Viagem apostólica à Romênia
- Na Romênia, a 30ª Viagem Apostólica do Papa Francisco
- Papa em Bucareste: Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos
- Papa: não deixemos que nos seja roubada a fraternidade
- Papa aos Ortodoxos: não ceder à cultura do ódio e do individualismo
- “Sem amor e sem Deus nenhum homem pode viver sobre a terra”.
- Papa na Romênia: uma sociedade é civil quando cuida dos mais pobres
- Papa pede perdão aos ciganos pelas discriminações
- Do voo Sibiu-Roma
Na Romênia, a 30ª Viagem Apostólica do Papa Francisco
O Papa Francisco embarca nesta sexta-feira para Romênia, a sua 30ª Viagem Apostólica internacional. Depois de 20 anos da visita de João Paulo II ao país, o Pontífice volta para uma intensa agenda, tendo como ápice, a beatificação dos mártires do comunismo. Em mensagem em vídeo divulgada nesta segunda-feira (28/05), em italiano, o Papa começa saudando cordialmente o povo da Romênia, um “país belo e acolhedor”, e afirma que fará a visita “como peregrino e irmão”. O Papa então citou os irmãos Pedro e André, os Apóstolos de Cristo, para falar dos laços de fé que unem os cristãos.
“Aguardo com grande expectativa e alegria poder encontrar o Patriarca e o Sínodo Permanente da Igreja Ortodoxa Romena, como também os pastores e os fiéis católicos. Os laços de fé que nos unem remontam aos Apóstolos, em especial, o vínculo que uniu Pedro e André, que, segundo a tradição, levou a fé às terras de vocês. Irmãos de sangue, eles também derramaram o sangue pelo Senhor. E, entre vocês, foram tantos os mártires, mesmo nos últimos tempos, como os sete bispos greco-católicos que terei a alegria de proclamar Beatos. Tudo o que sofreram, a ponto de oferecer a vida, é uma herança muito preciosa para ser esquecida. E é uma herança comum, que nos chama a não nos distanciarmos do irmão que a compartilha.”
O Papa Francisco finalizou a mensagem, assegurando proximidade na oração e enviando a sua bênção, além de enaltecer o percurso que será feito durante a viagem – uma caminhada conjunta: “Vou até vocês para caminharmos juntos. Caminhamos juntos quando aprendemos a preservar as raízes e a família, quando cuidamos do futuro dos filhos e do irmão que está ao lado, quando vamos além dos medos e das suspeitas, quando derrubamos as barreiras que nos separam dos outros.”
Diálogo com os irmãos ortodoxos
Bucareste, Bacau, Sumuleu-Ciuc, Iasi, Sibiu, Blaj: estas são as etapas da quinta viagem internacional em 2019 do Papa Francisco, na Romênia, entre 31 de maio e 2 de junho próximo.
Durante o encontro com os jornalistas na quarta-feira, 29, o diretor interino da Sala de Imprensa do Vaticano, Alessandro Gisotti, ressaltou que a diversidade na programação é devida ao desejo do Papa de encontrar plenamente “a riqueza étnica, cultural e religiosa da Romênia”, muitas vezes chamada “Jardim da Mãe de Deus”.
O acento mariano é, de fato, preeminente nesta 30ª Viagem Apostólica, que tem início no dia em que a Igreja celebra a festa da Visitação da Bem-Aventurada Virgem Maria. O logotipo da visita, entre Valáquia, Moldávia e Transilvânia, retrata Nossa Senhora e o povo de Deus que caminha sob sua proteção. Outra peculiaridade será a ecumênica, em um país com 86% de ortodoxos.
Na sexta-feira, o Papa Francisco chega às 11h30 no Aeroporto internacional Henri Coanda-Otopeni, em Bucareste, capital e maior cidade da Romênia, sendo acolhido pelo presidente romeno Klaus Werner Iohannis e esposa. Uma atenção – a presença do chefe de Estado já aos pés da escada do avião – que demonstra o quanto é aguardada a chegada do Papa Bergoglio, que nunca visitou a Romênia.
Após a cerimônia de boas-vindas, no Palácio Presidencial, e o encontro com a primeira ministra, Vasilica Viorica Dăncilă, o Pontífice pronuncia o primeiro dos oito discursos previstos, dirigido às autoridades, à sociedade civil e ao corpo diplomático.
A tarde será totalmente ecumênica, com um encontro privado com o patriarca Daniel no Palácio do Patriarcado Ortodoxo Romeno, seguido pelo encontro com o Sínodo permanente e pela oração do Pai Nosso na nova Catedral Ortodoxa da Salvação do Povo. Inaugurada em novembro de 2018 pelo patriarca da Romênia Daniel e pelo patriarca de Constantinopla Bartolomeu, a obra será concluída em 2024, após 14 anos de trabalhos, 70% financiados pelo Estado. O próprio Papa Wojtyla, durante sua viagem apostólica à Romênia, fez uma doação substancial para a construção da Catedral. O primeiro dia do Papa Francisco na Romênia se conclui com a celebração da Santa Missa na Catedral católica de São José.
Maria e os jovens
Às 9h30 de sábado, o Papa Francisco deixa Bucareste, transferindo-se para Bacau, na região da Moldávia, aos pés dos Cárpatos, e à Base Aérea da Brigada da Montanha Miercurea-Ciuc. Às 11h30 celebra a Santa Missa no Santuário de Sumuleu-Ciuc, situado em um pitoresco cenário natural, destino histórico de peregrinação para os católicos de língua húngara da Romênia e de outros países.
A igreja mariana, localizada dentro de um mosteiro franciscano, tem o título de “basílica menor” e abriga uma preciosa estátua de madeira de tília, da Bem-aventurada Virgem Maria, construída entre 1515 e 1520, e que sobreviveu ao incêndio de 1661. Tradicionalmente, a peregrinação é realizada no sábado antes de Pentecostes.
À tarde, em Iasi, o mais importante centro político, econômico e cultural da Província da Moldávia, bem como uma das cidades mais antigas da Romênia, o Papa Francisco visita a Catedral de Santa Maria Rainha. Nos subterrâneos, encontra-se o memorial dedicado ao Beato Anton Durcovici, bispo de Iasi e martirizado em 1951. Antes de retornar a Bucareste, terá lugar o encontro mariano com os jovens e com as famílias, na praça adjacente ao Palácio da Cultura.
Sangue dos mártires
Também intenso será o dia de domingo, na região da Transilvânia. Às 11:00, programada a Divina Liturgia com a beatificação dos 7 bispos greco-católicos mártires, no Campo da Liberdade em Blaj.
No local, em 15 de maio de 1848, mais de 40 mil pessoas se reuniram para afirmar sua consciência nacional e pedir o reconhecimento do povo romeno como nação, liberdade e direitos civis iguais.
Além disso, este lugar constitui para os fiéis greco-católicos não apenas um símbolo de luta pela liberdade nacional, mas também de liberdade espiritual: memorial do testemunho dos mártires durante a ditadura comunista, mortos pela fé católica. Antes de voltar a Roma, na conclusão de sua Viagem Apostólica, o Papa Francisco encontra a comunidade cigana de Blaj, no bairro Barbu Lăutaru.
IGREJA ORTODOXA: 86% DO POVO
O Papa Francisco será o segundo Pontífice a visitar a Romênia, após São João Paulo II, em maio de 1999.
Por ser um país de maioria ortodoxa – 86% da população – naturalmente que a visita também adquire um caráter ecumênico. Mas como não poderia deixar de ser, Francisco encontrará o pequeno rebanho católico do país, 7,3% dos habitantes. O ponto alto, será a beatificação dos mártires do comunismo.
Segundo dados de 31 de dezembro de 2017, os católicos são cerca de 1 milhão 445 mil, em uma população de quase 20 milhões de habitantes.
Na Romênia há 13 circunscrições eclesiásticas, 2.031 paróquias, 64 centros pastorais.
O número de bispos no país é de 18 (dado de 30 de maio de 2019). Os sacerdotes diocesanos são 1.792, os sacerdotes religiosos 265, num total de 2.057.
Os diáconos permanentes são 4, religiosos não sacerdotes 72, religiosas professas 1.070, leigos de Institutos Seculares 128, missionários leigos 56, catequistas 573.
Há 2.256 seminaristas menores e 599 maiores na Romênia.
A Igreja Católica administra 68 escolas maternas e primárias, 26 escolas secundárias e 7 escolas superiores e universidades.
Os estudantes nas escolas maternas e primárias são 5.940, nas escolas médias e secundárias 3.954 e nos institutos superiores e universidades 894.
Os centros caritativos e sociais de propriedade da Igreja ou de direito eclesiástico ou religioso são:
14 hospitais, 43 ambulatórios, 34 casas para idosos, 35 orfanatrófios. 20 consultórios familiares, 6 centros especiais de educação ou reeducação social. Outras instituições: 27
Papa em Bucareste: Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos
Cidade do Vaticano – “Contemplar Maria permite-nos estender o olhar sobre tantas mulheres, mães e avós destas terras que, com sacrifício sem alarde, abnegação e empenho moldam o presente e tecem os sonhos do futuro.” Foi o que disse o Papa na missa celebrada no final da tarde desta sexta-feira (31/05) na Catedral de São José em Bucareste, último compromisso de Francisco no primeiro dia de sua visita à Romênia, na 30ª viagem apostólica internacional de seu Pontificado, viagem esta que tem como lema “Caminhemos juntos”. O Santo Padre estará até este domingo, 2 de junho, no país do Leste Europeu.
Tratou-se do primeiro encontro propriamente do Pontífice com a pequena comunidade católica da Romênia, país de maioria cristã ortodoxa (86%), onde os católicos representam cerca de 7% da população.
Partindo do Evangelho do dia (Lc 1,39-56), que narra a visita de Nossa Senhora a sua prima Isabel e nos traz também o Magnificat, em que Maria canta as maravilhas que o Senhor realizou na sua humilde serva, Francisco evocou o canto de esperança que – ressaltou – “nos quer despertar também a nós convidando-nos a entoá-lo hoje por meio de três elementos preciosos que nascem da contemplação da primeira discípula: Maria caminha, Maria encontra, Maria rejubila”. A homilia do Papa foi desenvolvida a partir daí.
Maria caminha
“Maria caminha… de Nazaré até casa de Zacarias e Isabel: é a primeira das viagens de Maria que narra a Sagrada Escritura. A primeira de muitas. Irá da Galileia a Belém, onde nascerá Jesus; fugirá para o Egito, a fim de salvar o Menino de Herodes; além disso dirigir-Se-á cada ano a Jerusalém pela Páscoa, até à última em que seguirá o Filho até ao Calvário. Estas viagens têm uma caraterística: nunca foram caminhos fáceis, exigiram coragem e paciência. Dizem-nos que Nossa Senhora conhece as subidas, conhece as nossas subidas: é nossa irmã no caminho.”
Especialista em trabalhar duro, prosseguiu o Santo Padre, Nossa Senhora “sabe como tomar-nos pela mão nas asperezas, quando nos encontramos perante as viragens mais acentuadas da vida. Como boa mãe, Maria sabe que o amor se concretiza nas pequenas coisas diárias. Amor e inventiva materna, capaz de transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura”.
“Olhando para Maria e tantos rostos maternos, experimenta-se e alarga-se o espaço à esperança, que gera e abre o futuro. Digamo-lo com força: no nosso povo, há espaço para a esperança. Por isso, Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos”, acrescentou.
Maria encontra
“Maria encontra Isabel já de idade avançada. Mas é ela, a idosa, que fala de futuro, que profetiza: «cheia do Espírito Santo» proclama Maria «feliz» porque acreditou, antecipando a última bem-aventurança dos Evangelhos: felizes os que creem. E assim a jovem vai ao encontro da idosa procurando as raízes, e a idosa renasce e profetiza acerca da jovem, dando-lhe futuro. Assim se encontram jovens e anciãos, abraçam-se e cada um é capaz de despertar o melhor do outro.”
É o milagre suscitado pela cultura do encontro, ressaltou Francisco, “na qual ninguém é descartado nem rotulado; antes pelo contrário, todos são procurados, porque necessários para fazer transparecer o rosto do Senhor. Não têm medo de caminhar juntos e, quando isto acontece, Deus chega e realiza prodígios no seu povo”.
“Maria, que caminha e encontra Isabel, lembra-nos onde Deus quis habitar e viver, qual é o seu santuário e onde podemos auscultar as palpitações do seu coração: no meio do seu Povo. Lá habita, lá vive, lá nos espera.”
Sintamos dirigido a nós o convite do profeta a não temer, a não cruzar os braços, exortou o Pontífice, “porque o Senhor, nosso Deus, está no meio de nós, é um salvador poderoso. Este é o segredo do cristão: Deus está no meio de nós como poderoso salvador”.
Maria rejubila
“Maria rejubila, porque é a portadora do Emanuel, do Deus conosco. «Ser cristão é alegria no Espírito Santo». Sem alegria, permanecemos paralisados, escravos das nossas tristezas. Muitas vezes, o problema da fé não é tanto a falta de meios e estruturas, de quantidade, nem sequer a presença de quem não nos aceita; o problema da fé é a falta de alegria. A fé vacila, quando nos arrastamos na tristeza e no desânimo. Quando vivemos na desconfiança, fechados em nós mesmos, contradizemos a fé, porque, em vez de nos sentirmos filhos pelos quais Deus faz grandes coisas, reduzimos tudo à medida dos nossos problemas e esquecemo-nos de que não somos órfãos: temos no meio de nós um Pai, salvador e poderoso.”
“Pensemos nas grandes testemunhas destas terras!” – disse o Santo Padre concluindo sua reflexão. “Pessoas simples, que confiaram em Deus no meio das perseguições. Não colocaram a sua esperança no mundo, mas no Senhor, e assim continuaram para diante. Quero agradecer a estes vencedores humildes, a estes santos da porta ao lado que nos apontam o caminho.”
“Sede vós os promotores duma cultura do encontro que desminta a indiferença e a divisão e permita a esta terra cantar, com força, as misericórdias do Senhor”, disse por fim.
ÍNTEGRA DA HOMILIA DO SANTO PADRE
NA FESTA DA VISITAÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA
O Evangelho que escutamos introduz-nos no encontro de duas mulheres que se abraçam e fazem transbordar tudo de felicidade e louvor: exulta de alegria o menino e Isabel bendiz a prima pela sua fé; Maria canta as maravilhas que o Senhor realizou na sua humilde serva, com o grande hino de esperança para aqueles que já não podem cantar porque perderam a voz… Canto de esperança, que nos quer despertar também a nós convidando-nos a entoá-lo hoje por meio de três elementos preciosos que nascem da contemplação da primeira discípula: Maria caminha, Maria encontra, Maria rejubila.
Maria caminha… de Nazaré até casa de Zacarias e Isabel: é a primeira das viagens de Maria que narra a Sagrada Escritura. A primeira de muitas. Irá da Galileia a Belém, onde nascerá Jesus; fugirá para o Egito, a fim de salvar o Menino de Herodes; além disso dirigir-Se-á cada ano a Jerusalém pela Páscoa, até à última em que seguirá o Filho até ao Calvário. Estas viagens têm uma caraterística: nunca foram caminhos fáceis, exigiram coragem e paciência. Dizem-nos que Nossa Senhora conhece as subidas, conhece as nossas subidas: é nossa irmã no caminho. Especialista em trabalhar duro, sabe como tomar-nos pela mão nas asperezas, quando nos encontramos perante as viragens mais acentuadas da vida. Como boa mãe, Maria sabe que o amor se concretiza nas pequenas coisas diárias. Amor e inventiva materna, capaz de transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 286). Contemplar Maria permite-nos estender o olhar sobre tantas mulheres, mães e avós destas terras que, com sacrifício sem alarde, abnegação e empenho moldam o presente e tecem os sonhos do futuro. Doação silenciosa, tenaz e despercebida, que não tem medo de «arregaçar as mangas» e carregar as dificuldades aos ombros para levar por diante a vida dos seus filhos e de toda a família, esperando «para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18). Permanece inesquecível o facto de um forte sentido de esperança que vive e pulsa no vosso povo para além de todas as condições que possam ofuscá-la ou procurem extingui-la. Olhando Maria e tantos rostos maternos, experimenta-se e alarga-se o espaço à esperança (cf. Documento de Aparecida, 536), que gera e abre o futuro. Digamo-lo com força: no nosso povo, há espaço para a esperança. Por isso, Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos.
Maria encontra Isabel (cf. Lc 1, 39-56), já de idade avançada (cf. Lc 1, 7). Mas é ela, a idosa, que fala de futuro, que profetiza: «cheia do Espírito Santo» (Lc 1, 41), proclama Maria «feliz» porque acreditou (cf. Lc 1, 45), antecipando a última bem-aventurança dos Evangelhos: felizes os que creem (cf. Jo 20, 29). E assim a jovem vai ao encontro da idosa procurando as raízes, e a idosa renasce e profetiza acerca da jovem, dando-lhe futuro. Assim se encontram jovens e anciãos, abraçam-se e cada um é capaz de despertar o melhor do outro. É o milagre suscitado pela cultura do encontro, na qual ninguém é descartado nem rotulado; antes pelo contrário, todos são procurados, porque necessários para fazer transparecer o rosto do Senhor. Não têm medo de caminhar juntos e, quando isto acontece, Deus chega e realiza prodígios no seu povo. Com efeito, é o Espírito Santo que nos encoraja a sair de nós mesmos, dos nossos fechamentos e particularismos, para nos ensinar a olhar para além das aparências e oferecer-nos a possibilidade de dizer bem dos outros – «bendizê-los» –, especialmente de tantos irmãos nossos que ficaram expostos às intempéries, talvez privados não apenas dum teto ou dum bocado de pão, mas sobretudo da amizade e do calor duma comunidade que os abrace, proteja e acolha. Cultura do encontro que nos impele, a nós cristãos, a experimentar o milagre da maternidade da Igreja que procura, defende e une os seus filhos. Na Igreja, quando se encontram ritos diferentes, quando em primeiro lugar não vêm as próprias afiliações, o próprio grupo ou a própria etnia, mas o Povo que, junto, sabe louvar a Deus, então acontecem grandes coisas. Digamo-lo com força: felizes os que creem (cf. Jo 20, 19) e têm a coragem de criar encontro e comunhão.
Maria, que caminha e encontra Isabel, lembra-nos onde Deus quis habitar e viver, qual é o seu santuário e onde podemos auscultar as palpitações do seu coração: no meio do seu Povo. Lá habita, lá vive, lá nos espera. Sintamos dirigido a nós o convite do profeta a não temer, a não cruzar os braços, porque o Senhor, nosso Deus, está no meio de nós, é um salvador poderoso (cf. Sof 3, 16-17); está no meio do seu povo. Este é o segredo do cristão: Deus está no meio de nós como poderoso salvador. Esta certeza – como sucedeu com Maria – permite-nos cantar e exultar de alegria. Maria rejubila, rejubila porque é a portadora do Emanuel, do Deus connosco. «Ser cristão é alegria no Espírito Santo» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 122). Sem alegria, permanecemos paralisados, escravos das nossas tristezas. Muitas vezes, o problema da fé não é tanto a falta de meios e estruturas, de quantidade, nem sequer a presença de quem não nos aceita; o problema da fé é a falta de alegria. A fé vacila, quando nos arrastamos na tristeza e no desânimo. Quando vivemos na desconfiança, fechados em nós mesmos, contradizemos a fé, porque, em vez de nos sentirmos filhos pelos quais Deus faz grandes coisas (cf. Lc 1, 49), reduzimos tudo à medida dos nossos problemas e esquecemo-nos de que não somos órfãos; na tristeza, esquecemo-nos de que não somos órfãos: temos no meio de nós um Pai, salvador e poderoso. Maria vem em nossa ajuda, porque, em vez de reduzir, magnifica, isto é, «engrandece» o Senhor, louva a sua grandeza. Aqui está o segredo da alegria. Maria, pequena e humilde, parte da grandeza de Deus e, apesar dos seus problemas que não eram poucos, permanece na alegria, porque em tudo confia no Senhor. Lembra-nos que Deus sempre pode fazer maravilhas, se permanecermos abertos a Ele e aos irmãos. Pensemos nas grandes testemunhas destas terras! Pessoas simples, que confiaram em Deus no meio das perseguições. Não colocaram a sua esperança no mundo, mas no Senhor, e assim continuaram para diante. Quero agradecer a estes vencedores humildes, a estes santos de ao pé da porta que nos apontam o caminho. As suas lágrimas não foram estéreis, foram oração que subiu ao Céu e irrigou a esperança deste povo.
Amados irmãos e irmãs, Maria caminha, encontra e rejubila, porque trouxe algo maior do que Ela: foi portadora duma bênção. Como Ela, não temamos, também nós, de ser portadores da bênção de que precisa a Roménia. Sede vós os promotores duma cultura do encontro que desminta a indiferença, que desminta a divisão e permita a esta terra cantar, com força, as misericórdias do Senhor.
Catedral Católica de São José, Bucareste
Sexta-feira, 31 de maio de 2019
Papa: não deixemos que nos seja roubada a fraternidade
Bucareste (Romênia) – Na manhã deste sábado (01º/06), o Santo Padre deixou a capital Bucareste de avião, em direção ao aeroporto de Bacău. Dali, o Pontífice embarcou num helicóptero rumo à Base Aérea de Miercurea-Ciuc, capital do distrito de Harghita. Trata-se de uma pequena cidade localizada a leste da Transilvânia, entre os grupos montanhosos dos Cárpatos Orientais às margens do Rio Olt, um dos rios mais importantes da Romênia.
A seguir, o Papa foi de carro ao Santuário de Șumuleu Ciuc onde celebrou a Eucaristia. O santuário está circundado pela natureza. É meta histórica de peregrinação para os católicos húngaros que vivem na Romênia e de outros países. A origem do Santuário, que tem o título de “basílica menor”, começa na metade do século XVI e está ligada à fidelidade dos habitantes dessa área ao catolicismo, quando a Transilvânia abraçou a Reforma Protestante. O Santuário atual é em estilo barroco e foi finalizado entre 1802 a 1824. Dentro dele encontra-se a imagem preciosa de Nossa Senhora feita de madeira de tília, realizada entre 1515 e 1520, que sobreviveu ao incêndio de 1661.
Os santuários guardam a memória do povo fiel
“Com alegria e gratidão a Deus, encontro-me hoje com vocês, amados irmãos e irmãs, neste querido santuário mariano, rico de história e fé, tendo vindo aqui, como filhos, para encontrar a nossa Mãe e reconhecer-nos como irmãos”, disse Francisco no início de sua homilia na missa celebrada no Santuário de Șumuleu Ciuc que contou com a participação de cerca de 80 a 100 mil pessoas. Participaram também a primeira-ministra romena, Viorica Dăncilă, e como simples peregrino, o presidente da Hungria, János Áder.
“Os santuários, lugares quase «sacramentais» duma Igreja-hospital-de-campo, guardam a memória do povo fiel, que, no meio de suas tribulações não se cansa de procurar a fonte de água viva onde avivar a esperança. São lugares de festa e celebração, de lágrimas e súplicas. Vimos aos pés da Mãe, sem muitas palavras, a fim de nos deixarmos olhar por Ela e para que, com o seu olhar, nos conduza Àquele que é «o Caminho, a Verdade e a Vida».”
“Não o fazemos de qualquer modo; somos peregrinos”, frisou o Papa, ressaltando que os fiéis vão em peregrinação a esse santuário todos os anos, “no sábado de Pentecostes”, para honrar o voto que fizeram os seus “antepassados e fortalecer a fé em Deus e a devoção a Nossa Senhora”, representada na estátua de madeira de tília.
Peregrinar significa sentir-se impelidos a caminhar juntos
“Esta peregrinação anual pertence à herança da Transilvânia, mas honra conjuntamente as tradições religiosas romena e húngara; e participam nela também os fiéis de outras confissões, sendo um símbolo de diálogo, unidade e fraternidade; um apelo a recuperar os testemunhos de fé que se tornou vida e de vida que se tornou esperança. Peregrinar é saber que vimos como povo à nossa casa. É saber que temos a consciência de ser povo. Um povo, cuja riqueza são os seus mil rostos, culturas, línguas e tradições; o santo Povo fiel de Deus que, com Maria, caminha peregrino cantando a misericórdia do Senhor.”
Francisco ressaltou que “se, em Caná da Galileia, Maria intercedeu junto de Jesus para que realizasse o primeiro milagre, em cada santuário, vela e intercede não só diante do seu Filho, mas também diante de cada um de nós, para não deixarmos que nos seja roubada a fraternidade pelas vozes e as feridas que alimentam a divisão e a fragmentação”.
“As complexas e tristes vicissitudes do passado não devem ser esquecidas nem negadas, mas também não podem constituir um obstáculo ou um argumento para impedir a desejada convivência fraterna”.
“Peregrinar significa sentir-se chamados e impelidos a caminhar juntos, pedindo ao Senhor a graça de transformar rancores e desconfianças, antigos e atuais, em novas oportunidades de comunhão; significa desligar-se das nossas seguranças e comodidades e partir à procura duma nova terra que o Senhor nos quer dar”.
Compromisso de lutar
O Papa disse ainda que “peregrinar é um desafio a descobrir e transmitir o espírito de viver juntos, de não ter medo de se misturar, de nos encontrarmos e ajudarmos. Peregrinar significa participar daquela maré um pouco caótica que pode se transformar numa verdadeira experiência de fraternidade, caravana sempre solidária para construir a história”.
“Peregrinar é ver não tanto aquilo que poderia ter sido (e não foi), como sobretudo aquilo que nos espera e não podemos adiar mais. Significa crer no Senhor que vem e está no meio de nós promovendo e estimulando a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, verdade e justiça.”
“Peregrinar é o compromisso de lutar para que, quantos ontem tinham ficado para trás, se tornem os protagonistas do amanhã, e os protagonistas de hoje não sejam deixados para trás amanhã”.
“E isto requer o trabalho artesanal de tecer juntos o futuro. Eis o motivo por que estamos aqui! Para dizer juntos: Mãe, nos ensina a esboçar o futuro.”
Voltar o olhar para Maria
Francisco sublinhou que “peregrinar a este santuário nos faz voltar o olhar para Maria e para o mistério da sua eleição por Deus. Ela, uma jovem de Nazaré, pequena localidade da Galileia, na periferia do Império Romano e também na periferia de Israel, com o seu «sim», foi capaz de dar início à revolução da ternura. O mistério da sua eleição por parte de Deus, que pousa os seus olhos sobre o fraco para confundir os fortes, nos impele e nos encoraja também a dizer «sim», como Ela, para percorrer as sendas da reconciliação”.
“A quem arrisca, o Senhor não decepciona. Caminhemos, e caminhemos juntos, deixando que o Evangelho seja o fermento capaz de impregnar tudo e dar aos nossos povos a alegria da salvação, na unidade e na fraternidade”, concluiu o Papa.
Após a missa celebrada no Santuário de Şumuleu Ciuc, o Papa Francisco almoçou na Casa arquidiocesana Jakab Antal Ház, situada pouco distante do Santuário.
Inaugurada em 2016, a casa é administrada pela Caritas da Diocese de Alba Iulia e ali são realizados congressos e eventos nacionais e internacionais de caráter cultural e espiritual.
A Casa é dedicada a dom Jakab Antal que foi arcebispo de Alba Iulia de 1980 a 1990. Durante o regime comunista, dom Antal foi preso e permaneceu 13 anos no cárcere, de 1951 a 1964, obrigado a trabalhos forçados numa mina de chumbo. Faleceu em 1993.
Papa aos Ortodoxos: não ceder à cultura do ódio e do individualismo
O segundo compromisso oficial do Papa Francisco na Romênia, foi no Palácio do Patriarcado Ortodoxo de Bucareste. Na ocasião o Papa foi acolhido pelo Patriarca Daniel com o qual teve um encontro privado e em seguida dirigiu-se à Sala “Conventus” para o encontro com os membros do Sínodo Permanente da Igreja Ortodoxa Romena.
Após a saudação de boas-vindas de Sua Beatitude Daniel o Papa falou aos presentes iniciando com a saudação “Cristos a înviat! Cristo ressuscitou!” afirmando que “a ressurreição do Senhor é o coração da proclamação apostólica, transmitida e guardada pelas nossas Igrejas”. E recordou as palavras de João Paulo II 20 anos atrás ao mesmo Sínodo que dizia “vim contemplar o Rosto de Cristo esculpido nesta Igreja; vim venerar este Rosto sofredor, penhor duma esperança renovada”, e Francisco afirmou: “Também eu, desejoso de ver o rosto do Senhor no rosto dos irmãos, vim aqui, peregrino, para ver todos vocês; de coração, agradeço a recepção”.
Fraternidade do sangue
O Papa recordou que “os vínculos de fé que nos unem, remontam aos Apóstolos (…) lembram-nos que existe uma fraternidade do sangue que nos antecede e que ao longo dos séculos, como uma silenciosa corrente vivificante, nunca cessou de irrigar e sustentar o nosso caminho”.
“Filhos e filhas deste país, de várias Igrejas e comunidades cristãs, que sofreram a sexta-feira da perseguição, atravessaram o sábado do silêncio, viveram o domingo do renascimento”.
exclamando: “Quantos mártires e confessores da fé!”. O Papa disse também que os sofrimentos e martírios sofridos por todos “é uma herança demasiado preciosa para ser esquecida ou aviltada. E é uma herança comum, que nos chama a não nos distanciarmos do irmão que a partilha”.
João Paulo II e a aurora pascal do diálogo
A visita de João Paulo II vinte anos atrás “foi um dom pascal um acontecimento que contribuiu não só para o reflorescimento das relações entre ortodoxos e católicos na Romênia, mas também para o diálogo entre católicos e ortodoxos em geral”. E afirmou que aquela viagem “abriu o caminho para outros eventos semelhantes”.
Na visita de vinte anos atrás ficou marcado o grito do povo “unitate unitate! que se levantou, espontâneo”, para Francisco
“Foi um anúncio de esperança nascido do Povo de Deus, uma profecia que inaugurou um tempo novo: o tempo de caminhar juntos na redescoberta e avivamento da fraternidade que já nos une”.
Como caminhar juntos
E como caminhar juntos? O Papa sugeriu três modos para caminhar juntos:
Com a força da memória: “Não a memória dos agravos sofridos e infligidos (…), mas a memória das raízes: os primeiros séculos em que o Evangelho, anunciado com audácia e espírito de profecia, encontrou e iluminou novos povos e culturas”. A este propósito o Papa recordou
“ Os passos que demos juntos encoraja-nos a continuar rumo ao futuro com a consciência das diferenças, mas sobretudo na ação de graças de um ambiente familiar que deve ser redescoberto, na memória de comunhão que se deve reavivar ”
Caminhar juntos na escuta do Senhor
Como os Apóstolos, disse o Papa “também nós precisamos de escutar juntos o Senhor” sobretudo nos dias de hoje com as rápidas mudanças sociais e culturais. Neste ponto o Papa alerta que embora “muitos se beneficiaram do desenvolvimento tecnológico e o bem-estar econômico”, a “maioria permaneceu inexoravelmente excluída” e que este fato contribuiu para erradicar os valores dos povos, enfraquecendo a convivência e levando a “atitudes de fechamento e ódio”.
“ Precisamos nos ajudar a não ceder às seduções de uma ‘cultura do ódio’ e do individualismo ”
E como encontrar o caminho? Francisco recorda “O caminho alcança a meta, como em Emaús, através da súplica insistente ao Senhor para que fique conosco”, chama-nos à caridade: a servir juntos, a ‘dar Deus’ antes de ‘dizer Deus’; a não nos mostrarmos passivos no bem, mas prontos a levantar-nos e partir, ativos e colaboradores.
Caminhar juntos para um novo Pentecostes
“O trajeto que nos espera – afirma o Papa – estende-se da Páscoa ao Pentecostes: daquela aurora pascal da unidade, surgida aqui há vinte anos, encaminhamo-nos para um novo Pentecostes”, recordando o Papa João Paulo II. O Papa completa seu pensamento: “O nosso caminho partiu da certeza de ter ao lado o irmão que partilha a fé fundada na ressurreição do mesmo Senhor.
Concluindo o Santo Padre saúda os irmãos ortodoxos renovando sua gratidão e assegurando seu afeto, amizade e a sua oração e a da Igreja Católica.
“Sem amor e sem Deus nenhum homem pode viver sobre a terra”.
O último compromisso do Papa Francisco neste segundo dia na Romênia foi na cidade de Iasi, a 400 km da capital, Bucareste, na praça que abriga o Palácio da Cultura, onde ele teve um encontro mariano com jovens e famílias. Após a troca de presentes com o bispo Dom Petru Gherghel, os cantos e os testemunhos, o Papa pronunciou seu discurso.
“É difícil caminhar juntos, não é verdade? É uma graça que devemos pedir, uma peça artesanal que somos chamados a construir e um dom maravilhoso a transmitir”.
Segundo o Papa, devemos iniciar sem nos esquecermos de nossas raízes. À medida que formos crescendo, lembrarmos que o que de mais belo e precioso existe, nós o aprendemos em família; agradecermos a generosidade, a coragem, a gratuidade da fé «caseira», que passa despercebida, mas pouco a pouco constrói o Reino de Deus.
“A fé «sem cotação na bolsa», não contando no mercado, pode parecer até que «não serve para nada», disse, “mas a fé é um dom que mantém viva a certeza profunda de nossa pertença a Deus como filhos muito amados”.
O maligno divide, dispersa, separa e cria discórdia, semeia desconfiança
“Nós pertencemos uns aos outros, e a felicidade pessoal provém de fazer os outros felizes. Tudo o resto não passa de fábulas… Para caminhar juntos no lugar onde estás, não te esqueças de tudo aquilo que aprendeste em família”.
E quando as pessoas já não se amarem, alertou Francisco, será verdadeiramente o fim do mundo. Porque sem amor e sem Deus nenhum homem pode viver sobre a terra!
Aos habitantes de Iasi, capital cultural do país, o Papa frisou que esta é uma cidade que, historicamente, sabe abrir e iniciar processos e uma cidade que sabe hospedar jovens de várias partes do mundo, como sucede atualmente.
“A Romênia – concluiu – é o «jardim da Mãe de Deus», como pude dar-me conta neste encontro, porque Ela é Mãe que cultiva os sonhos dos filhos, que guarda as suas esperanças, que irradia a alegria na casa. É Mãe carinhosa e concreta, que cuida de nós. Vocês são a comunidade viva e próspera, cheia de esperança, que podemos dar de prenda à Mãe. A Ela consagramos o futuro dos jovens, das famílias e da Igreja. Mulţumesc! [Obrigado!]”
ÍNTEGRA DO DISCURSO
Queridos irmãos e irmãs, bună seara!
Aqui, convosco, sente-se o calor de estar em família, rodeados de pequenos e grandes. Vendo-vos e ouvindo-vos, é fácil sentir-se em casa. O Papa, no vosso meio, sente-se em casa. Obrigado pela vossa calorosa receção e pelos testemunhos que nos oferecestes. Ao apresentar-vos, o bispo D. Petru – como bom e brioso pai da família – abraçou-vos a todos nas suas palavras; e viu-se confirmado por ti, Eduard, quando nos dizias que este encontro não quer ser apenas de jovens, nem apenas de adultos, nem apenas de outros quaisquer, mas «esta tarde [quisemos] que, juntamente connosco, estivessem os nossos pais e os nossos avós».
Por estes lados, hoje é o dia da criança. Saudemos as crianças com um grande aplauso! Quero que a primeira coisa a fazer seja rezar por elas: peçamos à Virgem que as proteja com o seu manto. Jesus colocou-as no meio dos seus Apóstolos; também nós queremos colocá-las no centro e reafirmar o nosso compromisso de querer amá-las com o mesmo amor com que as ama o Senhor, empenhando-nos pelo direito delas ao futuro.
Alegra-me saber que, nesta praça, se encontra o rosto da família de Deus, que envolve crianças, jovens, esposos, pessoas consagradas, idosos romenos de várias regiões e tradições, bem como da Moldávia, e ainda quantos vieram da outra margem do rio Prut, os fiéis de língua csango, polaca e russa. O Espírito Santo convoca-nos a todos e ajuda-nos a descobrir a beleza de estar juntos, de nos podermos encontrar para caminhar juntos; cada qual com a sua própria língua e tradição, mas feliz por se encontrar entre irmãos. Com aquela alegria que partilhavam connosco Elizabete e Ioan, com os seus onze filhos, todos diferentes, vindos de vários lugares, mas «hoje encontram-se todos reunidos, da mesma forma que, alguns anos atrás, cada domingo de manhã se encaminhavam todos juntos para a Igreja». A felicidade dos pais ao verem os filhos reunidos! De certeza hoje, no céu, fazem festa ao ver tantos filhos que decidiram estar juntos.
É a experiência dum novo Pentecostes, como ouvimos na Leitura, onde o Espírito abraça as nossas diferenças e nos dá a força para abrir sendas de esperança, fazendo valer o melhor de cada um; é o mesmo caminho que encetaram os Apóstolos há dois mil anos, sendo hoje a nossa vez de agarrar o testemunho e nos decidirmos a semear. Não podemos esperar que sejam os outros a fazê-lo; toca-nos a nós!
É difícil caminhar juntos, não é verdade? É uma graça que devemos pedir, uma peça artesanal que somos chamados a construir e um dom maravilhoso a transmitir. Mas, por onde começar?
Quero de novo «roubar» as palavras a estes avós, Elisabete e Ioan. É maravilhoso ver quando o amor cria raízes com dedicação e empenho, trabalho e oração. O amor criou raízes em vós e deu muito fruto. Como diz o profeta Joel, quando se encontram jovens e anciãos, os avós não têm medo de sonhar (cf. Jl 3, 1). E o vosso sonho foi este: «Sonhamos que eles possam construir um futuro sem esquecer donde partiram. Sonhamos que todo o nosso povo não esqueça as suas raízes». Estendeis o olhar para o futuro e abris o amanhã para os vossos filhos, para os vossos netos, para o vosso povo, oferecendo o melhor que aprendestes durante o vosso caminho: que eles não se esqueçam donde partiram. Para onde quer que forem, façam seja o que for, que não esqueçam as raízes. É o mesmo sonho, a mesma recomendação que São Paulo fez a Timóteo: manter viva a fé de sua mãe e de sua avó (cf. 2 Tm 1, 5-7). À medida que vais crescendo – em todos os sentidos: força, tamanho e mesmo fazendo-te um nome –, não esqueças o que de mais belo e precioso aprendeste em família. É a sabedoria que se recebe com o passar dos anos: ao crescer, não te esqueças da tua mãe e da tua avó e daquela fé simples, mas robusta, que as caraterizava e lhes dava força e constância para prosseguir e não cruzar os braços. É um convite a agradecer e reabilitar a generosidade, a coragem, a gratuidade duma fé «caseira», que passa despercebida, mas pouco a pouco constrói o Reino de Deus.
É certo que a fé, «sem cotação na bolsa», não contando no mercado, pode parecer até – como nos lembrava Eduard – que «não serve para nada». Mas, a fé é um dom que mantém viva esta certeza profunda e estupenda: a nossa pertença a Deus como filhos, e filhos muito amados. Deus ama com amor de Pai. Cada vida, cada um de nós pertence-Lhe. É uma pertença de filhos, mas também de netos, esposos, avós, amigos, vizinhos; uma pertença de irmãos. O maligno divide, dispersa, separa e cria discórdia, semeia desconfiança. Quer que vivamos «longe» dos outros e de nós mesmos. Pelo contrário, o Espírito lembra-nos que não somos seres anónimos, abstratos, seres sem rosto, sem história, sem identidade. Não somos seres vazios, nem superficiais. Existe uma rede espiritual muito forte que nos une, «coneta» e apoia, sendo mais forte do que qualquer outro tipo de conexão. São as raízes: saber que pertencemos uns aos outros, que a vida de cada um está ancorada à vida dos outros. «Os jovens florescem, quando são verdadeiramente amados»: dizia Eduard. Todos nós florescemos, quando nos sentimos amados. Porque o amor cria raízes e convida-nos a criá-las na vida dos outros. Como mostram aquelas belas palavras do vosso poeta nacional, em que almejava à sua doce Roménia: «Que os teus filhos vivam unicamente em fraternidade, como as estrelas da noite» (M. Eminescu, O que te desejo, doce Roménia). Nós pertencemos uns aos outros, e a felicidade pessoal provém de fazer os outros felizes. Tudo o resto não passa de fábulas…
Para caminhar juntos no lugar onde estás, não te esqueças de tudo aquilo que aprendeste em família.
Isto fez-me recordar a profecia dum eremita santo destas terras. Um dia, o monge Galaction Ilie do Mosteiro Sihăstria, caminhando com as ovelhas pela montanha, encontrou um eremita santo que conhecia e perguntou: «Padre, quando será o fim do mundo?» E o venerável eremita, com um suspiro vindo do coração, disse: «Padre Galaction, sabes quando será o fim do mundo? Quando não houver sendas do vizinho ao vizinho! Isto é, quando já não houver amor cristão e compreensão entre irmãos, parentes, cristãos e entre povos! Quando as pessoas já não amarem, será verdadeiramente o fim do mundo. Porque sem amor e sem Deus nenhum homem pode viver sobre a terra!»
A vida começa a apagar-se e corromper-se, o nosso coração cessa de bater e estiola, os idosos deixarão de sonhar e os jovens de profetizar quando não houver sendas do vizinho ao vizinho… Porque sem amor e sem Deus, nenhum homem pode viver sobre a terra.
Dizia-nos Eduard que ele, como tantos outros do seu país, tenta viver a fé no meio de numerosas provocações. Verdadeiramente são tantas as provocações, que podem desencorajar-nos e levar a fechar-nos em nós mesmos. Não podemos negá-lo, não podemos fazer de conta que não são nada. As dificuldades existem e são evidentes. Mas isto não pode fazer-nos perder de vista que a maior das provocações no-la dá a fé: e, longe de te fechar ou isolar em ti mesmo, faz germinar o melhor de cada um. O Senhor é o primeiro a provocar-nos e a dizer-nos que o pior acontece, quando «não houver sendas do vizinho ao vizinho», quando abrirmos mais trincheiras do que estradas. O Senhor é Aquele que nos dá um canto mais forte do que o de todas as sereias que querem paralisar o nosso caminho; e fá-lo assim: entoando um canto mais belo e fascinante.
A todos nós, o Senhor dá uma vocação que é uma provocação para nos fazer descobrir os talentos e as capacidades que possuímos a fim de os colocarmos ao serviço dos outros. Pede-nos para usar a nossa liberdade como liberdade de escolha, para dizer «sim» a um projeto de amor, a um rosto, a um olhar. Esta é uma liberdade muito maior do que poder consumir e comprar coisas. Uma vocação que nos põe em movimento, nos faz derrubar trincheiras e abrir caminhos que nos lembrem a referida pertença de filhos e irmãos.
Na Idade Média, desta capital histórica e cultural do país, partia-se juntos como peregrinos pela Via Transilvana, rumo a Santiago de Compostela. Hoje, vivem aqui muitos estudantes de várias partes do mundo. Recordo de me dizerem, num encontro virtual em março com Scholas Occurentes, que, durante este ano, a capital nacional da juventude é esta cidade. Dois elementos ótimos: uma cidade que, historicamente, sabe abrir e iniciar processos e uma cidade que sabe hospedar jovens de várias partes do mundo, como sucede atualmente. Duas caraterísticas que lembram as potencialidades e a grande missão que podeis desenvolver: abrir estradas para caminhar juntos e levar por diante aquele sonho que é profecia: sem amor e sem Deus, nenhum homem pode viver sobre a terra. Hoje, daqui, podem ainda partir novas vias do futuro rumo à Europa e a muitos outros lugares do mundo. Peregrinos do século XXI, capazes de nova imaginação dos laços que nos unem.
Entretanto não se trata de criar grandes programas ou projetos, mas deixar crescer a fé. Como vos dizia ao princípio, a fé não se transmite apenas com as palavras, mas com gestos, olhares, carícias como as das nossas mães, das nossas avós; com o sabor das coisas que aprendemos em casa, de maneira simples e genuína. Nos lugares onde houver muito rumor, que saibamos escutar; onde houver confusão, que inspiremos harmonia; onde tudo se reveste de ambiguidade, que possamos levar clareza; onde houver exclusão, que levemos partilha; no meio do sensacionalismo, das mensagens e notícias rápidas, que nos preocupemos com a honra dos outros; no meio da agressividade, que demos prioridade à paz; no meio da falsidade, que levemos a verdade; que em tudo, em tudo, privilegiemos a abertura de caminhos para sentir esta pertença de filhos e irmãos (cf. Francisco, Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações de 2018).
A Romênia é o «jardim da Mãe de Deus», como pude dar-me conta neste encontro, porque Ela é Mãe que cultiva os sonhos dos filhos, que guarda as suas esperanças, que irradia a alegria na casa. É Mãe carinhosa e concreta, que cuida de nós. Vós sois a comunidade viva e próspera, cheia de esperança, que podemos dar de prenda à Mãe. A Ela consagramos o futuro dos jovens, das famílias e da Igreja. Mulţumesc! [Obrigado!]
Papa na Romênia: uma sociedade é civil quando cuida dos mais pobres
Cidade do Vaticano – O Papa Francisco deixou o Vaticano, na manhã desta sexta-feira (31/5), para mais uma Viagem Apostólica do seu Pontificado, é a sua 30ª viagem, que o leva à Romênia. Depois da acolhida no aeroporto de Bucareste o Papa fez uma visita de cortesia ao Presidente romeno Klaus Werner Iohannis no Palácio presidencial, local do encontro com as Autoridades, a Sociedade civil, os Representantes de várias confissões religiosas e o Corpo Diplomático.
Após as palavras de boas-vindas do Presidente, o Papa Francisco pronunciou seu discurso expressando sua alegria: “ Estou feliz por me encontrar nesta “ţară frumoasă, terra formosa, vinte anos depois da visita de São João Paulo II e no semestre em que a Romênia – pela primeira vez desde que começou a fazer parte da União Europeia – preside ao Conselho Europeu”.
Depois de lembrar dos 30 anos passados desde que a Romênia se libertou do regime que oprimia a liberdade civil e religiosa, o Papa elogiou a reconstrução e o trabalho feito através “do pluralismo das forças políticas e sociais e do seu diálogo mútuo através do reconhecimento fundamental da liberdade religiosa e da plena integração do país no mais amplo cenário internacional”.
Fenômeno da emigração
Porém continuou Francisco, “É preciso reconhecer que as transformações, tornadas necessárias pela abertura de uma nova era, acarretaram consigo – juntamente com as conquistas positivas – o aparecimento de inevitáveis obstáculos que se devem superar e de consequências para a estabilidade social e a própria administração do território nem sempre fáceis de gerir ”
Neste ponto recordou o fenômeno da emigração da população à procura de novas oportunidades de trabalho, levando ao “despovoamento de muitas localidades” que pesa inevitavelmente “na qualidade de vida em tais terras e enfraquecimento das raízes culturais e espirituais que sustentam nas adversidades”.
Caminhar juntos
Para enfrentar estes problemas, afirma o Papa “é preciso aumentar a colaboração positiva das forças políticas, econômicas, sociais e espirituais”. “ É necessário caminhar juntos e que todos se comprometam, convictamente, a não renunciar à vocação mais nobre a que deve aspirar um Estado: ocupar-se do bem comum do seu povo ”
“Assim – continua o Pontífice – pode-se construir uma sociedade inclusiva, na qual cada um, disponibilizando os seus próprios talentos e competências (…) se torne protagonista do bem comum”. De fato, conclui “quanto mais uma sociedade se dedica aos mais desfavorecidos, tanto mais se pode dizer verdadeiramente civil”.
Papa faz discurso às Autoridades na Romênia
E para alcançar estes objetivos: “É preciso que tudo isto tenha uma alma, um coração e uma direção clara de marcha, imposta, (…) pela consciência da centralidade da pessoa humana e dos seus direitos inalienáveis”. E o Papa continua “para um desenvolvimento sustentável harmonioso (…) não é suficiente atualizar as teorias econômicas, nem bastam – apesar de necessárias – as técnicas e capacidades profissionais. Com efeito, trata-se de desenvolver, juntamente com as condições materiais, a alma de todo o povo”.
A Igreja Católica quer dar a sua contribuição
“ Neste sentido as Igrejas cristãs podem ajudar a reencontrar e alentar o coração pulsante de onde fazer fluir uma ação política e social que parta da dignidade da pessoa e leve a empenhar-se, leal e generosamente, pelo bem comum da coletividade”.
Por fim, falando do trabalho das Igrejas cristãs esclarece que “a Igreja Católica quer colocar-se neste sulco, quer dar a sua contribuição para a construção da sociedade, deseja ser sinal de harmonia, esperança de unidade e colocar-se ao serviço da dignidade humana e do bem comum”.
O Papa concluiu o seu discurso desejando à Romênia “paz e prosperidade” e invocando sobre “toda a população abundância de bênçãos divinas”.
Papa pede perdão aos ciganos pelas discriminações
O último compromisso do Papa Francisco na Romênia, neste domingo (02/06), foi o encontro com a Comunidade Cigana no bairro Lautaro, em Blaj. Após o testemunho de um sacerdote greco-católico cigano, o Pontífice iniciou o seu discurso ressaltando que “a Igreja é lugar de encontro. Precisamos lembrar isso, não como um bonito slogan, mas como parte da nossa carteira de identidade de cristãos”.
É na indiferença se alimentam preconceitos
“O Evangelho transmite-se na alegria de encontrar-se e saber que temos um Pai que nos ama. Sob o olhar d’Ele, compreendemos como olhar-nos entre nós. No coração, porém, trago um peso”, sublinhou Francisco que acrescentou: “É o peso das discriminações, segregações e maus-tratos sofridos por suas comunidades. A história nos diz que os cristãos, os católicos não são alheios a tanto mal. Quero pedir perdão por isso.”
“Em nome da Igreja, peço perdão, ao Senhor e a vocês, por todas as vezes que, ao longo da história, os discriminamos, maltratamos ou os consideramos de forma errada, com o olhar de Caim em vez do de Abel, e não fomos capazes de os reconhecer, apreciar e defender na sua peculiaridade.”
O Pontífice frisou que “a Caim, não importa o irmão. É na indiferença que se alimentam preconceitos e fomentam rancores. Quantas vezes julgamos, imprudentemente, com palavras que doem, com atitudes que semeiam ódio e criam distâncias! Quando se deixa alguém para trás, a família humana não avança. Não somos completamente cristãos, nem sequer humanos, se não soubermos ver a pessoa antes de suas ações, antes dos nossos juízos e preconceitos”.
Escolhamos o caminho de Jesus
“Sempre houve, na história da humanidade, Abel e Caim. Há a mão estendida e a mão que fere. Há a abertura do encontro e o fechamento do desencontro. Há a hospitalidade e há o descarte. Há quem vê no outro um irmão e quem nele vê um obstáculo no próprio caminho. Há a civilização do amor e há a do ódio. Todos os dias, há que escolher entre Abel e Caim”.
Todos os dias temos de fazer uma escolha: “Seguir o caminho da reconciliação ou o da vingança. Escolhamos o caminho de Jesus; trata-se dum caminho que exige esforço, mas é o caminho que conduz à paz. E passa através do perdão. Não nos deixemos arrastar pelos ressentimentos que incubamos dentro de nós: não demos qualquer espaço ao rancor. Porque nenhum mal resolve outro mal, nenhuma vingança satisfaz uma injustiça, nenhum ressentimento faz bem ao coração, nenhum fechamento aproxima”.
Francisco disse aos ciganos que como povo, eles têm um papel de protagonista a ser assumido e não devem ter medo de partilhar e oferecer as caraterísticas específicas que moldam e marcam o seu caminho: “O valor da vida e da família em sentido alargado; a solidariedade, a hospitalidade, a ajuda, o apoio e a defesa dos mais frágeis no seio da sua comunidade; o respeito e a valorização dos idosos; o sentido religioso da vida, a espontaneidade e a alegria de viver”.
Construção de um mundo mais humano
O Papa os convidou “a caminhar juntos, lá onde estiverem, na construção dum mundo mais humano, superando medos e desconfianças, deixando cair as barreiras que nos separam uns dos outros, alimentando a confiança recíproca na busca, paciente e nunca vã, da fraternidade. A esforçar-se por caminhar juntos com dignidade: a dignidade da família, a dignidade de ganhar o pão de cada dia e a dignidade da oração. Sempre olhando para frente”.
“Este encontro é o último de minha visita à Romênia. Vim a este país lindo e acolhedor como peregrino e irmão para encontrar o seu povo. Agora volto para casa enriquecido, levando comigo recordações de lugares e momentos, mas sobretudo de rostos. Os seus rostos vão colorir as minhas recordações e povoarão a minha oração”, concluiu Francisco.
OS MÁRTIRES DA ROMÊNIA
Ao chegar a Sibiu, o Papa embarcou num helicóptero e foi a Blaj, onde beatificou sete bispos greco-católicos mártires romenos, durante a Divina Liturgia, celebrada no Campo da Liberdade.
Os sete bispos greco-católicos mártires beatificados são: Vasile Aftenie (1899-1950), bispo titular de Ulpiana e bispo auxiliar da Arquieparquia de Alba Iulia e Făgăraș; Valeriu Traian Frenţiu (1875-1952), bispo de Oradea; Ioan Suciu (1907-1953), administrador apostólico da Arquieparquia de Alba Iulia e Făgăraș; Tit Liviu Chinezu (1904-1955) bispo auxiliar da Arquieparquia de Alba Iulia e Făgăraș; Ioan Bălan (1880-1959), bispo de Lugoj; Alexandru Rosu (1884-1963), bispo de Maramureș; e Iuliu Hossu (1885-1970), bispo de Cluj Gherla.
Do voo Sibiu-Roma
Há necessidade da solidariedade mundial
“A Europa volte a ser o sonho dos Pais fundadores” é o desejo que o Papa Francisco expressou no final da coletiva de imprensa no voo para Roma, na conclusão da sua viagem à Romênia. No início do diálogo com os jornalistas, o Pontífice recordou o Dia das Comunicações Sociais que se celebra neste domingo.
“Hoje, este dia recorda vocês, o nosso pensamento vai a vocês: vocês que trabalham na comunicação são operadores e são, ou deveriam ser, testemunhas da comunicação. Hoje a comunicação vai para trás, em geral. Vai mais longe no “contato”, fazer “contatos” e não conseguir comunicar. Vocês, por vocação, são testemunhas da comunicação, devem fazer “contatos”, mas devem comunicar. Um pouco menos de contatos e mais comunicação…”.
Diana Coada Dumitrascu, da TVR
Milhões de compatriotas nossos emigraram nos últimos anos. Qual é a sua mensagem para uma família que deixa seus filhos para trabalhar no exterior?
“Isso me faz pensar na família que se separa, há sempre nostalgia de se encontrar. Separar-se para que não falte nada aos filhos é um ato de amor. Ontem ouvimos aquela senhora que trabalhava no estrangeiro para ajudar a sua família: é sempre uma situação dolorosa, partem por necessidade. E muitas vezes esses são os resultados de uma política mundial que incide sobre isto. Conheço a história do seu país após a queda do comunismo e, depois, muitas empresas estrangeiras fecharam as portas para abrirem em outro lugar e ganhar mais. Fechar uma empresa e deixar as pessoas na rua. Esta é também uma injustiça mundial, geral: é falta de solidariedade. Há sofrimento, não é fácil na atual situação mundial, oferecer oportunidades de emprego, e pensar que se vocês têm uma taxa de natalidade impressionante, não se vê aqui o Inverno demográfico! E é uma injustiça não ter trabalho para tantos jovens. Por isso, faço votos de que esta situação, que não depende só da Romênia mas da ordem financeira mundial, seja resolvida. Muitas pessoas ficam sozinhas. Há necessidade da solidariedade mundial e, neste momento, a Romênia está na Presidência da União Europeia”.
Cristian Micaci de Radio Maria – Romênia
Falou-se muito em caminhar juntos, agora gostaria de lhe perguntar o que nos aconselha: qual deveria ser a relação entre as confissões, entre católicos e ortodoxos? Quais são as relações entre os vários grupos étnicos e o mundo político?
“Eu diria a relação da mão estendida, quando há conflitos. Hoje no país há um alto nível de nascimentos, se deve fazer um processo de aproximação entre diferentes grupos étnicos, confissões religiosas, compromisso, mãos estendidas, escutar o outro. Com os ortodoxos: vocês têm um grande patriarca, um homem de grande coração, um grande estudioso, conhece a mística dos pais do deserto, a mística espiritual, estudou na Alemanha e é também um homem de oração. É fácil aproximar-se de Daniel. Conversamos como irmãos. Caminhamos juntos! Tendo sempre esta ideia: o ecumenismo não é chegar ao fim do jogo, das discussões. Isso se faz caminhando, andando juntos, rezando juntos. Temos na história o ecumenismo de sangue: quando matavam os cristãos não perguntavam: você é católico? Você é ortodoxo? Você é luterano? Eles perguntavam: você é cristão? Há o ecumenismo do testemunho, do sangue e depois o ecumenismo dos pobres, trabalhando juntos para ajudar os pobres, os doentes, os enfermos, como lemos no capítulo 25 de Mateus. Caminhar juntos, mas não esperar que os teólogos cheguem a um acordo para chegar à Eucaristia comum. O ecumenismo se faz junto com as obras de caridade e querendo-se bem. Em uma cidade da Europa havia uma boa relação entre o arcebispo católico e o arcebispo luterano. O católico devia vir ao Vaticano no domingo à noite. Ele me ligou e me disse: “Vou chegar na segunda-feira, porque o luterano me disse que tinha que partir e me pediu: “Pode vir à minha catedral e fazer o culto?”. E ele o fez. Quando eu estava em Buenos Aires, fui convidado pela Igreja Escocesa para pregar em suas funções. Podemos caminhar juntos: unidade, fraternidade, mão estendida, não falar dos outros. Todos temos defeitos”.
Xavier Le Normand, de I-Media
No primeiro dia o senhor foi à catedral ortodoxa, um momento bonito, mas no momento da oração do Pai Nosso foi um pouco difícil, porque vocês estavam juntos, mas não rezavam juntos. No que o senhor pensou quando ficou em silêncio durante o Pai Nosso em romeno?
“Farei uma confidência, eu não fiquei em silêncio, rezei o Pai Nosso em italiano e vi a maioria das pessoas rezando seja em romeno seja em latim. As pessoas vão além de nós, líderes. Nós líderes devemos fazer equilíbrios diplomáticos para garantir que caminhamos juntos, há hábitos, é bom conservar para que as coisas não se arruínem, mas as pessoas também rezam juntas, também nós quando estamos sozinhos rezamos juntos. Uma experiência que tive com muitos pastores e ortodoxos. Sim, temos pessoas fechadas que dizem que os ortodoxos são cismáticos: são coisas velhas. Há grupos católicos que são um pouco integristas, devemos rezar ao Senhor por eles. Mas eu, na catedral, eu rezei”.
Manuela Tulli, da ANSA
Nestas eleições, líderes como o italiano Salvini fizeram campanha mostrando símbolos religiosos, Terços, cruzes, consagrações ao Coração Imaculado. O que o senhor pensou sobre isso? É verdade que não quer encontrá-lo?
“Não recebi ninguém do governo, exceto o primeiro-ministro Conte que fez pedido de acordo com o protocolo. Foi uma boa audiência, de uma hora de duração. Ele é um homem inteligente, professor, ele sabe do que está falando. Dos vice-premiers e outros ministros não recebi pedidos de audiência. Sobre as imagens da campanha eleitoral: já confessei que muitas vezes leio o jornal do “partido” que é “L’Osservatore Romano”, e li há chaves interpretativas muito interessantes. E depois o “Messaggero” que eu gosto porque tem títulos grandes… Eu folheio-o assim. Eu não entrei nessas notícias, na propaganda, como um partido fez, como outro partido fez… Confesso que sou ignorante, não posso dar uma opinião sobre as atitudes da campanha eleitoral de um dos partidos. Rezo por todos para que a Itália avance e que os italianos se unam, que sejam leais ao seu compromisso. Sou italiano porque sou filho de emigrantes italianos, todos os meus irmãos têm cidadania, eu não pude tê-la porque, neste meio tempo, me tornei bispo… Há na política de tantos países a doença da corrupção, em todos os lugares, em todos os lugares, mas não digam que eu disse que a política italiana é corrupta! Isto é universal. Uma vez disseram-me como são os acordos políticos: imaginem uma reunião, com nove empresários sentados à mesa. Eles discutem para concordar sobre o desenvolvimento de suas empresas, no final após horas e horas eles entram em acordo. Enquanto imprimem o acordo, tomam uísque, e enquanto passam os papéis para assinar, debaixo da mesa eu faço outro acordo. Isto é corrupção: devemos ajudar os políticos a serem honestos e a não fazer campanha com bandeiras desonestas, calúnias, difamações, escândalos, e tantas vezes semeiam ódio e medo. Isto é terrível. O político não deve semear ódio e medo, somente esperança, correta, exigente, mas somente esperança.
Eva Maria Huescar Fernandez, da Rádio Cope
Com os jovens, o senhor insistiu sobre a relação com os avós para que os jovens tenham raízes e os avós possam sonhar. O senhor não tem uma família perto, mas disse que para o senhor Bento XVI é como um avô. Continua a vê-lo assim?
“Cada vez que vou visitá-lo, faço-o falar, ele fala pouco, fala lentamente com a mesma profundidade de sempre, tem uma grande lucidez e eu ouvindo ele falar, torno-me forte: o sumo da raiz ajuda-me a ir para frente. A tradição é como as raízes que lhe dão o sumo para crescer, você vai florir! A tradição está sempre em movimento: em uma entrevista que Monda fez há alguns dias no L’Osservatore Romano, há uma citação que eu gostei muito, de Gustav Malher: falando de tradições, dizia que “a tradição é a garantia do futuro e não a custódia das cinzas”. A tradição conserva não as cinzas, esta é a nostalgia dos integristas, mas são as raízes que permitem que a árvore cresça. Tudo o que a árvore tem fora vem do que tem debaixo da terra. Contei-lhes sobre o episódio da avó que vi ontem na praça de Iasi, que estava mostrando seu neto e me olhou com cumplicidade. Devia tê-la convidado para vir à frente…. O nosso bom fotógrafo Francesco tirou a fotografia e agora é pública, vi-a no Vatican Insider. Quando os jovens têm raízes, os avós podem sonhar”.
Lucas Franz Helmut Wiegelmann de Herder Korrespondenz
Nestes dias o senhor falou de fraternidade das nações e de caminhar juntos, mas vemos que na Europa há um número crescente de pessoas que não desejam a fraternidade e preferem caminhar sozinhas. O que podemos fazer para mudar?
“Perdoem-me por me citar, mas falei deste problema em Estrasburgo e quando recebi o Prêmio Carlos Magno e depois o discurso com os Chefes de Estado e de Governo na Sistina por ocasião do aniversário dos pactos europeus. E há também um quinto discurso, o do Burgomestre de Achen. A Europa não deve dizer: arranjem-se vocês e avancem: todos somos responsáveis pela União Europeia e a circulação da Presidência da UE não é um gesto de cortesia, mas sim um símbolo da responsabilidade de cada um dos países. Se a Europa não for grande face aos desafios futuros, ficará murcha. Eu disse que a Europa, de mãe está se tornando a vovó Europa. Talvez alguém escondido pode se perguntar: não será este o fim da aventura que começou há 70 anos? É preciso retomar a mística dos pais fundadores, reencontrar-se e superar as divisões das fronteiras. Estamos vendo fronteiras na Europa e isso não é bom, é verdade que cada país tem a sua própria identidade e deve preservá-la, mas, por favor, a Europa não se deixe vencer pelo pessimismo e pelas ideologias, porque é atacada por ideologias, e nascem grupinhos na Europa. Pensem numa Europa dividida, vamos aprender com a história, não voltemos atrás.
No final da entrevista, o Papa quis dizer “obrigado à chuva” por lhe ter permitido – obrigando-o a fazer longas viagens de carro – ver a “bela paisagem da Romênia”. E concluiu: “Digo a vocês: rezem pela Europa, que o Senhor nos dê a graça: espero sinceramente que a Europa volte a ser o sonho dos pais fundadores”.
(resumo não oficial recolhido por Andrea Tornielli, da Vatican News)