Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Promover amizade social

15/05/2021

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O cristão, fiel à sua identidade, obediente aos ensinamentos de Jesus, tem a missão de estar no mundo para promover, de maneira cidadã, a fraternidade e a amizade social. Jesus, na maestria da formação de seus discípulos, compartilha recomendações e faz indicações preciosas. Forte e interpelante é a lembrança de sua palavra, quando disse: “Como o Pai me amou assim também eu vos amei”. Dessa forma, recomendou a cada discípulo permanecer neste amor, convocando ao ato mais nobre e supremo da vida cristã, mandamento maior: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. A força desta “carta magna” requer do discípulo de Jesus a consciência de sua tarefa missionária insubstituível – ser promotor da fraternidade e da amizade social. A compreensão de que essa responsabilidade é irrenunciável deve repercutir, como incômodo terapêutico, no coração de cada um, com força de conversão.

Viver na contramão da fraternidade e da amizade social provoca impagáveis passivos, que se revelam nas estatísticas sobre a violência, a exclusão social, os preconceitos e as discriminações que ferem mortalmente a dignidade humana. O prejuízo incide também nos parâmetros do desenvolvimento humano integral, com consequências deletérias na cultura. Descompassos ameaçam a vida e minam as condições para se alcançar mais justiça e paz. Por isso, é ainda mais necessário o olhar genuinamente cristão, que possui uma luz intrínseca: a luz da fé, que capacita o ser humano a enxergar para além das aparências.  Os que verdadeiramente são discípulos de Jesus não recorrem à usura, nem se deixam dominar pelo apego ou por lógicas que favoreçam a corrupção. Os cristãos devem se opor à hegemonia de interesses exploratórios que depredam o meio ambiente e os direitos, com injustificável indiferença em relação ao mais pobres.

Espera-se sempre dos cristãos atitudes coerentes com a sua dignidade e identidade, enraizadas nos valores do Evangelho. Por isso, são vergonhosas as lógicas perversas e excludentes de uma sociedade de maioria cristã. Os discípulos de Jesus, em diálogo e intercâmbio com cidadãos de outras confissões religiosas também depositárias de relevantes contribuições humanísticas, precisam reagir. O momento atual está urgindo uma atuação mais lúcida, incidente e transformadora dos cristãos. Isto significa investir em ações individuais e sociais mais fortes e produtivas, à luz de uma compreensão inspirada no diálogo e na amizade social.

Muitos comprometimentos são fruto da relativização do diálogo, que não raramente é substituído até por barganhas políticas. Em vez de dialogar, investe-se equivocadamente no preconceito ou em outras formas de exclusão, valendo-se de frágeis justificativas – falta de afinidade ou divergência nas escolhas. Mas, sem diálogo social – fenômeno mais amplo e importante que a simples tergiversação político-partidária – não se tecerá a nova cultura que é imprescindível para reconstruir o País. O diálogo deve ser sempre a alternativa possível entre a indiferença egoísta e o protesto violento. O Papa Francisco lembra, na Carta Encíclica Fratelli Tutti, que São Francisco de Assis propõe a adoção de um estilo de vida com “sabor do Evangelho”, convidando cada pessoa a perceber que todos são irmãos e irmãs uns dos outros. Nesta perspectiva, é preciso reconhecer que um país cresce quando as suas diversas riquezas dialogam de modo construtivo.

Diálogo é mais que troca de opiniões – principalmente quando se pensa nos juízos formados a partir de informações não confiáveis. Há uma grande urgência na superação de tudo que possa impedir a sociedade de dialogar. O ponto de partida é a derrubada de preconceitos e do fechamento às novas ideias. Assim, é possível superar entendimentos limitados para alcançar a verdade. Também é importante o cuidado com a linguagem midiaticamente produzida. Não se pode investir no acirramento do ódio, caminho adotado por muitas campanhas políticas. Os debatedores na sociedade não podem correr o risco de constituir quartéis de manipuladores nos segmentos da política, da religião, da economia e da mídia, em defesa de interesses econômicos e ideológicos cartoriais.

A ausência do diálogo é a evidência do desinteresse dos cidadãos pelo bem comum, prevalecendo a pequenez de se buscar apenas vantagens individuais. O Papa Francisco, na Carta Encíclica Fratelli Tutti, inspira o coração humano a reagir quando diz: “Os heróis do futuro serão aqueles que souberem quebrar esta lógica doentia e, ultrapassando as conveniências pessoais e partidárias, decidam sustentar respeitosamente uma palavra densa de verdade”. O compromisso com a verdade é princípio inegociável da autenticidade cristã. E o cristianismo ensina, com a sua doutrina, posturas que fermentam o diálogo social, cultivando a capacidade de se respeitar o ponto de vista do outro.  Essa capacidade é que torna factível, em uma sociedade pluralista, o diálogo que ultrapassa um mero consenso ocasional. A hora requer a qualificação do debate público, da capacidade para dialogar, demandando de todos os cidadãos – exigência sobretudo para os cristãos – dedicação na promoção da fraternidade e da amizade social.


Dom Walmor Oliveira de Azevedo é Arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB.

 

Download WordPress Themes
Download WordPress Themes Free
Download WordPress Themes Free
Free Download WordPress Themes
free download udemy course
download redmi firmware
Free Download WordPress Themes
free online course

Conteúdo Relacionado