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Viagem Apostólica do Papa Francisco à Macedônia e Bulgária

Viagem Apostólica do Papa Francisco à Macedônia e Bulgária

Cidade do Vaticano – O Papa Francisco deixou o Vaticano, na manhã deste domingo (05/5), para mais uma Viagem Apostólica do seu Pontificado, a de número 29, que o leva a dois países: a Bulgária e a Macedônia do Norte. O Santo Padre partiu do aeroporto internacional de Fiumicino às 7h10 (2h10 de Brasília) e, após menos de duas horas de viagem, chegou ao aeroporto de Sófia, capital da Bulgária.

Durante a viagem, como faz habitualmente, o Pontífice enviou telegramas aos Chefes de Estado dos países sobrevoados: Itália, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Sérvia. Ao chegar ao aeroporto de Sófia, o Papa foi recebido pelo Núncio Apostólico, Dom Anselmo Guido Pecorari, pelo Primeiro Ministro, Boyko Borisov, com o qual manteve um encontro privado.

No país, diversidade vista como oportunidade e riqueza

A seguir, Francisco dirigiu-se automóvel ao Palácio Presidencial de Sófia, para uma visita de cortesia ao presidente búlgaro, Rumen Radev, e a cerimônia de boas-indas.Depois, diante do Palácio Presidencial, na Praça Atanas Burov, o Santo Padre manteve um encontro com as autoridades, a sociedade civil, o corpo diplomático e representantes de várias confissões religiosas.

Após as palavras de boas-vindas do presidente búlgaro ao Papa, Francisco pronunciou seu discurso expressando sua alegria por encontrar-se na Bulgária, para confirmar seus irmãos na fé e encorajá-los no seu caminho e testemunho de vida cristã. E, ao agradecer as autoridades civis e religiosas presentes, Francisco disse: “[A Bulgária] é um lugar de encontro entre múltiplas culturas e civilizações, ponte entre o leste e o sul da Europa, porta para o Oriente Médio; uma terra de antigas raízes cristãs, que favorecem o encontro seja entre a comunidade local como a internacional. Aqui, a diversidade, no respeito pelas peculiaridades específicas, é vista como uma oportunidade e uma riqueza, não como contraste”.

Verdadeiros ensinamentos das religiões promovem a paz

Neste sentido, o Papa cumprimentou, cordialmente, Sua Santidade o Patriarca Neofit, os Metropolitas e Bispos da Santo Sínodo, os fiéis da Igreja Ortodoxa, os cristãos das outras Comunidades eclesiais, os membros da Comunidade judaica e os fiéis muçulmanos. E recordou: “Reafirmo com vocês a forte convicção de que os verdadeiros ensinamentos das religiões convidam a permanecer ancorados nos valores da paz; apoiar os valores do conhecimento mútuo, da fraternidade humana e da convivência comum”.

Assim, Francisco convidou a aproveitar da hospitalidade que o povo búlgaro oferece, para que cada religião, chamada a promover harmonia e concórdia, possa contribuir para o crescimento de uma cultura e um ambiente, no respeito da pessoa humana e da sua dignidade, das civilizações e tradições diferentes rejeitando toda a violência e coação.

Visita na esteira de João Paulo II e memória de João XXIII

Neste contexto, o Pontífice explicou que a sua visita à Bulgária se realiza na esteira de São João Paulo II, que visitou o país em maio de 2002, e na memória de Dom Angelo Roncalli, futuro Papa João XXIII, que foi Delegado Apostólico em Sófia, durante quase dez anos. Sobre ele Francisco disse: “São João XXIII trabalhou com afinco para promover a colaboração fraterna entre todos os cristãos e com o Concílio Vaticano II, – por ele convocado e presidido na sua primeira fase, – deu grande impulso e incisividade ao desenvolvimento das relações ecumênicas”.

Cirilo e Metódio, “Apóstolos dos Eslavos”

Em continuação a estes acontecimentos providenciais, – recordou Francisco, – há quase cinquenta anos, uma Delegação oficial Búlgara, visita anualmente o Vaticano por ocasião da festa dos Santos Cirilo e Metódio. Sobre estes dois “Apóstolos dos Eslavos” disse: “Eles evangelizaram os povos eslavos e estiveram na origem do desenvolvimento da sua língua e cultura e, sobretudo, de abundantes e duradouros frutos de testemunho cristão e de santidade. Os Santos Cirilo e Metódio, padroeiros da Europa, continuam sendo exemplo, por mais de um milênio, e inspiradores de diálogo fecundo, harmonia e encontro fraterno entre as Igrejas, os Estados e os povos!”

Na atual conjuntura histórica, trinta anos depois do fim do regime totalitário, que dificultava a liberdade e as iniciativas, – afirmou Francisco, – a Bulgária arca, hoje, com as consequências da emigração de mais de dois milhões de seus cidadãos que vão à busca de novas oportunidades de vida e de trabalho em outros países. Por outro lado, defronta-se com o fenômeno dos que fogem das guerras, dos conflitos ou da miséria, em busca de uma vida melhor no rico Continente europeu.

Não fechar os olhos aos que batem à porta

Por fim, o Santo Padre encorajou os governantes da Bulgária a continuarem a criar condições para que, sobretudo os jovens, não sejam obrigados a emigrar. Por isso, fez-lhes um apelo “a não fechar os olhos, o coração e as mãos aos que batem à sua porta”. E concluiu seu discurso com a exortação:

“Este país sempre se distinguiu como ponte entre Oriente e Ocidente, favorecendo o encontro entre diferentes culturas, etnias, civilizações e religiões, que há séculos vivem em paz aqui. Esta terra fértil pelo trabalho humilde de tantas gerações e aberta aos intercâmbios culturais e comerciais, integrada à União Europeia e com sólidos laços com a Rússia e a Turquia – possa oferecer aos seus filhos um futuro de esperança! Que Deus abençoe a Bulgária e a mantenha sempre pacífica, acolhedora, próspera e feliz!”

Cidade do Vaticano – “Cristo vive. Ele é a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo. Tudo o que toca torna-se novo, enche-se de vida. Por isso as primeiras palavras que quero dirigir a cada um de vós são: Ele vive e quer-te vivo! Está em ti, está contigo e jamais te deixa”.

Foi o que disse o Papa Francisco no Regina Coeli deste III Domingo da Páscoa, conduzido pelo Pontífice na Praça de São Aleksander Nevsky, diante da Catedral Patriarcal, em Sófia, neste primeiro dia de sua visita à Bulgária, no âmbito de sua 29ª viagem apostólica internacional.

Na oração dominical deste período pascal, o caloroso encontro com cerca de três fiéis e peregrinos. Ao chegar à praça, diante do ícone de Nossa Senhora de Nasebar, o Papa deteve-se brevemente em oração enquanto entoavam um canto mariano.

Esta fé em Cristo ressuscitado, disse Francisco na alocução que precedeu a oração mariana, tem vindo a ser proclamada desde há dois mil anos por todos os cantos da terra, através da generosa missão de tantos crentes, que são chamados a dar tudo pelo anúncio evangélico, sem guardar nada para si mesmos.

Da Bulgária, a intuição ecumênica de João XXIII

“Na história da Igreja, também aqui na Bulgária, houve Pastores que se distinguiram pela santidade de vida. Entre eles, apraz-me recordar o meu antecessor – por vós designado «o Santo búlgaro» – São João XXIII, um Santo pastor, cuja memória permanece particularmente viva nesta terra, onde ele viveu de 1925 a 1934. Aqui aprendeu a admirar a tradição da Igreja Oriental, estabelecendo relações de amizade com as outras Confissões religiosas.”

Francisco ressaltou que a experiência diplomática e pastoral na Bulgária deixou uma marca tão forte no coração de pastor de João XXIII que o levou a promover na Igreja a perspetiva do diálogo ecumênico. “Este recebeu um notável impulso no Concílio Vaticano II, desejado precisamente pelo Papa Roncalli. A esta terra, de certo modo, devemos agradecer a intuição sábia e inspiradora do «Papa bom»”, acrescentou.

Desejo conjunto de percorrer o caminho ecumênico

Na esteira deste caminho ecumênico, disse o Santo Padre, “daqui a pouco terei a alegria de saudar os expoentes das várias Confissões religiosas da Bulgária, que, apesar de ser um país ortodoxo, se revela uma encruzilhada onde se encontram e dialogam várias expressões religiosas. A estimada presença no encontro dos Representantes destas diversas Comunidades indica o desejo que todos têm de percorrer o caminho, cada dia mais necessário, de «adotar a cultura do diálogo como caminho, a colaboração comum como conduta, o conhecimento mútuo como método e critério».”

Santos Cirilo e Metódio: a oração do Papa

Em seguida, o Pontífice recordou a figura dos Santos Cirilo e Metódio e ressaltou a visita feita pouco antes à igreja Patriarcal de Santo Aleksander, onde rezou em memória dos evangelizadores dos povos eslavos.

Francisco pediu à Bem-Aventurada Virgem Maria que interceda junto ao Senhor Ressuscitado para que dê à amada terra da Bulgária o impulso sempre necessário de ser terra de encontro, na qual, independentemente das diferenças culturais, religiosas ou étnicas, possais continuar a reconhecer-vos e estimar-vos como filhos de um mesmo Pai.

“A nossa invocação é expressa com a antiga oração do Regina Coeli.  Fazemo-lo aqui, em Sófia, diante do ícone de Nossa Senhora de Nesebar (significa «Porta do Céu»), muito amado pelo meu antecessor São João XXIII, que começou a venerá-lo aqui, na Bulgária, e conservou-o consigo até à morte.”

Ecumenismo de sangue, do pobre e da missão dos cristãos

Cidade do Vaticano – Em sua visita à Bulgária, o Santo Padre manteve, na manhã deste domingo (05/5) seu segundo encontro em Sófia, na Sala do Santo Sínodo, com Sua Santidade Neofit, Metropolita de Sófia e Patriarca ortodoxo de toda a Bulgária, e com os Metropolitas e Bispos do Santo Sínodo.

Após a saudação do Patriarca Neofit ao Santo Padre, Francisco pronunciou seu discurso partindo da festa de São Tomé, celebrado neste domingo no Oriente cristão.

As feridas da divisão e a almejada unidade

Contemplando a ação do Apóstolo Tomé, que coloca a mão nas chagas do Ressuscitado e o declara «Meu Senhor e meu Deus!», Francisco disse:

“As feridas que, ao longo da história, se abriram entre nós, cristãos, são dolorosos golpes infligidos no Corpo de Cristo, que é a Igreja. Ainda hoje, tocamos com a mão as suas consequências. Mas, se colocarmos, juntos, as mãos nestas feridas, confessarmos que Jesus ressuscitou e o proclamarmos como “nosso Senhor e nosso Deus”; se reconhecermos nossas faltas e nos deixarmos imergir nas suas chagas de amor, talvez possamos reencontrar a alegria do perdão e regozijar-nos por aquele dia em que, com a ajuda de Deus, poderemos celebrar o mistério pascal no mesmo altar”.

Ecumenismo do sangue

Neste caminho, afirmou o Papa, somos sustentados por tantos irmãos e irmãs cristãos, verdadeiras testemunhas da Páscoa, que neste país, sofreram tribulações, em nome de Jesus, especialmente durante a perseguição do século passado, que pode ser considerado “ecumenismo de sangue”! E acrescentou:

“Ecumenismo de sangue! Aqueles cristãos espalharam um suave perfume na «Terra das Rosas»; passaram pelos espinhos da provação para difundir a fragrância do Evangelho; desabrocharam em um terreno fértil e entre um povo rico de fé e humanidade, como a vida monacal, que, de geração em geração, alimentou a fé do povo”.

Ecumenismo do pobre

Quantos irmãos e irmãs espalhados pelo mundo, exclamou Francisco, continuam a sofrer por causa da fé, dando-nos o exemplo como sementes, que crescem e dão frutos. Por isso, somos chamados a caminhar e agir juntos para dar testemunho do Senhor, servindo, de modo particular, os irmãos mais pobres e esquecidos, que representam o “ecumenismo do pobre”.

Aqui, o Papa citou o exemplo dos Santos Cirilo e Metódio, “Apóstolos dos Eslavos”, que já pressentiam os sinais premonitórios das dolorosas divisões, que ocorreriam nos séculos seguintes. Por isso, escolheram a perspectiva da comunhão.

Ecumenismo da missão

“Missão e comunhão: duas palavras sempre presentes na vida dos dois Santos e que iluminam o nosso caminho para crescermos em fraternidade. O ecumenismo da missão”.

Aqui, o Santo Padre antecipou o encontro de oração que presidirá, logo a seguir, na Catedral Patriarcal de Santo Aleksander Nevskij, em memória dos Santos Cirilo e Metódio. Estes santos confirmam que a Bulgária é um país-ponte.

Papa Francisco concluiu seu pronunciamento assegurando as suas orações por este amado povo búlgaro, pela sublime vocação deste país, por nosso caminho em um “ecumenismo de sangue”, “ecumenismo do pobre” e “ecumenismo da missão”.

Crianças fazem a Primeira Comunhão com o Papa em Rakovsky

Cidade do Vaticano – “Deus é nosso Pai, Jesus é nosso Irmão, a Igreja é a nossa família, nós somos irmãos, a nossa lei é o amor”: foi o que disse o Papa Francisco na homilia da missa que presidiu na Igreja do Sagrado Coração de Rakovsky. Durante a celebração, 242 crianças receberam a Primeira Comunhão e justamente a elas foi dedicada a homilia do Pontífice.

“Jesus está vivo e está aqui conosco”, recordou o Papa. “Não O vemos com estes olhos, mas O vemos com os olhos da fé.”

A Primeira Comunhão, explicou ainda Francisco, “é antes de mais nada uma festa, na qual celebramos Jesus que quis ficar sempre ao nosso lado e nunca Se separará de nós”. Festa que foi possível graças aos pais, aos avós, às famílias e às comunidades que os ajudaram a crescer na fé.

E hoje as crianças ajudam a realizar o milagre de lembrar a todos os adultos presentes, o primeiro encontro que tiveram com Jesus na Eucaristia e de poder agradecer por aquele dia.

Com efeito, prosseguiu Francisco, há milagres que só podem acontecer se tivermos um coração capaz de partilhar, sonhar, agradecer, ter confiança e honrar os outros.

“ Fazer a Primeira Comunhão significa querer estar cada dia mais unido a Jesus, crescer na amizade com Ele e desejar que também os outros possam gozar da alegria que Jesus nos quer dar. ”

Que seja a primeira de muitas comunhões

Por fim, o Pontífice recordou a carteira de identidade do cristão: Deus é nosso Pai, Jesus é nosso Irmão, a Igreja é a nossa família, nós somos irmãos, a nossa lei é o amor.

“Desejo encorajá-los a rezar sempre com o mesmo entusiasmo e alegria de hoje. E lembrem-se que este é o sacramento da Primeira Comunhão e não da última; (…) que a de hoje seja o início de muitas Comunhões.”

Depois da homilia, o Papa dialogou com as crianças, reforçando a carteira de identidade do cristão.


TEXTO INTEGRAL DA HOMILIA

“Amados irmãos e irmãs!
Com grande alegria, saúdo os meninos e meninas da Primeira Comunhão, bem como seus pais, parentes e amigos. A todos vós, dirijo a linda saudação de boas-festas que se usa também no vosso país neste tempo pascal: «Cristo ressuscitou». Esta saudação é a expressão da nossa alegria de cristãos, discípulos de Jesus, porque Ele, tendo dado a vida por amor na cruz para destruir o pecado, ressuscitou e tornou-nos filhos adotivos de Deus Pai. Sentimo-nos contentes porque Ele está vivo e presente no meio de nós, hoje e sempre.

Vós, queridos meninos e meninas, viestes aqui de todos os cantos desta «Terra das Rosas» para participar numa festa maravilhosa, que nunca – tenho a certeza – esquecereis: o vosso primeiro encontro com Jesus no sacramento da Eucaristia. Algum de vós poderia perguntar-me: Como podemos encontrar Jesus, que viveu há muitos anos, depois morreu e foi colocado no túmulo? Isso é verdade! Mas Jesus fez um ato imenso de amor, para salvar a humanidade de todos os tempos. Ficou no túmulo três dias, mas nós sabemos – assim no-lo asseguraram os Apóstolos e muitas outras testemunhas que O viram vivo – que Deus, Pai d’Ele e Pai nosso, O ressuscitou. E agora Jesus está vivo e está aqui connosco. Por isso, hoje podemos encontrá-Lo na Eucaristia. Não O vemos com estes olhos, mas vemo-Lo com os olhos da fé.

Vejo-vos aqui vestidos com as túnicas brancas: é um sinal importante e lindo. Porque estais vestidos de festa. A Primeira Comunhão é, antes de mais nada, uma festa, na qual celebramos Jesus que quis ficar sempre ao nosso lado e nunca Se separará de nós. Festa que foi possível graças aos nossos pais, aos nossos avós, às nossas famílias e comunidades que nos ajudaram a crescer na fé.

Percorrestes um longo caminho para chegar até aqui, a esta cidade de Rakovski. Os vossos sacerdotes e catequistas, que acompanharam o vosso percurso de catequese, acompanharam-vos também no caminho que vos leva hoje a encontrar Jesus e a recebê-Lo no vosso coração. Um dia, como ouvimos no Evangelho de hoje (cf. Jo 6, 1-15), Ele multiplicou miraculosamente cinco pães e dois peixes, saciando a fome da multidão que O havia seguido e escutado. Notastes como foi que começou o milagre? Pelas mãos dum menino que trouxe o que tinha: cinco pães e dois peixes (cf. Jo 6, 9). Da mesma forma como hoje vós ajudais a realizar-se o milagre de lembrar a todos nós, os adultos aqui presentes, o primeiro encontro que tivemos com Jesus na Eucaristia e de poder agradecer por aquele dia.

Hoje tornais possível a todos nós estar novamente em festa e celebrar Jesus que está presente no Pão da Vida. Com efeito, há milagres que só podem acontecer, se tivermos um coração como o vosso, capaz de partilhar, sonhar, agradecer, ter confiança e honrar os outros. Fazer a Primeira Comunhão significa querer estar cada dia mais unido a Jesus, crescer na amizade com Ele e desejar que também os outros possam gozar da alegria que Jesus nos quer dar. O Senhor precisa de vós para poder realizar o milagre de envolver com a sua alegria muitos dos vossos amigos e familiares.

Queridos meninos, queridas meninas, estou contente por partilhar convosco este grande momento e de vos ajudar a encontrar Jesus. Verdadeiramente estais a viver uma jornada em espírito de amizade, alegria, fraternidade e comunhão entre vós e com toda a Igreja que expressa, de forma especial na Eucaristia, a comunhão fraterna entre todos os seus membros. O nosso cartão de identidade é este: Deus é nosso Pai, Jesus é nosso Irmão, a Igreja é a nossa família, nós somos irmãos, a nossa lei é o amor.

Desejo encorajar-vos a rezar sempre com o mesmo entusiasmo e alegria que tendes hoje. E lembrai-vos que este é o sacramento da Primeira Comunhão e não da última; lembrai-vos que Jesus sempre vos espera. Por isso, espero que a de hoje seja o início de muitas Comunhões, para que o vosso coração esteja sempre, como hoje, em festa, cheio de alegria e sobretudo de gratidão”.

O abraço do Papa às crianças migrantes acolhidas em Vrazhdebna

Cidade do Vaticano – A primeira atividade do Papa na manhã desta segunda-feira, 6, na Bulgária foi a visita ao Centro de Refugiados “Vrazhdebna”, distante 8,2 km de Sófia, que acolhe refugiados provenientes da Síria e do Iraque. Francisco foi acolhido pelo diretor do Centro e pelo diretor da Caritas, que o acompanharam até o refeitório onde estavam cerca de 50 pessoas, entre crianças e seus pais.

Uma voluntária da Caritas saudou o Santo Padre dando um testemunho do trabalho realizado no Centro. “Seguindo seus apelos para estarmos próximos aos mais vulneráveis – disse a voluntária – damos uma mão às pessoas que escolheram a nossa Bulgária, para uma estada que poderia ser temporária ou permanente, em busca de uma vida melhor”. E recordou que no local ganhou corpo a campanha “Compartilhar a Viagem”, promovida pela Caritas Internacional com o apoio do Santo Padre.

Ademais – explicou – no Centro foram implantadas iniciativas em parceria com diversos organismos internacionais, em apoio à integração dos refugiados à sociedade búlgara.

Para nós, Santo Padre – afirmou a jovem ao concluir – “todos os homens e mulheres são filhos de Deus, independente de sua raça ou Confissão religiosa. Nós católicos queremos fazer com que eles experimentem concretamente o amor de Deus. Entre nossos colaboradores há numerosos migrantes de religião muçulmana. Somos pessoas de diversas confissões e estamos orgulhosos de fazer parte da grande família da Caritas. Nos esforçamos para difundir o amor misericordioso de Deus aos irmãos”.

Migrantes e refugiados, uma cruz da humanidade

O Papa então dirigiu breves palavras aos presentes: “Obrigado! As crianças … elas levam alegria para o caminho de vocês, o caminho de vocês nem sempre belo. E depois tem a dor de deixar a pátria e tentar inserir-se em outra pátria. Há sempre a esperança … Hoje o mundo dos migrantes e refugiados é um pouco uma cruz , uma cruz da humanidade, e a cruz é tanta gente que sofre … Eu agradeço a vocês, sua boa vontade, e desejo o melhor para vocês e aos seus concidadãos, que vocês deixaram em sua pátria. Que Deus abençoe vocês e rezem por mim”.

Depois, foi a vez da homenagem dos pequenos, que cantaram e presentearam o Papa com desenhos. Em um clima bastante familiar, Francisco procurou atender a todos, distribuiu e recebeu sorrisos e afeto. Em recordação pela sua visita, Francisco presenteou o Centro de Refugiados com um ícone da Virgem Maria com o Menino, realizado segundo antiga tradição bizantina.

Ao final do encontro concedeu a todos a sua bênção, transferindo-se então ao Aeroporto de Sófia, distante 4,5 km, de onde partiu para a Base Aérea Graf Ingatievo de Plovdiv, a segunda cidade mais importante da Bulgária. De lá transfere-se para Rakovski, cidade de 28 mil habitantes, a maioria católicos, onde às 10h15, hora local, celebra a Santa Missa com Primeiras Comunhões na Igreja do Sagrado Coração.

O centro de refugiados de Vrazhdebna

Inaugurado em 2013, no antigo prédio de uma ex-escola nos arredores de Sófia, o Centro é um dos três locais para refugiados da capital búlgara, juntamente com os Campos de Ovcha Kupel e de Voenna Rampa. A ocupar-se dos refugiados, organizações internacionais e ONGs locais. A Cruz Vermelha da Bulgária, financiada pela Federação Internacional e pela Cruz Vermelha Suíça, distribui alimentos, kits de higiene e dá assistência às crianças.

Até 2012, a Bulgária não era um destino preferido para o fluxo de migrantes. Naquele ano, os pedidos foram de apenas 1.387. Entre 2013 e 2015, com o fechamento da rota dos Bálcãs pela Macedônia, houve um aumento de 1.300%. A Agência Estatal para Refugiados da Bulgária, em 2016, registrou cerca de 19 mil pedidos de proteção internacional, em linha com aqueles de 2015, quando foram mais de 20 mil. Esses números levaram ao colapso a gestão das estruturas de acolhida do país, adaptadas somente para receber cerca de 5 mil refugiados, em 6 estruturas. Ao voltar a emergência em 2018, a diminuição de migrantes clandestinos foi de 85% em relação aos anos precedentes.

Papa despede-se da Bulgária: sejam um canteiro de obras de esperança

Cidade do Vaticano – Nesta segunda-feira (06/05) depois do almoço com os bispos da Bulgária na igreja do Sagrado Coração de Rakovsky o Papa foi até a igreja católica de São Miguel Arcanjo para um encontro com a comunidade católica.

Depois da calorosa recepção e a saudação do Bispo D. Jovcev, que hoje festejava seu aniversário o Papa tomou a palavra para parabenizá-lo e pediu o aplauso de todos. Depois o Papa iniciou o seu discurso dizendo que pôde “compreender um pouco mais o motivo pelo qual esta terra foi tão amada e significativa para João XXIII”. Continuando a falar do ‘Papa bom’ Francisco afirmou que “convivendo com vocês germinou uma forte amizade com os irmãos ortodoxos e isso impeliu-o por uma estrada capaz de gerar a tão suspirada e frágil fraternidade entre as pessoas e as comunidades”.

Olhos da fé

“Ver com os olhos da fé. Desejo recordar as palavras do ‘Papa bom’, que soube sintonizar de tal modo o seu coração com o Senhor, que pôde dizer que não estava de acordo com as pessoas que ao redor de si mesmas só viam mal, chamando-as profetas da desgraça.” Explicando, o Papa disse que “os homens de Deus são aqueles que aprenderam a ver, confiar, descobrir e deixar-se guiar pela força da ressurreição”.

Convivência e amor

Em seguida Francisco falou sobre a necessidade da convivência como experiência de vida recordando que toda a pessoa é filho de Deus: “Para amar alguém, não é preciso pedir-lhe o seu currículo; o amor precede, antecipa-se. Porque é gratuito”, devemos ver com os olhos da fé não colar etiquetas pois “Quem ama, não perde tempo em lamentos, mas procura sempre algo de concreto que possa fazer”.

E conclui este pensamento recordando mais uma vez João XXIII que dizia: “Nunca conheci um pessimista que tenha concluído algo de bom” “O Senhor é o primeiro a não ser pessimista e procura continuamente abrir, para todos nós, caminhos de Ressurreição. Como é belo quando as nossas comunidades lembram um canteiro de obras de esperança!”

Na paróquia para encontrar Jesus

“Mas”, adverte Francisco, “para adquirir o olhar de Deus, precisamos dos outros, precisamos que nos ensinem a olhar e sentir como Jesus olha e sente”. Para isso, “a paróquia transforma-se numa casa no meio de todas as casas e é capaz de tornar presente o Senhor precisamente lá onde cada família, cada pessoa procura diariamente ganhar o seu pão”.

Na paróquia o pastor encontra a sua comunidade, continuou o Papa: “O povo de Deus agradece ao seu pastor, e o pastor reconhece que aprende a ser crente com a ajuda do seu povo, da sua família e no meio deles (…) Sem o seu povo, o sacerdote perde a identidade, e, sem os seus pastores, o povo pode fragmentar-se. (…) Cada qual dedica a sua própria vida aos outros. Ninguém pode viver apenas para si mesmo; vivemos para os outros”.

Traduzir a fé aos jovens como Cirilo e Metódio

Ao falar sobre testemunhar a fé ao mundo de hoje, Francisco disse que trazia uma incumbência a todos, explicando que na fé todos são filhos dos irmãos Cirilo e Métódio, homens santos e com grandes sonhos que “convenceram-se de que a forma mais autêntica para falar com Deus era fazê-lo na sua própria língua. Isto deu-lhes a audácia necessária para se decidirem a traduzir a Bíblia, a fim de ninguém ficar privado da Palavra que dá vida”. “Hoje – continuou o Papa, ser uma casa com as portas abertas, na esteira de Cirilo e Metódio, requer também saber ser audazes e criativos interrogando-se como será possível traduzir, de maneira concreta e compreensível para as gerações jovens, o amor que Deus tem por nós ”

Para conseguir essa “tradução”, explicou o Papa “pede-nos um novo esforço de imaginação nas nossas ações pastorais, para procurar o modo de alcançar o seu coração”. “Uma grande tentação enfrentada pelas novas gerações é a falta de raízes que as sustentem, levando-as ao desenraizamento e a uma grande solidão”.

Novos desafios

“Não tenhamos medo de aceitar novos desafios, desde que nos esforcemos com todos os meios por fazer com que o nosso povo não fique privado da luz e consolação que brotam da amizade com Jesus, não fique privado duma comunidade de fé que o sustente e de um horizonte sempre estimulante e renovador que lhe dê sentido e vida”.

Em seguida o Papa recordou que “as páginas mais belas da vida da Igreja foram escritas quando, com criatividade, o Povo de Deus se colocava em movimento procurando traduzir o amor de Deus em cada momento da história, com os desafios que pouco a pouco ia encontrando”.

Por fim o Papa concluiu: “Não cansem de ser uma Igreja que continua a gerar, por entre contradições, amarguras e necessidades, os filhos de que esta terra precisa hoje, nos começos do século XXI, mantendo um ouvido atento ao Evangelho, e o outro ao coração do seu povo”.


ENCONTRO INTER-RELIGIOSO

O Papa Francisco se despediu na tarde desta segunda-feira (06/05) do povo búlgaro na Praça Independência, no centro da capital, Sofia. O último compromisso público do Pontífice foi um encontro com expoentes de várias confissões religiosas em prol da paz.

Juntos, num palco, acenderam um círio e seis velas representando as religiões presentes, e ao som do Cântico das Criaturas, e diante de uma oliveira e de muitas rosas, símbolo da Bulgária, rezaram a oração de São Francisco. Ortodoxos, judeus, protestantes, armênios, muçulmanos e católicos fizeram suas preces e em seguida, ouviram a mensagem do Santo Padre.

Inspirado em São Francisco, cujo amor o levou a ser um autêntico construtor da paz, o Papa recordou que construí-la é um trabalho: dom e tarefa, presente e esforço constante e diário para que haja uma cultura onde também a paz seja um direito fundamental.

“A paz exige e pede-nos para fazermos do diálogo um caminho, da colaboração comum a nossa conduta, do conhecimento mútuo o método e o critério, para nos encontrarmos naquilo que nos une, respeitarmo-nos naquilo que nos separa, e encorajarmo-nos a olhar o futuro como um espaço de oportunidades e dignidade, especialmente para as gerações vindouras”.

Com o fogo do amor, queremos derreter o gelo das guerras

Situando suas palavras no lugar escolhido para este evento, as ruínas da antiga Serdika, Francisco lembrou que durante séculos, os búlgaros de Sófia pertencentes a vários grupos culturais e religiosos ali se reuniam para se encontrar e dialogar.

Que este lugar simbólico represente um testemunho de paz!

O desejo de paz manifestado pelo Papa se espalhou naquele momento por toda a terra:
“Nas nossas famílias, em cada um de nós e, de modo especial, naqueles lugares onde tantas vozes foram silenciadas pela guerra, sufocadas pela indiferença e ignoradas pela cumplicidade esmagadora de grupos de interesses. Que todos cooperem para a realização desta aspiração: os expoentes das religiões, da política, da cultura”.

O Papa terminou a mensagem com os votos expressos no sonho do Papa São João XXIII: uma terra onde a paz seja de casa.

“Adotemos o seu desejo e, com a nossa vida, digamos: Pacem in terris! Paz, na terra, a todos os homens amados pelo Senhor!”

Papa no Memorial de Madre Teresa: sejamos sinal de esperança no nosso tempo

Cidade do Vaticano – A visita do Papa ao Memorial dedicado à Madre Teresa de Calcutá foi repleta de significados para o Pontífice, que a canonizou em 2016, e para todos que ainda hoje se dedicam aos pobres – como fez durante toda a vida a Missionária da Caridade.

Na manhã desta terça-feira (7), Francisco foi recebido no museu pelas Irmãs da Congregação e depois, na capela, encontrou os líderes das comunidades religiosas do país e dois primos de Madre Teresa. De fato, a casa é uma construção moderna que fica onde se encontrava a Igreja do Sagrado Coração de Jesus – destruída pelo terremoto de 1963 –, lugar onde a missionária foi batizada um dia depois do seu nascimento em Skopje, no ano de 1910.

Na capela do museu, que também abriga fotos, objetos que pertenceram a Madre Teresa (1910-1997) e uma sala multimídia, o Papa Francisco primeiro fez um momento de oração em silêncio diante das relíquias da santa e depois rezou com os presentes uma oração em homenagem à Madre Teresa. O Pontífice começou agradecendo a Deus, “pelo dom da vida e do carisma de Santa Madre Teresa”, que deu o testemunho do amor do Pai “entre os mais pobres da Índia e do mundo”.

Ao pedir a intercessão e a ajuda de Santa Madre Teresa, “voz suplicante dos pobres e de todos aqueles que têm fome e sede de justiça”, da própria casa e cidade de nascimento da missionária, o Papa lembrou em oração:

“Aqui começaste a ver e a conhecer as pessoas necessitadas, os pobres e os humildes. Aqui aprendeste com os próprios pais a querer bem aos mais necessitados e a ajudá-los. Aqui, no silêncio da igreja, ouviste o chamado de Jesus para O seguir, como religiosa, nas missões.

Daqui lhe pedimos: intercede junto a Jesus para que também nós obtenhamos a graça de estar vigilantes e atentos ao grito dos pobres, daqueles que estão privados dos seus direitos, dos doentes, dos marginalizados, dos últimos. Alcance-nos a graça de lhe ver nos olhos de quem nos olha, porque precisa de nós.”

O Papa continuou a oração pedindo a graça de recebermos “um coração que saiba reconhecer Jesus naqueles que vivem aflitos por tribulações e injustiças”. E acrescentou:

“ Alcance-nos a graça de sermos, também nós, sinal de amor e esperança no nosso tempo, que vê tantos indigentes, abandonados marginalizados e migrantes. Faça com que o nosso amor não seja só palavras, mas seja eficaz e verdadeiro. Reze por nós, para podermos prestar um testemunho credível da Igreja que tem o dever de anunciar o Evangelho aos pobres, a libertação aos prisioneiros, a alegria aos aflitos, a graça da salvação a todos. ”

Depois da oração, o Papa se deslocou até o pátio do Memorial onde encontrou cerca de 100 pobres assistidos pelas Missionárias da Caridade. O Pontífice recebeu a saudação da Superiora da comunidade, além de ouvir o testemunho de uma das pessoas auxiliadas pela Congregação no local, visitado por cerca de 100 mil pessoas a cada ano. Ao final da visita ao Memorial, o Papa Francisco abençoou a primeira pedra para o Santuário da Madre Teresa. No país, um dos mais pobres da Europa, uma autoestrada e um hospital ainda levam o nome da missionária, “Mãe dos pobres”.


ORAÇÃO À MADRE TERESA

(Skopje – Memorial Madre Teresa, 7 de maio de 2019)

Deus, Pai de misericórdia e de todo o bem,
agradecemo-Vos pelo dom da vida
e do carisma de Santa Madre Teresa.
Na vossa infinita Providência, chamaste-la
para dar testemunho do vosso amor
entre os mais pobres da Índia e do mundo.
Ela soube fazer bem aos mais necessitados,
porque reconheceu em cada homem e mulher
o rosto do vosso Filho.

Dócil ao vosso Espírito,
tornou-se a voz suplicante dos pobres
e de todos aqueles
que têm fome e sede de justiça.
Acolhendo o grito de Jesus na cruz
«tenho sede»,
Madre Teresa dessedentou
a sede de Jesus na Cruz,
realizando as obras do amor misericordioso.

Pedimo-vos, Santa Madre Teresa,
mãe dos pobres,
a vossa particular intercessão e a vossa ajuda,
aqui, na cidade do vosso nascimento,
onde era a vossa casa.
Aqui recebestes o dom do renascimento
nos sacramentos da Iniciação Cristã.
Aqui ouvistes as primeiras palavras da fé
na própria família e na comunidade dos fiéis.
Aqui começastes a ver
e a conhecer as pessoas necessitadas,
os pobres e os humildes.
Aqui aprendestes com os próprios pais a querer bem
aos mais necessitados e a ajudá-los.
Aqui, no silêncio da igreja,
ouvistes a chamada de Jesus para O seguir,
como religiosa, nas missões.

Daqui vos pedimos: intercedei junto de Jesus
para que também nós obtenhamos a graça
de estar vigilantes e atentos ao grito dos pobres,
daqueles que estão privados dos seus direitos,
dos doentes, dos marginalizados, dos últimos.
Alcançai-nos a graça de vos ver
nos olhos de quem nos olha,
porque precisa de nós.
Dai-nos um coração que saiba amar a Deus
presente em cada homem e mulher
e que sabe reconhecer Jesus naqueles
que vivem aflitos por tribulações e injustiças.
Alcançai-nos a graça de sermos, também nós,
sinal de amor e esperança no nosso tempo,
que vê tantos indigentes, abandonados
marginalizados e migrantes.
Fazei com que o nosso amor não seja só palavras,
mas seja eficaz e verdadeiro.
Rezai por nós, para podermos prestar
um testemunho credível da Igreja
que tem o dever
de anunciar o Evangelho aos pobres,
a libertação aos prisioneiros, a alegria aos aflitos,
a graça da salvação a todos.

Santa Madre Teresa, rezai por esta cidade,
por este povo, pela sua Igreja
e por todos aqueles que querem seguir Cristo
como discípulos d’Ele, Bom Pastor,
realizando obras de justiça, amor,
misericórdia, paz e serviço,
como Ele que veio, não para ser servido,
mas para servir e dar a vida por muitos,
Cristo nosso Senhor.
Amém.

Papa: “Nos habituamos a comer o pão duro da desinformação”

Uma homilia profunda marcou a celebração da primeira Missa presidida pelo Papa Francisco na Praça Macedônia, em Skopje (Macedônia do Norte). A reflexão do Pontífice foi inspirada no Evangelho de João: “Quem vem a Mim não mais terá fome e quem crê em Mim jamais terá sede” (Jo 6, 35).

“O Senhor veio para dar vida ao mundo e sempre o faz de uma maneira que consegue desafiar a mesquinhez dos nossos cálculos, a mediocridade das nossas expectativas e a superficialidade dos nossos intelectualismos”, afirmou o Papa.

Toda a multidão reunida ao redor de Jesus descobriu que a fome de pão tinha também outros nomes: fome de Deus, fome de fraternidade, fome de encontro e de festa partilhada.

Ao invés, prosseguiu o Papa, “nos habituamos a comer o pão duro da desinformação, e acabamos prisioneiros do descrédito, dos rótulos e da infâmia; julgamos que o conformismo saciaria a nossa sede, e acabamos por nos dessedentar de indiferença e insensibilidade; alimentamo-nos com sonhos de esplendor e grandeza, e acabamos por comer distração, fechamento e solidão; empanturramo-nos de conexões, e perdemos o gosto da fraternidade. Prisioneiros da virtualidade, perdemos o gosto e o sabor da realidade”.

Temos fome, Senhor
Portanto, devemos dizer com força e sem medo: temos fome, Senhor. “Fome de pão, fome de fraternidade, fome de Deus.” Somente esta fome vai nos tirar de nossos fechamentos e solidões, da indiferença e nos abrir para a ternura e a conversão.

Madre Teresa de Calcutá conhecia bem esta fome, a ponto de fundar a sua vida sobre dois pilares: Jesus encarnado na Eucaristia e Jesus encarnado nos pobres! Amor que recebemos, amor que damos. Ela sabia que o “amor de Deus e amor do próximo fundem-se num todo: no mais pequenino, encontramos o próprio Jesus e, em Jesus, encontramos Deus”, disse Francisco, citando a Encíclica Deus caritas est de Bento XVI.

O Pontífice então concluiu: “Encorajemo-nos uns aos outros a levantar-nos de pé e experimentar a abundância do seu amor; deixemos que Ele sacie a nossa fome e sede no sacramento do altar e no sacramento do irmão”.


ÍNTEGRA DA HOMILIA

«Quem vem a Mim não mais terá fome e quem crê em Mim jamais terá sede» (Jo 6, 35): acaba de nos dizer o Senhor.

Ao redor de Jesus – segundo o Evangelho –, concentra-se uma multidão, que tinha ainda fixa nos olhos a multiplicação dos pães; um daqueles momentos que se gravou nos olhos e no coração da primeira comunidade dos discípulos. Tinha sido uma festa… A festa de descobrir a superabundância e a solicitude de Deus pelos seus filhos, irmanados na fração e partilha do pão. Imaginemos por um momento aquela multidão. Algo havia mudado. Por alguns instantes, aquelas pessoas sedentas e silenciosas, que seguiam Jesus à procura duma palavra, puderam tocar com as próprias mãos e sentir no seu corpo o milagre da fraternidade capaz de saciar e fazer sobreabundar.

O Senhor veio para dar vida ao mundo e fá-lo sempre duma maneira que consegue desafiar a mesquinhez dos nossos cálculos, a mediocridade das nossas expetativas e a superficialidade dos nossos intelectualismos; coloca em discussão as nossas perspetivas e as nossas certezas, convidando-nos a passar a um horizonte novo que dá espaço a um modo diferente de construir a realidade. Ele é o Pão vivo descido do Céu: «quem vem a Mim não mais terá fome e quem crê em Mim jamais terá sede».

Toda aquela gente descobriu que a fome de pão tinha também outros nomes: fome de Deus, fome de fraternidade, fome de encontro e de festa partilhada.

Habituamo-nos a comer o pão duro da desinformação, e acabamos prisioneiros do descrédito, dos rótulos e da infâmia; julgamos que o conformismo saciaria a nossa sede, e acabamos por nos dessedentar de indiferença e insensibilidade; alimentamo-nos com sonhos de esplendor e grandeza, e acabamos por comer distração, fechamento e solidão; empanturramo-nos de conexões, e perdemos o gosto da fraternidade. Buscamos o resultado rápido e seguro, e encontramo-nos oprimidos pela impaciência e a ansiedade. Prisioneiros da virtualidade, perdemos o gosto e o sabor da realidade.

Digamo-lo com força e sem medo: temos fome, Senhor… Temos fome, Senhor, do pão da vossa Palavra capaz de abrir os nossos fechamentos e as nossas solidões; temos fome, Senhor, de fraternidade, onde a indiferença, o descrédito, a infâmia não encham as nossas mesas nem ocupem o primeiro lugar em nossa casa. Temos fome, Senhor, de encontros onde a vossa Palavra seja capaz de elevar a esperança, despertar a ternura, sensibilizar o coração abrindo caminhos de transformação e conversão.

Temos fome, Senhor, de experimentar – como aquela multidão – a multiplicação da vossa misericórdia, capaz de quebrar os estereótipos e de repartir e partilhar a compaixão do Pai por cada pessoa, especialmente por aqueles de quem ninguém cuida, que são esquecidos ou desprezados. Digamo-lo com força e sem medo, temos fome de pão, Senhor: do pão da vossa palavra e do pão da fraternidade.

Daqui a pouco, deslocar-nos-emos e iremos à mesa do altar para nos alimentarmos com o Pão da Vida obedecendo ao mandato do Senhor: «quem vem a Mim não mais terá fome e quem crê em Mim jamais terá sede» (Jo 6, 35). É a única coisa que o Senhor nos pede: vinde. Convida a colocar-nos a caminho, em movimento, em saída. Exorta-nos a caminhar para Ele para nos tornar participantes da sua própria vida e missão. «Vinde»: diz-nos o Senhor. Uma vinda que não significa apenas mudar dum lugar para outro, mas a capacidade de nos deixarmos mover, transformar pela sua Palavra nas nossas opções, nos sentimentos, nas prioridades para nos aventurarmos a realizar os seus próprios gestos e a falar com a sua própria linguagem, «a linguagem do pão que fala de ternura, companhia, dedicação generosa aos outros»,[1] amor concreto e palpável porque real no dia a dia.

Em cada Eucaristia, o Senhor Se fraciona e distribui, convidando-nos, a nós também, a fracionarmo-nos e distribuirmo-nos juntamente com Ele e participarmos naquele milagre de multiplicação que quer alcançar e tocar todos os cantos desta cidade, deste país, desta terra com um pouco de ternura e compaixão.

Fome de pão, fome de fraternidade, fome de Deus. Como conhecia bem tudo isto Madre Teresa que quis fundar a sua vida sobre dois pilares: Jesus encarnado na Eucaristia e Jesus encarnado nos pobres! Amor que recebemos, amor que damos. Dois pilares inseparáveis, que marcaram o seu caminho, colocaram-na em movimento, desejosa também ela de mitigar a sua fome e a sua sede. Foi ter com o Senhor e, com o mesmo ato, foi ter com o irmão desprezado, não amado, sozinho e esquecido; foi ter com o irmão e encontrou o rosto do Senhor… Porque sabia que «amor de Deus e amor do próximo fundem-se num todo: no mais pequenino, encontramos o próprio Jesus e, em Jesus, encontramos Deus»,[2] e aquele amor era a única coisa capaz de saciar a sua fome.

Irmãos, hoje o Senhor ressuscitado continua a caminhar no meio de nós, nos lugares onde transcorre e se joga a vida diária. Conhece a nossa fome e continua a dizer-nos: «Quem vem a Mim não mais terá fome e quem crê em Mim jamais terá sede» (Jo 6, 35). Encorajemo-nos uns aos outros a levantar-nos de pé e experimentar a abundância do seu amor; deixemos que Ele sacie a nossa fome e sede no sacramento do altar e no sacramento do irmão.


[1] J. M. Bergoglio, Homilía Corpus Christi (Buenos Aires 1995).
[2] Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est, 15.