Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Confidências de um confessor

13/10/2016

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Frei Almir Guimarães

Muita coisa precisa melhorar na prática da administração do sacramento da reconciliação. A celebração da misericórdia de Deus não deve se reduzir a meia dúzia de palavras ditas em tom de voz baixo, seco e rotineiramente. O desejo de conversão e uma profunda dor/arrependimento precisam ser percebidos na voz, nos olhos e no semblante dos penitentes. Muitos confessores sentem-se mal quando se dão conta que o sacramento assemelha-se a um gesto mágico para acabar com remorsos, para dar uma “tranquilidadezinha” às pessoas que não chegaram a compreender a altura, a largura e a profundidade do amor de Cristo Jesus, como se a absolvição fosse um “passe de mágica”. Apesar de tantas insuficiências, certamente os confessores guardam na memória e no coração relatos de vidas, histórias pungentes, encontros com seres encantadores e pessoas luminosas que, já agora, vivem no céu.

O confessionário é terra de confiança, é espaço onde as pessoas se desarmam. Na estreiteza de uma salinha ou mesmo ajoelhadas no confessionário há dramas que são descritos com todas as cores. Há vidas esplendorosas que aparecem diante dos olhos do confessor profundamente sensibilizado. Quantas vezes tais existências belas levam o confessor às lágrimas de admiração.

Há esses seres humanos, esses homens e mulheres que, na adolescência e na juventude, não tiveram o olhar de um pai e de uma mãe carinhosos. Há meninos e meninas, rapazes e moças, que nunca receberam o convite de se tornarem discípulos do Senhor. Andaram a esmo. Fizeram experiências dilacerantes. Chegaram ao fundo do poço. Caminhoneiros, pedreiros, advogados… um dia encontraram uma mulher, uma mulher de verdade, que amaram e por ela foram amados. Esses seres destroçados pelas experiências do passado encontraram uma mulher com M maiúsculo, que lhes mostrou um sentido de vida. Mas, esses homens, mesmo assim, não conseguiram mudar por dentro. Continuam nas drogas, não deixaram de lado os esquemas de destruição. Buscam o confessor, choram de verdade, suplicam ajuda e querem que o Pai tenha piedade deles como teve de seu filho que tudo esbanjou. Celebram o amor do Pai. Querem que o confessor lhes dê uma veste nova e lhes ofereça o banquete com o vitelo.

Quantos anos de fidelidade amorosa! Um belo dia a mulher morre. O homem fica viúvo. Pedreiro, cheio de vida, tem quase sessenta anos. Depois da morte da mulher não quer ser um “cão vadio” procurando extravasar energias bobamente nas praças da vida. Sim, não quer ser cão vadio… Quer ser transparente e belo por dentro. Quer ser do Senhor com os calos nas mãos, as rugas densas no rosto e um coração desejoso de ser do Senhor. Quer o perdão do Senhor e o abraço do confessor.

Tanto entusiasmo depois do encontro conjugal, revigoramento espiritual para casais. Talvez os organizadores do evento exploraram demais o lado da emoção. Aquele homem recomeça a viver mais corretamente. Mas seu passado nunca fora marcado por experiências de Deus profundas e transformadoras. Agora parecia ter encontrado o Senhor, mas … por vezes chega a pensar que fora fogo de palha… Nada do novo fora fincado profundamente nele. Uma pastoral de eventos superficiais… sem acompanhamento. Os responsáveis pelo encontro conjugal “brincaram” com ele. Aos poucos, seu casamento voltou a ser rotina, mesmice, rusgas em cima de rusgas, monotonia, enfado. Culpa dele, culpa da vida? Ele busca o confessor. Precisa de um desabafo. Precisa que alguém veja o que se passa em seu interior e lhe dê a mão. Lá está confessor, aquele que pode ouvir seu lamento, ser veículo do amor misericordioso de Deus. O confessionário é lugar onde busca paz e força. O confessor, intermediador da paz.

Vidas tortas, vidas certas. Algumas vidas certas, mas vidas sem gás, sem garra, sem entusiasmo. As pessoas sabem que para entrar na vida eterna precisam observar os mandamentos. Fazem isto. Na hora do exame de consciência nada tem a acusar, nada a recriminar. Na hora da declaração dos pecados, não há matéria. E o coração, no entanto, anda morno. Parece que abandonou o primeiro amor. É católico “corretinho” sem ser apaixonado pelo Senhor. Tristes vidas mornas. Pior quando as pessoas disso não se dão conta. Quem sabe o confessor, ele cheio de ardor pelas coisas do Senhor, meio seráfico como o Seráfico Francisco, não tenha uma proposta a fazer? Como tirar essa gente do estado de torpor e convidá-las a empreender uma busca quente do Deus luz e calor!

Felizes aqueles que encontram confessores e orientadores espirituais de talante, gente que frequenta os átrios da casa do Senhor e se embebem do espírito da parábola do Pai das misericórdias.

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