Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“Deus o quer!”, mas… e Francisco? Os Franciscanos e a Pregação das cruzadas

03/07/2024


Frei Sandro Roberto da Costa, OFM

1. Introdução
2. As cruzadas nos inícios da Ordem Franciscana
3. As cruzadas e os frades menores
4. Os franciscanos e a pregação
Conclusão

1. Introdução

No ano de 1234 os ministros da Ordem dos Frades Menores e da Ordem dos Pregadores da Lombardia recebiam uma bula, determinando que fossem nomeados dois frades para a pregação da cruzada naquelas regiões. No ano seguinte, no dia 30 de dezembro de 1235 era mandada uma bula a todos os arcebispos, bispos e prelados da França, anunciando a nomeação de frei Guilherme de la Cordelle, da Ordem dos Frades Menores, para pregar as cruzadas nos seus domínios. Frei Guilherme deveria recolher os fundos necessários à organização dos exércitos, além de receber os votos dos que se dispusessem a partir. Esses dois documentos marcam o início do envolvimento dos frades menores com o “negotium crucis”, as cruzadas.
Nosso objetivo, na presente exposição, não é fazer uma história das cruzadas. Pretendemos, sob a chave de leitura da pregação de cruzadas pelos franciscanos, fazer uma averiguação do processo através do qual a Ordem, surgida num contexto de simplicidade, de “minoridade”, aos poucos vai assumindo cargos e ofícios que parecem se contrapor aos princípios sobre os quais a mesma tinha sido fundada. O fato de a Ordem se destacar, com vários nomes, no ofício da pregação de cruzadas, é um dos fatores onde melhor aparece o seu possível “alinhamento” com o poder papal, com a Cúria romana. Como se chegou a esse alinhamento? Pode-se afirmar, como querem alguns historiadores, que ao assumir a defesa da Cúria papal, os franciscanos traíram o projeto de Francisco de Assis? Teria a Cúria papal cooptado a Ordem, de tal modo que, apenas alguns anos após a morte do fundador, esta teria pouco do primitivo ideal? Numa época em que toda a cristandade era exortada veementemente a pegar em armas contra os “infiéis”, o “usurpador” da Terra Santa, Francisco de Assis foi ao Egito, tentar converter o sultão, usando as armas do diálogo ao invés da violência. Como, em tão pouco tempo (oito anos após sua morte), seus seguidores recebem do próprio papa que tinha sido um dos maiores amigos de Francisco, o cardeal-protetor da Ordem, uma missão que parece trair os ideais de Francisco? É o que pretendemos analisar nesta exposição. Nos ocuparemos do período que cobre aproximadamente os 30 primeiros anos da Ordem franciscana, de 1210 a 1240.2

2. As cruzadas nos inícios da Ordem Franciscana

O apelo do papa Urbano II no concílio de Clermont, em 1095, “Deus o quer!”, (Deus lo vult!) tinha sido amplamente ouvido. Até os inícios do século XIII, quatro expedições armadas tinham se dirigido às terras do Oriente, para combater os infiéis. A quarta cruzada atacou Constantinopla, deixando às claras todo o jogo de interesses nada espirituais que motivavam os senhores da guerra. Apesar da deturpação da ideia de cruzada, que acabou opondo cristãos a cristãos, Inocêncio III (1198-1216) acalentava o projeto de uma nova expedição, e na abertura do IV concílio do Latrão externou seus sentimentos. Coube a seu sucessor Honório III (1216-1227) levar em frente seu projeto. A quinta cruzada atacou o Egito, tomando a cidade de Damieta, em 1219. É durante esta cruzada que acontece o encontro de Francisco com o sultão.
Com a morte de Honório, foi eleito Gregório IX (1227-1241). Em 1229 o imperador Frederico II estabeleceu uma trégua de 10 anos com o sultão. Chegando ao fim desse período, a organização de uma nova cruzada se fazia urgente. Gregório IX mandou pregadores, a partir de 1235, para a França, e em 1239 partia a expedição, de aproximadamente mil cavaleiros, sob o comando de Thibaud, rei de Navarra.
Além de todo o aspecto espiritual envolvido na ideia de cruzada, representado pela “peregrinatio” a Jerusalém, pela penitência e purificação das próprias faltas, pela indulgência, a cruzada desempenhava um importante papel político na Cúria romana: além de ajudar a manter a disciplina e aplacar a violência que grassava pela europa, através do “voto” cruzado, as cruzadas eram um instrumento de confirmação da autoridade papal. As entradas oriundas das esmolas e décimas também não podiam ser ignoradas. Por estes e outros motivos, as cruzadas eram muito bem vistas pela própria hierarquia papal: não é por acaso que, entre os papas do século XIII, vários vieram dos reinos latinos do além-mar, criados e defendidos (a duras-penas) pelos cruzados e pela Igreja: Tiago Pantaleão, Patriarca de Jerusalém, em 1261 é eleito papa, com o nome de Urbano IV; Tebaldo Visconti, arcidiacono de Liegi, participou da cruzada de Eduardo de Cornualha, e foi ainda na Terra Santa que recebeu a notícia de ter sido eleito papa, escolhendo o nome de Gregório X. Era de bom tom defender e incentivar as cruzadas. Opor-se a elas, ainda quando fracassavam, era um mal negócio. Basta ver que as maiores lideranças da cristandade se envolveram, de um modo ou de outro, nas cruzadas: os reis da França, da Alemanha, da Inglaterra, da Hungria, além de nobres das mais altas estirpes europeias.
O IV Concílio do Latrão, em 1215, sob o comando de Inocêncio III (1198-1216), organizou a cruzada no século XIII.5 Inocêncio reforçou o suporte financeiro às cruzadas: instituiu a redenção e a comutação do voto cruzado, o direito de conseguir indulgência parcial em troca de ajuda material, a coleta de dinheiro e taxas. Organizou também o apoio moral-espiritual aos cruzados da parte daqueles que ficavam e toda uma série de práticas litúrgicas ligadas à cruzada, através de orações, procissões, e outras formas de intercessão. Não menos importante é o aparato teológico que se criou, com teólogos, inclusive franciscanos, empenhando-se em justificar a “guerra justa”.6 Para Inocêncio III, a reorganização da cruzada fazia parte do programa muito mais amplo de reforma da Igreja. Tal mentalidade vai guiar os pontífices seus sucessores.

3. As cruzadas e os frades menores

Por que um clérigo tinha que pregar a cruzada? Antes de mais nada, porque era um evento “religioso”, uma “peregrinação”. A “propaganda”, através da pregação, foi no início confiada aos legados papais e ao clero local. Este nem sempre correspondeu: os bispos viviam envolvidos em questões políticas locais, o clero secular nem sempre tinha o nível intelectual exigido para a pregação; além do mais, ordens vindas de Roma eram recebidas como ingerência não devida nos negócios da Igreja local. Devido a esses contratempos, desde cedo a Igreja recorreu ao auxílio de pessoas especializadas na pregação, especialmente membros das ordens monásticas, muito próximas do ambiente da Cúria papal. Basta lembrarmos a lendária figura de Bernardo de Claraval, pregador de grande impacto. O sucesso dos pregadores deixou claro que uma cruzada, para ter bom êxito, tanto quanto do número de combatentes, dependia também da qualidade do pregador. Nas primeiras décadas de 1200, o papel desempenhado outrora pelas ordens monásticas, passa a ser exercido pelas ordens mendicantes.
A Ordem dos pregadores (dominicanos) e a Ordem dos frades menores (franciscanos) surgem com a explícita missão de pregar o Evangelho. Espalhados em pouco tempo por toda a europa, com uma grande mobilidade, sem o impedimento da stabilitas loci, própria dos monges, recebendo desde o início entre seus quadros pessoas de altíssimo nível intelectual e moral, logo atraem a atenção da Cúria romana, que percebe o enorme potencial que se esconde entre aqueles cléricos aparentemente simples e humildes.

3.1 Os frades menores e a Cúria romana
O Cardeal Hugolino de Óstia, amigo de São Francisco, foi, a pedido deste, nomeado cardeal protetor da Ordem. Eleito papa com o nome de Gregório IX, Hugolino demonstra desde cedo sua confiança nos frades menores, escolhendo entre eles vários de seus colaboradores diretos. Alguns foram escolhidos como capelães e penitenciários da Cúria papal.10 A outros foram confiadas missões diplomáticas delicadas; foi-lhes confiada a inquisição contra os hereges;11 aos poucos os frades começam a ser escolhidos também para as dignidades eclesiásticas mais altas: em 1241 frei Leão de Perego foi nomeado arcebispo de Milão, e em 1248 frei Eudes Rigaud foi consagrado arcebispo de Rouen.12 Os capelães e penitenciários viviam na Cúria romana; eram os colaboradores diretos e de confiança do romano pontífice, desempenhando as mais variadas funções, inclusive diplomáticas, nas regiões mais distantes.13 Os papas sabiam que podiam contar com os mendicantes.14 Entre as missões confiadas aos menores e aos dominicanos, estava a de pregadores das cruzadas.

3.2 Os pregadores de cruzadas
O processo de nomeação de frades para pregar as cruzadas se inicia com Gregório IX. Não apenas na pregação da cruzada “ultramarina”, mas também na “cismarina”, contra os hereges, no próprio continente. As bulas eram enviadas ao Ministro Geral ou aos provinciais, que nomeavam os pregadores e coletores de subsídios. As bulas continham instruções minuciosas sobre os poderes concedidos aos pregadores: conceder indulgências e comutar os votos, dispensar de certas obrigações da Regra, como por exemplo a proibição de andar a cavalo; ordenava de proteger aqueles que se alistassem nas cruzadas, permitia receber os proventos pecuniários, os dons voluntários, as taxas sobre os bens do clero, os legados testamentários, as restituições, etc. Tinham que prestar contas anualmente de sua gestão, dos trabalhos e resultados obtidos. O dinheiro arrecadado deveria ser colocado em lugar seguro, em geral nos conventos dos frades.
Para a pregação da cruzada eram escolhidos religiosos que se destacavam pelos dotes oratórios e intelectuais, conhecedores da doutrina que iriam pregar, além de comprovada conduta moral e religiosa. No que consistia a pregação? Era antes de mais nada uma pregação em nome de Deus, expressa por intermédio do Papa, seu porta-voz: “Deus o quer!”, era o mote que se tornou famoso desde o concílio de Clermont. Os pregadores iam de cidade em cidade, pregando, numa espécie de missão volante, dormindo nos mosteiros ou nos conventos da própria Ordem, ou nos albergues. A pregação acontecia normalmente onde se reuniam multidões: nas praças, nas feiras, nos torneios, nos dias de festas, nas igrejas. Era um ofício de comunicação, de propaganda, que deveria atingir o maior número de pessoas.

3.2.1 Os frades pregadores de cruzadas: alguns nomes
Os três primeiros religiosos das ordens mendicantes nomeados pregadores de cruzadas eram íntimos do círculo de amizade do papa Gregório IX. Todos eram penitenciários papais, e estiveram envolvidos em várias atividades diplomáticas a serviço do papado.15 O primeiro franciscano nomeado foi o francês frei Guilherme de la Cordelle, nomeado por bula de 1235. Guilherme era um dos onze penitenciários de Gregório IX. Em 1236 foi o mediador num litígio entre o rei Luis da França e o bispo de Beauvais. Em 1238 partiu para a cruzada guiada por Thibaud de Champagne. Esteve até 1243 na Terra Santa, pregando aos cruzados.
Outro nome de destaque, bem mais conhecido, é o do francês frei Gilberto de Tournai.16 Nascido por volta de 1200, estudou em Paris, onde ensinou teologia até 1240. Entre seus colegas de ensino estavam Boaventura de Bagnoregio, Alexandre de Halles, Giovanni de La Rochelle. Em 1240 resolveu entrar na Ordem franciscana. Existem dúvidas a respeito de uma sua suposta participação na cruzada de 1248-1254, ao lado do rei Luis IX. Em 1259, é mandado, por obediência, de volta a Paris, onde assume o cargo de mestre-regente do “studium” franciscano daquela cidade. Em 1270 ainda se encontrava ativo na França. Entre suas várias obras, algumas eruditas, encontramos três Sermões aos Cruzados.17 Gilberto também escrevia sermões para os pregadores de cruzadas.
No contexto da pregação das cruzadas pelos frades menores, merece destaque o nome de frei Benedito de Alignano. Antes de seu ingresso na Ordem, este frade foi monge beneditino. Em 1224 era abade da Abadia de Nossa Senhora da la Grasse, em Aude (França). Em 1226 obteve êxito na negociação pela rendição dos habitantes de Carcassone ao rei Luis IX. Em 1228 foi nomeado bispo de Marselha, e provalvelmente pouco depois ingressou na Ordem franciscana. Esteve na Terra Santa em 1239 e em 1260. Morreu em 1268. Frei Benedito escreveu um tratado sobre a Santíssima Trindade, que ficou mais conhecido por causa de um capítulo, onde trata das relações dos cristãos com os muçulmanos. Neste capítulo, o autor declara que “os absurdos deste Maomé, que fala à maneira dos loucos e das bestas, não são dignos de debate, mas devem ser extirpados pelo fogo e pela espada”.18 Os argumentos do autor são tirados, em sua maioria, da teologia da época e da Sagrada Escritura. Benedito é taxativo: o muçulmano deve ser eliminado, bem como os pagãos e hereges. A obra se caracteriza pela dureza de linguagem, ultrapassando o radicalismo de alguns teólogos, e da própria Cúria romana. “Benedito deu a justificação para o uso ilimitado da força nas cruzadas, e seu ideal de cruzada era definido primeiramente pela eliminação do Sarraceno, não pela defesa da cristandade contra o Islã ou pela pregação aos muçulmanos”.19 O tratado de frei Benedito teve larga difusão no século XIV no Oriente e na Europa Central, onde foi empregado no combate à heresia Hussita.
O fato de a Cúria recorrer aos franciscanos para a propaganda das cruzadas encontra respaldo num elemento fundamental da Ordem: a pregação é a missão por excelência dos frades menores.

4. Os franciscanos e a pregação
Os mestres de espiritualidade franciscana são concordes em afirmar que Francisco de Assis não fundou uma Ordem com uma finalidade específica. O objetivo dos frades era viver a vida evangélica no mundo, como menores, seguindo “a pobreza e a humildade de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Mas desde os inícios fica claro que a proclamação da Palavra de Deus é a missão por excelência dos frades menores.20 Se Francisco deixa claro que esta proclamação deve dar-se pelo exemplo, não exclui a possibilidade da pregação pela palavra. Várias passagens de sua vida o atestam: quando ouve o texto do Evangelho de Mateus, em que Jesus envia seus discípulos dois a dois, ele exclama: “é isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo de todo o coração…”.21 Quando o número de irmãos chega a oito, Francisco, manda os frades dois a dois, para pregar.22 O papa Inocêncio III, quando confirma sua forma de vida, os envia como pregadores: “Ide irmãos… pregai a todos a penitência…”.23 Pregar a “penitência” (presente também em outros movimentos pauperísticos) era a pregação dos “vícios e das virtudes”, uma espécie de exortação à conversão, diferente da pregação com conteúdos doutrinais, reservada aos ministros ordenados.
Se nos seus inícios os membros da Ordem se enquadram neste tipo de pregação, de forte conteúdo ético-religioso, com o passar dos anos, com o ingresso de sacerdotes, intelectuais e pessoas letradas, e com a expansão para centros urbanos mais desenvolvidos, a pregação deixa de ser o anúncio simples e direto da “boa-nova”, para se tornar pregação em sentido doutrinal, sofisticada, o que impõe a necessidade do estudo da teologia. E isso exige o contato com os centros “escolásticos” e universitários, que então estavam se expandindo e se impondo em várias partes da europa.
O quadro social da Ordem franciscana, cerca de dez anos depois de sua aprovação por Roma, mostrava-se bem diferente dos inícios. Cada vez mais ingressavam na ordem homens envolvidos com o mundo dos estudos, das universidades. Este processo de “intelectualização” da Ordem vai exercer sua influência no modo como a mesma presta seus serviços à Igreja.24 O papado, atento ao seu desenvolvimento, bem cedo começa a envolver os frades menores nas missões que envolvem “pregação”, “anúncio”.

4.1 O processo de “intelectualização” da Ordem
Nos inícios da Ordem, reuniram-se a Francisco não só companheiros originários da nobreza, como Bernardo de Quintavale e Pedro Catani, mas também pobres trabalhadores e pequenos artesãos. Já em 1212-1213, segundo indica Tomás de Celano, entravam “alguns letrados e nobres”.26 Jacques de Vitry diz, em 1216, que entre os irmãos menores, entravam “muitos seculares ricos de ambos os sexos”; a diversidade social vai se alargando com o tempo. O cronista acena também ao ingresso de membros da Cúria papal27, de membros da hierarquia eclesiástica que ocupam altos postos de comando.28 Também juristas, teólogos, e pessoas dos mais variados campos da cultura ingressam na Ordem logo nos primeiros anos, após sua aprovação pelo papa.29 Até 1219-1220, intelectuais e simples artesãos convivem lado a lado, sem maiores diferenças.
À medida que vai ganhando notoriedade, e os frades vão se infiltrando nas realidades urbanas, é cada vez maior o número de membros do clero secular e regular, artistas, expoentes da aristocracia, doutores, teólogos, expertos em direito, que entram na Ordem.30 Isso vai fazer com que, paulatinamente, a Ordem começe a se desenvolver em um sentido não previsto por Francisco.
Em 1220, quando estava retornando do Egito, a situação foge ao seu controle: as “novidades” repudiadas revelam as divergências existentes entre Francisco e os vigários no modo de entender o novo estilo de vida religiosa. Situa-se por essa época também o conflito de Bolonha, quando da construção do primeiro edifício estável para a Ordem.32
Começam a entrar cada vez mais homens que pensam com a cabeça em Roma, mais do que com a cabeça em Assis. Aos poucos vão prevalecer os que pensam com a cabeça em Bolonha e em Paris. A partir de 1219-1220 forma-se um grupo dirigente onde sobressaem os mestres de direito e de teologia, que interpretam a presença dos menores na Igreja e na sociedade à luz de uma cultura, que não era a de Francisco.33 Em 1230 este processo está mais ou menos consolidado: quando um grupo de frades vai ao papa pedir a explicação da Regra e sua relação com o Testamento, não havia entre eles nenhum representante da primeira fraternidade, os mais próximos a Francisco, e que poderiam talvez interpretar melhor as suas intenções expressas no Testamento. Ao contrário, a delegação é composta de irmãos letrados, de grandes capacidades Intelectuais e pastorais, como vai ficar claro no desenvolvimento posterior da Ordem.34
A delegação de 1230 marca o ponto de chegada de um processo. Neste processo de “intelectualização” desempenha um papel importante a procedência dos frades menores. De onde vinham? Qual o extrato social ao qual pertenciam? Quais os valores dos quais estavam imbuídos? Antes de mais nada, há um rápido deslocamento da área de atuação dos próprios frades menores. De zonas marginais, aos poucos se passa aos centros habitados. Palavras como locus, ecclesia, claustrum, conventum, vão aos poucos aparecendo e se tornando comuns nos documentos da Ordem. O historiador Antonio Rigon, analisando a área de atuação dos frades menores, principalmente na Itália, afirma que no sul, encontram-se, entre os candidatos à Ordem, membros de famílias em oposição ao poder imperial (Frederico II); no centro da Itália é comum encontrar entre os frades membros das famílias papais; em Pisa os mercadores estão entre os seguidores dos menores; em Treviso encontram-se vários juristas que ingressam na Ordem, enquanto em Pádua, proprietários de terra, famílias ligadas aos condes, e os mais importantes grupos dirigentes da sociedade, contribuem para o crescimento da nova religião.35 Estabelece-se um estreito vínculo entre os irmãos menores e os grupos da nobreza, graças à conversão de membros, inclusive da aristocracia de sangue e de dinheiro, e à beneficiência e à proteção exercitada por este grupo em favor dos menores.
Poderíamos nos questionar sobre o papel desempenhado pela Cúria romana neste processo de intelectualização da Ordem. Teria ela, através de seus dirigentes, apoiado uma facção da Ordem, em detrimento de outra? Qual o papel do cardeal Hugolino neste processo?

4.2 Cardeal Hugolino
Quando o papa propõe a Francisco de Assis que escolha um cardeal-protetor para a Ordem, este não hesita em escolher seu amigo, o cardeal Hugolino. Hugolino estava em 1220 na Lombardia, como legado papal, para combater as heresias, os desvios doutrinais, as revoltas sociais e políticas.36 Honório III (1216-1227) esperava obter a pacificação da região para poder assim convocar uma nova cruzada. Hugolino teve oportunidade de se encontrar várias vezes com Francisco, e conhecia bem suas intenções, pois partilhara dos momentos mais importantes de sua vida. Na missão que desempenhava, tinha necessidade de fiéis e inteligentes colaboradores. Os membros mais cultos das jovens ordens religiosas, pregadores e menores, era o que de melhor se oferecia ao legado papal.
Lombardia porém significava também direito, estudo, intelectuais. Jovens de toda Europa se dirigiam a Bolonha, e mais tarde, também a Pádua e Verceli, para estudar. A primeira edificação estável dos menores, que causou indignação a Francisco, quando voltou do Egito, estava em Bolonha. Em Bolonha tem início, como atesta a carta escrita em fins de 1223 e início de 1224 de Francisco para Antônio, o primeiro estudo organizado na Ordem.
Talvez pela experiência tida como legado papal na terras lombardas, imediatamente após a eleição, quando assumiu o nome de Gregório IX, Hugolino traçou um programa de reforma, baseado nos decretos do IV Concílio do Latrão, confiando principalmente nos frades pregadores e nos beneditinos, que logo seriam coadjuvados pelos menores: entre 1227 e 1228 estes combatem a heresia em Bassano e em Milão. Nos anos seguintes participam de uma campanha de pregação e pacificação entre a população do Vêneto, com destaque para Antônio de Pádua. Em 1233 estão, junto com o pregadores, envolvidos no movimento devoto chamado Alleluia.37
Gregório IX tem um papel importante no processo de desenvolvimento da Ordem, não apenas enquanto amigo de Francisco, mas como aquele que viu na Ordem um elemento de fundamental importância para a realização de seus planos de reforma. Hugolino conhecia a Ordem por dentro. Sabia que podia contar com os frades, com sua obediência e prontidão. Os menores (bem como os pregadores) foram recebendo dos papas uma série de privilégios, que aos poucos foram moldando a Ordem dentro da Igreja.
A canonização de Francisco (1228), menos de dois anos após sua morte, foi um momento de afirmação da autoridade papal. Contribuiu para apressar a canonização a vontade de reafirmar a autoridade do magistério papal, em um momento de áspera contenda com o imperador Frederico II. A canonização de Antônio (1232) serve também para contrapor, à humildade e “ignorância” de um certo setor da Ordem, a figura de um frade douto, intelectual, mestre de ortodoxia: por longo tempo, na iconografia, Francisco vai ser representado ao lado de Antônio.
O percurso feito desde 1210, quando da aprovação oral da forma de vida pelo papa Inocêncio III, até a Quo elongati (1230), culminando com o capítulo de 1239, quando são colocadas rígidas restrições ao ingresso de irmãos não-sacerdotes, deixa evidente a plena inserção da Ordem nos mecanismos da Igreja, inclusive como instrumento de afirmação do poderio papal em todo o Ocidente, não só através da pregação de cruzadas, mas também assumindo missões diplomáticas, legações, aceitando nomeações episcopais. Boaventura aceita o cardinalato em 1273. O auge do processo se dá em 1288, com a eleição ao cargo pontifício de Nicolau IV (1288-1292), primeiro papa franciscano.

5. Conclusão
Na avaliação do processo que leva os frades menores à plena inserção no intrincado jogo de poder eclesiástico, defendendo as prerrogativas papais, entre outros através da pregação das cruzadas, algumas conclusões podem ser tiradas. Antes de mais nada, o processo não tem nada daquele complô da Cúria papal, denunciado por alguns historiadores, que teria propositalmente traído o ideal de Francisco. Francisco e seus frades, estão a serviço da Igreja. Num momento em que “pululavam” movimentos heréticos por toda a Europa, Francisco quis uma vida evangélica dentro da Igreja, e submissa a ela. Que os frades “sejam católicos, vivam como católicos e falem como católicos”; é o desejo maior de Francisco. Quanto à pregação, que esteja de acordo com as prescrições da Igreja: “Nullus frater praedicet contra formam et institutionem sanctae Ecclesiae”.
Francisco também determina que os frades não preguem nas dioceses onde os bispos não derem autorização. Tal submissão não é apenas ao papa e aos bispos, mas também aos sacerdotes, nas suas paróquias, ainda que fossem ignorantes ou pecadores, Francisco pede submissão e respeito. Esta submissão é expressão da catolicidade de Francisco: Francisco quer um apostolado dentro da Igreja, diferentemente dos outros movimentos que caíram na heresia por não se submeterem à Igreja. Não existe conflito entre Francisco e Igreja. Ao contrário, nas duas Regras transparece uma firme vontade de inserir a nova fraternidade na estrutura fundamental da Igreja.
Não menos importante foi toda a novidade representada pelo estilo de vida dos frades menores: a simplicidade, a busca da verdadeira vida evangélica, a inserção em todos os meios sociais, fizeram com que os mesmos fossem estimados pelo povo simples e pelos nobres. Numa época de decadência e conflitos na Igreja, quando a estrutura eclesiástica enfrentava duros ataques, os frades aparecem com autoridade religiosa e moral diante da sociedade. Por isso foram escolhidos pelo papado como porta-vozes de seus projetos, principalmente das cruzadas.
Outro elemento a destacar é dar o devido peso à pessoa do cardeal Hugolino no processo. Tal processo não é responsabilidade única de Gregório IX. Como primeiro cardeal-protetor da Ordem, ele contribuiu de forma decisiva para formar o quadro jurídico, e manteve uma intensa relação pessoal com Francisco. Mas já desde o tempo de Francisco iniciara-se uma lenta mas gradual transformação da Ordem, e Francisco percebeu isso. Tanto que procurou salvaguardar sua experiência originária no seu Testamento. No fim dos anos vinte, prevalece na Ordem a linha dos que defendem um maior interesse e inserção na vida da Igreja e da sociedade. Hugolino, homem prático, percebeu que, ou a Ordem se institucionalizava ou desaparecia. Por isso ajuda Francisco a escrever a Regra. “A exigência de uma regra se apresentava… como uma necessidade peremptória e inderrogável”.40 Era um processo natural, intrínseco à própria existência da Ordem, que, de outro modo, teria desaparecido, como desapareceram tantas outras ordens similares, no II concílio de Lião, em 1274. Se podemos afirmar que o projeto traçado pela Regra não sobreviveu integralmente à morte de Francisco, isto deveu-se, mais que à influência da Igreja, à evolução e à dinâmica interna da Ordem ela mesma.

Notas

1. Palestra realizada pelo autor na 5ª Semana de Estudos Medievais realizado no Programa de Estudos Medievais da UFRJ, ocorrido nos dias 17-19 de novembro de 2003.
2. Para se conhecer o progressivo e rápido envolvimento dos frades menores com as Cruzadas, as fontes mais importantes são os documentos conservados no Bullarium Franciscanum, a obra de Lucas Wadding, Analles Minorum, e a obra de G. Golubovitch, Bibliotheca Bio-bibliografica della Terra Santa e dell’Oriente Francescano. Além disso existem artigos de vários historiadores, esparsos nas várias revistas especializadas de história da Ordem, como Archivum Franciscanum Historicum, Studi Francescani, La France Franciscaine, Analecta franciscana, etc.
3. Por “Cruzada” entendemos as guerras pregadas e dirigidas em nome do papa enquanto chefe da cristandade, contra os inimigos da fé ou da Igreja. De caráter supranacional, participam soldados de diversas nacionalidades cristãs. O papa concede a indulgência plenária de todos os pecados a todos os que se alistam sob o estandarte da Cruz (o Vexillum Crucis ou Vexillum Sancti Petri), estandarte que o próprio papa entrega a um seu legado, para que o leve em combate. Veja-se sobre as cruzadas: ROUSSET, Paul. História das Cruzadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1980. RUNCIMAN, Steve. História das Cruzadas. Rio de Janeiro: Imago, 2002.
4. Várias fontes nos relatam a viagem de Francisco ao Egito. Celano é o único que relata as duas precedentes tentativas, quando Francisco teve que voltar da costa da Dalmácia, e quando voltou, doente, da Espanha. A terceira tentativa, de 1219, que teve êxito, é relatada também por Jordão de Jano e por Jacques de Vitry. Não nos toca aqui fazer o estudo crítico deste episódio. Apenas atestamos, com os historiadores, que não existem dúvidas sobre o fato de que Francisco esteve no Egito, em 1219, durante o assédio de Damieta, e que de fato encontrou-se com o sultão. O que aconteceu neste encontro é envolto em mistério. Francisco foi, conversou com o sultão, e voltou são e salvo. Francisco não foi a Damieta com o intuito de opor-se à quinta cruzada. Ao contrário, seu objetivo era o mesmo dos cruzados. Como os cruzados, e como todo cristão, Francisco queria liberar os lugares santos na Palestina dos muçulmanos. O que era diferente era a estratégia. Francisco quer sua total submissão à fé cristã. Fora disso não haveria paz. A diferença é que Francisco vai ao encontro do sultão usando não as armas dos cruzados, mas a arma da palavra, da pregação, mesmo que isso lhe custasse a própria vida, através do martírio. Alguns autores que tratam do assunto: LEMMENS, L. De Sancto Francisco Christum Praedicante coram sultano Aegypti. Archivum Franciscanum Historicum, (citaremos sempre AFH) n. 19, p. 559-578, 1926. CARDINI, F., Nella presenza del soldan superba: Bernardo, Francesco, Bonaventura e il superamento spirituale dell’idea di crociata. Studi Francescani, n. 71, p. 199-250, 1974.
5. Trata-se do cânon Ad liberanda. A partir de 1215 todas as bulas de cruzada o reproduzirão, ou a ele se referirão. Cfr. ALBERIGO, Giuseppe et alii (Org.), Conciliorum Oecumenicorum Decreta, Bolonha: Edizione Dehoniane Bologna, 1991. p. 267-270.
6. Entre estes teólogos destacamos os próprios pregadores de cruzadas, como Gilberto de Tournai, Humberto de Romans, e outros. “La necessità di galvanizzare l’opinione pubblica nonostante i molti rovesci subìti dalle armi crociate e di controbattere al crescente spirito anticrociato obbligò i pontefici a servirsi largamente d’uno strumento di pressione propagandistica che l’esperienza degli ordini mendicanti e la tecnica intellettuale scolastica avevano nel frattempo affinato: la predicazione”. CARDINI, Franco. Gilberto de Tournai: Un francescano predicatore della Crociata. Studi Francescani, n. 72, p. 31-48, 1975.
7. A princípio não se dizia cruzada, mas via, profectio ou expedictio transmarina, iter hierosolymitanum, ultramarinum ou sancti sepulcri, passagium, peregrinatio contra paganos, etc. O cruzado se chamava miles cruce signatus, crucem portans, crucifer ou signatus. GARCÍA-VILLOSLADA, Ricardo. Historia de la Iglesia Catolica. In: LORCA, B., VILLOSLADA, R.-G., MARIA LABOA, J. Historia de la Iglesia Catolica, II: Edad Media (800-1303). La cristiandad en el mundo europeo y feudal. 5. ed. Madri: BAC, 1988. p. 367, nota 15.
8. Quando nos referimos aos “mendicantes”, estamos nos referindo principalmente aos dominicanos e aos franciscanos. Muito do que afirmamos aqui em relação aos franciscanos poderia ser dito também em relação aos dominicanos (Ordem dos pregadores), que também contaram com a total confiança dos pontífices.
9. Pregação, itinerância, pobreza evangélica eram os três elementos constitutivos das ordens mendicantes: exatamente o que se exigia de um pregador de cruzadas.
10. OLIGER, L. I Penitenzieri Francescani a S. Giovanni in Laterano. Studi Francescani, n. 22, p. 495-522, 1925.
11. Não é objetivo desta exposição tratar dos franciscanos envolvidos com a inquisição. Apenas acenamos ao fato de que o primeiro frade menor inquisidor foi frei Ethienne de Saint-Thibéry, nomeado em 1237 pelo papa Gregório IX. “A 29 e a 30 de maio de 1254, com a bula ‘Licet ex Omnibus’, Inocêncio IV dividiu a Itália em duas zonas inquisitoriais: a primeira… foi confiada ainda uma vez aos dominicanos; a segunda,… foi confiada aos menores. Assim, depois de um empenho apenas ocasional de alguns frades individualmente no ofício inquisitorial… a Ordem [dos menores] foi organicamente inserida também no sistema repressivo instituído pela Igreja de Roma”. Cf. MICCOLLI, G. Francesco D’Assisi e l’Ordine dei Minori. Milão: Edizione Biblioteca Francescana, 1999. p. 78-79.
12. A nomeação de Leone de Perego deu-se em 1241. Não podemos afirmar que Hugolino, uma vez papa, tenha traído os ideais de São Francisco em relação às suas reticências sobre frades-bispos. Gregório IX nomeou apenas um bispo da Ordem dos menores, enquanto nomeou 31 dominicanos. Dall pulpito alla Catedra. I vescovi degli ordini mendicanti nell’200 e nel primo’300. Convegno Internazionale, 27, Assis, 1998, Atti… Spoleto: Centro Italiano di Studi Sull’Alto Medioevo, 1999.
13. Entre os mais célebres penitenciários dos papas destacam-se os frades Gérard de Prato, penitenciário de Urbano IV, Jean de Samois, penitenciário de Nicolau III e de Bonifácio VIII, Álvaro Paes, penitenciário de Clemente V e de João XXII. Entre estes sobressai-se frei Velasco, penitenciário de Inocêncio IV e de Alexandre IV. Velasco desempenhou missões diplomáticas dos mais variados tipos, atravessando praticamente toda a Europa. Viajou pela Itália, pela Bohêmia, pela Espanha, Inglaterra, França. Nomeado para a sede episcopal de Famagouse (Chipre), transferiu-se para Idanna (Portugal). Morreu em Roma em 1278. GRATIEN DE PARIS, Histoire de la fondation et de l’evolution de l’Ordre des Frères Mineurs au XIIIe siècle. Roma: Istituto Storico dei Cappuccini, 1982. p 358, nota 17. Além das missões diplomáticas em nome da Cúria, vários franciscanos acompanharam as expedições cruzadas, como no caso dos frades Eudes de Rigaud, Gilberto de Tournai e João de Mons, que estiveram ao lado do rei Luis IX. O inglês frei Guilherme de Hedley esteve na cruzada com o rei Eduardo I, da Inglaterra. Cfr. CALLEBAUT, A. La deuxième croizade de S. Louis et les Franciscains. La France Franciscaine, n. 5, p. 282-288, 1922.
14. “Le Bullaire Franciscain ou les Registres des Papes publiés par l’Ecole Française de Rome nous montrent que ces commissions furent très nombreuses. Fréquentemment les papes chargeaient les frères du soin dénquêter sur la conduite de certains évêques, d’examiner, de confirmer ou d’annuler des élections épiscopales ou abbatiales, de réformer les abus ecclésiastiques dans les royaumes, les diocèses, les églises et les monastères, d’être les arbitres dans les conflits entre les évêques ou entre les autorités civiles et ecclésiastiques, d’absoudre des particuliers, des princes ou de villes des censures encourues, d’accorder des dispenses de mariage”. Citado em GRATIEN DE PARIS. Op. Cit., p. 539.
15. Cf. MAIER, Christoph T. Preaching the Cruzades. Mendicant friars and the cross in the thirteenth century. Cambridge: Cambridge University Press. p. 34.
16. DELORME, F. Trois bulles à Fr. Hugues de Turenne, ofm. AFH, n. 18, p. 291-293, 1925. Veja-se também: DELORME, F. De praedicatione cruciatae saec. XIII per fratres minores. AFH, n. 9, p. 99-117, 1916.
17. Nesta obra Gilberto desenvolve sua pregação acentuando as glórias e benefícios da cruz. Expõe os argumentos para assumir a cruzada, sem dar ouvidos aos apelos da família, exaltando a coragem em enfrentar as fadigas e os sofrimentos de Cristo, comparando os cavaleiros aos mártires. Estes se tornaram vassalos de Cristo, e foram investidos em seu reino por terem assumido a Cruz. Cf.: PAPI, M. Crociati, pellegrini e cavalieri nei “Sermones” di Gilberto de Tournai. Studi Francescani, n. 73, p. 373-409, 1976. O artigo traz a edição crítica de vários “Sermones ad Crucesignatos” de Gilberto de Tornai.
18. “Deliramenta ipsius Machometi, qui more insanientium et more etiam pecudum locutus est, non sunt disputatione digna, sed potius igne ac glaudio extirpanda”. JENSEN, K. Villads. War against muslins according to Benedict of Alignano, ofm. AFH, n. 79, p. 185, 1996.
19. Idem.
20. “Não se caracterizando por uma específica atividade apostólica, os frades estavam abertos e disponíveis para os mais variados tipos de apostolado na Igreja: a pregação, a ajuda na cura de almas, as confissões, o cuidado aos leprosos, etc. Dentro da variedade de tipos de apostolado merece menção especial a pregação, atividade apostólica, que, pelas circunstâncias do tempo e necessidade especial da Igreja, marca a Ordem desde o início”. TEIXEIRA, C. M. O pensamento apostólico missionário de S. Francisco. In: S. Francesco e la Chiesa. Roma: Pontificium Athenaeum Antonianum, 1982. p. 210.
21. TOMAS DE CELANO. Vida I. In: SILVEIRA, Ildefonso & REIS, Orlando dos. (Org.). São Francisco de Assis. Escritos e biografias de São Francisco de Assis, Crônicas e outros testemunhos do primeiro século franciscano. 7 ed. Petrópolis: Vozes/CEFEPAL, 1996. p. 194.
22. TOMAS DE CELANO. Op. Cit., p. 199.
23. Idem, p. 202.
24. Embora tratemos dos franciscanos enquanto pregadores de cruzadas, acenamos aqui para o fato de que os frades também se envolveram em missões diplomáticas na Terra Santa, ajudando a solucionar os constantes conflitos que surgiam entre as várias forças em contraste: frei Lourenço de Orte empenhou-se no processo de paz entre gregos e latinos em Chipre (1248-1249); Frei Bartolomeu de Amelia foi o mediador no processo de paz entre Miguel Paleólogo, imperador de Constantinopla, e Carlos de Anjou, rei da Sicília (1278), três frades menores foram intermediários no proceso de paz, em 1280, entre os templários e o princípe de Antioquia.
25. Chamamos de “intelectualização” o que outros chamaram de “clericalização” ou “sacerdotalização”. Não excluímos também essa nomenclatura, mas optamos por empregar este termo para colocar em evidência a importância aos poucos assumida pelos letrados na ordem.
26. “Não fazia muito tempo que tinha voltado à Santa Maria da Porciúncula, quando alguns homens letrados e nobres juntaram-se a ele com grande satisfação”. TOMAS DE CELANO. Op. Cit., p. 219.
27. “Recentemente, o santo frei Nicolau, compatrício do papa, deixara a Cúria para se associar a eles…”. Cf. JACQUES DE VITRY. Historia Orientalis. In: SILVEIRA, Ildefonso & REIS, Orlando dos. (Org.). São Francisco de Assis. Escritos e biografias de São Francisco de Assis, Crônicas e outros testemunhos do primeiro século franciscano. 7 ed. Petrópolis: Vozes/CEFEPAL, 1996. p. 1030.
28. “Rainério, prior da igreja de São Miguel (em Acre), entrou para a Ordem dos Frades Menores… Nessa mesma Ordem entraram Colin, inglês, clérigo nosso; dois outros de nossos companheiros: mestre Miguel e dom Mateus, ao qual eu confiara a paróquia de Santa Cruz… Estou tendo dificuldade de reter ainda o cantor, Henrique e alguns outros”. Idem, 1030-1031.
29. Uma dessas pessoas é o próprio frei Tomás de Celano, biógrafo de São Francisco, cujas obras são o melhor testemunho de que era um erudito, um homem de cultura.
30. “A ninguém recusam entrada na Ordem, a não ser àqueles que já estejam comprometidos em casamento ou por sua profissão em outra Ordem; não devem nem querem receber os casados sem o consentimento da esposa ou, aos religiosos, sem o consentimento de seus superiores. Todos os outros são aceitos”. JACQUES DE VITRY. Op. Cit., p. 1034.
31. Raoul Manselli, comentando a entrada na Ordem de pessoas dos mais variados setores da sociedade, comenta: “É o fato central destes anos: a reviravolta na vida da Ordem, que é por assim dizer, uma crise de crescimento, determina-se também com a incidência nova na Igreja e com um impulso missionário mais intenso e decidido”. MANSELLI, R. São Francisco de Assis. Petrópolis: Vozes/FFB, 1997. p. 176.
32. TOMAS DE CELANO. Op. Cit., p. 330.
33. MERLO, G. G. Historia del hermano Francisco y de la Ordem de los Menores In: Francisco de Asís y el primer siglo de historia franciscana. Oñati (Guipúzcoa): Editorial Franciscana Arantzazu, 1999. p. 18-19.
34. Estão entre eles: o Ministro Geral João Parenti, que tinha sido juiz; Haymon de Faversham, mestre de teologia em Paris; Leão de Perego, futuro arcebispo de Milão; Antônio de Pádua, que Francisco tinha autorizado a ensinar teologia aos irmãos; Geraldo de Módena, ilustre pregador; Geraldo de Rossignol, penitenciário pontifício, e o menos conhecido Pedro de Bréscia.
35. RIGON, A. Hermanos menores, sociedad, cultura. In: Francisco de Asís y el primer siglo de historia franciscana. Op. Cit., p. 299-300.
36. A Lombardia era conhecida como “a terra de todas as heresias”, pelos constantes conflitos de que era palco. Na verdade nem todas as “heresias” eram doutrinais, mas se tratavam de reivindicações das classes sociais, buscando maior independência em relação ao poder papal ou imperial.
37. BROWN, D. A. The Allelluia. A Thirteenth Century Peace Movement. AFH, n.81, p. 3-16, 1988.
38. Regra Não-Bulada. In: SILVEIRA, Ildefonso & REIS, Orlando dos. (Org.). Op. Cit., p. 155.
39. “Nenhum dos irmãos pregue contra a forma e a doutrina da santa Igreja…”. Idem, p. 154.
40. MANSELLI, R. Op. Cit., p. 197.

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