Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Viagem Apostólica do Papa Francisco a Bangladesh e Myanmar

O caminho da vingança não é o caminho de Jesus

Yangun – “O caminho da vingança não é o caminho de Jesus”. Num país ferido por conflitos internos, o Papa falou do perdão e da compaixão na Missa desta quarta-feira (29/11), que marcou o tão aguardado encontro de Francisco com a comunidade católica de Mianmar. Cerca de 150 mil fiéis participaram da celebração no complexo esportivo de Kyaikkasan Ground, a poucos quilômetros do Arcebispado de Yangun, para a primeira e única Missa pública no país. Caravanas de inúmeras partes do país compareceram cedo ao local e, mesmo após horas de espera, saudaram calorosamente Francisco do papamóvel, antes do início da cerimônia.

Em sua homilia, comentando as leituras do dia, o Pontífice recordou que Jesus não nos ensinou a sua sabedoria com longos discursos ou por meio de grandes demonstrações de poder político ou terreno, mas com a oferta da sua vida na cruz. O Senhor crucificado é a nossa bússola segura. E da cruz vem também a cura, acrescentou o Papa. “Sei que muitos em Mianmar carregam as feridas da violência, quer visíveis quer invisíveis. A tentação é responder a estas lesões com uma sabedoria mundana que, como a do rei na primeira leitura, está profundamente deturpada. Pensamos que a cura possa vir do rancor e da vingança. Mas o caminho da vingança não é o caminho de Jesus”.

O caminho de Jesus é radicalmente diferente, afirmou Francisco, pois quando o ódio e a rejeição conduziram Cristo à paixão e à morte, Ele respondeu com o perdão e a compaixão. O Pontífice falou do empenho da Igreja em Myanmar, que faz o que pode para levar o “bálsamo salutar da misericórdia de Deus” aos outros, especialmente aos mais necessitados. “Há sinais claros de que, mesmo com meios muito limitados, numerosas comunidades proclamam o Evangelho a outras minorias tribais, sem nunca forçar ou constringir, mas sempre convidando e acolhendo. No meio de tanta pobreza e inúmeras dificuldades, muitos de vocês prestam assistência prática e solidariedade aos pobres e aos doentes”, destacou o Papa.

Ressaltando a missão caritativa “sem distinções de religião ou de origem étnica” da Caritas local e das Pontifícias Obras Missionárias, Francisco encorajou os católicos a continuarem a partilhar com os demais “a inestimável sabedoria” de Deus, que brota do coração de Jesus.

A mensagem de perdão e misericórdia de Cristo, disse ainda Francisco, obedece a uma lógica que nem todos querem compreender e que encontra obstáculos. E concluiu usando mais uma de suas metáforas: “Contudo, o seu amor é definitivamente inabalável. É como um GPS espiritual que nos guia infalivelmente rumo à vida íntima de Deus e ao coração do nosso próximo. Deus abençoe a Igreja em Mianmar! Abençoe esta terra com a sua paz!” Após a celebração, o Papa regressou ao Arcebispado.


ÍNTEGRA DA HOMILIA

Amados irmãos e irmãs!

Há muito tempo que esperava por este momento da minha vinda ao país. Muitos de vós viestes de longe e de áreas montanhosas remotas, e não poucos mesmo a pé. Eu vim como peregrino para vos ouvir e aprender de vós, e para vos oferecer algumas palavras de esperança e consolação.

A primeira leitura de hoje, do livro de Daniel, ajuda-nos a ver como era limitada a sabedoria do rei Baltasar e dos seus videntes. Sabiam como louvar «os deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra» (Dn 5, 4), mas não possuíam a sabedoria para louvar a Deus em cujas mãos está a nossa vida e a nossa respiração. Ao contrário, Daniel tinha a sabedoria do Senhor e era capaz de interpretar os seus grandes mistérios.

O intérprete definitivo dos mistérios de Deus é Jesus. Ele é a sabedoria de Deus em pessoa (cf. 1 Cor 1, 24). Jesus não nos ensinou a sua sabedoria com longos discursos ou por meio de grandes demonstrações de poder político ou terreno, mas com a oferta da sua vida na cruz. Às vezes, podemos cair na armadilha de confiar na nossa própria sabedoria, mas a verdade é que facilmente perdemos o sentido da direção. Então é necessário lembrar-nos de que dispomos, à nossa frente, duma bússola segura: o Senhor crucificado. Na cruz, encontramos a sabedoria, que pode guiar a nossa vida com a luz que provém de Deus.

E da cruz vem também a cura. Lá, Jesus ofereceu as suas feridas ao Pai por nós: mediante as suas feridas, somos curados (cf. 1 Pd 2, 4). Que nunca nos falte a sabedoria de encontrar, nas feridas de Cristo, a fonte de toda a cura! Sei que muitos no Myanmar carregam as feridas da violência, quer visíveis quer invisíveis. A tentação é responder a estas lesões com uma sabedoria mundana que, como a do rei na primeira leitura, está profundamente deturpada. Pensamos que a cura possa vir do rancor e da vingança. Mas o caminho da vingança não é o caminho de Jesus.

O caminho de Jesus é radicalmente diferente. Quando o ódio e a rejeição O conduziram à paixão e à morte, Ele respondeu com o perdão e a compaixão. No Evangelho de hoje, o Senhor diz-nos que, à sua semelhança, podemos também deparar-nos com a rejeição e tantos obstáculos, mas nessa ocasião dar-nos-á uma sabedoria a que ninguém pode resistir (cf. Lc 21, 15). Aqui, Ele fala do Espírito Santo, por Quem o amor de Deus foi derramado nos nossos corações (cf. Rm 5, 5). Com o dom do Espírito, Jesus torna cada um de nós capaz de ser sinal da sua sabedoria, que triunfa sobre a sabedoria deste mundo, e da sua misericórdia, que dá alívio mesmo às feridas mais dolorosas.

Na véspera da sua paixão, Jesus deu-Se aos Apóstolos sob as espécies do pão e do vinho. No dom da Eucaristia, com os olhos da fé, não só reconhecemos o dom do seu corpo e sangue, mas aprendemos também a encontrar repouso nas suas feridas, sendo nelas purificados de todos os nossos pecados e extravios. Buscando refúgio nas feridas de Cristo, possais vós, queridos irmãos e irmãs, experimentar o bálsamo salutar da misericórdia do Pai e encontrar a força de o levar aos outros, ungindo cada uma das suas feridas e dolorosas lembranças. Deste modo, sereis testemunhas fiéis da reconciliação e da paz que Deus quer que reine em cada coração humano e em todas as comunidades.

Eu sei que a Igreja no Myanmar já está a fazer muito para levar o bálsamo salutar da misericórdia de Deus aos outros, especialmente aos mais necessitados. Há sinais claros de que, mesmo com meios muito limitados, numerosas comunidades proclamam o Evangelho a outras minorias tribais, sem nunca forçar ou constringir, mas sempre convidando e acolhendo. No meio de tanta pobreza e inúmeras dificuldades, muitos de vós prestam assistência prática e solidariedade aos pobres e aos doentes. Através das canseiras diárias dos seus bispos, sacerdotes, religiosos e catequistas, e particularmente mediante o louvável trabalho do Catholic Karuna Myanmar e da generosa assistência prestada pelas Pontifícias Obras Missionárias, a Igreja neste país está ajudando um grande número de homens, mulheres e crianças, sem distinções de religião ou de origem étnica. Posso testemunhar que aqui a Igreja está viva, que Cristo está vivo e está aqui convosco e com os vossos irmãos e irmãs das outras Comunidades cristãs. Encorajo-vos a continuar a partilhar com os outros a inestimável sabedoria que recebestes, o amor de Deus que brota do Coração de Jesus.

Jesus quer dar esta sabedoria em abundância. Ele premiará certamente os vossos esforços por espalhar sementes de cura e reconciliação nas vossas famílias, comunidades e na sociedade alargada desta nação. Porventura não nos disse Ele que a sua sabedoria é irresistível (cf. Lc 21, 15)? A sua mensagem de perdão e misericórdia obedece a uma lógica que nem todos quererão compreender, e que encontrará obstáculos. Contudo o seu amor, revelado na cruz, é definitivamente imparável. É como um GPS espiritual que nos guia infalivelmente rumo à vida íntima de Deus e ao coração do nosso próximo.

A Santíssima Virgem Maria seguiu o seu Filho mesmo na escura subida ao monte Calvário e acompanha-nos em todos os passos da nossa viagem terrena. Que Ela nos obtenha sempre a graça de ser mensageiros da verdadeira sabedoria, profundamente misericordiosos para com os necessitados, com a alegria que brota de repousar nas feridas de Jesus, que nos amou até ao fim.

Deus vos abençoe a todos! Deus abençoe a Igreja no Myanmar! Abençoe esta terra com a sua paz! Deus abençoe o Myanmar!


Compromisso com a justiça e do respeito pelos direitos humanos

Nay Pyi Taw – “Venho sobretudo para rezar com a pequena mas fervorosa comunidade católica da nação, para confirmar na fé e encorajá-la no esforço de contribuir para o bem da nação.” Com essas palavras já no início de seu discurso – o primeiro em terras birmanesas –, o Papa Francisco descreveu o objetivo precípuo desta sua viagem apostólica internacional.

No encontro com as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático – após a cerimônia de boas-vindas e visita de cortesia ao presidente da nação –, na capital Nay Pyi Taw, o Santo Padre ressaltou sua satisfação ao visitar o país depois do estabelecimento formal das relações diplomáticas entre Mianmar e Santa Sé e o esforço do estado do sudeste asiático na prossecução do diálogo e da cooperação construtiva dentro da comunidade internacional.

“Gostaria também que a minha visita pudesse atingir toda a população de Mianmar e oferecer uma palavra de encorajamento a todos aqueles que estão trabalhando para construir uma ordem social justa, reconciliada e inclusiva”, disse o Pontífice.

Reconhecendo a beleza extraordinária e numerosos recursos naturais do país, Francisco ressaltou que seu maior tesouro contudo é, sem dúvida, “o seu povo, que sofreu muito e continua a sofrer por causa de conflitos civis e hostilidades que duraram muito tempo e criaram profundas divisões”.

“Uma vez que agora a nação está trabalhando por restaurar a paz, a cura destas feridas não pode deixar de ser uma prioridade política e espiritual fundamental”, acrescentou.
“Com efeito, o árduo processo de construção da paz e reconciliação nacional só pode avançar através do compromisso com a justiça e do respeito pelos direitos humanos. A sabedoria dos antigos definiu a justiça como a vontade de reconhecer a cada um aquilo que lhe é devido, enquanto os antigos profetas a consideraram como o fundamento da paz verdadeira e duradoura.”

“Estas intuições, confirmadas pela trágica experiência de duas guerras mundiais, levaram à criação das Nações Unidas e à Declaração Universal dos Direitos Humanos como base dos esforços da comunidade internacional para promover a justiça, a paz e o progresso humano em todo o mundo e para resolver os conflitos através do diálogo, e não com o uso da força”, acrescentou.

“O futuro do Myanmar deve ser a paz, uma paz fundada no respeito pela dignidade e os direitos de cada membro da sociedade, no respeito por cada grupo étnico e sua identidade, no respeito pelo Estado de Direito e uma ordem democrática que permita a cada um dos indivíduos e a todos os grupos – sem excluir nenhum – oferecer a sua legítima contribuição para o bem comum.”

A este ponto de seu discurso, o Santo Padre chamou a atenção para o papel privilegiado que as comunidades religiosas têm a desempenhar no imenso trabalho de reconciliação nacional.
“As diferenças religiosas não devem ser fonte de divisão e difidência, mas sim uma força em prol da unidade, do perdão, da tolerância e da sábia construção da nação. As religiões podem desempenhar um papel significativo na cura das feridas emocionais, espirituais e psicológicas daqueles que sofreram nos anos de conflito. Impregnando-se de tais valores profundamente enraizados, elas podem ajudar a extirpar as causas do conflito, construir pontes de diálogo, procurar a justiça e ser uma voz profética para as pessoas que sofrem.”

É um grande sinal de esperança o fato de que os líderes das várias tradições religiosas deste país se estejam comprometendo a trabalhar juntos, com espírito de harmonia e respeito mútuo, pela paz, pela ajuda aos pobres e pela educação nos valores religiosos e humanos autênticos, continuou Francisco.

Em seguida, o Papa voltou seu pensamento para os jovens da nação qual dom a ser estimado e encorajado, “um investimento que só produzirá um bom rendimento na base de oportunidades reais de emprego e duma educação de qualidade”.

Francisco insistiu que o futuro do país dependerá da formação dos seus jovens, “não só nos campos técnicos, mas sobretudo na formação para os valores éticos de honestidade, integridade e solidariedade humanas”, frisou.

O Papa concluiu seu primeiro discurso em Mianmar com um encorajamento à pequena comunidade católica evocando um papel importante também para ela nesta nova fase histórica do país do sudeste asiático: Nestes dias, quero encorajar os meus irmãos e irmãs católicos a perseverar na sua fé e a continuar a expressar a sua mensagem de reconciliação e fraternidade através de obras caritativas e humanitárias, de que toda a sociedade possa beneficiar. Espero que, na respeitosa cooperação com os seguidores de outras religiões e com todos os homens e mulheres de boa vontade, contribuam para abrir uma nova era de concórdia e progresso para os povos desta amada nação.”


Texto: Vatican News

Imagem: Reprodução do Youtube do Vatican Media

Um povo generoso apoia os sacerdotes com oração

“Seja o vosso ensino alimento para o povo de Deus, e o vosso viver motivo de alegria para os fiéis de Cristo, para edificardes, pela palavra e pelo exemplo, a casa que é a Igreja de Deus”. Na única Missa pública a ser celebrada em Bangladesh, o Papa Francisco ordenou 16 novos sacerdotes. Cem mil fiéis participaram na celebração, segundo as autoridades. A pequena comunidade católica neste país de maioria muçulmana é de 500 mil pessoas, 0,2% da população.

Dez dos novos sacerdotes são diocesanos, um é dos Oblatos de Maria e 5 são da Congregação da Santa Cruz. Em preparação a este momento, os ordenandos participaram de 14 a 20 de novembro de um retiro de oração. Todos os 16 diáconos estudaram no Seminário Maior do Espírito Santo, único Seminário de Bangladesh, e que atualmente acolhe 400 estudantes, uma situação contra a tendência em relação ao panorama ocidental e europeu, onde se verifica uma diminuição das vocações religiosas.

A homilia – tirada do Rito para Ordenação dos Presbíteros – foi pronunciada em italiano, com tradução simultânea em bengali nos telões espalhados pelo Suhrawardy Udyan Park. O local era um antigo hipódromo, onde o “Pai da Nação”, o Xeique Mujibur Rahman, pronunciou um discurso histórico antes da guerra de 1971. Ali se deu a rendição do exército do Paquistão.

A homilia

“No momento em que estes nossos filhos, que são familiares e amigos vossos, vão entrar na Ordem dos presbíteros, ponderai com atenção o grau do ministério a que eles são elevados”, disse o Papa na sua homilia.

“O nosso grande Sacerdote, Jesus Cristo, escolheu alguns discípulos para desempenharem na Igreja, em seu nome, o ministério sacerdotal em favor dos homens”.

“Os presbíteros – explicou o Santo Padre – são constituídos cooperadores dos Bispos e, associados a eles na missão sacerdotal, são chamados ao serviço do povo de Deus”.

Eles serão ordenados “para o sacerdócio na Ordem dos presbíteros, para servirem a Cristo, Mestre, Sacerdote e Pastor, por cujo ministério o seu Corpo, que é a Igreja, cresce e se edifica como templo santo e povo de Deus”.

Eles serão consagrados “como verdadeiros sacerdotes da Nova Aliança para anunciarem o Evangelho, apascentarem o povo de Deus e celebrarem o culto divino, principalmente no sacrifício do Senhor”.

Múnus de ensinar

Vós que ides entrar na Ordem dos Presbíteros – disse o Papa dirigindo-se aos ordenandos – exercereis, no que vos compete, o sagrado múnus de ensinar em nome de Cristo, nosso Mestre: “Distribuí a todos a palavra de Deus que vós mesmos recebestes com alegria. Meditando na lei do Senhor, procurai crer o que ledes, ensinar o que credes e viver o que ensinais. Seja o vosso ensino alimento para o povo de Deus, e o vosso viver motivo de alegria para os fiéis de Cristo, para edificardes, pela palavra e pelo exemplo, a casa que é a Igreja de Deus”.

Múnus de santificar

Vós também exercereis o múnus de santificar, completou Francisco, explicando: “Pelo vosso ministério se realiza plenamente o sacrifício espiritual dos fiéis, unido ao sacrifício de Cristo, que, juntamente com eles, é oferecido pelas vossas mãos sobre o altar, de modo sacramental, na celebração dos santos mistérios. Tomai, pois, consciência do que fazeis, imitai o que realizais. Celebrando o mistério da morte e da ressurreição do Senhor, esforçai-vos por fazer morrer em vós todo o mal e por caminhar na vida nova”.
“Lembrai-vos – disse o Papa – de que fostes assumidos de entre os homens e postos ao serviço dos homens nas coisas que são de Deus. Realizai, pois, com verdadeira caridade e alegria constante, o ministério de Cristo Sacerdote, não procurando os vossos interesses, mas sim os de Jesus Cristo.

Ao exercer, na parte que vos compete, o ministério de Cristo – enfatizou Francisco – “procurai, filhos caríssimos, unidos e atentos ao Bispo, congregar os fiéis numa só família, a fim de poderdes conduzi-los a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Trazei sempre diante de vós o exemplo do Bom Pastor que veio não para ser servido mas para servir e para buscar e salvar o que estava perdido”.

Orar pelos sacerdotes

Ao concluir a leitura da homilia, o Papa dirigiu-se de forma espontânea aos fiéis bengaleses, fazendo um pedido:
“Agora me dirijo a vós, queridos irmãos e irmãs, que viestes a esta grande festa, a esta grande festa de Deus na ordenação destes irmãos sacerdotes. Sei que muitos de vós viestes de longe, com uma viagem de mais de dois dias. Obrigado por esta generosidade! Isto mostra o amor que tendes pela Igreja, isto mostra o amor que tendes por Jesus Cristo. Muito obrigado! Muito obrigado pela vossa generosidade, muito obrigado pela vossa fidelidade! Sigam em frente, com o Espírito das Bem-aventuranças”.

E Francisco acrescentou: “E hoje, faço uma recomendação a vós: rezai sempre pelos vossos sacerdotes, especialmente por estes que hoje recebem o Sacramento da Ordem sacra. Que o povo de Deus apoie os sacerdotes com a oração. É vossa responsabilidade apoiar os sacerdotes”.

Alguém de vós poderia perguntar-me: “Mas, padre, como se faz para apoiar um sacerdote?”. Confiai em vossa generosidade. O coração generoso que tendes dirá como apoiar os sacerdotes. Mas o primeiro sustento do sacerdote é a oração. O povo de Deus – isto é, todos – apoia o sacerdote com a oração. Não se cansem nunca de rezar pelos vossos sacerdotes. Eu sei que vós fareis isto – concluiu Francisco.

Antes de conceder a Bênção final, o Papa foi saudado pelo cardeal Arcebispo de Daca, Dom Patrick D’Rozario. Ao sair da Sacristia, o Papa Francisco saudou brevemente os Cardeais e Bispos da região.

Encontro com as autoridades de Bangladesh

Daca – O Papa Francisco encontrou-se, nesta quinta-feira (30/11), no Palácio Presidencial, em Daca, Bangladesh, com as autoridades, com o Corpo diplomático e a sociedade civil. O Pontífice agradeceu ao Presidente bengalês, Abdul Hamid, pelo convite a visitar esta nação e por suas palavras de boas-vindas. “Seguindo as pegadas de dois dos meus Predecessores, os Papas Paulo VI e João Paulo II, estou aqui para rezar com os meus irmãos e irmãs católicos e oferecer-lhes uma mensagem de estima e encorajamento”, disse Francisco, que deixou Mianmar, nesta quinta-feira (30/11), e se dirigiu para Bangladesh, segunda etapa de sua 21ª viagem apostólica internacional. Antes de deixar Mianmar, o Papa Francisco doou, ao Arcebispado de Yangun, um escultura que representa São Francisco de Assis durante a proclamação do famoso “Sermão das Aves”, símbolo de fraternidade entre o ser humano e a Criação.

O avião papal aterrissou no aeroporto internacional de Daca às 5 horas da manhã, horário de Brasília. Ao descer do avião, o Papa foi acolhido pelo Presidente bengalês, Abdul Hamid. Duas crianças, com vestidos tradicionais, ofereceram ao Papa flores e um vaso de terra que foi abençoado pelo Pontífice. “Bangladesh é um Estado jovem e todavia ocupou sempre um lugar especial no coração dos Papas, que desde o princípio expressaram solidariedade ao seu povo, procurando acompanhá-lo na superação das dificuldades iniciais e apoiando-o na tarefa exigente da construção da nação e do seu desenvolvimento. Agradeço a oportunidade de me dirigir a esta assembleia, que reúne homens e mulheres com responsabilidades especiais na tarefa de dar forma ao futuro da sociedade bengalesa”, disse o Papa.

O Papa disse que durante o voo para Daca, recordaram a ele que Bangladesh – “«Golden Bengal» – é uma nação interligada por uma vasta rede fluvial e por vias navegáveis, grandes e pequenas. Creio que esta beleza natural é emblemática de sua particular identidade como povo. Bangladesh é uma nação que se esforça para alcançar uma unidade de linguagem e cultura com o respeito pelas diferentes tradições e comunidades, que fluem como inúmeros riachos, vindo enriquecer o grande curso da vida política e social do país”.

“No mundo de hoje, nenhuma comunidade, nação ou Estado pode sobreviver e progredir no isolamento. Como membros da única família humana, precisamos uns dos outros e dependemos uns dos outros. O Presidente Sheikh Mujibur Rahma compreendeu e procurou incorporar este princípio na Constituição Nacional. Imaginou uma sociedade moderna, pluralista e inclusiva, onde cada pessoa e cada comunidade pudesse viver em liberdade, paz e segurança, respeitando a inata dignidade e igualdade de direitos de todos. O futuro desta jovem democracia e a saúde da sua vida política dependem essencialmente da fidelidade a esta visão fundadora. Com efeito, só através dum diálogo sincero e do respeito pelas legítimas diversidades é que um povo pode reconciliar as divisões, superar perspectivas unilaterais e reconhecer a validade de pontos de vista divergentes. Uma vez que o diálogo autêntico aposta no futuro, ele constrói unidade ao serviço do bem comum e está atento às necessidades de todos os cidadãos, especialmente dos pobres, dos desfavorecidos e daqueles que não têm voz”, disse o Pontífice.

Francisco recordou que “nos meses passados, pôde-se observar de maneira bem tangível o espírito de generosidade e solidariedade – sinais caraterísticos da sociedade de Bangladesh – no seu ímpeto humanitário a favor dos refugiados chegados em massa do Estado de Rakhine, proporcionando-lhes abrigo temporário e provisões para as necessidades primárias da vida. Isto foi conseguido à custa de não pouco sacrifício; e foi realizado também sob o olhar do mundo inteiro. Nenhum de nós pode deixar de estar consciente da gravidade da situação, do custo imenso exigido de sofrimentos humanos e das precárias condições de vida de tantos dos nossos irmãos e irmãs, a maioria dos quais mulheres e crianças amontoados nos campos de refugiados. É necessário que a comunidade internacional implemente medidas resolutivas diante dessa grave crise, não só trabalhando para resolver as questões políticas que levaram à massiva deslocação de pessoas, mas também prestando imediata assistência material a Bangladesh em seu esforço de responder eficazmente às urgentes carências humanas”.

“Apesar da minha visita ser primariamente dirigida à Comunidade católica do Bangladesh, considero um momento privilegiado o meu encontro que terá lugar amanhã em Ramna com os responsáveis ecumênicos e inter-religiosos. Juntos, rezaremos pela paz e reafirmaremos o nosso compromisso de trabalhar pela paz. Bangladesh é conhecido pela harmonia que tradicionalmente existe entre os seguidores de várias religiões. Esta atmosfera de respeito mútuo e um clima crescente de diálogo inter-religioso permitem aos fiéis expressar livremente as suas convicções mais profundas sobre o significado e a finalidade da vida. Assim, podem contribuir para promover os valores espirituais que são a base segura para uma sociedade justa e pacífica. Num mundo onde muitas vezes a religião é – escandalosamente – usada para fomentar a divisão, revela-se ainda mais necessário um tal gênero de testemunho do seu poder de reconciliação e união. Isto manifestou-se de forma particularmente eloquente na reação comum de indignação que se seguiu ao brutal ataque terrorista do ano passado aqui em Daca e na mensagem clara enviada pelas autoridades religiosas da nação, segundo a qual o santíssimo nome de Deus não pode jamais ser invocado para justificar o ódio e a violência contra outros seres humanos, nossos semelhantes.”

Segundo o Papa, “embora em número relativamente reduzido, os católicos de Bangladesh procuram desempenhar um papel construtivo no desenvolvimento da nação, especialmente através das suas escolas, clínicas e dispensários. A Igreja aprecia a liberdade – de que beneficia toda a nação – de praticar a sua fé e realizar as suas obras sócio-caritativas, incluindo a de oferecer aos jovens, que representam o futuro da sociedade, uma educação de qualidade e um exercício de saudáveis valores éticos e humanos. Em suas escolas, a Igreja procura promover uma cultura do encontro, que tornará os alunos capazes de assumir as suas próprias responsabilidades na vida da sociedade. Com efeito, nestas escolas, a grande maioria dos estudantes e muitos dos professores não são cristãos, mas provêm de outras tradições religiosas. Tenho a certeza de que a Comunidade católica, de acordo com a letra e o espírito da Constituição Nacional, continuará a gozar da liberdade de levar adiante estas boas obras como expressão de seu empenho a favor do bem comum”.

“Senhor Presidente, queridos amigos! Agradeço a sua atenção e asseguro-lhes as minhas orações, para que, em suas nobres responsabilidades, sejam sempre inspirados pelos altos ideais de justiça e serviço aos seu concidadãos. De bom grado invoco, sobre vocês e sobre todo o povo de Bangladesh, as bênçãos divinas da harmonia e da paz”.

Neste primeiro dia em Bangladesh, o Santo Padre visitou o Memorial Nacional dos Mártires, em Savar, onde fez uma homenagem ao Pai da Pátria no Bangabandhu Memorial Museum e assinou o Livro de Honra.

O Memorial Nacional dos Mártires de Savar (35 km à nordeste , de Daca), é símbolo dos mártires que deram a sua vida pelo país na guerra de libertação de 1971. O Pontífice foi acolhido por atoridades civis que o acompanharam até a base do monumento, onde estava presente a Guarda de Honra. Francisco depositou flores no local, enquanto era tocada uma trombeta e a bandeira era posicionada a meio-mastro. No local, o Papa também assinou o Livro de Honra e plantou uma árvore no “Jardim da Paz”.

O monumento projetado pelo arquiteto Syed Moinul Hossain foi inaugurado nos anos 80. Sua estrutura, formada por sete planos triangulares isósceles, de dimensões decrescentes. O ponto mais alto da estrutura alcança 45 metros.
Realizado em concreto, o monumento inclui também outras estruturas em tijolos vermelhos, se estendendo por 34 hectares, circundados por suas vez por outros 10 hectares de verde.

Ver o outro como um caminho, não obstáculo

Daca – Realizou-se, nesta sexta-feira (1º/12), no Arcebispado de Daca, Bangladesh, o encontro inter-religioso e ecumênico pela paz, no âmbito da 21ª viagem apostólica do Papa Francisco. Antes do discurso do Pontífice, houve danças tradicionais, hinos, a saudação do Arcebispo de Daca, Cardeal Patrick D’Rozario, e de cinco representantes das comunidades religiosas e da sociedade civil, e também o canto pela paz. “O desejo de harmonia, fraternidade e paz encarnado nos ensinamentos das religiões do mundo”, caracterizou esse momento.

O Papa agradeceu ao Cardeal D’Rozario, suas amáveis palavras de boas-vindas e a todos que o acolheram calorosamente em nome das comunidades muçulmana, hinduísta, budista e cristã, e da sociedade civil. Francisco agradeceu ao Bispo anglicano de Daca, às várias comunidades cristãs e a todos aqueles que tornaram possível este encontro.

“O nosso encontro, que reúne os representantes das diversas comunidades religiosas deste país, constitui um momento muito significativo da minha visita a Bangladesh. Reunimo-nos para aprofundar a nossa amizade e para expressar o desejo comum do dom duma paz genuína e duradoura”, disse o Pontífice em seu discurso.

“Que o nosso encontro desta tarde seja um sinal claro dos esforços empreendidos pelos líderes e seguidores das religiões presentes neste país para viverem juntos no respeito mútuo e na boa vontade. Em Bangladesh, onde o direito à liberdade religiosa é um princípio fundamental, que este compromisso seja um apelo respeitoso, mas firme, a quem procura fomentar divisão, ódio e violência em nome da religião.”

Segundo o Papa, “constitui um sinal particularmente reconfortante dos nossos tempos o fato de os fiéis e pessoas de boa vontade se sentirem cada vez mais chamados a cooperar na formação duma cultura do encontro, diálogo e colaboração a serviço da família humana. Isto requer mais do que simples tolerância; estimula-nos a estender a mão ao outro numa atitude de mútua confiança e compreensão, para construir uma unidade que considere a diversidade, não como ameaça, mas como potencial fonte de enriquecimento e crescimento. Anima a exercitar-nos na abertura do coração, para ver os outros como um caminho e não como um obstáculo.”

A seguir, Francisco citou algumas características essenciais dessa «abertura do coração», condição para uma cultura do encontro. A primeira, “é uma porta. “Não é uma teoria abstrata, mas uma experiência vivenciada. Permite-nos empreender, não um mero intercâmbio de ideias, mas um diálogo de vida. Requer boa vontade e acolhimento, mas não deve ser confundida com a indiferença ou a hesitação em expressar as nossas convicções mais profundas. Comprometer-se frutuosamente com o outro significa partilhar as nossas diferentes identidades religiosas e culturais, mas sempre com humildade, honestidade e respeito.”

Segundo o Papa, “a abertura do coração é semelhante também a uma escada que alcança o Absoluto. Ao lembrar esta dimensão transcendente da nossa atividade, damo-nos conta da necessidade de purificar os nossos corações, para podermos ver todas as coisas na sua verdadeira perspectiva. Passo a passo, tornar-se-á mais clara a nossa visão e receberemos a força para perseverar no compromisso de compreender e valorizar os outros e o seu ponto de vista. Assim, encontraremos a sabedoria e a força necessárias para estender a todos a mão da amizade”.

Por fim, “a abertura do coração é também um caminho, que leva à busca da bondade, justiça e solidariedade. Induz a procurar o bem do nosso próximo. Assim exortou São Paulo, em sua carta aos cristãos de Roma: «Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem». Trata-se de um sentimento que todos nós podemos imitar. A solicitude religiosa pelo bem do nosso próximo, que brota dum coração aberto, flui como um grande rio, irrigando as terras áridas e desertas do ódio, da corrupção, da pobreza e da violência que lesa imensamente as vidas humanas, divide as famílias e desfigura o dom da criação.”

Segundo Francisco, “as várias comunidades religiosas de Bangladesh abraçaram de modo particular este caminho no compromisso pelo cuidado da terra, nossa casa comum, e na resposta aos desastres naturais que afligiram a nação nos últimos anos. Penso também na manifestação coletiva de pesar, oração e solidariedade que se seguiu ao trágico desabamento do Rana Plaza, que permanece gravado na mente de todos. Nestas expressões, vemos como o caminho da bondade leva à cooperação no serviço aos outros”.

“Um espírito de abertura, aceitação e cooperação entre os fiéis não é simplesmente mais uma contribuição para uma cultura de harmonia e de paz; é o seu coração pulsante. Quanto necessita o nosso mundo que este coração bata com força, para contrastar o vírus da corrupção política, as ideologias religiosas destrutivas, a tentação de fechar os olhos às necessidades dos pobres, dos refugiados, das minorias perseguidas e dos mais vulneráveis! Quanta abertura é necessária para acolher as pessoas ao nosso redor, especialmente os jovens que às vezes se sentem sozinhos e confusos na busca do sentido da vida!”

O Papa concluiu o seu discurso, agradecendo aos líderes religiosos pelos esforços na promoção da cultura do encontro, e reza para que todos os fiéis possam ser ajudados a crescer na “sabedoria e na santidade e a colaborarem na construção de um mundo cada vez mais humano, unido e pacífico”.