Mês Missionário Extraordinário
- A Igreja de Cristo em missão no mundo
- Homilia do Papa na abertura do Mês Missionário
- Edição Especial Mês Missionário
- Vídeo do Papa
A Igreja de Cristo em missão no mundo
Durante o Angelus do domingo 22 de outubro de 2017, o Papa Francisco, sensível às atuais necessidades do rebanho, proclamou: “Outubro de 2019: Mês Missionário Extraordinário” (MME).
Para a Igreja no Brasil, esta proclamação pôde até ser tomada como certa “normalidade”, uma vez que já é costume, no Brasil, o mês de outubro ser o mês missionário. Mas há o extraordinário! Neste mês de outubro de 2019, será celebrada a dimensão missionária da Igreja em todas as suas presenças no mundo. Será a expressão de uma Igreja espalhada pelos quatro cantos da terra numa mesma retomada do vigor missionário, buscado por “um só coração e uma só alma” (At 4,32).
Assim reafirma o papa Francisco em sua carta por ocasião do MME, publicada na solenidade de Pentecostes deste ano: “Pedi a toda a Igreja que vivesse um tempo extraordinário de missionariedade no mês de outubro de 2019, para comemorar o centenário da promulgação da Carta apostólica Maximum illud, do Papa Bento XV (30 de novembro de 1919). A clarividência profética da sua proposta apostólica confirmou-me como é importante, ainda hoje, renovar o compromisso missionário da Igreja, potenciar evangelicamente a sua missão de anunciar e levar ao mundo a salvação de Jesus Cristo, morto e ressuscitado”.
O MME é a consequência natural e necessária de um pontificado que desde seu iniciou foi marcado pela insistência pastoral de ser uma Igreja “em saída”, “hospital de campanha”. Uma Igreja capaz de se renovar para responder com atualidade ao momento que vive. Para isso acontecer, todavia, será necessária uma autêntica conversão missionária dos discípulos de Jesus e das estruturas da comunidade eclesial (EG, 25; 27),
O convite do Papa Francisco provoca a Igreja a dar significativos passos, saindo da autorreferencialidade e introversão eclesial (EG, 27), realizando a missão não apenas como ação para fora, mas como momento propício para evangelizar-se, como um “estímulo constante para não nos acomodarmos na mediocridade, mas continuarmos a crescer (EG, 121).
Objetivo do MME
Foi durante o mesmo Angelus de 22 de outubro de 2017, quando anunciou a sua intenção para o MME, que o papa Francisco deixou claro o seu objetivo:
“despertar em medida maior a consciência da missio ad gentes e retomar com novo impulso a transformação missionária da vida e da pastoral”.
Dois objetivos que apontam para a mesma necessidade: transformação da mente e da vida do cristão, que leve à ação missionária própria da Igreja e que lhe dá a identidade de participante do corpo de Cristo, e, por isso, participante de Sua missão expressa no “amor pelo Cristo e, simultaneamente, pelo seu povo” (EG 268).
O MME pretende ser um novo início para toda a Igreja, que permitirá, inclusive, uma provocação a si mesma, em seu modo de colocar-se diante do mundo atual. Será um tempo próprio para deixar de lado sua atitude de “profeta da desgraça” diante do mundo em que vive, passando a amá-lo como lugar escolhido por Deus para manifestar-se.
Surge, assim, o grande desafio: transformar as comunidades em realidades missionárias capazes de diálogo com o mundo.
Tema do mês missionário
O tema do MME, escolhido pelo Papa Francisco, é: “Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo”.
O batizado é o enviado e este envio brota do próprio batismo. Um envio que vem de um chamado individual: “(nome), eu te batizo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (do rito do batismo), mas que se concretiza na sua participação da missão da Igreja. O batizado torna-se membro da Igreja de Cristo, participante da histórica e sacramental missão que Deus Pai confia ao Filho e ao Espírito Santo no mundo.
Assim, o MME também é catequese para o batizado, pois reaviva a sua realidade batismal de membro do povo de Deus e participante da missão da Igreja.
São Francisco de Assis e o MME
Tomado, juntamente com alguns outros santos, como testemunha para o MME, Francisco de Assis não apenas pratica a ação missionária pelas suas atitudes e desejos, como propõe um modo de estar e agir na missão.
A missão para Francisco nasce do encontro com o Evangelho, que é a pessoa de Jesus Cristo, que envia seus apóstolos sem ouro, nem prata, nem dinheiro, mas sim, para pregar o Reino de Deus e a penitência. Deste encontro brota o homem novo: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração” (1Cel, 22).
O encontro com o Cristo, o diálogo com a sua Palavra, levou Francisco à ação missionária na criação – cantada no Cântico das Criaturas – e no diálogo com o homem – inclusive os mais diferentes, como é o caso do Sultão.
O encontro com o Sultão é tão marcante para o modo de ser da Ordem, que fez surgir o chamado Projeto Missionário da Ordem, inserido na Regra Bulada e na não Bulada, inaugurando o que até então não se tinha nas regras: uma seção destinada às missões. Os frades são enviados não contra os sarracenos, nem mesmo para os sarracenos, mas são enviados entre, para o meio deles, expressando que toda a “evangelização colonizadora” soa diferente deste modo franciscano de estar em missão.
Dimensões do MME
Num primeiro momento, não se quer criar outras atividades justapostas às que já existem, mas dar “espírito missionário” àquilo que já se vem realizando. Será a partir deste novo espírito que nascerão as demais ações verdadeiramente missionárias. Cada batizado(a) é convidado(a) a aproximar-se e a vivenciar as quatro dimensões do MME:
1. O encontro pessoal com Jesus Cristo, vivo na sua Igreja, presente na Eucaristia, na Palavra de Deus, na oração pessoal e comunitária. A missão nasce do encontro com Jesus que dá novo horizonte à vida (DAp 29).
2. Testemunho: Visa que cada comunidade recorde os santos, os mártires da missão, os confessores da fé, os leigos e leigas missionários que despertam para o desejo de se viver à maneira missionária que viveram.
3. Formação: Bíblica, catequética, espiritual e teológica sobre a missio ad gentes. Esta dimensão propõe que em todas as atividades das comunidades, na catequese, nas pastorais e movimentos, seja dedicado um tempo de estudo e reflexão sobre o MME.
4. Caridade missionária: Esta dimensão quer promover a coleta missionária, valorizar as ações concretas de compromisso com os mais pobres e auxíliar financeiramente os missionários. Busca promover, ainda, as visitas missionárias, principalmente àqueles que se sentem mais afastados da pessoa de Jesus Cristo.
Algumas propostas
1. 01/10/19: Abertura do MME em nível nacional. Será realizada uma celebração no santuário nacional em Aparecida e cada comunidade é convidada a celebrar este dia, conforme suas possibilidades;
2. Dia 6: Início do Sínodo para a Amazônia. Intensificar as orações pelos missionários na Amazônia e conscientizar o povo da importância do Sínodo.
3. 20/11/2019: Dia Mundial das Missões.
4. 19/10/19: Valorização do Dia Mundial das Missões com a vigília que o antecede. Para isso, será enviada, a cada fraternidade, uma proposta de celebração;
5. Caridade Missionária: Motivar a caridade missionária no terceiro final de semana de outubro, realizando a coleta missionária para Angola.
6. Oração: Durante as celebrações comunitárias, no momento das preces, destacar intenções pelas missões e rezar em comunidade a oração do MME;
7. Valorizar a temática do MME nos encontros comunitários;
8. Expressar, através das visitas aos doentes e necessitados da comunidade, o espírito missionário;
Tudo isso, todavia, deve ser assumido como primeiros passos que motivem o discernimento para a ação missionária em comunidade. Destas celebrações e dimensões, brotará o novo missionário de que o mundo de hoje precisa. Por isso, enquanto se celebra o MME, deve-se ter a certeza de que a realidade comunitária gerará a ação missionária.
“Eu sou sempre uma missão; tu és sempre uma missão; cada batizada e batizado é uma missão. Quem ama, põe-se em movimento, sente-se impelido para fora de si mesmo: é atraído e atrai; dá-se ao outro e tece relações que geram vida” (Papa Francisco, Carta por ocasião do Mês Missionário Extraordinário, 2019).
Frei Robson Luiz Scudela
Coordenador da frente das missões
Homilia do Papa na abertura do Mês Missionário
Na parábola que ouvimos, o Senhor apresenta-Se como um homem que, antes de partir, chama os servos para lhes entregar os seus bens (cf. Mt 25, 14). Deus confiou-nos os seus bens maiores: a nossa vida, a vida dos outros, tantos dons diferentes a cada um. E estes bens, estes talentos não representam algo que se deve guardar no cofre, representam uma chamada: o Senhor chama-nos a fazer render os talentos com ousadia e criatividade. Deus perguntar-nos-á se entramos em jogo, arriscando e acabando talvez mal vistos. Este Mês Missionário extraordinário quer ser uma sacudidela que nos provoca a ser ativos no bem. Não notários da fé e guardiões da graça, mas missionários.
Torna-se missionário, vivendo como testemunha: testemunhando com a vida que se conhece Jesus. É a vida que fala. Testemunha é a palavra-chave; uma palavra que tem a mesma raiz e significado de mártir. E os mártires são as primeiras testemunhas da fé: não por palavras, mas com a vida. Sabem que a fé não é propaganda nem proselitismo, mas um respeitoso dom de vida. Vivem espalhando paz e alegria, amando a todos, incluindo os inimigos, por amor de Jesus. Deste modo nós, que descobrimos ser filhos do Pai celeste, como podemos ocultar a alegria de ser amados, a certeza de ser sempre preciosos aos olhos de Deus? É o anúncio que muitas pessoas aguardam. E é nossa responsabilidade levá-lo. Neste mês, perguntemo-nos: Como é o meu testemunho?
No final da parábola, o Senhor chama «bom e fiel» quem foi empreendedor; e, ao contrário, «mau e preguiçoso» o servo que se colocou na defensiva (cf. 25, 21.23.26). Por que razão Deus é tão severo com este servo que teve medo? Que mal fez ele? O seu mal foi não ter feito bem, pecou por omissão. Santo Alberto Hurtado dizia: «É bem não fazer mal. Mas é mal não fazer bem». Tal é o pecado de omissão. E isto pode ser o pecado duma vida inteira, porque recebemos a vida, não para enterrá-la, mas para a colocar em jogo; não para retê-la, mas para a dar. Quem está com Jesus sabe que tem aquilo que se dá, possui aquilo que se doa; e o segredo para possuir a vida é doá-la. Viver de omissões é renegar a nossa vocação: a omissão é o contrário da missão.
Pecamos por omissão, isto é, contra a missão, quando, em vez de espalhar a alegria, nos fechamos numa triste vitimização, pensando que ninguém nos ama nem compreende. Pecamos contra a missão, quando cedemos à resignação: «Não consigo fazer isto, não sou capaz». Mas como é possível? Deus deu-te talentos, e tu consideras-te assim tão pobre que não podes enriquecer ninguém? Pecamos contra a missão, quando, num lamento sem fim, continuamos a dizer que está tudo mal, no mundo e na Igreja. Pecamos contra a missão, quando caímos escravos dos medos que imobilizam, e nos deixamos paralisar pelo «sempre se fez assim». E pecamos contra a missão, quando vivemos a vida como um peso e não como um dom; quando, no centro, estamos nós com as nossas fadigas, não os irmãos e irmãs que esperam ser amados.
«Deus ama quem dá com alegria» (2 Cor 9, 7). Ama uma Igreja que vive em saída. Mas estejamos atentos: se não vive em saída, não é Igreja. A Igreja está feita para a estrada, a Igreja caminha. Uma Igreja em saída, missionária é uma Igreja que não perde tempo a lamentar-se pelas coisas que não funcionam, pelos fiéis que diminuem, pelos valores de outrora que já não existem. Uma Igreja que não procura oásis protegidos para estar tranquila; deseja apenas ser sal da terra e fermento para o mundo. Esta Igreja sabe que a sua força é a mesma de Jesus: não a relevância social ou institucional, mas o amor humilde e gratuito.
Hoje entramos no Outubro Missionário acompanhados por três «servos» que ostentaram muito fruto. Mostra-nos o caminho Santa Teresa do Menino Jesus, que fez da oração o combustível da ação missionária no mundo. Este é também o mês do Rosário: Quanto rezamos nós pela difusão do Evangelho, para nos convertermos da omissão à missão? Temos depois São Francisco Xavier, um dos grandes missionários da Igreja. Também ele nos sacode: Saímos da nossa concha, somos capazes de deixar as nossas comodidades pelo Evangelho? E há a Venerável Paulina Jaricot, uma operária que apoia as missões com o seu trabalho diário: com as parcelas que deduzia do salário, deu início às Obras Missionárias Pontifícias. E nós, fazemos de cada dia um dom para superar a fratura entre Evangelho e vida? Por favor, não vivamos uma fé «de sacristia».
Acompanham-nos uma religiosa, um sacerdote e uma leiga. Dizem-nos que ninguém está excluído da missão da Igreja. Sim, neste mês, o Senhor chama-te também a ti. Chama a ti, pai e mãe de família; a ti, jovem que sonhas com grandes coisas; a ti, que trabalhas numa fábrica, numa loja, num banco, num restaurante; a ti, que estás sem trabalho; a ti, que estás numa cama de hospital… O Senhor pede que te faças dom no lugar onde estás, assim como estás, com quem está ao teu lado; que não te limites a sofrer a vida, mas a dês; que não te limites a chorar os teus infortúnios, mas deixa-te levar pelas lágrimas de quem sofre. Coragem! O Senhor espera muito de ti. Espera também que alguém tenha a coragem de partir, ir aonde há mais falta de esperança e dignidade, aonde tantas pessoas vivem ainda sem a alegria do Evangelho. «Mas tenho de ir sozinho?» Não! Isso é errado. Se temos em mente fazer a missão com organizações empresariais, com planos de trabalho, é errado. O protagonista da missão é o Espírito Santo. Ele é o protagonista da missão. Tu vais com o Espírito Santo.Vai! O Senhor não te deixará sozinho; dando testemunho, descobrirás que o Espírito Santo chegou antes de ti para te preparar o caminho. Coragem, irmãos e irmãs! Coragem, Mãe Igreja: reencontra a tua fecundidade na alegria da missão!
PAPA FRANCISCO
1º de outubro – Vésperas
Edição Especial Mês Missionário
Vídeo do Papa