
Compaixão
A compaixão é o princípio que o budismo legou para toda a humanidade, semelhante à misericórdia mostrada por Jesus, e tão central nas mensagens do Papa Francisco.
Segundo a compreensão budista, a compaixão implica duas atitudes: de desapego de todas as coisas e cuidado para com todas as coisas. Pelo desapego nos distanciamos das coisas, renunciando à posse delas, e aprendemos a respeitá-las em sua alteridade e diferença. Pelo cuidado nos aproximamos das coisas para entrar em comunhão com elas, responsabilizar-nos pelo bem-estar delas e socorrê-las no sofrimento.
Esse é um comportamento solidário e amoroso, como aquele do bom samaritano, e que nada tem a ver com “pena” ou mera “caridade” assistencialista. A cultura tibetana expressa a compaixão pela figura do Buda dos mil braços e dos mil olhos. Com eles pode, com-passivo, atender a um número ilimitado de pessoas. A ética da compaixão também nos ensina como deve ser nossa relação para com a natureza: primeiro, respeitá-la em sua alteridade, depois, cuidar dela. Só então usá-la, na justa medida, para o nosso proveito.
Leonardo Boff, “Reflexões de um velho teólogo e pensador”, Vozes.