Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Ano B | Tempo do Advento: Jesus, o Messias

Tempo do Advento: Jesus, o Messias

ANO B

 

Se o ano A foi, em certo sentido, o ano eclesiológico (pela presença da teologia mateana da Igreja como verdadeiro Israel), podemos dizer que o ano B é, principalmente, cristológico, pois é caracterizado pela meditação de Marcos sobre
o caráter messiânico de Jesus e do Reino que ele inaugura, ainda que de modo inesperado e não manifesto. Marcos é também chamado o evangelho querigmático, porque nele transparece claramente a estrutura do querigma ou anúncio da atuação, morte e ressurreição do Cristo, como era proclamado no início da pregação cristã.

1. Tempo do Advento

O Advento do ano B parece caracterizado sobretudo pela ideia do encontro com Deus, a realização da promessa de sua irrestrita presença junto a nós. O primeiro domingo (Mc 13,33-37) sugere uma atitude de preparação geral para o encontro com o Senhor, no fim dos tempos, no “último dia”. Isso, porém, nada tem de trágico. Pelo contrário, a liturgia transborda de confiante esperança: “Se rasgasses os céus!” A vinda do Juiz e Senhor da História não é, para os cristãos, a destruição da História, mas seu arremate. Os cristãos estão vigiando para, por sua dedicação aqui e agora, participarem do Reino transcendente.

O segundo passo (Mc 1, 1-8) do encontro é a conversão, ou seja, a transformação da vida, com vistas ao grande encontro final. A liturgia evoca aqui a pregação escatológica do Batista e as imagens isaianas da terraplenagem do caminho para o Deus libertador. No 3° domingo  (Jo 1,6-8.19-28) já ressoa a alegria por causa da presença de Deus, testemunhada pelo Batista e pelo arauto de Is 61, que anuncia a boa-nova aos pobres. No 4° domingo ( Lc 1,26-38) – o domingo de Maria – são confrontados o “sim” de Deus (promessa) e o “sim” da pessoa humana (Maria, “fiat”). Realiza-se a promessa do Messias da linhagem de Davi, graças à disponibilidade da Serva.

2. Tempo de Natal

Nesta perspectiva do encontro de Deus com o homem, os textos das festas natalinas, embora sendo os mesmos dos outros anos, podem ser lidos sob o ângulo da “economia salvífica”: Deus se toma homem para que o homem se torne Deus. Mútua aproximação pela vinda de Deus e a conversão do ser humano. Vinda de Deus que é, decerto, um efapax, um fato histórico único, no nascimento de Jesus de Nazaré, mas que é também uma realidade sempre presente para nós, na medida em que, pela conversão, penetramos no eterno Mistério do Deus próximo. Este Deus próximo apresenta-se não apenas na celebração, mas na vida, na pessoa do mais pobre, no último dos homens, destinatário primeiro da mensagem dos anjos na noite de Natal. A ele é que nos devemos converter, para experimentar a aproximação de Deus até nós.

Pe. Johan Konings, S.J. (+ 21 de maio de 2022).

Viver o tempo da espera

Toda a existência cristã é caracterizada pelo Advento-Vinda, o que vale dizer que somos peregrinos na história, a caminho da pátria definitiva. O Senhor permanentemente vem ao nosso encontro, caminha conosco e mantém viva a nossa esperança.

O Advento manifesta os dois aspectos da vinda do Senhor: nas duas primeiras semanas, o “Advento escatológico”, ou seja, sua vinda definitiva, e, nas duas últimas semanas, o “Advento Natalício”, sua primeira vinda, o Natal. “Abre as portas, deixa entrar o Rei da glória. É o tempo, ele vem orientar a nossa história”.

Com o profeta Isaías e com João Batista, acolhemos o apelo à conversão para que sejam superadas todas as formas de dominação, exclusão e miséria, para que se realize uma sociedade com liberdade e dignidade para todos. Com Maria, vivemos a alegria e a confiança. “A Virgem, Mãe será, um Filho, à luz dará. Seu nome, Emanuel: conosco Deus do céu; o mal desprezará, o bem acolherá”.

Com atenta vigilância, alegre expectativa e renovada esperança, vivamos o Tempo do Advento retomando o seguimento de Jesus, tornando-nos, como ele, discípulos missionários da vida e da paz, fazendo crescer em nós e em nossas comunidades a certeza de que ele continua vindo através de nós.

A esperança pessoal, coletiva e cósmica

Seríamos muito pobres se reduzíssemos o Advento, simplesmente, a um tempo de preparação para a festa do Natal. O Advento, tempo de espera, é baseado na exprectativa do Reino e a nossa atitude básica é acender e renovar em nós esse desejo e esse ânimo. Num tempo marcado pelo consumo, é preciso que afirmemos profeticamente a esperança.

No âmbito pessoal, intensificando o desejo do coração e retomando o sentido da vida. Mas as esperanças são também coletivas: é o sonho do povo por justiça e paz – “fundir suas espadas, para fazer bicos de arado, fundir suas lanças, para delas fazer foices” (Is 2,4). As esperanças são também cósmicas: “A criação geme e sofre em dores de parto até agora e nós também gememos em nosso íntimo esperando a libertação” (Rm 8, 18-23).

“O melhor da festa é esperar por ela”, diz um ditado popular. Do ponto de vista humano, a espera e a preparação de um acontecimento são tão importantes quanto o evento. Daí a necessidade de fazermos uma avaliação do que significa e de como vivenciamos o tempo do Advento em nossas comunidades. Que importância damos ao tempo do Advento?

“Deixem o Advento ser Advento”

“Atualmente, muitas comunidades eclesiais, influenciadas pela onda consumista por ocasião das festas natalinas e de final de ano, estão assumindo o costume de enfeitar suas igrejas já bem antes do Natal chegar. Em pleno tempo do Advento já ornamentam suas igrejas com flores, pisca-pisca, árvores de Natal e outros motivos natalinos, como se já fosse Natal. Não sejam tão apressadas, Não entrem na onda dos símbolos consumistas da nossa sociedade. Evitem enfeitar a igreja com motivos natalinos durante o Advento. Deixem o Advento ser Advento e o Natal ser Natal” . (5)

É preciso tomar cuidado de não abortar o Advento ou celebrá-lo superficialmente. Esse cuidado nos levará a não antecipar o Natal, fazendo celebrações natalinas antes do previsto, ou usando ritos e sinais próprios da festa. Mas também não podemos celebrar o Advento como se Cristo ainda não tivesse nascido. A longa noite da espera terminou. O mundo já foi redimido, embora a história da salvação continue…

(4) COLOMBO, Dom Sérgio Aparecido, PNE – QVJ, nº 42, Roteiros Homiléticos, CNBB, 2007, p.5-8.
(5) SILVA, Frei José Ariovaldo da, Mundo e Missão, dezembro 2004

A Coroa de Advento

Desde a sua origem a Coroa de Advento possui um sentido especificamente religioso e cristão: anunciar a chegada do Natal sobretudo às crianças, preparar-se para a celebração do Santo Natal, suscitar a oração em comum, mostrar que Jesus Cristo é a verdadeira luz, o Deus da Vida que nasce para a vida do mundo. O lugar mais natural para o seu uso é família.

Além da coroa como tal com as velas, é uso antigo pendurar uma coroa (guirlanda), neste caso sem velas, na porta da casa. Em geral laços vermelhos substituem as velas indicando os quatro pontos cardeais. Entrou também nas igrejas em formas e lugares diferentes, em geral junto ao ambão. Cada domingo do Advento se acende uma vela. Hoje está presente em escolas, hotéis, casas de comércio, nas ruas e nas praças. Tornou-se mesmo enfeite natalino. Já não se pode pensar em tempo de Advento sem a coroa com suas quatro velas.

Simbolismo da Coroa de Advento (7)
Pelo fato de se tratar de uma linguagem simbólica, a Coroa de Advento e seus elementos podem ser interpretados de diversas formas. Desde a sua origem ela possui um forte apelo de compromisso social, de promoção das pessoas pobres e marginalizadas. Trata-se de acolher e cuidar da vida onde quer que ela esteja ameaçada. Podemos dizer que a Coroa de Advento constitui um hino à natureza que se renova, à luz que vence as trevas, um hino a Cristo, a verdadeira luz, que vem para vencer as trevas do mal e da morte. É, sobretudo, um hino à vida que brota da verdadeira Vida.

A mensagem da Coroa de Advento é percebida a partir do simbolismo de cada um de seus elementos.

O Círculo
A coroa tem a forma de círculo, símbolo da eternidade, da unidade, do tempo que não tem início nem fim, de Cristo, Senhor do tempo e da história. O círculo indica o sol no seu ciclo anual, sua plenitude sem jamais se esgotar, gerando a vida. Para os cristãos este sol é símbolo de Cristo.

Desde a Antigüidade, a coroa é símbolo de vitória e do prêmio pela vitória. Lembremos a coroa de louros, a coroa de ramos de oliveira, com a qual são coroados os atletas vitoriosos nos jogos olímpicos.

Os ramos verdes
Os ramos verdes que enfeitam o círculo constumam ser de abeto ou de pinus, de ciprestes. É símbolo nórdico. Não perdem as folhas no inverno. É, pois, sinal de persistência, de esperança, de imortalidade, de vitória sobre a morte.

Para nós no Brasil este elemento é um tanto artificial e, por isso, problemático, menos significativo, visto que celebramos o Natal no início do verão e com isso não vivenciamos esta mudança da renovação da natureza. Por isso, a tendência de se substituir o verde por outros elementos ornamentais do círculo: frutos da terra, sementes, flores, raízes, nozes, espigas de trigo.

Para ornar a coroa usam-se também laços de fitas vermelhas ou rosas, símbolo do amor de Jesus Cristo que se torna homem, símbolo da sua vitória sobre a morte através da sua entrega por amor.

Deste modo, nas guirlandas penduradas nas portas das casas, os laços ocupam o lugar das velas.

Lembram os pontos cardeais, a cruz de Cristo, que irradia a luz da salvação ao mundo inteiro.

As velas
As quatro velas indicam as quatro semanas do Tempo do Advento, as quatro fases da História da Salvação preparando a vinda do Salvador, os quatro pontos cardeais, a Cruz de Cristo, o Sol da salvação, que ilumina o mundo envolto em trevas. O ato de acender gradativamente as velas significa a progressiva aproximação do Nascimento de Jesus, a progressiva vitória da luz sobre as trevas.Originariamente, a velas eram três de cor roxa e uma de cor rosa, as cores dos domingos do Advento.

O roxo, para indicar a penitência, a conversão a Deus e o rosa como sinal de alegria pelo próximo nascimento de Jesus, usada no 3º domingo do Advento, chamado de Domingo “Gaudete” (Alegrai-vos).

Existem diferentes tradições sobre os significados das velas. Uma bastante difundida:

  • a primeira vela é do profeta;
  • a segunda vela é de Belém;
  • a terceira vela é dos pastores;
  • a quarta vela é dos anjos.

Outra tradição vê nas quatro velas as grandes fases da História da Salvação até a chegada de Cristo. Assim:

  • a primeira é a vela do perdão concedido a Adão e Eva, que de mortais se tornarão seres viventes em Deus;
  • a segunda é a vela da fé dos patriarcas que crêem na promessa da Terra Prometida;
  • a terceira é a vela da alegria de Davi pela sua descendência;
  • a quarta é a vela do ensinamento dos profetas que anunciam a justiça e a paz.

Nesta perspectiva podemos ver nas quatro velas as vindas ou visitas de Deus na história, preparando sua visita ou vinda definitiva no seu Filho Encarnado, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo:

  • o tempo da criação: de Adão e Eva até Noé;
  • o tempo dos patriarcas;
  • o tempo dos reis;
  • o tempo dos profetas.

(6) BECKHÄUSER, Frei Alberto, Coroa de Advento – história, simbolismo e celebrações, Vozes, 2006.

A Campanha da Evangelização no Advento

Com início na Solenidade de Cristo Rei e conclusão no 3º Domingo do Advento, a Igreja realiza em todo o Brasil, a Campanha da Evangelização, que teve seu início em 1999. Asssim como a Campanha da Fraternidade, quer ser um momento privilegiado para a tomada de consciência de nosso ser cristão e mobilização em vista da missão do Evangelho.

Dois aspectos complementares da opção e vida cristãs são tocados nestas duas campanhas:

• a Campanha da Evangelização no Advento – preparação para o Natal do Senhor.  Está em destaque o dom recebido de Deus através da encarnação de seu Filho. Nela se recebe o Deus feito homem para que o homem se torne participante da vida divina.

• a Campanha da Fraternidade, na Quaresma – preparação para a Páscoa da Ressurreição. Nela está em destaque a fraternidade decorrente desta encarnação – o Deus feito homem nosso irmão que dá a vida pela salvação da humanidade inteira, vida plena e eterna.

Com a Campanha da Evangelização busca-se garantir os recursos financeiros necessários para que a Igreja realize a sua missão evangelizadora, como para as ações de solidariedade com a humanidade em suas carências. No dia 16 de dezembro, 3º Domingo do Advento acontecerá a Coleta da Campanha para a Evangelização, gesto concreto de toda a Igreja Católica no Brasil, testemunho dos discípulos em vista da missão evangelizadora.

O objetivo principal da Campanha e da Coleta é lembrar que todos os batizados têm o dever de evangelizar e de colaborar na sustentação das atividades pastorais da Igreja. A nós que temos fé e recebemos a graça de conhecer e amar Jesus Cristo, cabe a missão de anunciar esta “Boa Notícia” àqueles que ainda não a acolheram. Este é o presente que Jesus espera de nós.

Cf.    o Histórico e as celebrações da Campanha da Evangelização2007
(8) MARQUES, D. José A. A. Tosi, Boletim da CNBB, 23.11.2007

O Advento de nós mesmos

Hoje ainda é Advento

Advento significa preparação para a vinda do Messias na carne quente e humana de Jesus Cristo na festa do Natal. Advento simboliza ainda a preparação da humanidade para a chegada do Salvador do Mundo. E Ele já veio. Por isso não deveria em si haver mais o tempo do advento. O tempo da espera e das trevas já passou e andamos à luz do Esperado que já irrompeu.

Porque então festejamos ainda o advento? Não é só um rito litúrgico e um tempo que prepara o Natal? Não. O advento é também o nosso tempo, depois da encarnação de Deus. É verdade que Deus veio de forma definitiva para dentro de nossa pequenez, mas, apesar disso, Ele é sempre aquele que ainda deve vir e continua chegando para cada um e para todo o mundo.

Cada um vive no Antigo Testamento de si mesmo porque vive na imperfeição e no pecado, no desejo da redenção e na ânsia do Libertador. Os tempos messiânicos foram inaugurados com o Messias Jesus, mas não se completaram ainda. Não é ainda verdade aquilo que Isaías sonhou para os tempos ridentes do Messias; o lobo ainda não é hóspede do cordeiro, a pantera não se deita ao pé do cabrito, nem o touro e o leão comem juntos; não é verdade ainda que a vaca e o urso se confraternizam e o leão come palha com o boi; não é ainda verdade que a criança de peito brinca à toca da serpente e o menino crescidinho mete a mão no buraco do escorpião (Is 11, 6-8).

Numa palavra: a reconciliação do homem com o outro homem e com a natureza é ainda um suspiro dolorido. Cremos que fomos libertados por Jesus Cristo, entretanto, nos sentimos tão pecadores como o homem pré-cristão. Não se realizou a profecia de Jeremias para o nosso tempo, de que Deus colocaria no nosso interior a sua lei santa e Ele mesmo a escreveria em nossos corações (Jr 31,33).

Toda esta situação nos convence: hoje é ainda advento. Temos que esperar a vinda de Deus que modificará o estado calamitoso deste mundo realizando os sonhos dos antigos profetas e as nossas próprias esperanças. Cada ser humano carrega dentro de si uma riqueza que não alcança ser mostrada durante nosso percurso terrestre. Não nos realizamos totalmente, por mais que nos esforcemos. Estamos sempre no advento de nós próprios.

Mas um dia, tudo florescerá em nós quando Deus mesmo se revelar a nós próprios; então não haverá mais advento; será Natal eterno; Deus terá nascido e se revelado definitivamente dentro de nosso coração. O advento cristão professa: em alguém, em Jesus, Deus se manifestou totalmente. Nele a espera expirou. Para nós, advento significa então: esperar e preparar-se para aquilo que se revelou em Cristo se revele também em nós. Enquanto isso não acontecer, suplicamos como os primeiros cristãos: Vem, Senhor Jesus! Vem! É o nosso advento cristão.

Leonardo Boff

A novidade na contínua vinda de Jesus

O ontem messiânico, o presente atual e esperançoso, o futuro profético

A vinda de Cristo é antiga e é nova.

É um fato passado que se atualiza na celebração litúrgica. A Igreja é antes de tudo a esposa de Cristo, único sumo sacerdote. Neste sentido, é a receptora dos sacramentos, mas não a produtora nem a criadora. A Igreja reelabora os sacramentos como colaboradora do esposo de quem recebe a vida e tudo para poder atuar.

Por isso o sentido e fim da celebração litúrgica é precisamente o de fazer participar a todas as gerações ativamente na obra da salvação de Cristo. No tempo de Advento a obra de salvação se expressa de maneira escatológica. Trata-se do Cristo Juiz, Senhor, Rei, que virá no final dos tempos. É o Cristo em Majestade dos grandes mosaicos das catedrais.

O mistério do culto litúrgico faz possível que a eternidade irrompa no tempo para que o mistério originário chegue a celebrar-se, e a salvação contida na ação salvífica passada alcance a cada geração.

Portanto a Escritura, a Liturgia e os Padres anunciam sempre a morte do Senhor, certamente como morte salvífica, como núcleo central do mistério do culto: «mortis Dominicae mysteria». A morte tem como conseqüência a vida de Cristo. Dirá o liturgista Odo Casel que à Jesus Cristo, chegamos através do Jesus histórico, assim também à Ressurreição chegamos pela morte.

A ação salvífica de Cristo nos conduz à sua Páscoa e nos faz, por seu Espírito, participar dela e ser transformados pela própria Páscoa de Cristo morto e ressuscitado, para passar assim à vida e à vida eterna. «Cristo atua verdadeiramente nos sacramentos como o sumo sacerdote de sua Igreja, que a liberta através de sua ação salvadora e a conduz à vida», dizia Odo Casel.

O tempo do Advento conduz a Igreja ao limiar de sua existência, daí que a grande característica do Advento deverá ser a esperança. Escutamo-lo neste primeiro domingo: «Deus vos chamou a participar na vida de seu Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso». Somos chamados a realizar plenamente o plano de Deus sobre todos e cada um de nós. Recorda-nos o Advento que, no presente se nos apresenta o futuro.

O Advento é um tempo real e atual. Enquanto escutamos as profecias ainda não realizadas, vemos passar o mundo ante nossos olhos e ansiamos por esse mundo que virá e que já começamos a viver e a preparar no presente.

Enquanto esperamos o amanhã, feliz e desejado, trabalhamos no presente, atual e esperançoso e olhamos o passado (vindo na carne mortal de Cristo) e nos lembramos de ter tido o Messias entre nós, e tomamos força em nossa carne que foi a sua e que, portanto, está cheia da força salvífica que ele infundiu.

O Advento é um tempo real e presente que, ao ver o ontem messiânico, nos lança para o futuro profético. Em todo o processo está a Trindade Santa: o Pai que cria, o Filho que vem a este mundo a recriá-lo e o Espírito Santo que o santifica e o une no amor.

Pe. Juan Javier Flores Arcas, OSB
Reitor do Pontifício Instituto Litúrgico de Santo Anselmo – Roma

Advento – Liturgia e espiritualidade

• O significado da palavra: vinda, chegada.

• O Advento é ponto de partida e ponto de chegada do ano litúrgico (espiral do tempo).

• A Igreja se prepara para o Natal, recordando o nascimento histórico de Cristo.

• O Advento apresenta sempre a tríplice “vinda” de Cristo: Cristo veio, Cristo vem, Cristo virá (ontem, hoje e sempre).

• É esta a chave de leitura dos textos litúrgicos do advento.

• Cristo veio. Mas de que adianta se ele não vem agora para cada pessoa? “Nós é que temos que nascer para Ele” (fr.Walter Hugo).

• O Advento é também o nosso tempo; estamos sempre no “advento” de nós mesmos. Cada um vive no Antigo Testamento de si mesmo.

• Celebrando sua vinda histórica, realiza-se sua vinda atual no mistério do culto, realizando-se assim, mais uma etapa da preparação da última vinda de Cristo.

• A Igreja vive e celebra esta tensão do “já presente” e do ainda “por vir”.

• Cristo é sempre aquele que ainda deve vir e continua chegando para cada um e para todo o mundo.

• O Reino messiânico já está presente pela justificação e pela graça. Mas ainda não está plenamente presente nos corações dos que crêem no Senhor Jesus. É preciso que Ele venha para que se instaure o Reino de justiça, de paz, de reconciliação, onde todos se reconheçam irmãos.

Frei Régis G. Ribeiro Daher

Advento no Catecismo Católico

A seleção de alguns textos do Catecismo da Igreja Católica pode nos ajudar a meditar, refletir e a se colocar na atitude de espera. Não de qualquer espera, mas daquela iluminada pela fé e pelo amor, de quem sabe a quem aguarda. Mesmo sem o saber, a humanidade toda está a espera de uma felicidade sem fim, e do fim de toda dor e sofrimento. Para nós este sentido último da vida tem nome e é uma pessoa: Jesus Cristo, o filho de Deus. A vida toda é advento, porque no tempo de cada um o Cristo vem nos salvar.
(o número da margem refere-se ao texto do catecismo)

• A preparação para a vinda de Cristo 
522. A vinda do Filho de Deus à terra é um acontecimento de tal imensidão que Deus quis prepará-lo durante séculos. Ritos e sacrifícios, figuras e símbolos da “Primeira Aliança”, tudo ele faz convergir para Cristo; anuncia-o pela boca dos profetas que se sucedem em Israel. Desperta, além disso, no coração dos pagãos a obscura expectativa desta vinda.

• João Batista prepara o caminho 
523. São João Batista é o precursor imediato do Senhor, enviado para preparar-lhe o Caminho . “Profeta do Altíssimo” (Lc 1,76), ele supera todos os profetas, deles é o último , inaugura o Evangelho ; saúda a vinda de Cristo desde o seio de sua mãe e encontra sua alegria em ser “o amigo do esposo” (Jo 3,29), que designa como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Precedendo a Jesus “com o espírito e o poder de Elias” (Lc 1,17), dá-lhe testemunho por sua pregação, seu batismo de conversão e, finalmente, seu martírio .

• A primeira e a segunda vinda de Cristo 
524.
 Ao celebrar cada ano a liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta espera do Messias: comungando com a longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo de sua Segunda Vinda . Pela celebração da natividade e do martírio do Precursor, a Igreja se une a seu desejo: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3,30).

• Tempo de expectativa, de luta e de vigília 
672. 
Cristo afirmou antes de sua Ascensão que ainda não chegara a hora do estabelecimento glorioso do Reino messiânico esperado por Israel , que deveria trazer a todos os homens, segundo os profetas , a ordem definitiva da justiça, do amor e da paz. O tempo presente é, segundo o Senhor, o tempo do Espírito e do testemunho , mas é também um tempo ainda marcado pela “tristeza” e pela provação do mal , que não poupa a Igreja e inaugura os combates dos últimos dias . E um tempo de expectativa e de vigília .

673. A partir da Ascensão, o advento de Cristo na glória é iminente , embora não nos “caiba conhecer os tempos e os momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade” (At 1,7) . Este acontecimento escatológico pode ocorrer a qualquer momento , ainda que estejam “retidos” tanto ele como a provação final que há de precedê-lo .

• Tempo de reconhecer o Cristo na história 
674. 
A vinda do Messias glorioso depende a todo momento da história do reconhecimento dele por “todo Israel” . Uma parte desse Israel se “endureceu” (Rm 11,25) na “incredulidade” (Rm 11,20) para com Jesus. S. Pedro o afirma aos judeus de Jerusalém depois de Pentecostes: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, a fim de que sejam apagados os vossos pecados e deste modo venham da face do Senhor os tempos de refrigério. Então enviará ele o Cristo que vos foi destinado, Jesus, a quem o céu deve acolher até os tempos da restauração de todas as coisas, das quais Deus falou pela boca de seus santos profetas” (At 3,19-21). E S. Paulo lhe faz eco: “Se a rejeição deles resultou na reconciliação do mundo, o que será o acolhimento deles senão a vida que vem dos mortos?” A entrada da “plenitude dos judeus” na salvação messiânica, depois da “plenitude dos pagãos” , dará ao Povo de Deus a possibilidade de “realizar a plenitude de Cristo” (Ef 4,13), na qual “Deus será tudo em todos” (1Cor 15,28).

• Esperar a quem se conhece e em quem se crê 
840. 
De resto, quando se considera o futuro, o povo de deus da Antiga Aliança e o novo Povo de Deus tendem para fins análogos: a espera da vinda ( ou da volta) do Messias. Mas o que se espera é, do lado dos cristãos, a volta do Messias, morto e ressuscitado, reconhecido como Senhor e Filho de Deus, e do lado dos hebreus, a vinda do Messias – cujos traços permanecem encobertos —, no fim dos tempos, espera esta acompanhada do drama da ignorância ou do desconhecimento de Cristo Jesus.

• O sofrimento e a glória na espera da segunda vinda 
556. 
No limiar da vida pública, o Batismo; no limiar da Páscoa, a Transfiguração. Pelo Batismo de Jesus “declaratum fuit mysterium primae regenerationis – foi manifestado o mistério da primeira regeneração”: o nosso Batismo; a Transfiguração “est sacramentum secundae regenerationis – é o sacramento da segunda regeneração”: a nossa própria ressurreição . Desde já participamos da Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que age nos sacramentos do Corpo de Cristo. A Transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa do Cristo, “que transfigurará nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso” (Fl 3,21). Mas ela nos lembra também “que é preciso passarmos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus” (At 14,22): Pedro ainda não tinha compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a montanha . Ele reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz: Desce para sofrer na terra, para servir na terra, para ser desprezado, crucificado na terra. A Vida desce para fazer-te matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-se da caminhada; a Fonte desce para ter sede; e tu recusas sofrer?

• O Pai-nosso e a Eucaristia: a oração do tempo de paciência e de espera 
2771 –
 Na Eucaristia, a Oração do Senhor manifesta também o caráter escatológico de seus pedidos. É a oração própria dos “últimos tempos”, dos tempos da salvação que começaram com a efusão do Espírito Santo e que terminarão com a Volta do Senhor. Os pedidos ao nosso Pai, ao contrário das orações da Antiga Aliança, apóiam-se sobre o mistério da salvação já realizada, uma vez por todas, em Cristo crucificado e ressuscitado.

2772 – Desta fé inabalável brota a esperança que anima cada um dos sete pedidos. Estes exprimem os gemidos do tempo presente, este tempo de paciência e de espera durante o qual “ainda não se manifestou o que nós seremos” (1Jo 3,2) . A Eucaristia e o Pai-Nosso apontam para a vinda do Senhor, “até que Ele venha” (1Cor 11,26).

• “Marana Tha”, apressa, Senhor, a vinda do seu Reino! 
2816 –
 No Novo Testamento o mesmo termo “Basiléia” pode ser traduzido por realeza (nome abstrato), reino (nome concreto) ou reinado (nome de ação). O Reino de Deus existe antes de nós. Aproximou-se no Verbo encarnado, é anunciado ao longo de todo o Evangelho, veio na morte e na Ressurreição de Cristo. O Reino de Deus vem desde a santa Ceia e na Eucaristia: ele está no meio de nós. O Reino virá na glória quando Cristo o restituir a seu Pai: O Reino de Deus pode até significar o Cristo em pessoa, a quem invocamos com nossas súplicas todos os dias e cuja vinda queremos apressar por nossa espera. Assim como Ele é nossa Ressurreição, pois nele nós ressuscitamos, assim também pode ser o Reino de Deus, pois nele nós reinaremos .

2817 – Este pedido é o “Marana Tha”, o grito do Espírito e da Esposa: “Vem, Senhor Jesus”! Mesmo que esta oração não nos tivesse imposto um dever de pedir a vinda deste Reino, nós mesmos, por nossa iniciativa, teríamos soltado este grito, apressando-nos a ir abraçar nossas esperanças. As almas dos mártires, sob o altar, invocam o Senhor com grandes gritos: “Até quando, Senhor, tardarás a pedir contas de nosso sangue aos habitantes da terra?” (Ap 6,10). Eles devem, com efeito, obter justiça no fim dos tempos. Senhor, apressa portanto a vinda de teu reinado .

• No retorno de Cristo, a libertação de todo o mal 
2853 – 
A vitória sobre o “príncipe deste mundo” foi alcançada, de uma vez por todas, na Hora em que Jesus se entregou livremente à morte para nos dar sua vida. É o julgamento deste mundo, e o príncipe deste mundo é “lançado fora” , “Ele põe-se a perseguir a Mulher” , mas não tem poder sobre ela: a nova Eva, “cheia de graça” por obra do Espírito Santo, é preservada do pecado e da corrupção da morte (Imaculada Conceição e Assunção da Santíssima Mãe de Deus, Maria, sempre virgem). “Enfurecido por causa da Mulher, o Dragão foi então guerrear contra o resto de seus descendentes” (Ap 12,17). Por isso o Espírito e a Igreja rezam: “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22,17.20), porque a sua Vinda nos livrará do Maligno.

2854 – Ao pedir que nos livre do Maligno, pedimos igualmente que sejamos libertados de todos os males, presentes, passados e futuros, dos quais ele é autor ou instigador. Neste último pedido, a Igreja traz toda a miséria do mundo diante do Pai. Com a libertação dos males que oprimem a humanidade, ela implora o dom precioso da paz e a graça de esperar perseverantemente o retorno de Cristo. Rezando dessa forma, ela antecipa, na humildade da fé, a recapitulação de todos e de tudo naquele que “detém as chaves da Morte e do Hades” (Ap 1,18), “o Todo-poderoso, Aquele que é, Aquele que era e Aquele que vem” (Ap 1,8) : Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz. Ajudados por vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto, vivendo a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador .

• Maria, a obediência da fé 
148. 
A Virgem Maria realiza da maneira mais perfeita a obediência da fé. Na fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazida pelo anjo Gabriel, acreditando que “nada é impossível a Deus” (Lc 1,37) e dando seu assentimento: ”Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Isabel a saudou: “Bem-aventurada a que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,45). É em virtude desta fé que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada .

149. Durante toda a sua vida e até sua última provação , quando Jesus, seu filho, morreu na cruz, sua fé não vacilou. Maria não deixou de crer “no cumprimento” da Palavra de Deus. Por isso a Igreja venera em Maria a realização mais pura da fé.

• “Nada é impossível a Deus” 
494. 
Ao anúncio de que, sem conhecer homem algum, ela conceberia o Filho do Altíssimo pela virtude do Espírito Santo , Maria respondeu com a “obediência da fé”, certa de que “nada é impossível a Deus”: “Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,37-38). Assim, dando à Palavra de Deus o seu consentimento, Maria se tornou Mãe de Jesus e, abraçando de todo o coração, sem que nenhum pecado a retivesse, a vontade divina da salvação, entregou-se ela mesma totalmente à pessoa e à obra de seu Filho, para servir, na dependência dele e com Ele, pela graça de Deus, ao Mistério da Redenção . Como diz Sto. Irineu, “obedecendo, se fez causa de salvação tanto para si como para todo o gênero humano”. Do mesmo modo, não poucos antigos Padres dizem com ele: “O nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou pela incredulidade a virgem Maria desligou pela fé”. Comparando Maria com Eva, chamam Maria de “mãe dos viventes” e com freqüência afirmam: “Veio a morte por Eva e a vida por Maria”.