Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Trinta anos de “Paz e Bem” em Angola

Angola celebra 30 anos

“Estão dispostos a renunciar seus modos culturais de viver, fazendo todo o esforço para levar a ‘Paz e o bem’ na convivência plena com a nova cultura?” A provocação foi feita pelo Ministro Provincial, Frei Estêvão Ottenbreit, aos três missionários – Frei Plínio Gande da Silva, Frei José Zanchet e Frei Pedro Caron – na Missa do Envio, no dia 16 de setembro de 1990, no Seminário de Agudos.

Os três missionários também “renunciaram” ao medo de enfrentar uma guerra civil na viagem ao país africano. Embebidos do mesmo espírito missionário, heroico e destemido dos primeiros discípulos da Ordem, os frades brasileiros chegaram em Luanda no dia 25 de setembro de 1990, há exatos 30 anos.“Na época tínhamos bem presente uma carta que o então Ministro Geral, John Vaughn, escrevera em 1982 com o título ‘A África nos chama’. Esta carta foi motivada pela constatação que a Ordem estava espalhada pelo mundo inteiro, mas muito reduzida no continente africano. Inicialmente até voltamos nossos olhares para Guiné Bissau, onde já estavam franciscanos italianos e portugueses. Depois se achou melhor ir para Angola onde ainda não havia uma presença OFM”, recordou Frei Estêvão na entrevista que deu ao completar 25 anos da Missão.O Ministro Geral, Frei João Vaughn, no documento citado, dizia: “Uma presença mais intensa na África nos faz estarmos presentes, de um modo positivo e de fato, entre os povos que passam fome, que não têm casa, entre os enfermos, os analfabetos, as vítimas da guerra e da tirania. São Francisco e seus seguidores podem dar uma ajuda, mas sobretudo muita esperança, alegria e principalmente paz. Queira Deus conceder-nos a graça de sermos hoje grandes pacificadores”.
Nesta missão pacificadora, a irmã morte visitou e assustou os confrades quando, em 4 de janeiro de 1993, faleceu Frei Lotário Neumann, em Luanda, vítima de um quadro com várias complicações, agravado ainda por um paludismo. Outro susto veio quando Frei Valdir Nunes sofreu um atentado em Quibala. Os frades tiveram de deixar Quibala, mas não deixaram Angola.Em meio às “intempéries” da história, a semente franciscana já estava lançada no solo angolano. Os frutos logo começaram a surgir e, em 1996, era instalado o Aspirantado em Malange e, no ano seguinte, o Postulantado em Quibala. Frei Afonso Katchekele Quessongo foi o primeiro angolano a fazer a Profissão Solene. Hoje, a Fundação tem 134 formandos, sendo 24 no Noviciado.Em 3 de julho de 2008, a Ordem dos Frades Menores assinou decreto reconhecendo a Fundação Mãe de Deus de Angola. Dez anos depois, essa Fundação vivia mais dois momentos históricos: a eleição de Frei António Boaventura Zovo Baza, o primeiro frade angolano a presidir a entidade, e a criação do Noviciado em Quibala.Na foto maior, celebração no Kimbo São Francisco, em Luanda.Na foto do texto, a chegada dos primeiros missionários brasileiros a Malange, em Angola 

Mensagem do Ministro Provincial

Missão é sempre partir…

Caros confrades e demais irmãs e irmãos, leitores das Comunicações de nossa Província,
Paz e Bem!

Este é o título da poesia de Dom Hélder Câmara, o “Santo Rebelde”, que ilustra a contracapa da revista comemorativa pelos 25 anos de Missão Franciscana em Angola, publicado em 2015. Cinco anos depois, eis-nos aqui, celebrando os 30 anos desta iniciativa que nasceu no coração de nossa Província como gesto de gratidão por ocasião do centenário de sua restauração pelos frades alemães, comemorado em 1991. Somos fruto da vocação missionária de nossa Ordem, primeiro pelos portugueses, depois pelos alemães.

Além deste marco histórico, também ressoava na mente e no coração dos frades de nossa Província os apelos da Carta “A África nos chama”, escrita pelo Ministro Geral, Frei John Vaughn, em 1981, por ocasião do VIII centenário do nascimento de São Francisco. Neste documento vemos o apelo para que a Ordem intensificasse sua presença no Continente: “Em nosso caso, esperamos saber mais do Francisco africano e dos pontos de vista e da experiência daqueles valores que reconhecemos como parte de nossa identidade franciscana”, escreveu Frei John Vaughn à época, manifestando sua expectativa de conferir ao carisma franciscano um rosto africano.

Destacando esta providencial coincidência, o Ministro Provincial por ocasião do nascimento da Missão em Angola, Frei Estêvão Ottenbreit, recordou, em entrevista à Revista dos 25 anos: “Então, juntaram-se duas coisas: o motivo do centenário e a carta ‘A África nos chama’. O centenário nos deu o motivo, e a carta, a direção e o modo de como deveríamos estar presentes em Angola. (…) Uma presença, portanto, como irmãos e menores, partilhando o carisma com jovens dispostos a abraçá-lo e dando-lhe um rosto angolano”.

E assim se fez. Depois de muitas correspondências, conversas e tratativas, no dia 25 de setembro de 1990, pisaram em solo angolano, nossos três primeiros missionários: Frei José Zanchet, Frei Plínio Gande da Silva e Frei Pedro Caron. Os dois primeiros já partiram em missão para a eternidade, Frei José Zanchet, em 2017, e Frei Plínio, aos 03 de fevereiro deste ano. Frei Pedro Caron faz parte atualmente da Fraternidade Franciscana São Francisco Solano, em Curitibanos, SC. No mesmo ano, a Missão recebeu o reforço de Frei Juvenal Sansão, vindo de outra missão, em Guiné-Bissau. Hoje, aos 93 anos, Frei Juvenal reside atualmente na Fraternidade São Francisco de Assis, em Bragança Paulista. A estes pioneiros que partiram com poucas garantias, mas muita ousadia, a nossa profunda gratidão.

Ao longo dos anos, a eles foram se somando tantos outros irmãos que gastaram boa parte de suas vidas no impulso desta Missão, e foram acolhendo as vocações franciscanas angolanas, enviadas por Deus. Hoje temos uma entidade vigorosa, a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola – FIMDA, e com um presidente angolano, Frei António Boaventura Zovo Baza. Nossa Província é hoje agraciada com a presença em seus números de 73 frades angolanos.

Trinta anos depois, sobram-nos motivos para rendermos graças a Deus pelos inúmeros benefícios realizados no decorrer desta história abençoada. Somos profundamente gratos:

♦ Pelos tantos irmãos missionários que abraçaram e abraçam com entusiasmo nossa Missão em Angola.

♦ Pelo dom da vocação dos confrades angolanos que vieram se achegando e hoje formam conosco uma mesma e única fraternidade, agora ainda mais completa e enriquecida por diferentes culturas, sotaques e línguas.

♦ Pelo povo de Deus presente em nossas áreas de missão, que dia após dia nos evangelizam com a esperança e a generosidade cultivadas mesmo diante de grandes desafios.

♦ Pelos benfeitores que, ao partilhar do pouco ou muito que possuem, tornam-se missionários conosco.
Por nossas fraternidades, atividades evangelizadoras e casas de formação, manifestação visível da presença de nosso carisma nestas terras.

♦ Pelo olhar materno e cuidadoso de Maria, a Mamma Muxima, Imaculada Conceição e Imaculada Mãe de Deus. Ela foi e continua sendo presença intercessora e cheia de graça em cada passo da missão.

Que Deus, em sua infinita Bondade, faça chegar nossa gratidão ampla e irrestrita a todos (as) que deixaram seu nome marcado nesta divina aventura.

Se a gratidão é abundante, sobram também os desafios. Conscientes de que “Missão é sempre partir”, permanece para nós o compromisso de sermos uma “Província em Saída”, conforme aponta a segunda prioridade de nosso Plano de Evangelização. Que, ao celebrarmos esta data festiva, peçamos ao Senhor que desperte em nossos corações a coragem missionária de partir e o desejo de servi-Lo para além dos limites de nossa pátria e cultura.

FREI CÉSAR KÜLKAMP, MINISTRO PROVINCIAL

Entre a guerra civil e a pandemia da Covid-19

Dois momentos marcam a Missão: A guerra civil e a pandemia

Frei José Cambolo

Em Angola, os frades estão celebrando a graça dos 30 anos de missão. São vários os motivos de ação de graças a Deus pelo dom da vocação e missão, pela coragem, disposição e entrega dos frades missionários! O primeiro grupo de frades missionários pisou o solo angolano aos 25 de setembro de 1990. Neste período, o país enfrentava o quadro mais triste e repugnante de sua história: a guerra civil, com vidas e sonhos sendo destruídos, irmãos matando os próprios irmãos, o sono era perturbado e o amanhã era incerto. E é neste contexto, com o intuito de partilhar a vida e os ideais franciscanos, que a Província da Imaculada Conceição do Brasil, sem poupar esforços, com muita fé e vontade dá um passo significante na sua história: início de uma missão na África, Angola, em plena guerra civil. Neste ano, ao celebrar os trinta anos, a pandemia da Covid-19 pinta mais uma vez a história missionária dos frades. Desta vez, o contexto é diferente: não é o de uma “guerra civil”, mas é o de uma pandemia do coronavírus, que ameaça a integridade humana no mundo todo, embora afeta, com certeza, os mais vulneráveis, os países em desenvolvimento, neste caso, Angola. Tanto a guerra civil quanto a pandemia da Covid-19 incidiram diretamente no processo de evangelização e missão da FIMDA. As incertezas, inseguranças e as dificuldades oriundas dos mesmos são um processo de revitalização da nossa fé, pois não somos autossuficientes, somos dependentes do Senhor. Nosso projeto de vida, nossos sonhos, nossas expectativas fora d’Ele nada acontece.

O novo coronavírus está afetando todas as pessoas e todas as nações. Diz-se que ele não tem preferência, não escolhe classe social, religião, cor etc, e afeta a qualquer um, independente do estrato social, mas os seus efeitos sociais afetam principalmente os mais pobres.

Angola, assim como as demais nações, está lutando ferrenhamente contra esse vírus letal. Desde cedo, as autoridades implementaram medidas de segurança de modo a impedir o contágio e a proliferação do vírus. São medidas duras como: cerca sanitária na Província de Luanda e Kwanza Norte, diminuição de força de trabalho, proibição de aglomeração de pessoas, suspensão de aulas, proibição de reuniões, suspensão de atividades religiosas, desportivas e de lazer, o uso obrigatório de máscaras etc, apesar de algumas vezes as forças de segurança pública exagerarem na cobrança das mesmas. Contudo, as medidas aplicadas ajudaram muito, já que o país registrou, até o dia 15 de setembro, 3.569 casos confirmados; 2.094 em tratamento; 1.332 recuperados e 139 mortos.

Desde o início das restrições o estilo de vida mudou completamente. As dificuldades surgiram, o desemprego cresceu, os preços dos produtos básicos subiram, a fome e a violência reapareceram tremendamente. Apesar de tudo isso, creio que a caridade reacendeu os corações dos angolanos. A dimensão solidária bantu se faz sentir. O pouco chega para todos. O ser humano angolano, na medida do possível, procura adaptar-se para poder sobreviver, sem perder a esperança de um amanhecer cada vez melhor. Apesar das dificuldades não perdeu a alegria de viver e a beleza de amar, de crer num dia maravilhoso. Afinal de contas o angolano jamais “perde” a fé, a esperança e a caridade. O angolano sempre vai à luta, jamais cruza os braços, não desiste! Numa palavra, o angolano é um com o outro, está sempre em comunhão com o seu próximo!

É neste contexto de “guerra”, seja ela civil ou pandêmica, que a nossa missão tem procurado testemunhar o amor de Deus no meio do povo angolano. Durante esses trinta anos, uma marca característica das nossas Fraternidades é a aproximação ao povo, principalmente dos mais sofridos. Os frades, como Menores, estão entre os menores, para, com eles, realizar a vocação franciscana. Essa constatação vem do próprio povo. E, neste sentido, o povo é grato por fazer parte, de uma ou de outra maneira, da vida dos frades. E mais ainda os frades são gratos pelo ensejo de realizar a própria vocação com o povo.
Não são poucas vezes que o povo pergunta por frades que passaram pela missão nos seus primórdios, que já estão no Brasil como Frei Odorico, Frei Pedro Caron, ou já contemplam a Deus, face a face, como Frei Hermenegildo, Frei Simão Laginski, Frei José Zanchet e Frei Plínio. Esses e tantos outros frades marcaram a história da missão. São memórias que jamais se apagarão e não poderíamos deixar de frisar!

Assim como há trinta anos, ao iniciar a missão em Angola, o país encontrava-se em guerra, ao comemorar este momento de graça está enfrentando o novo coronavírus. São anos de entrega, de desafios e, sobretudo, de testemunho de vida franciscana. Temos muito o que agradecer e pedir ao Altíssimo Onipotente Bom Senhor para que a nossa vida e missão seja agraciada com seu imenso amor. Temos muito que agradecer à Província pelo empenho e cuidado da missão, sempre disposta a nutri-la com os bens espirituais e materiais. Agradecer aos frades que, com suas orações, disponibilidade e testemunho continuam sustentando a natureza da vida franciscana, porque somos uma Ordem missionária, nascida para ir ao encontro dos povos do mundo inteiro.

Celebrar trinta anos de missão em meio ao novo coronavírus, vem à tona memórias do início deste maravilhoso projeto missionário lançado pela Ordem: a África nos chama! E, com certeza, a Província teve a acertada ousadia em responder: a África nos espera! Portanto, Angola foi agraciada por este projeto profético. Deus seja louvado pelas maravilhas realizadas em nossa missão!


Frei José Cambolo é guardião da Fraternidade São Francisco de Assis em Luanda.

“Somos todos colaboradores na seara do Senhor”

Os três primeiros missionários da Província, Frei Pedro, Frei José e Frei Plínio, são “considerados as colunas” (cf. Gl 2,9). Sobre este firme alicerce, muitos confrades se tornaram quais “pedras vivas na construção de um edifício espiritual” (cf. 1Pe 2,5), dentro do qual tantos jovens angolanos, à semelhança de São Francisco de Assis, puderam também ouvir as suaves e desafiadoras palavras do Crucificado: “Vai e restaura a minha casa” (cf. LM II,1,3). Talvez, não foi sem um desígnio providencial de Deus que se deu à primeira Fraternidade Franciscana em Angola o nome de São Damião. De algum modo, creio que podemos dizer também, parafraseando Tertuliano, que o sangue de Frei Lotário Neumann foi semente de novos frades, que hoje já somam 73, incluindo os 24 noviços. “Deste modo, também nós, circundados como estamos de tal nuvem de testemunhas” (cf. Hb 12,1), sentimos que nos cabe uma pequenina parcela neste imenso e colorido mosaico de experiências tão intensas que nos proporciona a evangelização missionária em Angola. Esta mesma realidade é por si só algo marcante, pois se percebe que não estamos só e que somos todos colaboradores na seara do Senhor: “Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o crescimento” (1Cor 3,6).

Frei André Luiz Henriques, Guardião da Fraternidade Franciscana do Seminário Monte Alverne, Malange.

“É tempo de semear, e semear sem medo!”

Quando os Frades chegaram em Angola, em 1990, eu tinha apenas 3 anos de idade. Aos olhos dos homens era impensável eu fazer parte dessa família que hoje, ao celebrar 30 anos, me enche de alegria. Mas, aos olhos de Deus, que sabe de todas as coisas, certamente já me tinha em seus planos para ser um Frade Menor, e por tudo isso, dou graças a Deus.
Fazer parte do grupo que testemunha a celebração dos 30 anos da FIMDA é um privilégio e, ao mesmo tempo, um desafio. Privilégio pelo fato de podermos presenciar e viver esses momentos intensos de festividades na vida da FIMDA em toda toda a Província; é um desafio, porque a história vai nos responsabilizar pelo sucesso ou, espero que assim não seja, o fracasso da FIMDA.

Os Frades que nos antecederam tiveram a coragem e ousadia de abrir e desbravar a Missão, escreveram nessa terra os seus nomes, e, muitos deles, com o próprio sangue. Suas marcas estão registradas de forma “indelével!” Nós, portanto, temos a responsabilidade de consolidar a presença da Ordem aqui em Angola. Os futuros frades darão continuidade naquilo que nós potencializarmos hoje. Para que isso se materialize, é preciso semear, semear com coragem e sem medo!
Atualmente estou ajudando na formação dos aspirantes no Seminário Franiscano Monte Alverne, em Malange. É um trabalho desafiador, mas é, ao mesmo tempo, a garantia do crescimento e continuidade da Ordem.
Graças a Deus, temos um bom número de candidatos na formação. O número de jovens que diariamente entra em contato conosco com o desejo de ser Frades Menores também é bem elevado. Estamos vivendo um momento vocacional bom. Por isso, precisamos cuidar bem desses nossos irmãos. Nem sempre a terra será fértil como está hoje. É tempo de semear, e semear sem medo!

Frei Ermelindo Francisco Bambi, orientador no Seminário Monte Alverne, Malange.

“O espírito franciscano continua a inspirar”

Tive a graça de nascer em uma família do interior, onde a fé cristã é transmitida, de maneira especial, via oral. Minha avó, Ana Ferraz (vó Dalina), que se alfabetizou depois dos 60 anos de idade só para ler a Sagrada Escritura, um dia me falou de São Francisco, que era pobre e vivia andando pelo mundo como missionário, a exemplo de Jesus Cristo. Esse São Francisco foi crescendo e se desenvolvendo dentro de minha vida, até que, por graça e inspiração divina, percebi que deveria colocar-me à disposição do Senhor e entrei no seminário para me consagrar como irmão na Ordem dos Frades Menores, com o intuito de ser um pouco parecido com São Francisco. Por isso, desde o início sempre quis partir em missão, de maneira especial na África. Com o passar dos anos na formação, a graça divina foi me conduzindo até que, em 2001, tive a oportunidade de vir para cá. De início, o que me chamou a atenção foi que, apesar da guerra, a fé, a alegria, a celebração eram sempre muito vivas e participativas. O desejo do Sagrado esteve e está sempre latente nos trabalhos apostólicos-missionários, tanto da parte dos missionários quanto do povo.

O testemunho de inspiração divina dado pelos confrades foi ganhando nome e sobrenome; fomos ganhando pais, mães e irmãos e o espírito franciscano começou a florir com os nossos irmãos angolanos. A implantação da Ordem começou a frutificar.

Hoje, o que continua a inspirar, não só a mim, mas a todos os irmãos é a entrega total a Deus no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, partilhando a nossa espiritualidade franciscana na vida fraterna, na vida de oração e devoção, no trabalho, na alegria e na esperança. O Francisco, pobre e missionário, seguidor de Jesus Cristo, que minha avó me ensinou, está cada vez mais vivo e presente em todos os seres e afazeres em terras de Angola e em todo mundo.
Como dizem os irmãos Angolanos: Estamos Juntos! Paz e bem!

Frei Ivair Bueno de Carvalho, guardião da Fraternidade Santo Antônio do Noviciado São José, Quibala.

“Fazer comunhão com os excluídos da atualidade”

Conheci os Frades Menores numa época em que estava apenas focado no sonho de ser um sacerdote, motivo pelo qual, no meu estágio vocacional em vista a admissão ao aspirantado franciscano, quando era questionado sobre o que desejava ser, respondia sempre, e com muita convicção, que desejava ser Frade Menor ordenado. Mas agora descobri que ser Frade Menor é muito mais profundo e desafiador. Pois, ser Frade Menor consiste em trilhar o seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo nas pegadas de São Francisco de Assis. É levar Cristo Jesus ao irmão a exemplo de Maria, Mãe de Jesus e nossa, que levou Nosso Senhor Jesus Cristo à sua prima Isabel.

Falando sobre o que me marcou e continua me marcando no trabalho evangelizador dos Frades Menores da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola, Província Franciscana Imaculada Conceição do Brasil, digo que são dois aspectos fundamentais que são alicerces da vida franciscana: vida e missão, aspectos estes que mexem sempre com a minha estrutura espiritual enquanto Frade Menor, chamado a anunciar o Reino de Deus a todos os povos. A espiritualidade e o carisma franciscanos, ambos constituem a forma de vida do ser franciscano (“É isso que quero é isso que desejo viver de todo o meu coração”). Este ato de ser menor dos Menores entre os menores; pobre dos Pobres entre os pobres; o ato de abraçar a renúncia de si mesmo para ganhar o maior número de almas para Deus; a busca constante do serviço ao próximo, o ato de ir ao encontro dos excluídos da atualidade para, com eles, fazer comunhão; isto marcou e continua marcando a minha vida vocacional como Frade Menor e irmão evangelizador.

Frei João Baptista Chilunda Canjenjenga, ecônomo da FIMDA e pároco em Viana.

O primeiro presidente angolano

 

Da esq. para direita: Frei André, Frei António Baza, Frei César Külkamp, Frei Ivair e Frei João

Eleito o mais jovem presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA) no IV Capítulo da entidade, no final de maio de 2019, Frei António Boaventura Zovo Baza é o primeiro angolano a presidir a entidade.
Filho de Maria Tereza Zovo e Eduardo Baza, Frei António é natural de Cabinda, onde nasceu em 25 de setembro de 1976. Foi ordenado presbítero no dia 15 de janeiro de 2012, na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Subantando. Ele é o segundo frade a fazer a Profissão Solene na Missão de Angola. O primeiro foi Frei Afonso Katchekele Quessongo.

Frei António é presidente de uma Fundação que está presente em Malange, a primeira casa da Ordem dos Frades Menores em terras angolanas. Capital da Província de mesmo nome, localizada na região Centro-Norte do país, com população aproximada de 968 mil habitantes, (segundo o Censo de 2014) sendo que 486 mil pessoas vivem na região da capital. Em Malange, a presença dos frades se localiza no bairro chamado Katepa, onde estão duas fraternidades: São Damião e Seminário Monte Alverne. Sob os cuidados da Fraternidade São Damião, estão a Paróquia dos Santos Mártires de Uganda, a Missão em Kangandala e a assistência às Irmãs Clarissas.

Em Quibala (323 km de Luanda) está hoje a Casa de Noviciado. Foi a segunda presença franciscana em Angola, que foi interrompida pela guerra, de 1998 a 2009. Mesmo sendo uma casa de formação, os frades têm um envolvimento pastoral bastante intenso, com atuação efetiva na Missão Nossa Senhora das Dores e na Capela Santo Antônio.

A sede da Fundação está em Luanda, onde reside Frei António na Fraternidade São Francisco de Assis. Nesta Fraternidade, os frades se dedicam ao atendimento da Paróquia São Lucas, ao acompanhamento dos frades professos temporários, ao atendimento do Santuário Quimbo São Francisco, às Irmãs Clarissas e ao projeto Nossos Miúdos. Em Palanca fica a residência que acolhe os frades estudantes do tempo de Filosofia. Na Fraternidade de Viana fica o Postulantado da Fundação. Viana é a Fraternidade mais jovem da Missão e é município da Província de Luanda. Os frades dão atendimento à Paróquia Nossa Senhora de Fátima.

Vocação nos 30 anos da Missão

 

Os que por inspiração divina vierem ao nosso encontro, sejam recebidos benignamente e, com diligência seja-lhes exposto o teor da nossa vida (cf. RnB 2, 1-3).

Movidos e intuídos por este espírito, a nossa Fundação Franciscana Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA), vem acolhendo e caminhando junto aos irmãos que nos procuram, que querem conhecer o nosso modo de vida e, que a exemplo de São Francisco, querem conosco ser frades menores no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nesta esperança, hoje temos na Fundação 134 irmãos em formação.

Na etapa do Ensino Médio que se encontra em Malange, na Fraternidade Franciscana do Seminário Monte Alverne, temos 45 seminaristas em formação, sendo: 11 no 1º ano, 16 no 2º ano, 10 no 3º ano e mais 08 que já concluíram o Ensino Médio e estão ali juntamente com os do 3º ano fazendo seu Aspirantado. Assim, nesta etapa temos 18 Aspirantes. Nesta realidade formativa, devido à Covid-19 o governo angolano decidiu cancelar todos os estudos neste ano. Deste modo, acolhendo também a decisão dos Bispos de Angola, todos os seminários foram fechados, nossos seminaristas foram enviados para junto de seus familiares, e só permaneceram os oito seminaristas que já haviam concluído seus estudos. Desta forma, temos 8 candidatos para o Postulantado no próximo ano. O acompanhamento junto aos que estão com suas famílias está sendo organizado de modo que não se rompa o vínculo conosco.

Na etapa do Postulantado, que se encontra em Viana, Luanda, na Fraternidade Franciscana da Porciúncula, temos 21 irmãos na formação inicial. O processo formativo contínua em seu ritmo normal, respeitando as normas impostas pelo governo e pela Igreja em relação à Covid-19.

Na etapa do Noviciado que se encontra em Quibala, na Fraternidade Franciscana Santo Antônio, temos 24 irmãos na formação inicial. O processo formativo continua também em seu ritmo normal e, consequentemente, respeitando todas as normas de quarentena diante da realidade que estamos vivendo.

Na etapa da Profissão Temporária, no bairro de Palanca, em Luanda, 30 irmãos fazem parte da Fraternidade Franciscana São Francisco de Assis na formação inicial. Devido ao momento e em respeito às leis, para eles também foi cancelado os estudos acadêmicos de filosofia neste ano. Assim sendo, estão tendo formação na Fraternidade e exercendo suas responsabilidades, sempre em obediência às normas impostas pelo governo para os que vivem em Luanda, onde está o maior número de infectados pela Covid-19 no país.

Na Fraternidade de Rondinha (PR), temos também 5 irmãos fazendo sua formação inicial junto aos irmãos daquela Fraternidade. De modo que, nesta etapa da Profissão Temporária no tempo da filosofia temos 35 irmãos professos.
Na mesma realidade, em Petrópolis (RJ), na etapa da Teologia, temos 5 irmãos de Profissão Temporária, sendo 3 no 1º Ano e 2 no 2º Ano. E, mais quatro irmãos Professos Solenes no 4º Ano e que, no próximo ano, estarão retornando para a FIMDA.

Com a graça de Deus estamos caminhando bem e aprendendo com nossas fragilidades. Há por parte de nossos formandos a alegria e vontade contagiantes de caminharem conosco e abertura para o aprendizado formativo. Que Deus continue a nos abençoar e a nos iluminar sempre!

Em São Francisco e Santa Clara, Paz e Bem!

Frei Marco Antônio dos Santos, Mestre de Noviciado, Quibala – Angola

Assista o vídeo comemorativo