Para o Dia da Mulher, umas palavras a partir da experiência de São Francisco. Ele tem uma aguçada sensibilidade muito própria da sua personalidade e espiritualidade. Colocou em sua vida, numa medida exata, o equilíbrio necessário da incessante busca de ser um humano forte. Nele, o masculino e o feminino fraternizam-se. Há a presença histórica de mulheres em sua vida.
Falemos de sua mãe, Jeanne de Boulermont, a mulher que veio da região francesa da Picardia, por isso mesmo conhecida em Assis como Dona Picà, a mulher que veio da distante região dos nobres e cavaleiros. Nela Francisco viveu a intensidade do Amor de Mãe. O amor do cuidado, da compreensão, da prece, da preocupação, das canções ensinadas, da língua francesa, da cortesia, da fineza, da ternura e das múltiplas virtudes. O seu pai era homem de negócios e saiu para trazer para a família a sobrevivência. Sua mãe, mulher da educação e da casa, moldou nele a convivência. Deixou no filho as marcas da nobreza, da fé em Deus, do amor ao próximo, da generosidade, da pureza e mansidão, uma qualificada consanguinidade biológica.
Falemos de Clara de Assis, sua seguidora a partir do Esposo Amado, sua companheira e fundadora do jeito terno e claustral, contemplativo e acolhedor mosteiro clariano franciscano, raiz de uma exuberante floração. Com ela, Francisco aprendeu a forte presença da busca da perfeição. Entre os dois há troca de projetos comuns, encontros para falar do coração em chama, santa intenção e o cuidado eterno para com a Cruz de São Damião, o lugar da inspiração. Entre os dois um sagrado Amor de contemplação, esponsalício místico, expressão feminina e masculina do Evangelho, oração contínua, comunhão perene, uma transformadora consanguinidade espiritual.
Falemos de sua amiga, Jacoba de Settesoli, com quem viveu a relação da profunda amizade. Jacoba era nobre, rica e caridosa. Dividia virtudes e bens. A grande amizade nas horas da vida esteve presente na hora do Trânsito de Francisco para a eternidade. Na celebração deste maravilhoso rito de passagem não podia faltar a figura desta mulher que trouxe seu doce preferido, o “mostaciolli”, que providenciou também a túnica e os panos que prepararam o sepultamento do amigo. Viu suas chagas e o aconchegou em seus braços na agonia. Uma leiga que viu de perto o mistério e maravilhas realizados pelo Senhor naquele Poverello e depois em sua Ordem. Entre eles, uma fecunda consanguinidade afetiva.
A mãe, Clara e Jacoba deram a sua sonhada Fraternidade o jeito materno de ser, a irmandade e a amizade. São virtudes encarnadas, nascidas de personagens reais. No Dia da Mulher, aprendamos com Francisco que o ser humano masculino e feminino vive na mãe, na esposa, na irmã, e no sonho de colocar sob as asas da proteção e do amoroso cuidado todos os que formavam e formam a sua bela família, a consanguinidade fraterna. Que São Francisco e Santa Clara abençoem todas as Mulheres em seu merecido e celebrativo dia!
FREI VITORIO MAZZUCO FILHO