Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Viagem Apostólica do Papa Francisco a Assis

Expectativa em Assis pela visita do Papa

Cidade do Vaticano – Os pobres, motivo de fundo da escolha do nome Francisco, por parte do Papa Bergoglio, marcarão fortemente a visita do Santo Padre a Assis na próxima sexta-feira, 4 de outubro.

O Pontífice encontrará na sede episcopal, na Sala da Espoliação – onde São Francisco renunciou aos bens paternos para consagrar-se a Deus –, um grupo de pobres assistidos pelas 8 Caritas diocesanas. Durante a visita almoçará com os sem-teto do Centro Caritas, localizado próximo da estação ferroviária de Assis.

Mas qual é o rosto da pobreza na Úmbria? – região italiana da qual Assis faz parte. Foi o que a Rádio Vaticano perguntou ao responsável diocesano pela Caritas local, Pe. Vittorio Viola, que acolherá o Papa no almoço. Eis o que disse:

“O rosto da pobreza é basicamente o de sempre, de quem escolhe a rua como casa, mas há também o rosto novo de quem perdeu o trabalho e, com este – como acontece muitas vezes –, a própria dignidade. Um estudo recente dá conta de que há na Úmbria cerca de 36 mil famílias pobres, das quais pouco mais de 6 mil abaixo da linha da pobreza.”

RV: O Papa Francisco escolheu almoçar neste Centro da Caritas. Qual foi a reação vocês com essa escolha?

“A primeira reação, com certeza, foi de surpresa. Num segundo momento pareceu a todos quase natural, por aquilo que nestes meses nos disse com suas palavras e com os gestos que faz. Portanto, após a surpresa, foi quase como senti-lo como alguém de casa. E será acolhido assim: com aquela simplicidade que ele mesmo quis intensamente.”

RV: Olhando para o programa dessa visita do Papa, que sinal ela pode deixar ou deseja que possa deixar?

“Palavras e gestos fortes, como o Papa Francisco nos habituou nestes meses. Uma de suas primeiras palavras: “Uma Igreja pobre para os pobres”. As obras de caridade concretas, solidariedade, o colocar-se lado a lado, o defender. É uma palavra que devemos saber traduzi-la também em escolhas de políticas sociais que partam dessa consideração da dignidade do homem e das dificuldades deste momento. Creio que incida não somente num estilo de ser Igreja, mas também no modo de fazer pastoral; um envolvimento de toda a comunidade. A caridade é mandamento do amor ao qual todos somos chamados.”

 RV: Por que São Francisco escolheu a Senhora Pobreza como esposa?

“Todos os gestos de Francisco, sobretudo os mais radicais, têm sempre como única motivação Jesus Cristo, e nada mais que Ele. Portanto, não é a busca ideológica da pobreza, de contestação: a contestação é implícita. A escolha é a pobreza de Jesus Cristo; a Senhora Pobreza foi a esposa que Jesus escolheu morrendo, pobre e nu, na Cruz. E Francisco que tem esse encontro com o Cristo Vivo de São Damião, que lhe fala, coloca em seu coração o desejo de conformar-se a Ele. A partir daquele momento a Paixão de Jesus Cristo foi-lhe impressa no coração, antes de o ser com os sinais dos estigmas. Portanto, Francisco é Cristo pobre e Crucificado: essa foi a pobreza que ele quis, e não viver algo de diferente daquilo que Jesus Cristo viveu.”

Audiência desta quarta-feira

Na Praça de S. Pedro estavam largas dezenas de milhares de peregrinos que, como habitualmente, vêm ávidos da palavra do Papa e da sua catequese na audiência geral das quartas-feiras. Hoje, 2 de outubro,  foi sobre a Igreja Santa. No Credo, disse o Santo Padre, quando professamos que a Igreja é Una também afirmamos que é santa. Mas, o Santo Padre lança, desde logo, uma pergunta?

“Mas, em que sentido a Igreja é santa se vemos que a Igreja histórica, no seu longo caminho de séculos, teve tantas dificuldades, problemas e momentos de escuridão? Como é que pode ser santa uma Igreja feita de seres humanos, de pecadores?”

Partindo da Carta de S. Paulo aos cristãos de Éfeso, o Papa Francisco explicou que o Apóstolo Paulo tomando como exemplo as relações familiares, afirma que Cristo amou tanto a sua Igreja que se deu a si mesmo por Ela, para a fazer santa. Isto significa, em primeiro lugar, que Ela procede de Deus que é santo e nunca a abandona; que Jesus Cristo, o Santo de Deus, está indissoluvelmente unido a Ela; e que o Espírito Santo a guia, purifica e renova.

“É Santa porque Jesus Cristo, o Santo de Deus, está unido em modo indissolúvel a ela; é santa porque é guiada pelo Espírito Santo que purifica, transforma e renova. Não é santa pelos nossos méritos, mas porque Deus a faz santa, é fruto do Espírito Santo e dos seus dons.”

Mas, é também verdade, diz o Papa Francisco, que a Igreja é feita de pecadores. Por isso, não se pode cair na tentação de imaginar uma Igreja feita somente de puros e perfeitos:  “Mas, Padre, eu sou um pecador, tenho grandes pecados, como é que posso sentir-me parte da Igreja? Caro irmão, cara irmã, é mesmo isto que deseja o Senhor; que tu lhe digas: Senhor estou aqui, com os meus pecados. Perdoa-me, ajuda-me a caminhar, transforma o meu coração!”

A Igreja não rejeita os pecadores, mas acolhe a todos, oferecendo a cada um a possibilidade de percorrer o caminho da santidade, através do encontro com Cristo nos sacramentos, especialmente na Confissão e na Eucaristia.

Entretanto, o Santo Padre lançou algumas questões para reflexão:  “Somos uma Igreja que chama e acolhe com os braços abertos os pecadores, que dá coragem, esperança, ou somos uma Igreja fechada em si própria? Somos uma Igreja na qual se vive o amor de Deus, em que existe atenção para com os outros, na qual se reza uns pelos outros?”

Papa Francisco concluiu a sua catequese considerando que não devemos ter medo de nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo. Devemos ter a certeza de que na vida há uma só tristeza, a de não ser santos, somos convidados a não ter medo de buscar uma grande meta, deixando que Deus nos ame e nos purifique.

“Vivamos com alegria a nossa fé, deixemo-nos amar pelo Senhor…peçamos este dom a Deus na oração, para nós e para os outros.”


Texto: Vatican News

Imagem: Vatican Media

A paz franciscana não é um sentimento doce!

Assis (Itália) –  A primeira viagem  a Assis de Jorge Bergoglio, como Papa, foi acompanhada da tristeza pelos mortos de Lampedusa. Os imigrantes naufragaram ontem (03/10) no sul da Itália.

Quando Francisco chegou à terra de um dos santos mais amados da igreja, nesta sexta (04/10), uma multidão esperava o primeiro papa que escolheu o seu nome. O Papa abraçou crianças com deficiência e foi para a sala onde São Francisco se livrou das vestes e renunciou aos bens materiais. Ali convocou a igreja a ser mais humilde e a despojar-se das coisas do mundo.

“Hoje é um dia de lagrimas”, declarou Francisco, referindo à tragédia de Lampedusa. “Ao mundo não importa se as pessoas devem fugir da escravidão, da fome, buscando a liberdade”, lamentou.

O Papa aproveitou sua visita à cidade do santo italiano que inspirou o nome de seu pontificado para pedir a paz no mundo, condenar a violência, as guerras e os conflitos que atingem a Síria e o Oriente Médio.

“Que cessem os conflitos armados que ensanguentam a terra na Síria e no Oriente Médio”, clamou. A partir de um altar de madeira, cercado por vários bispos e por oito cardeais que o assessoram na reforma da Igreja, o Papa reiterou seu pedido pela paz e pela harmonia no mundo.“Ouçam o grito dos que choram, sofrem e morrem devido à violência”, afirmou durante uma concorrida missa celebrada na praça em frente à Basílica de São Francisco.

Por ocasião nesta sexta-feira da festa do padroeiro da Itália, o Papa ilustrou os valores de São Francisco, que viveu na pobreza, convertendo-se também em símbolo da paz.

“A paz franciscana não é um sentimento doce. Este São Francisco não existe. E também não é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos. Isso também não é franciscano”, explicou o Papa.

“O homem está convocado a proteger o homem: que o homem esteja no centro, e não os ídolos que criamos”, disse.

Em sua chegada a Assis, o Papa se reuniu com 80 pessoas com deficiência física e mental, a quem cumprimentou, conversou e abraçou pessoalmente

Missa na Basílica de São Francisco

Uma imensa multidão participou na Missa celebra pelo Papa Francisco, em Assis, junto das basílicas do Santo. Na homilia, o Papa evocou o exemplo concreto de São Francisco, com a sua “maneira radical de imitar a Cristo”. “O amor pelos pobres e a imitação de Cristo são dois elementos indivisivelmente unidos, duas faces da mesma medalha”, insistiu.

Qual é hoje o testemunho que ele nos dá?, interrogou-se o Papa, observando que a primeira coisa, a realidade fundamental de que São Francisco nos dá testemunho é esta: ser cristão é uma relação vital com a Pessoa de Jesus, é revestir-se d’Ele, é assimilação a Ele”. E isso “começa do olhar de Jesus na cruz”.

“Deixar-se olhar por Ele no momento em que dá a vida por nós e nos atrai para Ele. Francisco fez esta experiência, de um modo particular na pequena igreja de São Damião, rezando diante do crucifixo.”

“Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a permanecer diante do Crucifixo, a deixarmo-nos olhar por Ele, a deixar-nos perdoar, recriar pelo seu amor”.

Um segundo aspecto do testemunho de São Francisco recordado pelo Papa na sua homilia foi o seguinte: “quem segue a Cristo, recebe a verdadeira paz, a paz que só Ele, e não o mundo, nos pode dar”.

Ao concluir a sua homilia, o Papa Francisco lançou um solene apelo à paz e ao respeito pela criação: “Daqui, desta Cidade da Paz, repito com a força e a mansidão do amor: respeitemos a criação, não sejamos instrumentos de destruição! Respeitemos todo o ser humano: cessem os conflitos armados que ensanguentam a terra, calem-se as armas e que, por toda a parte, o ódio dê lugar ao amor, a ofensa ao perdão e a discórdia à união. Ouçamos o grito dos que choram, sofrem e morrem por causa da violência, do terrorismo ou da guerra na Terra Santa, tão amada por São Francisco, na Síria, em todo o Médio Oriente, no mundo”.

Íntegra da homilia

«Bendigo-Te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos» (Mt 11, 25).

A todos, paz e bem! Com esta saudação franciscana, agradeço-vos por terdes vindo a esta Praça, cheia de história e fé. Para rezarmos juntos.

Como tantos outros peregrinos, também eu vim hoje, para bendizer o Pai por tudo o que quis revelar a um destes «pequeninos» de que nos fala o Evangelho: Francisco, filho de um comerciante rico de Assis. O encontro com Jesus levou-o a despojar-se de uma vida cómoda e despreocupada, para desposar a «Senhora Pobreza» e viver como verdadeiro filho do Pai que está nos céus. Esta escolha, feita por São Francisco, constituía uma maneira radical de imitar a Cristo, de se revestir d’Aquele que, sendo rico, Se fez pobre para nos enriquecer por meio da sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). Em toda a vida de Francisco, o amor pelos pobres e a imitação de Cristo pobre são dois elementos indivisivelmente unidos, as duas faces da mesma medalha.

De que nos dá hoje testemunho São Francisco? Que nos diz ele, não com as palavras – isso é fácil –, mas com a vida?

1. A primeira coisa, a realidade fundamental de que nos dá testemunho é esta: ser cristão é uma relação vital com a Pessoa de Jesus, é revestir-se d’Ele, é assimilação a Ele.

De onde começa o caminho de Francisco para Cristo? Começa do olhar de Jesus na cruz. Deixar-se olhar por Ele no momento em que dá a vida por nós e nos atrai para Ele. Francisco fez esta experiência, de um modo particular, na pequena igreja de São Damião, rezando diante do crucifixo, que poderei também eu venerar hoje. Naquele crucifixo, Jesus não se apresenta morto, mas vivo! O sangue escorre das feridas das mãos, dos pés e do peito, mas aquele sangue exprime vida. Jesus não tem os olhos fechados, mas abertos, bem abertos: um olhar que fala ao coração. E o Crucifixo não nos fala de derrota, de fracasso; paradoxalmente fala-nos de uma morte que é vida, que gera vida, porque nos fala de amor, porque é o Amor de Deus encarnado, e o Amor não morre, antes derrota o mal e a morte. Quem se deixa olhar por Jesus crucificado fica recriado, torna-se uma «nova criatura». E daqui tudo começa: é a experiência da Graça que transforma, de sermos amados sem mérito algum, até sendo pecadores. Por isso, Francisco pode dizer como São Paulo: «Quanto a mim, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo» (Gal 6, 14).

Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a permanecer diante do Crucifixo, a deixar-nos olhar por Ele, a deixar-nos perdoar, recriar pelo seu amor.
2. No Evangelho, ouvimos estas palavras: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 28-29).

Esta é a segunda coisa de que Francisco nos dá testemunho: quem segue a Cristo, recebe a verdadeira paz, a paz que só Ele, e não o mundo, nos pode dar. Na ideia de muitos, São Francisco aparece associado com a paz; e está certo, mas poucos vão em profundidade. Qual é a paz que Francisco acolheu e viveu, e que nos transmite? A paz de Cristo, que passou através do maior amor, o da Cruz. É a paz que Jesus Ressuscitado deu aos discípulos, quando apareceu no meio deles e disse: «A paz esteja convosco!»; e disse-o, mostrando as mãos chagadas e o peito trespassado (cf. Jo 20, 19.20).

A paz franciscana não é um sentimento piegas. Por favor, este São Francisco não existe! E também não é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos… Também isto não é franciscano, mas uma ideia que alguns se formaram. A paz de São Francisco é a de Cristo, e encontra-a quem «toma sobre si» o seu «jugo», isto é, o seu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei (cf. Jo 13, 34; 15, 12). E este jugo não se pode levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas com mansidão e humildade de coração.

Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a ser «instrumentos da paz», da paz que tem a sua fonte em Deus, a paz que nos trouxe o Senhor Jesus.

3. «Altíssimo, omnipotente, bom Senhor, (…) louvado sejas (…) com todas as tuas criaturas» (FF, 1820). Assim começa o Cântico de São Francisco. O amor por toda a criação, pela sua harmonia. O Santo de Assis dá testemunho do respeito por tudo o que Deus criou e que o homem é chamado a guardar e proteger, mas sobretudo dá testemunho de respeito e amor por todo o ser humano. Deus criou o mundo, para que seja lugar de crescimento na harmonia e na paz. A harmonia e a paz! Francisco foi homem de harmonia e de paz. Daqui, desta Cidade da Paz, repito com a força e a mansidão do amor: respeitemos a criação, não sejamos instrumentos de destruição! Respeitemos todo o ser humano: cessem os conflitos armados que ensanguentam a terra, calem-se as armas e que, por toda a parte, o ódio dê lugar ao amor, a ofensa ao perdão e a discórdia à união. Ouçamos o grito dos que choram, sofrem e morrem por causa da violência, do terrorismo ou da guerra na Terra Santa, tão amada por São Francisco, na Síria, em todo o Médio Oriente, no mundo.

Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: alcançai-nos de Deus o dom de haver, neste nosso mundo, harmonia e paz!

Não posso, enfim, esquecer que hoje a Itália celebra São Francisco como seu Padroeiro. Disso mesmo é expressão também o gesto tradicional da oferta do azeite para a lâmpada votiva, que este ano compete precisamente à Região da Úmbria. Rezemos pela Nação Italiana, para que cada um trabalhe sempre pelo bem comum, olhando mais para o que une do que para o que divide.

Faço minha a oração de São Francisco por Assis, pela Itália, pelo mundo: «Peço-Vos, pois, ó Senhor Jesus Cristo, pai das misericórdias, que Vos digneis não olhar à nossa ingratidão, mas recordai-Vos da superabundante compaixão que sempre mostrastes [por esta cidade], para que seja sempre o lugar e a morada de quantos verdadeiramente Vos conhecem e glorificam o vosso bendito e gloriosíssimo nome pelos séculos dos séculos. Amen» (Espelho de perfeição, 124: FF, 1824).

Encontro com os jovens encerra visita do Papa a Assis

Assis (Itália) – No encontro que encerrou a visita do Papa Francisco a Assis, o Pontífice respondeu a quatro perguntas. A primeira foi sobre o matrimônio. Outra pergunta dos jovens dizia respeito à chamada ao celibato e à virgindade pelo Reino dos Céus. As outras duas questões diziam respeito: uma ao empenho social, neste tempo de crise que ameaça a esperança; e a outra sobre a evangelização – levar o anúncio de Cristo aos outros. Conforme informações da Rádio Vaticana. Publicamos, a seguir, as respostas do Papa às perguntas dos jovens.

Queridos jovens da Úmbria,
Boa tarde!

Obrigado por terem vindo, obrigado por esta festa! E obrigado pelas perguntas, muito importantes.

Fico contente que a primeira pergunta tenha sido de um casal jovem. Um belo testemunho! Dois jovens que escolheram, decidiram, com alegria e coragem formar uma família. Sim, porque é verdade mesmo, é preciso coragem para formar uma família!

Sim, é preciso ter coragem, é preciso ter coragem para formar uma família!

E a pergunta de vocês, jovens casados, se une à pergunta sobre a vocação. O que é o matrimônio? É uma verdadeira e própria vocação, como o são o sacerdócio e a vida religiosa. Dois cristãos que se casam reconheceram na própria história de amor o chamado do Senhor, a vocação a formar a partir dos dois, homem e mulher, uma só carne, uma só vida. E o Sacramento do matrimônio envolve este amor com a graça de Deus, o enraíza no próprio Deus. Com este dom, com a certeza deste chamado, é possível partir seguros, não se tem medo de nada, pode se enfrentar tudo, juntos!

Pensemos em nossos pais, nossos avós ou bisavós: se casaram em condições muito mais pobres do que as nossas, alguns em tempo de guerra, ou de pós-guerra; alguns são emigrados, como os meus pais. Onde encontravam a força? A encontravam na certeza de que o Senhor estava com eles, que a família é abençoada por Deus com o Sacramento do matrimônio, e que abençoada é a missão de colocar no mundo os filhos e educá-los. Com estas certezas superaram também as provações mais duras. Eram certezas simples, mas verdadeiras, formavam colunas que sustentavam o amor deles.

Não foi fácil a vida deles. Eles tinham problemas, tantos problemas, mas estas certezas simples os ajudavam a seguir adiante. E conseguiram formar uma bela família, a dar vida, conseguiram criar os filhos.

Queridos amigos, é preciso esta base moral e espiritual para construir bem, de maneira sólida! Hoje, esta base não é mais garantida pelas famílias e pela tradição social. Ao contrário, a sociedade em que vocês nasceram privilegia os direitos individuais mais do que a família, estes direitos individuais, as relações que duram para que não surjam dificuldades, e por isso às vezes fala de relações do casal, da família e do matrimônio de modo superficial e equívoco. Bastaria olhar certos programas televisivos!

E podemos ver estes valores… Quantas vezes os párocos – eu também ouvi isso algumas vezes-, quando chega um casal que quer se casar e diz “nos amamos muito mas ficaremos juntos até que o amor acabe”. Isso é egoísmo. Quando não sinto, corto o matrimônio, e esqueço daquilo que é uma só carne, que não pode separar-se, é arriscado casar-se. O egoísmo nos ameaça. Dentro de nós temos a possibilidade de uma dupla personalidade: uma que diz o outro e outra que diz eu, meu, comigo… é egoísmo sempre, que não sabe se abrir aos outros.

A outra dificuldade é esta cultura do provisório, de não buscar nada que seja definitivo, mas o provisório, o amor enquanto dura.

Uma vez eu ouvi um seminarista muito bom que dizia: “quero ser padre por dez anos, depois vejamos”. Essa é a cultura do provisório. Mas Jesus não nos salvou de maneira provisória, nos salvou definitivamente.

Mas, o Espírito Santo suscita sempre respostas novas às novas exigências! E assim, se multiplicaram na Igreja os caminhos para os noivos, os cursos de preparação para o Matrimônio, os grupos de jovens casais nas paróquias, os movimentos familiares… São uma riqueza imensa! São pontos de referência para todos: jovens em busca, casais em crise, pais em dificuldade com os filhos e vice-versa. Mas nos ajudam todos. E há ainda as diferentes formas de acolhimento como: adoção temporária, adoção, abrigos para menores de vários tipos… A fantasia [me permita a palavra] do Espírito Santo é infinita, mas é também muito concreta! Então, gostaria de dizer para vocês não terem medo de dar passos definitivos. Não tenham medo.

Quantas vezes ouço mães que me dizem “tenho um filho de 30 anos anos que não se decide, não se casa. Ele namora, mas não casa”. Então eu digo, “senhora, não passe mais as camisas dele”. Não tenham medo de dar passos definitivos como o é o matrimônio: aprofundem o amor de vocês, respeitando o tempo e as expressões de cada um, rezem, se preparem bem, mas tenham também confiança de que o Senhor não deixa vocês sozinhos! Façam com que Ele entre na casa de vocês como alguém da família, Ele sempre sustentará vocês.

A família é a vocação que Deus escreveu na natureza do homem e da mulher, mas há uma outra vocação complementar ao matrimônio: o chamado ao celibato e à virgindade pelo Reino dos céus. É a vocação que o próprio Jesus viveu. Como reconhecê-la? Como segui-la? É a terceira pergunta que vocês me fizeram.

Alguns de vocês pode perguntar: “como esse bispo é bom, acabaram de perguntar e já tem as respostas escritas”. É que eu já respondi uns dias atrás…

E respondo para vocês com dois elementos essenciais: rezar e caminhar na Igreja. Estas duas coisas devem seguir juntas, são interligadas. Na origem de cada vocação à vida consagrada existe sempre uma experiência forte de Deus, uma experiência que não se esquece, que se recorda por toda a vida! Foi o que aconteceu com Francisco. E isso nós não podemos calcular ou programar. Deus nos surpreende sempre! É Deus que chama; porém é importante ter uma relação cotidiana com Ele, escutá-Lo em silêncio diante do Tabernáculo e no íntimo de nós mesmos, falar com Ele, aproximar-se dos Sacramentos. Ter esta relação familiar com o Senhor é como ter aberta a janela da nossa vida para que Ele nos faça ouvir sua voz, o que Ele quer de nós. Seria belo ouvir vocês, ouvir os padres aqui presentes, as freiras… Seria belíssimo, porque cada história é única, mas todas partem de um encontro que ilumina no profundo, que toca o coração e envolve toda a pessoa: afeto, intelecto, sentidos, tudo.

A relação com Deus não diz respeito somente a uma parte de nós mesmos, diz respeito a tudo. É um amor tão grande, tão belo, tão verdadeiro, que merece tudo e merece toda a nossa confiança. E uma coisa gostaria de dizer com força, especialmente hoje: a virgindade pelo Reino de Deus não é um “não”, é um “sim”! Certo, comporta a renúncia a um elo conjugal e uma própria família, mas na base está o “sim”, como resposta ao “sim” total de Cristo para conosco, e este “sim” os torna fecundos.

Mas, aqui em Assis não há necessidade de palavras! Aqui tem Francisco, tem Clara, eles falam! O carisma deles continua a falar a tantos jovens no mundo inteiro: rapazes e moças que deixam tudo para seguir Jesus no caminho do Evangelho.

E isso, Evangelho. Gostaria de tomar a palavra “Evangelho” para responder outras duas perguntas que vocês me fizeram, a segunda e a quarta. Uma diz respeito ao compromisso social, neste período de crise que ameaça a esperança; e a outra diz respeito à evangelização, o levar o anúncio de Jesus aos outros. Vocês me perguntaram: o que podemos fazer? Qual pode ser nossa contribuição?

Aqui em Assis, aqui perto da Porciúncula, parece que podemos ouvir a voz de são Francisco que nos repete: “Evangelho, Evangelho!”. O diz também a mim, melhor, primeiro a mim: Papa Francisco, seja servidor do Evangelho!

Se eu não consigo ser um servidor do Evangelho, a minha vida não vale nada. Mas, o Evangelho, queridos amigos, não diz respeito somente à religião, diz respeito ao homem, todo o homem, e diz respeito ao mundo, à sociedade, à civilização humana. O Evangelho é a mensagem de salvação de Deus pela humanidade. Mas quando dizemos “mensagem de esperança”, não é um modo de dizer, não são simples palavras ou palavras vazias como existem tantas hoje! A humanidade precisa ser salva verdadeiramente! O vemos todos os dias quando folheamos o jornal, o ouvimos nas notícias na televisão; mas o vemos também ao nosso redor, nas pessoas, nas situações…; nós o vemos em nós mesmos! Cada um de nós precisa da salvação! Sozinhos não conseguimos. Salvação do que? Do mal. O mal opera, faz seu trabalho. Mas o mal não é invencível e o cristão não se rende diante do mal. E vocês jovens, querem se render ao mal, às injustiças, às dificuldades?

Querem ou não?

O nosso segredo é que Deus é maior que o mal: E isso é verdade: Deus é maior que o mal. Deus é amor infinito, misericórdia sem limites, e este Amor venceu o amor pela raiz na morte e a ressurreição de Cristo. Este é o Evangelho, a Boa Notícia: o amor de Deus venceu! Cristo morreu na cruz pelos nossos pecados e ressuscitou. Com Ele nós podemos lutar contra o mal e vencê-lo todos os dias. Cremos nisto ou não?  SIM!

Mas este sim deve ser levado na vida. Se eu creio que Jesus venceu o mal e me salva, devo seguir o caminho de Jesus durante toda a vida.

Então, o Evangelho, esta mensagem de salvação, tem duas destinações que estão ligadas: a primeira, suscitar a fé, e esta é a evangelização; a segunda, transformar o mundo de acordo com o desígnio de Deus, e esta é a animação cristã da sociedade. Mas não são duas coisas separadas, são uma única missão: levar o Evangelho com o testemunho da nossa vida transforma o mundo! Este é o caminho! Levar o Evangelho com o testemunho da nossa vida

Olhemos para Francisco: ele fez todas estas duas coisas, com a força do único Evangelho. Francisco fez crescer a fé, renovou a Igreja; e ao mesmo tempo renovou a sociedade, a tornou mais fraterna, mas sempre com o Evangelho.

Sabem o que uma vez Francisco disse aos seus irmãos. Preguem sempre o Evangelho e se for necessário, também com palavras. Mas, como é possível pregar o Evangelho sem palavras: sim com o testemunho, primeiro o testemunho.

Jovens da Úmbria: façam assim vocês também! Hoje, em nome de são Francisco, digo para vocês: ouro e prata não tenho para lhes dar, mas algo muito mais precioso, o Evangelho de Jesus. Vão com coragem! Com o Evangelho no coração e nas mãos, sejam testemunhas da fé com a vida de vocês.

Levem Cristo à casa de vocês. Acolham e testemunhem nos pobres. Jovens deem à Úmbria uma mensagem de paz e esperança. Vocês podem fazer isso.

Encontro do Papa Francisco com as Clarissas

Eu pensava que esta reunião fosse como fizemos duas vezes em Castel Gandolfo, na sala capitular, com as irmãs, mas, confesso-lhes, não tive coragem de despedir os Cardeais. Façamos assim.

Bem, agradeço-lhes tanto pela acolhida como pela oração pela Igreja. Quando uma irmã na clausura consagra toda a sua vida ao Senhor, acontece uma transformação que escapa ao nosso entendimento. Normalmente pensamos que esta irmã se torna isolada, sozinha com o Absoluto, sozinha com Deus; é uma vida ascética, penitente. Mas esta não é a estrada de uma irmã de clausura católica, nem cristã. A estrada passa por Jesus Cristo, sempre! Jesus Cristo é o centro de sua vida, de sua penitência, de sua vida comunitária, de sua oração e também da universalidade da oração. E por esta estrada acontece o contrário daquilo que se pensa sobre uma ascética irmã de clausura. Quando uma irmã vai pela estrada da contemplação de Jesus Cristo, da oração e da penitência com Jesus Cristo, torna-se muito humana.

As irmãs de clausura são chamadas a ser muito humanas, de uma humanidade como a da mãe Igreja; humanas, compreendendo todas as coisas da vida, pessoas que compreendem os problemas humanos, que sabem perdoar, que sabem pedir ao Senhor pelas pessoas. A sua humanidade. E a sua humanidade vem por esta estrada, a Encarnação do Verbo, a estrada de Jesus Cristo. E qual é o sinal de que uma irmã é humana? A alegria, a alegria, quando há alegria! Sinto tristeza quando encontro irmãs que não são alegres. Talvez até sorriam, mas com o sorriso de um comissário de bordo. Mas não com o sorriso da alegria, daquela alegria que vem de dentro. Sempre com Jesus Cristo. Hoje na Missa, falando do Crucifixo, dizia que Francisco o havia contemplado com os olhos abertos, com as feridas abertas, com o sangue que jorrava. E esta é a sua contemplação: a realidade. A realidade de Jesus Cristo. Não idéias abstratas, não idéias abstratas, porque ficam somente na cabeça. A contemplação dos estigmas de Jesus Cristo!

É a estrada da humanidade de Jesus Cristo: sempre com Jesus, Deus-homem. E por isto é muito bonito quando as pessoas vão ao locutório dos mosteiros e pedem oração e falam sobre seus problemas. Tantas vezes a irmã não diz nada de extraordinário, apenas uma palavra que lhe vem da contemplação de Jesus Cristo, porque a irmã, como a igreja, está no caminho de ser perita em humanidade. E esta é a sua estrada: não espiritual demais! Quando sou espiritual demais, penso na fundadora dos mosteiros concorrentes de vocês, Santa Teresa, por exemplo. Quando vinha a ela uma irmã, oh, com essas coisas… dizia à cozinheira: “dá-lhe um bife!”. Sempre com Jesus Cristo, sempre. A humanidade de Jesus Cristo! Porque o Verbo veio na carne, Deus se fez carne por nós, e isto dará a vocês uma santidade humana, grande, bonita, madura, uma santidade de mãe. E a Igreja quer vocês assim: mães, mãe, mãe. Dar vida. Quando vocês rezam, por exemplo, pelos sacerdotes, pelos seminaristas, vocês têm com eles uma relação de maternidade; com a oração ajudam-lhes a se tornarem bons Pastores do Povo de Deus. Mas recordem-se do bife de Santa Teresa! É importante. E isto é o principal: sempre com Jesus Cristo, as chagas de Jesus Cristo, as chagas do Senhor. Porque é uma realidade que, após a Ressurreição Ele as levou consigo.

E a segunda coisa que quero lhes falar, brevemente, é sobre a vida comunitária. Perdoem-se, suportem-se, porque a vida de comunidade não é fácil. O diabo se aproveita de tudo para dividir! Diz: “Eu não quero falar mal, mas…”, e começa a divisão. Não, isto não é bom, porque a divisão não leva a nada. Cultivem a amizade entre vocês, a vida de família, o amor. E que o mosteiro não seja um Purgatório, que seja uma família. Os problemas existem e sempre existirão, mas, como se faz numa família, é preciso procurar a solução com amor; não destruam esta, para resolver isto; não façam competição. Zelem pela vida de fraternidade, porque quando se vive bem a vida de comunidade, em família, o Espírito Santo se faz presente, o Espírito Santo está no meio da comunidade. Estas duas coisas quero lhes dizer: a contemplação sempre, sempre com Jesus; Jesus, Deus e homem. E a vida de comunidade, sempre com um coração grande. Deixando passar, não se gloriar, suportar tudo, sorrir com o coração. E o sinal é a alegria. E eu peço para vocês esta alegria que nasce da verdadeira contemplação e de uma bonita vida comunitária. Obrigado! Obrigado pela acolhida. Peço que rezem por mim, por favor, não esqueçam! Antes da bênção, rezemos à Nossa Senhora: Ave Maria …

Capela do Coro da Basílica de Santa Clara
Assis, 04 de outubro de 2013