Alguns dias atrás, perguntei a um jovem Confrade qual era para ele, hoje, o sentido da vida religiosa. Após breve reflexão, respondeu: “Saber que tenho um lugar, um lugar para me encontrar”. Pensei em qual teria sido a minha resposta, na mesma situação que ele, há mais de trinta anos… Talvez eu tivesse dito que queria viver realmente o Evangelho, fazer algo pelos outros. Essas diferentes formas de sentir a vida religiosa, e particularmente a vida franciscana, me despertaram uma série de reflexões.
Houve um tempo em que algumas certezas pareciam claras e as necessidades individuais pareciam menos acentuadas. Podia-se recorrer a um sentido, isto é, a uma direção, a uma orientação para o caminho. Algumas perguntas – quem sou eu? O mundo é…? A quem e a que quero eu me dedicar? – estavam vivas, embora misturadas com outras emoções.
Ao rebobinar a fita da minha história, reconheço que essas perguntas foram realmente importantes nos anos da juventude; elas continuam ressoando em mim, embora de maneira nova por causa das experiências e do tempo transcorrido. Hoje, a vida franciscana se me apresenta como um projeto claro e “alternativo” (no sentido evangélico) da passagem: quem escuta a Palavra e a partir dela vê nascer uma nova existência, encarnada nas Bem-aventuranças, uma vida que não se opõe ao mundo, mas se confronta continuamente com ele.
São Francisco mostra-nos que viver as Bem-aventuranças, descobrir e encontrar-se com o Deus da misericórdia, que vem ao nosso encontro através dos leprosos, dos irmãos e irmãs, dos vulneráveis, que são o nosso próximo, é a libertação da estreita prospectiva do nosso “ego”. É o chamado para receber o Evangelho não sozinhos, mas como irmãos. Este apelo ressoou nos diferentes períodos da história: deixar-se alcançar pelas interrogações, pelas contradições, pelos pontos não resolvidos. Isto permitiu ao franciscanismo falar de maneira sempre nova ao longo de oito séculos.
No início também eu vi o aspecto individual da opção religiosa, mas com o tempo aprendi a me abrir ao encontro com pessoas necessitadas, vulneráveis e daí criar novos relacionamentos, inclusive com meus irmãos Confrades.
São Francisco entende que o abraço da misericórdia o afasta das armadilhas de um projeto individual de autorrealização, ainda que apenas espiritual. Os pobres, os marginalizados, os que não podem dar nada em troca, são os que nos fazem descobrir, quase sentir na pele, o sentido da vida franciscana e com ela, inevitavelmente, o sentido da vida humana.
A abertura a este encontro foi fundamental para mim e deu novo impulso à minha vocação de Frade Menor: descobri que, na perspectiva da minoridade, a escuta do Evangelho ganha vida no contato com os pobres que Deus coloca em meu caminho.
Não é por acaso que um dos pontos críticos que tornam a vida religiosa menos transparente seja o de se isolar dos outros, de se distanciar do serviço aos pequenos para se adaptar a um estilo medíocre e repetitivo, até o ponto de estagnar-se em certos tipos de serviço e missão, com o risco de perder o contato com a faísca e o fogo que os geraram.
É por isso acredito que a vida franciscana continua capaz de falar aos jovens de hoje, imersos num período histórico certamente complexo, desigual e ligado a emoções imediatas, mas também capaz de provocar uma verdadeira busca. O compromisso das novas gerações, por exemplo, com o cuidado da casa comum, não fala desse impulso? As reações de muitos jovens às restrições provocadas pela pandemia, ainda que descontroladas, não confirmam sua procura de proximidade e companhia, fundamentais nessa idade? E seu serviço, realizado num momento tão difícil com idosos e deficientes, não é uma mensagem que deve ser ouvida com atenção? Neste terreno, tão diferente dos que estávamos acostumados a pisar, o significado da proposta fraterna é ainda mais eloquente e visível.
No trabalho permanente que acompanha o movimento franciscano – sempre vivido entre a mais elevada fidelidade ao Evangelho e a tendência natural à sua adaptação – um elemento essencial é precisamente a atenção ao outro e o encontro com todas as criaturas. Este é o lugar, onde podemos primeiro ouvir e depois deixar que uma Palavra de salvação ressoe novamente.
Na busca de altas aspirações, muitos jovens se sentem atraídos pelo ideal da pobreza autêntica na vida franciscana, mas a decepção frente ao que podem encontrar nas comunidades religiosas é muitas vezes amarga. Correm o perigo de encontrar irmãos cansados e fraternidades apagadas, que já não mantêm acesa a chama do seu carisma e não se deixam questionar pelos sinais dos tempos.
Em resumo, é a dureza do coração e a insensibilidade aos sinais que o Espírito suscita em abundância em nós e à nossa volta, que se tornam grande obstáculo aos jovens em situação de autêntica busca; uma busca genuína, embora por vezes confusa e incerta.
Voltemos, portanto, ao início da reflexão e à resposta dada pelo jovem irmão: «Procuro um lugar». Quis escutar com atenção esta palavra e não a taxar imediatamente como a expressão típica de um jovem de hoje à procura de um ninho. De onde vem esse desejo? É fácil responder.
Em nossas sociedades, especialmente no Ocidente, há uma grande falta de relacionamentos significativos e locais de encontro. A crise da pandemia não revelou que a vida gira em torno do indivíduo e de suas necessidades? Não tivemos que reconhecer, como o Papa Francisco nos lembrou tantas vezes, que ninguém se salva sozinho? Não foram precisamente as condições de isolamento e a perda de contacto social que nos devolveram o valor, o significado profundo e necessário do encontro e do relacionamento?
Por isso, a experiência franciscana pode abrir um espaço vivo e concreto à fraternidade, uma forma preciosa de amizade espiritual. Nela reconhecemos o chamado para nos tornarmos irmãos, em nome do nosso Deus que é Pai de todos. Deste modo, a qualidade das relações se converte numa transparência do Evangelho e num anúncio do Reino de Deus.
Então, o valor da vida religiosa pode se concretizar entre o “ninho” (lugar concreto de relação e pertença: a fraternidade) e a “estrada”, o mundo, a vida cotidiana das pessoas, entre e com as quais somos enviados para ser sinal do Evangelho, através do testemunho e – quando for apropriado – da palavra, como nos lembra nosso pai e irmão Francisco.
Enquanto a história nos despoja de tantos elementos supérfluos, queremos cultivar o núcleo essencial de nosso compromisso com o discipulado. Queremos fazê-lo com realismo, com alegria e com o ímpeto de quem foi amado e se reconhece enviado.
Certamente, é um chamado maior do que nós mesmos, mas não é isso, no final, sua força e apelo permanentes? O Senhor Jesus nos chama a ir além de nós mesmos e nos dá energias que não são só nossas.
No encontro com Ele, a medida da existência se expande e se torna fecunda. Talvez esteja aqui todo o sentido de nossa vida.
Frei Massimo Fusarelli, OFM
Ministro Geral
Ordem dos Frades Menores