que diz respeito à vida das pessoas, dado que a tarefa da evangelização implica e exige uma promoção integral de cada ser humano. Já não se pode afirmar que a religião deve limitar-se ao âmbito privado e serve apenas para preparar as almas para o céu. Sabemos que Deus deseja a felicidade dos seus filhos também nesta terra, embora estejam chamados à plenitude eterna, porque Ele criou todas as coisas “para nosso usufruto” (1 Tm 6, 17), para que todos possam usufruir delas. Por isso, a conversão cristã exige rever especialmente tudo o que diz respeito à ordem social e consecução do bem comum. Por conseguinte, ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 182-183).

Sei que não faltam motivos de preocupação e que, entre outras coisas, carregais no coração a responsabilidade de velar pela dignidade dos vossos irmãos, que pedem para se construir uma nação cada vez mais solidária e próspera, dotada de instituições sólidas e estáveis. Pode um pastor digno deste nome ficar indiferente aos desafios que enfrentam os seus compatriotas de todas as categorias sociais, independentemente da sua pertença religiosa? Pode um pastor segundo o estilo de Jesus ser indiferente às vidas que lhe estão confiadas?

A dimensão profética ligada à missão da Igreja requer, sempre e em toda parte, um discernimento que em geral não é fácil. Neste sentido, a colaboração madura e independente entre a Igreja e o Estado é um desafio permanente, porque o perigo de conluio nunca está longe, sobretudo se chegamos a perder o ardor evangélico. Escutando sempre aquilo que o Espírito diz sem cessar às Igrejas (cf. Ap 2, 7), seremos capazes de escapar às ciladas, libertar o fermento do Evangelho para uma colaboração frutuosa com a sociedade civil na busca do bem comum. A marca distintiva deste discernimento será a vossa preocupação por que a proclamação do Evangelho inclua todas as formas de pobreza: não apenas «garantir a comida ou um decoroso “sustento” para todos, mas prosperidade e civilização em seus múltiplos aspetos. Isto engloba educação, acesso aos cuidados de saúde e especialmente trabalho, porque, no trabalho livre, criativo, participativo e solidário, o ser humano exprime e engrandece a dignidade da sua vida. O salário justo permite o acesso adequado aos outros bens que estão destinados ao uso comum» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 192).

A defesa da pessoa humana é outra dimensão do nosso empenho pastoral. Para ser pastores segundo o coração de Deus, devemos ser os primeiros na opção de anunciar o Evangelho aos pobres. «Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho, e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!» (Ibid., 48). Por outras palavras, temos um dever particular de proximidade e proteção para com os pobres, os marginalizados e os pequeninos, para com as crianças e as pessoas mais vulneráveis, vítimas de exploração e abusos.

Este vasto campo não é desbravado e arroteado apenas pelo espírito profético, mas espera também a semente lançada à terra com paciência cristã, cientes ainda de que não temos o controle nem a responsabilidade de todo o processo. Um pastor que semeia evita de controlar tudo, dá azo às iniciativas, deixa crescer segundo etapas diferentes e não procura a uniformidade; não tem pretensões irrazoáveis, não despreza os resultados aparentemente mais mingados. Esta fidelidade ao Evangelho faz de nós pastores próximos também do povo de Deus, a começar pelos nossos irmãos sacerdotes – são eles os nossos irmãos mais próximos – que devem beneficiar de um cuidado especial da nossa parte.

Há pouco tempo, falava aos bispos italianos da solicitude por que os nossos sacerdotes possam encontrar no seu bispo a figura do irmão mais velho e do pai que os encoraja e apoia no caminho (cf. Discurso à Conferência Episcopal Italiana, 20 de maio de 2019). Tal é a paternidade espiritual, que impele o bispo a não deixar órfãos os seus sacerdotes, podendo-se «tocar com a mão» não apenas na capacidade de manter abertas as portas a todos os sacerdotes, mas também na preocupação de sair à sua procura para os acompanhar quando atravessam um momento difícil.

Nas alegrias e dificuldades inerentes ao ministério, os sacerdotes devem encontrar, em vós, pais sempre disponíveis que saibam como encorajar e apoiar, que saibam apreciar os esforços e acompanhar os progressos possíveis. A propósito, observou o Concílio Vaticano II: os bispos «abracem sempre com especial caridade os sacerdotes, que compartilham das suas funções e solicitude, e tão zelosamente satisfazem esses deveres com o trabalho de cada dia, considerando-os como filhos e amigos, e, portanto, mostrando-se prontos a ouvi-los e tratando-os com confiança, procurem dar nova vida a toda a atividade pastoral da diocese inteira» (Decr. Christus Dominus, 16).

Cuidar da terra implica também aguardar pacientemente o crescimento; e, na hora da colheita, o agricultor avalia também a qualidade dos trabalhadores. Isto impõe-vos, como pastores, um urgente dever de acompanhamento e discernimento, sobretudo no que se refere às vocações para a vida consagrada e o sacerdócio; isso é fundamental para garantir a autenticidade das mesmas. A messe é grande, e o Senhor, cujo único anelo é mandar-lhe autênticos trabalhadores, não conhece limites na maneira de chamar, de incitar ao dom generoso da própria vida. A formação dos candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada destina-se precisamente a assegurar um amadurecimento e uma purificação das intenções. A este respeito e no espírito da Exortação apostólica Gaudete et exsultate, gostaria de assinalar que a vocação fundamental sem a qual as outras não têm razão de ser é a chamada à santidade e que esta «santidade é o rosto mais belo da Igreja» (n. 9). Aprecio os vossos esforços para garantir a formação de autênticos e santos trabalhadores para a messe abundante no campo do Senhor.

Este esforço deve estender-se também ao vasto mundo do laicado; também os fiéis-leigos são enviados para a messe, são chamados a participar na pesca, a arriscar redes e tempo no «seu apostolado multiforme tanto na Igreja como no mundo» (Conc. Ecum. Vat. II, Decl. Apostolicam actuositatem, 9). Com toda a sua extensão, os seus problemas e as suas mudanças, o mundo constitui o campo específico de apostolado, onde os fiéis-leigos são chamados a trabalhar, generosa e responsavelmente, levando-lhe o fermento do Evangelho. Por isso mesmo, gostaria de congratular-me com todas as iniciativas que tomais como pastores para formar os leigos e não os deixar sozinhos na missão de serem sal da terra e luz do mundo, tendo em vista contribuir para a transformação da sociedade e da Igreja em Madagáscar.

Amados irmãos, toda esta responsabilidade no campo de Deus deve desafiar-nos a manter o coração e o espírito abertos, esconjurar o medo que nos fecha e vencer a tentação de nos isolarmos: que o diálogo fraterno entre vós, bem como a partilha dos dons e a colaboração entre as Igrejas particulares do Oceano Índico constitua um caminho de esperança. A semelhança de desafios pastorais, tais como a proteção do meio ambiente num espírito cristão ou o problema da imigração, requer, para uma abordagem eficaz, reflexões comuns e uma ampla sinergia de ações.

Por fim gostaria, através de vós, de saudar de maneira especial os sacerdotes, os religiosos e religiosas que estão doentes ou limitados pela idade; peço para lhes manifestardes o meu afeto e a minha proximidade na oração e também para cuidardes deles com ternura sustentando-os na bela missão de intercessão.

Duas mulheres protegem esta Catedral: na capela aqui ao lado, repousam os restos da Beata Vitória Rasoamanarivo, que soube fazer o bem, defender e espalhar a fé em tempos difíceis; e temos a imagem da Virgem Maria que parece, com seus braços abertos para o vale e as colinas, abraçar tudo. Pedimos, a ambas, que dilatem sempre o nosso coração, que nos ensinem aquela compaixão oriunda do seio materno que a mulher e Deus sentem face aos esquecidos da terra e que nos ajudem a semear a paz e a esperança.

E, em sinal do meu cordial e fiel apoio, dou-vos a bênção que estendo às vossas dioceses.

Por favor, não vos esqueçais de rezar e fazer rezar por mim!”

Qualquer renúncia cristã só tem sentido à luz da alegria

“A nossa vida e as nossas capacidades, mais do que conquista pessoal, são fruto de um dom”, recordou o Papa Francisco na homilia Missa no Campo diocesano de Soamandrakizay de Anatananarivo. Milhares de fiéis acompanharam o primeiro compromisso do Pontífice neste domingo (08) em Madagascar.

O Santo Padre comentou o Evangelho de Lucas com as palavras “seguiam com [Jesus] grandes multidões”. Segundo Francisco, “não é fácil seguir os passos de Jesus” e especificou as exigências deste compromisso.


Leia a íntegra da homilia do Papa Francisco.

“Disse-nos o Evangelho que «seguiam com [Jesus] grandes multidões» (Lc 14, 25). À semelhança daquelas multidões que se aglomeravam no percurso de Jesus, também vós viestes em grande número para acolher a sua mensagem e segui-Lo. Mas, como bem sabeis, não é fácil seguir os passos de Jesus. Vocês não descansaram e muitos de vocês passaram a noite aqui. Realmente, o evangelho de Lucas lembra-nos, hoje, as exigências deste compromisso.

É importante notar que estas indicações são dadas no quadro da subida de Jesus para Jerusalém, entre a parábola do banquete – onde o convite é aberto a todos, especialmente às pessoas rejeitadas que vivem nas ruas e nas praças, nas encruzilhadas – e as três parábolas ditas da misericórdia, onde se organiza a festa quando a pessoa perdida é reencontrada, quando aquele que parecia morto é recebido, festejado e devolvido à vida pela possibilidade dum novo recomeço. Qualquer renúncia cristã só tem sentido à luz da alegria e da festa do encontro com Jesus Cristo.

A primeira exigência convida-nos a verificar as nossas relações familiares. A vida nova que o Senhor nos propõe parece incómoda e transforma-se numa injustiça escandalosa para quantos creem que é possível limitar ou reduzir o acesso ao Reino dos Céus apenas aos laços de sangue, à pertença a um grupo determinado, a um clã ou a uma cultura particular. Quando o «parentesco» se torna a chave decisiva e determinante de tudo o que é justo e bom, acaba-se por justificar e até mesmo «consagrar» alguns comportamentos que levam à cultura dos privilégios e da exclusão: favoritismos, clientelismos e, consequentemente, corrupção. A exigência do Mestre faz-nos elevar o olhar, dizendo: quem não for capaz de ver o outro como um irmão, deixar-se comover pela sua vida e situação, independentemente da sua origem familiar, cultural e social, «não pode ser meu discípulo» (Lc 14, 26). O seu amor e dedicação são um dom gratuito, invocado por todos e para todos.

A segunda exigência mostra-nos a dificuldade de seguir o Senhor, quando se pretende identificar o Reino dos Céus com os próprios interesses pessoais ou com o fascínio de uma ideologia qualquer que acaba por instrumentalizar o nome de Deus ou a religião para justificar atos de violência, a segregação e até o homicídio, o exílio, o terrorismo e a marginalização. A exigência do Mestre encoraja-nos a não manipular o Evangelho com tristes reducionismos, mas construir a história na fraternidade e solidariedade, no respeito gratuito da terra e dos seus dons contra todas as formas de exploração, encorajando-nos a viver o «diálogo como um caminho, a colaboração comum como conduta, o conhecimento mútuo como método e critério» (Documento sobre a fraternidade humana, Abu Dabhi, 4 de fevereiro de 2019); não cedendo à tentação de certas doutrinas incapazes de ver o bom grão e o joio crescerem juntos enquanto se espera o Senhor da messe (cf. Mt 13, 24-30).

E, quanto à última exigência, como pode ser difícil partilhar a vida nova que o Senhor nos oferece, quando nos sentimos continuamente impelidos a buscar a justificação em nós mesmos, crendo que tudo provenha exclusivamente das nossas forças e daquilo que possuímos! Quando a corrida para acumular riqueza se torna molesta e oprimente – como ouvimos na primeira Leitura –, exacerbando o egoísmo e o uso de meios imorais. A exigência do Mestre é um convite a recuperar a memória agradecida e tomar consciência de que a nossa vida e as nossas capacidades, mais do que conquista pessoal, são fruto de um dom (cf. Francisco, Exort. ap. Gaudete e exsultate, 55) um dom tecido por Deus e pelas mãos silenciosas de muitas pessoas, cujos nomes só conheceremos na manifestação do Reino dos Céus.

Com estas exigências, o Senhor quer preparar os seus discípulos para a festa da irrupção do Reino de Deus, libertando-os deste obstáculo perigoso que é, em última instância, uma das piores escravidões: viver para si mesmo. É a tentação de se fechar no seu pequeno mundo, que acaba por deixar pouco espaço aos outros: os pobres já não entram, deixa-se de ouvir a voz de Deus, não mais se rejubila com doce alegria do seu amor, perde-se o entusiasmo de fazer o bem. Quando se fecham, muitas pessoas podem aparentemente sentir-se em segurança, mas acabam por se transformar em pessoas ressentidas, lamurientas, sem vida. Esta não é a opção duma vida digna e plena, não corresponde ao desígnio de Deus a nosso respeito, não é a vida no Espírito que jorra do coração do Cristo ressuscitado (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 2).

No caminho para Jerusalém o Senhor, com estas exigências, convida-nos a elevar o olhar, ajustar as prioridades e sobretudo criar espaços para que Deus seja o centro e o fulcro da nossa vida.

Se olharmos ao nosso redor, quantos homens e mulheres, jovens, crianças sofrem e estão literalmente privados de tudo! Isto não faz parte do plano de Deus. Como é urgente este convite de Jesus a morrer para os nossos confinamentos, os nossos orgulhosos individualismos, a fim de deixar triunfar o espírito de fraternidade – este dimana do lado aberto de Jesus Cristo, donde nascemos como família de Deus – e cada qual possa sentir-se amado, porque compreendido, aceite e valorizado na sua dignidade. «Perante a dignidade humana espezinhada, muitas vezes fica-se de braços cruzados ou então abanam-se os braços, impotentes diante da força obscura do mal. Mas o cristão não pode ficar de braços cruzados, indiferente, nem de braços a abanar, fatalista! Não… O crente estende a mão, como Jesus faz com ele» (Francisco, Homilia por ocasião do Dia Mundial dos Pobres, 18 de novembro de 2018).

A Palavra de Deus, que ouvimos, convida-nos a retomar o caminho, ousando dar este salto qualitativo e adotar esta sabedoria do desapego pessoal como base para a justiça e a vida de cada um de nós; pois, juntos, podemos lutar contra todas estas idolatrias que nos levam a focalizar a nossa atenção nas seguranças ilusórias do poder, da carreira e do dinheiro e na busca de glórias humanas.

As exigências que Jesus deixam de ser pesadas quando começamos a saborear a alegria da vida nova que Ele mesmo nos propõe: a alegria que brota de saber que Ele é o primeiro a sair à nossa procura pelas encruzilhadas dos caminhos, quando estamos perdidos como aquela ovelha ou aquele filho pródigo. Possa este humilde realismo – é um realismo, realismo cristão -, possa este humilde realismo incitar-nos a assumir os grandes desafios, e vos conceda o desejo de tornar o vosso lindo país num lugar onde o Evangelho se faz vida, e vida para a maior glória de Deus. Comprometamo-nos e façamos nossos os planos do Senhor.”

Em Maurício: “Não deixemos que nos roubem o rosto jovem da Igreja”

A 31ª Viagem Apostólica do Papa Francisco chegou nesta segunda-feira à sua terceira e última etapa: a visita à capital de Maurício, Porto Luís. Depois de duas horas de voo partindo de Antananarivo, o Pontífice foi acolhido no aeroporto pelo primeiro-ministro, Pravind Kumar Jugnauth, e demais autoridades civis e eclesiásticas. Depois da execução dos hinos, o Papa se transferiu diretamente para o Monumento de Maria Rainha da Paz.

O Monumento foi inaugurado em agosto de 1940, em agradecimento pela preservação do país durante o primeiro conflito mundial. Construído em forma de ascendentes terraços verdes, intercaladas por flores, o local domina a cidade. No alto, foi colocado um altar com uma imagem de Nossa Senhora em mármore de 3 metros de altura. A Virgem segura em suas mãos o globo terrestre e é meta de peregrinações.

Evangelização não pode ser abstrata e asséptica

Com capacidade para 80 mil pessoas, no Monumento foi celebrada a missa no dia em que a Igreja recorda a memória do Bem-aventurado Jacques-Desiré Laval, conhecido como o “apóstolo da unidade mauriciana”.

Em sua homilia, o Pontífice citou o amor por Cristo e pelos pobres como a marca distintiva da vida do beato francês que morreu na ilha em 1864. Este mesmo amor protegeu o Laval da ilusão de realizar uma evangelização “abstrata e asséptica”. Ele “sabia que evangelizar implica fazer-se tudo para todos: aprendeu a língua dos escravos recém-libertados e anunciou-lhes de maneira simples a Boa Nova da salvação”.

Dinamismo missionário

As pequenas comunidades criadas pelo beato estão na origem das paróquias atuais e o seu dinamismo missionário, afirmou o Papa, deu à Igreja mauriciana uma nova juventude.

“São precisamente os jovens que, pela sua vitalidade e dedicação, podem dar à Igreja a beleza e o frescor próprios da juventude, quando desafiam a comunidade cristã a renovar-se e nos convidam a partir para novos horizontes”.

Os jovens, prosseguiu Francisco, são a primeira missão da Igreja. Na ilha, não obstante o crescimento econômico, são eles os que mais sofrem com o desemprego e a falta de perspectivas.

“Um futuro incerto, que os descarta e obriga a conceber a sua vida à margem da sociedade, deixando-os vulneráveis e quase sem pontos de referência perante as novas formas de escravidão deste século XXI.”

Jovens, as primícias da terra

Eis então que a missão da Igreja é convidar os jovens a encontrar a sua felicidade em Jesus.

“Não deixemos que nos roubem o rosto jovem da Igreja e da sociedade! Não permitamos aos mercadores de morte roubar as primícias desta terra! ”

Para viver o Evangelho, continuou, não podemos esperar que tudo seja favorável ao nosso redor, porque muitas vezes as ambições do poder e os interesses mundanos jogam contra nós. Mas é justamente nesta situação que a vivência das bem-aventuranças se torna ainda mais urgente.

O que deve preocupar a Igreja não são os números, mas a carência de homens e mulheres que queiram viver a felicidade pelos caminhos da santidade.

“Rezemos, queridos irmãos e irmãs, pelas nossas comunidades para que, dando testemunho da alegria da vida cristã, vejam florescer a vocação à santidade nas diferentes formas de vida que o Espírito nos propõe”, disse.

A Nossa Senhora, concluiu o Papa, “peçamos o dom da abertura ao Espírito Santo, da alegria perseverante, a alegria que não se deixa abater nem retroceder, a alegria que sempre nos faz experimentar e afirmar que o Todo Poderoso faz maravilhas, santo é o seu nome”.

Papa saúda os detentos

Ao final da celebração eucarística, Francisco agradeceu ao cardeal Maurice Piat, às autoridades, voluntários e fiéis que vieram de outras ilhas, como Seychelles e Comores, pela oportunidade de visitar Maurício.

Mas a saudação especial do Papa foi reservada aos detentos que participaram do “Percurso Alpha” na prisão. Eles escreveram e Francisco respondeu saudando-os e concedendo-lhes a sua bênção.

Este projeto oferece aos prisioneiros a oportunidade de questionar o significado da vida e descobrir como a fé cristã pode reforça-los na vida de todos os dias. Trata-se de um serviço oferecido pela capelania carcerária.

Papa encerra viagem apostólica nas Ilhas Maurício

O encontro com as autoridades encerrou a breve visita do Papa a Porto Luís, capital de Maurício. Depois da visita de cortesia ao presidente interino, Barlen Vyapoory, no palácio presidencial, o Pontífice se dirigiu à sociedade civil e ao corpo diplomático.

Em seu discurso, ressaltou a multiculturalidade que caracteriza os habitantes do país, que se formou ao longo dos séculos com a chegada de migrantes de diferentes continentes. A partir da experiência que acumularam na miscigenação e na convivência pacífica, o Papa fez um apelo: “O DNA do vosso povo guarda a memória destes movimentos migratórios que trouxeram os vossos antepassados até esta ilha e que os levaram também a abrir-se às diferenças para as integrar e promover tendo em vista o bem de todos. Por isso mesmo, na fidelidade às vossas raízes, vos animo a assumir o desafio de acolher e proteger os migrantes que hoje chegam aqui à procura de trabalho e, para muitos deles, à procura de melhores condições de vida para as suas famílias”.

A independência do país é recente, tem apenas 51 anos, e a política é regida por um sistema democrático, que – segundo o Papa – contribui para fazer de Maurício “um oásis de paz”. O país, também chamado de Maurícia, mas oficialmente República de Maurício ou República de Maurícia, tem uma população de 1.311.000 habitantes distribuídos em uma superfície de 2.040 km². O país inclui as Ilhas Maurícia e Rodrigues (a 560 km da Ilha Maurícia), e as Ilhas exteriores de Agalega e Cargados Carajos, esta última conhecida oficialmente como Saint-Brandon.

“Faço votos de que este estilo de vida democrática possa ser cultivado e desenvolvido, contrastando nomeadamente todas as formas de discriminação”, afirmou Francisco, encorajando os políticos a serem um exemplo, principalmente aos jovens, e que possam ser sempre dignos da confiança dos compatriotas.O Pontífice destacou também o “intenso desenvolvimento econômico” do país, advertindo, porém, para não ceder à tentação de um modelo econômico idolátrico, “que precisa de sacrificar vidas humanas no altar da especulação e da mera rentabilidade, que tem em conta apenas o benefício imediato em detrimento da proteção dos mais pobres, do meio ambiente e seus recursos”.

Para tal, auspiciou uma “conversão ecológica integral” para evitar catástrofes ecológicas e graves crises sociais.

Por fim, Francisco manifestou seu apreço pelo modo como trabalham juntas no país as várias religiões com as suas respetivas identidades, “contribuindo para a paz social e recordando o valor transcendente da vida contra todo o tipo de reducionismo”. E confirmou a disponibilidade dos católicos a continuar participando deste frutuoso diálogo. “Mais uma vez, obrigado pela vossa calorosa recepção”.

As Ilhas Maurícia e Rodrigues fazem parte das Ilhas Mascarenhas, junto com a vizinha Reunião, um departamento ultramarino francês. O país é membro da Commonwealth, da Francofonia e da União Africana. O francês, o inglês e o criolo são as principais línguas faladas. A capital e maior cidade é Port Louis.

A Diocese de Port Louis, criada em 7 de dezembro de 1847, tem uma superfície de 1.882 km², 1.268.315 habitantes, 329.760 católicos, 39 paróquias, 44 sacerdotes diocesanos, 48 sacerdotes religiosos, 3 seminaristas dos cursos de Filosofia e Teologia, 67 membros de institutos religiosos masculinos, 174 membros de institutos religiosos femininos, 67 instituições de ensino; 80 instituições de beneficência, 4.128 batizados em 2018.


A oração do Papa diante do túmulo do Beato Jacques Laval

Localizado dentro da Igreja da Santa Cruz, nos arredores de Port Louis, o atual santuário do Beato Laval é de recente construção. De fato, remonta a 2014, ano em que a Igreja em Maurício celebrou o 150º aniversário da morte de Beato Padre Jacques Laval, conhecido como “o Apóstolo dos negros”, pois dedicou-se à evangelização dos nativos de Maurício.

A nova estrutura tornou-se necessária pelo constante aumento do número de peregrinos que se reúnem em oração diante do túmulo de Laval, em particular no dia 9 de setembro, memória de sua morte. Atualmente o prédio pode acomodar 250 pessoas, mais que o dobro da estrutura anterior – que remonta a 1870. Além de ter sido restaurado várias vezes, agora está ligado à nova construção por meio de uma colunata.

Uma teca de vidro protege uma representação em cera do Beato, colocada sobre seu túmulo. Há também um grande crucifixo no interior do Santuário. Trata-se, de fato, da reprodução da cruz ao lado da qual o padre Laval concordou, pela primeira e única vez, ser fotografado.

Nas paredes circundantes, estão dispostas inúmeras prateleiras onde é possível colocar flores e velas oferecidas pelos peregrinos.

Uma fonte foi colocada no local onde, até há poucos anos, estava o túmulo do Beato que pesa 4,5 tonelada. A reforma do local teve a colaboração financeira também do governo e de outras religiões. Para o projeto da reforma, a Associação dos Arquitetos de Maurício lançou um concurso, vencido pela Sra. Sylvie de Leusse.

O Beato Père Laval

O Beato Jacques-Désiré Laval nasceu na França em 1803 em uma família muito rica que o incentivou a estudar Medicina. Mas logo decide abandonar a profissão médica para tornar-se missionário.

Chega em 1841 na Ilha Maurícia, dedicando-se com entusiasmo à evangelização dos negros que foram, por lei, libertados da escravidão. Durante a epidemia de cólera que atingiu o país em 1854, 1857 e 1862, ele construiu vários hospitais. Abriu escolas primárias, construiu várias capelas para a formação espiritual e promove a integração social da população. Leva uma vida austera: usa o cilício, dorme no chão, pratica o jejum e passa noites inteiras em oração.

Aos 59 anos, fisicamente debilitado, padre Jacques Laval é atingido pela apoplexia. Vem a falecer em 9 de setembro de 1864. 40 mil mauricianos participam de seu funeral. É beatificado por São João Paulo II em 29 de abril de 1979, sendo o primeiro Beato proclamado pelo Pontífice polonês.


Papa despede-se de Maurício

O Papa Francisco – Peregrino de paz – encerrou no início da noite desta segunda-feira (19h, hora local) a sua 31ª Viagem Apostólica que o levou no dia de hoje à capital de Maurício, Porto Luís, terceira etapa da viagem. Pouco antes das 9h30 (horário local) o Papa Francisco chegou a Porto Luís, para uma visita de um dia. Tendo partido do Aeroporto de Antananarivo, foram pouco mais de 2 horas de voo e 1.055 quilômetros percorridos, os mesmos quilômetros que faz retornando à capital malgaxe.