O SERVIÇO DE JUSTIÇA, PAZ E INTEGRIDADE DA CRIAÇÃO (JPIC), ATRAVÉS DO SEU COORDENADOR, FREI MARX RODRIGUES DOS REIS, CONTINUA A SÉRIE SOBRE TEMAS DO MEIO AMBIENTE E TRAZ HOJE A REFLEXÃO DE FREI ATÍLIO BATTISTUZ, MISSIONÁRIO NA AMAZÔNIA, PARA CELEBRAR A SEMANA DO CLIMA. CONFIRA!
O planeta Terra, ao longo de sua existência, pelos vários processos de mudanças, evoluções e de adaptações, foi criando um clima favorável à existência da vida, e mantém esse ambiente para que a vida possa continuar existindo. Esse clima ou ambiente favorável é dado principalmente pela atmosfera. A Atmosfera terrestre é a grande responsável por esse ambiente favorável à existência da vida. É a atmosfera que equilibra a temperatura evitando grandes oscilações. Os planetas vizinhos, que não têm atmosfera, têm uma oscilação de temperatura de mais de 200º centígrados entre o dia e a noite, o que torna o ambiente inóspito para a existência da vida. Na terra também ocorre oscilação, mas é mínima, graças à atmosfera, que funciona como um “efeito estufa” natural.
Sempre houve oscilação do clima no planeta, períodos de resfriamento, as eras glaciais, e períodos de desgelo. Isso faz parte da história do planeta. O clima atual, tal como conhecemos hoje, propício para a existência da vida, se mantém estável há mais ou menos 12 mil anos, com pequenas oscilações de esfriamento, como na Idade Média, e aquecimento. Foi esta estabilidade climática que permitiu o florescimento de grandes civilizações e da diversidade de culturas que conhecemos, tal como a agricultura, arquitetura e as artes, o aparecimento das cidades, a organização de Estados e impérios.
Dois grandes problemas são colocados hoje com relação ao clima: o aquecimento global, ou efeito estufa, e as mudanças climáticas. O efeito estufa, que sempre existiu, devido à atmosfera, está sendo modificado pela alteração da composição dos gases da atmosfera, especialmente dióxido de carbono e gás metano, que intensificam o efeito estufa. A crise climática é que este fenômeno está acontecendo não por causas naturais, mas como consequência das atividades humanas, principalmente pela combustão de combustíveis fósseis. Nos últimos dois séculos, da era industrial, a temperatura média do planeta já subiu 1,15º C. As consequências já se fazem sentir pelas mudanças climáticas, tais como, secas mais frequentes e mais intensas, enchentes também mais frequentes e intensas, frios mais intensos, calor mais intensos, incêndios catastróficos, transformações imprevisíveis no comportamento do clima, também com consequências nem sempre previsíveis. Há uma previsão de que quem está nascendo agora, antes de completar 30 anos, verá sete vezes mais eventos catastróficos do que hoje.
A queima de combustíveis fósseis não é o único fator de aquecimento global. A terra possui todo um sistema de refrigeração e controle do clima para que se mantenha favorável à existência da vida. Tomemos como exemplo o corpo humano com seu sistema de desintoxicação e eliminação: pele, intestino, fígado, rins, bexiga formam todo um sistema de purificação, desintoxicação e eliminação de impurezas. Se um câncer atingir vários órgãos ao mesmo tempo, põe em risco a vida. Assim também o organismo terra tem todo um sistema de controle de temperatura e do clima, para conservá-lo favorável: a atmosfera, as florestas, as algas marinhas, os manguezais, os glaciais, as calotas polares, as nuvens, os oceanos, a biodiversidade, a permanente reciclagem de gazes da atmosfera pelos seres vivos. As florestas refrescam o planeta, as superfícies cobertas de gelo refletem calor para o espaço, as algas marinhas, tão importantes ou mais que as florestas se alimentam de carbono, sequestrando da atmosfera e ajudam a refrescar. Se todos eles forem agredidos simultaneamente, comprometeria o equilíbrio. É o que está acontecendo pela ação humana. As atividades humanas interferem não apenas na atmosfera, mas também nas florestas, nos oceanos, no solo e subsolo, na biodiversidade, e muitos outros fatores. As cidades, cada vez maiores, agregam calor, o asfalto agrega calor, as indústrias agregam calor, os desertos e áreas desertificadas agregam calor, os automóveis e máquinas agregam calor, a agricultura e a pecuária pressionam as florestas, intoxicam e desertificam solos. É toda uma série de fatores que funcionam interligados e pressionam sobre o planeta e comprometem a estabilidade do clima.
As previsões para o futuro, fundamentados em dados científicos, a continuar como estamos, não traz muita esperança, o futuro poderá ser catastrófico; a não ser que, alimentados pela teologia, inspirados na mística e espiritualidade, haja uma mudança de forma de vida e projeto de sociedade. Há estimativas de que para controlar o aquecimento global e evitar mudanças climáticas, entre outras coisas, será necessário replantar urgentemente pelo menos um trilhão de árvores em todo o planeta. Nós, seguindo os passos de Francisco de Assis e Francisco de Roma, também podemos colaborar com isso e alimentar esta esperança. Estamos dispostos a fazer a dar nossa contribuição?
Frei Atílio Battistuz, OFM
Rio Amazonas, 26 de março de 2023
Semana do Clima